01 maio 2018

O MAIO EM MAIO














O voo da Ilha de Santiago (Aeroporto Nelson Mandela, Cidade da Praia), à Ilha do Maio (Aeroporto do Maio, Cidade do Maio-Porto Inglês), deverá ser muito provavelmente o voo mais rápido da história da aviação civil. São apenas 7 minutos. O avião levanta e pouco depois começa a baixar, o comandante avisa para a necessária operação de aperto dos cintos, “...senhores passageiros, dentro de momentos aterraremos na Ilha do Maio
A Ilha das praias imensas
Chego hoje à Ilha do Maio, uma das perdidas na imensidão do mar, com aquela sensação de desconhecimento que se tem quando as referências nos faltam ou simplesmente escasseiam.
Por cá, existe uma estranha sensação de ausência. A festa de Maio deixou estranhamente de fazer sentido, ao que parece por falta de condições das entidades que podiam (deviam) lembrar o Dia do Trabalhador. Assim, hoje, no 1º de Maio, a ilha do Maio estará de certa forma alheia. Pode ser verdade, pode não ser, as circunstâncias serão diversas, em relação a uma realidade, discutível, pela eventual não-conjugação de vontades, ou sentimentos.
Recordo ou outros primeiros de Maio, sem estar no Maio. Mas estando no Maio. E assim, jogando com palavra, poderemos navegar à-vontade, usando um qualquer barco que vá de saída. Os navegadores serão porventura os mesmo que ousam e quedam firmes no seu posto, mesmo sem ser de comando.
Longe da pátria, as coisas acontecem um pouco mais devagar e talvez mais fluidas, o que lhes confere um grau de caducidade diferente. Bebe-se (bastante) e brinda-se a tudo que parece importante. Há música no ar, aquela de que gostamos e nos habituamos a ouvir e a sentir e a assimilar. Sempre balouçando o corpo, sempre reforçando a sensação assumida.
Saímos da Praia, para vir à praia...
A “falta de tempo” na Praia, não permitiu a visita, por exemplo, à Prainha. Uma pequena, mas simpática praia pequena (tinha de ser), muito pouco frequentada, aliás. Quem quer praia a sério, faz 60 e poucos km e vai ao Tarrafal, onde se pode deliciar.
O encontro com os Amigos, uma agradável surpresa, faz ajustar a nossa agenda, demos sempre prioridade, durante 3 dias, a inesquecíveis almoços, com Rosinha, Nandão, Joquinha e Luís. E ainda, a música ao vivo no Quintal da Música. E mesmo na frustrada ida ao “obrigatório” Fogo D´Africa, não havia música, o sítio estava “ocupado” por um qualquer DJ, igual aos de todo o lado.
Fazendo Engenho e Obra
Foi assim uma espécie de conferência, integrada nas cerimónias do Dia do Professor Cabo-Verdiano. Onde tentamos mostrar a emergência de soluções baseadas em energia limpas, com particular destaque para a Energia Solar. Trazendo aqui também a mensagem, sempre viva, do Padre Himalaya. Mostrando que é possível, que vale mesmo a pena, trilhar um novo caminho para um Desenvolvimento diferente, que nada tem a ver com aquele que vemos avançar, dia a dia, no desperdício de recursos e para o precipício iminente.
Maio é sempre Maio
E vem-nos à lembrança (sempre) a luta eterna de quem trabalha e nada mais tem senão a força, que muitas vezes mais parece uma fraqueza. Todavia é a força do Trabalho que faz mover a sociedade, que produz toda a riqueza e que, na maior parte dos casos, não parece merecer o respeito devido. Antes pelo contrário. Maio lembra isso e diz-nos que “Enquanto há força/No braço que vinga/Que venham ventos/Virar-nos as quilhas/Seremos muitos/Seremos alguém...”.
Que pena não ter a Fonte Luminosa, não ter a marcha na Rua, aqui é um mar imenso de morabeza...
É África, as coisas são assim mesmo. Atentemos, por exemplo, ao que diz (hoje), Mário Correia, presidente do Sindicato da Indústria, Comércio e Turismo (SICOTUR), “...não há motivos para festejar o 1ºde Maio já que o momento é de nojo, tristeza e lamentações”. Ao que consta terá passado mais de 1 ano, sem esperanças que a situação do mundo laboral no país, e na Ilha do Sal, em particular, venha a melhorar, existindo processos pendentes há vários anos no tribunal, devido à morosidade da justiça. E diz ainda, com muita tristeza, “Há trabalhadores que já nem pertencem a este mundo. Morreram sem receber um centavo do seu dinheiro. E tudo indica que são processos sem solução”.
Um bom (entre outros) motivo para vir para a rua, num dia assim...


1 Maio 2018
Cidade do Maio-Porto Inglês, com a ajuda do Zeca Afonso e de Mário Correia (SICOTUR)


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