11 outubro 2018

BRASIL, apesar de você (*)


“Apesar de você,
amanhã há-de ser outro dia...”
Apesar de você”, Chico Buarque, 1970

Escrever hoje sobre o Brasil é um exercício doloroso. Porque sempre acreditamos que, apesar de tanto mar, a proximidade é de tal ordem, que nos confundimos num oceano de afectos e cumplicidades. É o ritmo, a fala, a música, o gosto pelo sol e pela alma das coisas. A feijoada, a maminha e os outros sabores, que nos habituamos a compartilhar, com o vinho e a cerveja, bastante se possível. Sim, é tudo isso e mais aquele arrepio às ditaduras, aos coronéis e aos jagunços de lá e de cá, tantos que foram os anos de dominação imperial e assustadoramente, ao que parece, tão actuais. Agora é como se fosse dantes, e pese a enorme e abissal diferença de tempo, quase se podia dizer, de longe se fez perto. 
Assim mesmo.

De entre tudo o que se disse e o que se venha ainda a dizer, sobra porventura a esperança no segundo turno, porque a coisa, apesar de estar agora mais preta, ainda não terminou e a janela fechada pode vir a ser aberta. Sabemos bem que foram quase 50 milhões a votar em você. “Você que inventou esse estado/E inventou de inventar/Toda a escuridão”, vai ver ainda a janela se abrir e talvez a única coisa justa que poderemos fazer é jogar você por ela  fora, como um acto da mais elementar justiça. Para você e para muitos de nós. Não queremos pensar que os 50 milhões acreditam em você. Ouça bem, você nem pense que isso é verdade, “Você vai se amargar/vendo o dia raiar/sem lhe pedir licença/E eu vou morrer de rir/que esse dia há de vir/antes do que você pensa”.
Assim mesmo, vai ver!

Calculo entretanto que deve ser triste ter que votar simplesmente contra. É, mas votar “contra” você, é mesmo um desígnio, você sabe? E sabe decerto que, por esse mundo dentro, há muitos mais milhões que 50, que enchem ruas e praças, a dizer “#Ele Não!”. O “ele” é você, sabia? Mas claro que você, apesar de não saber muita coisa, sabe pelo menos isso. E sabe também que o estar atento e de olho bem aberto, pode ser uma reversão de voto, ao segundo turno.
Assim mesmo, esperamos!

Poderíamos ainda pensar nos erros que cometemos, nas falhas que foram permitidas, num sistema que colapsou. Mas devemos sobretudo pensar no que foi conseguido, nos planos de saúde e de educação, nas terras conquistadas, numa abordagem diferente do poder, tanta coisa boa, agora parecendo esquecida, de forma a valorizar apenas a recusa. E a aceitar o que parece inaceitável, em termos pessoais e sociais, tamanha é a desfaçatez de você, seu capitão da treta, seu algoz que enaltece os algozes. E já agora, “Eu pergunto a você/como vai proibir/quando o galo insistir/em cantar
Assim mesmo, confiamos!

E esperamos que um mar imenso de gente, da gente que está aí, vá votar contra você e que, 
Apesar de você/amanhã há-de ser/outro dia
Assim mesmo, “Você vai se dar mal...”!

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(*) Texto inspirado no tema “Apesar de Você”, de Chico Buarque de Hollanda, escrito no ano 1970, lançada inicialmente como compacto simples naquele mesmo ano. A canção, por lidar implicitamente com a falta de liberdades durante a ditadura militar, foi proibida de ser executada pelas rádios brasileiras pelo governo do general Emílio Médici. Devido à censura, a canção só seria incluída num álbum do cantor em 1978, quando foi lançada como última faixa do álbum Chico Buarque. Fonte Wikipédia


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