07 junho 2018

UMA ESTRATÉGIA NECESSÁRIA?













Ao propor hoje, na TSF, uma Estratégia Nacional de Luta Contra a Corrupção, João Cravinho tenta mostrar à sociedade civil a enorme importância que o tema encerra, para todos nós. Vai mais longe, o Homem que um belo dia foi afastado de cena, por falar desta forma desassombrada, comparando-a com a Estratégia da Luta Contra os Incêndios.
Quer isto dizer, sem qualquer peias, que Cravinho considera (e bem) a corrupção como uma calamidade pública, digna de um combate sem tréguas. Um combate de todos os dias, que terá de levar em linha de conta uma cuidada pedagogia, com contornos de transparência e dignidade e pincelada, aqui e ali, com um toque de Cidadania. No mínimo.
Perguntemo-nos agora o que pensa o cidadão comum, aquele a quem é dado propositadamente o papel de “julgar”, pelo menos nos casos mais conhecidos. Mas também nos outros, que embora sejam por demais conhecidos, nunca são desmascarados, nem sequer investigados. Ao primeiro impacto, esse honrado cidadão, virá dizer naquela versão de “justiça de táxi”, que não admira, que são todos iguais, então os políticos querem é encher a pança, comer da mesma panela e outras afirmações menos brandas, que não fica bem aqui citar. Pensando bem, e sabendo que na realidade é assim que a coisa funciona, perguntemo-nos agora, a quem serve de facto este circuito estranho, mas real. E a resposta não andará eventualmente muito longe da verdade, se dissermos que beneficia objectivamente aqueles que, activa ou passivamente, corrompem, deixam corromper ou são corrompidos.
Mas, não querendo ficar por perguntas demasiado “simples”, poderemos querer saber também, porque razão a justiça, é cega, talvez por vezes surda e muitas vezes, pura e simplesmente, muda. Um tal grau de deficiência que, à partida, deveria merecer cuidados especiais de tratamento acelerado, no mínimo para, por um lado, prover da saúde do (da?) doente e, por outro lado, para lhe proporcionar uma vida (activa e passiva) com dignidade. No intrincado mundo da doente, parecem passar-se cenas de tal forma estranhas, que por vezes duvidamos que sejam reais. A começar pelos contornos que parecem nortear um “monstro” institucional, que dá pelo pomposo e circunspecto nome de Ministério Público, que (pelos vistos) tem como “norma”, passar informação que não devia para conhecidos pasquins e menos dignos “profissionais” da chamada informação.
E poderíamos, se calhar para nos atormentarmos, ir mais longe, querendo saber como se processa o fenómeno, menos mediático, mas decerto muito eficaz, que consiste em corromper o tecido social, alimentando-o de falsa informação, de casos fabricados, através da prática corrente, que se traduz na influência e no favor. É seguramente uma não-pedagogia, uma prática terrorista, velada e traiçoeira, que tenta (e por vezes consegue mesmo) destruir os laços de solidariedade social mais elementares.
Nunca somos, não temos vocação para tal, juízes em causa própria. Não temos competência para elaborar juízos definitivos. Teremos seguramente sempre dúvidas, metódicas ou não, na exacta medida da nossa condição. Poderemos, em determinadas circunstâncias alimentar um fogo, em vez de simplesmente o extinguir. Poderemos até duvidar do nosso próprio juízo, considerando as rasteiras que a retórica nos passa. Podermos, no limite, assobiar para canto, numa feliz asserção da gíria popular, se tal for conveniente. 
Deveremos aprender. Segundo um princípio seguro, para não cair no mesmo erro. Mas sempre, para poder saber mais. Sabendo mais, poderemos passar a palavra, ajudando outros a compreender a razão porque existe corrupção e entender de alguma forma as intrincadas malhas que tece. Não querendo cair nelas, estaremos decerto a contribuir para que (pelo menos) não se alarguem. 

Não chega, porém. Para ir mais longe é necessário estarmos dispostos a um combate, longo e sem tréguas. Que sabemos bem não se circunscrever à propalada justiça, sempre em estado de doente permanente. Pela “simples” razão de ser uma parte de um sistema injusto e iníquo.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?