23 abril 2019

JÁ FALTA POUCO...
































Na altura, faltariam apenas 2 dias, para a consumação do acto da libertação.

Hoje apenas se poderá dizer, que vale mesmo a pena, lembrar esse tempo, em que se preparava a Liberdade. Mais do que nunca.
O País, antes de Abril, era um imenso pântano de pobreza, ignorância e falsos (brandos) costumes, a imagem da mediocridade absoluta, no quadro europeu e mundial. Nem a dita primavera marcelista, hipócrita e mesquinha, documentada nas famosas “conversas em família” do ditador, se salvava, no panorama da mentira, da propaganda e da censura.
Para quem (hoje) se dedique, com alguma perversidade, à tarefa de branquear o regime, basta que evoquemos os crimes praticados contra a Liberdade, durante o consulado de Marcelo Caetano, nas prisões da PIDE/DGS, na repressão generalizada de movimentos grevistas, na perseguição constante de professores, intelectuais e artistas e na manutenção e amplificação de privilégios. E lembrar ainda, que os últimos anos da ditadura foram marcados por uma brutal intensificação da exploração, através de medidas como o aumento da jornada de trabalho e o número de horas semanais e a acentuação da política fiscal “regressiva”, de protecção ao capital e contra os trabalhadores.

Hoje, vale a pena chamar à liça, a influência que os conceitos libertadores, de carácter socialista, tiveram para o avanço, ainda que relativo, das lutas sociais, estudantis, culturais e políticas, para a necessária libertação do jugo da força bruta do capital e do fascismo. Todavia, seria a Direita partidária, enfeudada (sempre) nas teses conservadoras e de defesa da “nação” e dos seus inimigos (internos e externos), a pugnar pela supremacia do (dito) Ocidente, na perspectiva do chamado “dever histórico”, a contraposição possível à libertação. As posições da Direita escondem afinal as teses ultra-direitistas e neofascistas que proliferam (nomeadamente) por toda a Europa. Onde não existem partidos ou organizações da extrema-direita, de cariz fascista, aí está a Direita, cumprindo o mesmo papel, albergando e escondendo os extremistas. Até que um dia, quando tal se manifestar necessário, eles irão emergir da sombra protectora e irão autonomizar-se. Como os casos conhecidos, da Hungria, Polónia, Áustria, França, Holanda, Alemanha, Suécia, Grécia, Finlândia, Rússia, República Checa, Eslováquia. Já no Governo ou prestes a irromper pelos parlamentos dos referidos países, a ameaça fascista aí está, deturpando deliberadamente a memória histórica e contribuindo, através das grandes empresas de comunicação, para uma autêntica lavagem ao cérebro, através da instauração do medo e da austeridade generalizada.

É por isso, natural que, ao lembrar os últimos dias da ditadura fascista, nos venha à memória, como se vivia no nosso País, antes do 25 de Abril de 74. Ao evocar esse tempo, poderemos estar a contribuir para a recusa permanente de soluções de duvidoso recorte, como aquelas que nos entram diariamente, através das rádios, das TVs e dos jornais, pagos pelos grandes grupos empresariais e que se querem fazer passar por “serviço público”, quando afinal, o seu “serviço”, é apenas defender aqueles que detêm o poder económico. Mas também, das chamadas redes sociais, onde pontificam as notícias falsas e os convites ao populismo, de dito fácil e escrita de duvidosa inteligência. 

Faltavam apenas 2 dias. A repressão, que se seguiu golpe das Caldas de 16 de Março, recairia sobre 200 militares, de várias patentes, que foram presos no RALIS. Dois dias antes do golpe, haviam sido demitidos dos seus cargos, Spínola e Costa Gomes. Estaríamos, à espera que algo acontecesse, que teria mesmo que ser. E lembramos que faltava mesmo muito pouco...

Falta hoje ainda tanta coisa. Mas tanto foi já conseguido, nomeadamente nos últimos anos, em que uma solução de governo apoiada nas esquerdas parlamentares, arrumou um governo que havia entregado o País à fúria devastadora da invasão e que capitulou com ela, sujeitando a grande maioria dos portugueses a um profundo vexame e à mais desenfreada exploração de que há memória. Ainda haverá de se fazer história sobre os capitulacionistas, que vergaram o País, embora se arvorem constantemente em arautos da sua defesa, no mais miserável papel de falsos moralistas, sem princípios e sem vergonha.

É porventura a hora de lhes perguntar: “...mas afinal, onde estavas no 25 de Abril???”  

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