10 junho 2018

ELE E NÓS






















ELE do lado de lá da pantalha. 
NÓS deste lado e atentos.
O Manel e nós, seguramente do mesmo lado, no que toca a sentimentos, emoções e posicionamento social, cultural e político. Sempre assim foi e será. Apenas a distância e o estado de saúde o impediram de estar fisicamente conosco, no dia da apresentação da sua “Poesia Reunida”. Que acabou por reunir tanta gente boa, tanta emoção e também muito carinho. Quando assim é, ganhamos um pouco mais de alento, de força e de coragem. 
Nós, com Ele sempre, éramos (somos?) os trotskistas, a quem chamavam “troskas”, aqueles desalinhados das “pátrias” que não saudávamos. Nem Moscoso, nem Pequim, nem Tirana. Era a IV Internacional, era a contestação firme contra a degenerescência do Estado Soviético, era a contracultura, era a denúncia do reformismo e dos revisionismos, da capitulação a interesses capitalistas, era a defesa dos movimentos internacionais, que representavam a luta dos trabalhadores. Era afinal, a Revolução Permanente.
O “era” poderia hoje ser o “é”, se entendermos os conceitos, os princípios e os ideais, como dialética contínua, na arte, na cultura, na ciência. Na sociedade civil, na política no seu sentido mais elevado. Não adianta, nunca adiantou aliás, andar às voltas a negar a importância da participação cívica e política. Como bem diria Brecht, “...o analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política; não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. 
Era esta aparente estupidez, agora nacionalizada, que sempre irritava o Manel. E que ele “contornava”, com leveza, com a beleza e a arte, que só alguns são capazes de atingir. Para perceber isto, é preciso, é urgente, ler o Manel, uma das formas de estar com ele e de perceber como a Poesia pode ser a tal arma, que podemos (devemos) arremessar, sem precisar de testes de eficácia que outras necessitam. 
Hoje duvidamos de tudo, porque como bem dizia o Bertolt “De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida”. Apenas nos resta a certeza que estamos deste lado e que a geometria seja somente variável, na medida da reflexão e da consciência crítica.
Deixamos o Manel pensar e agir, escrevendo os poemas que são os nossos, porque é muita (imensa) a cumplicidade mútua. O vão desejo de glória, aquela que se esfuma no inverno da tristeza, acaba por ser a alegria de ver e sentir com o Poeta, rir e chorar ao mesmo tempo, na sede imensa da sabedoria, que entretanto, se vai construindo e renovando. Fazemos de quando em vez, a travessia entre o Piolho e o Latino, perscrutando e os silêncios, no ruído das nossas existências, procurando as praias imensas debaixo das pedras, na boa tradição daquele Maio, que nos seduziu. 

Bem hajas Manel, ESTAMOS (COMO SEMPRE) JUNTOS!




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