03 maio 2019

A RELAÇÃO “DIFÍCIL” DO BE COM A QUESTÃO DA VENEZUELA


A excelente entrevista de Mariana Mortágua (MM) na RTP fica “manchada” com as declarações, a propósito da questão venezuelana. Aliás, a posição manifestada por MM, vêm na linha de outras declarações de dirigentes do BE e da própria Catarina Martins, que resume a sua posição, na fantástica alegoria, “Nem Maduro, nem Guaidó”. Felizmente (...) também tenho notado que, por outro lado, existem declarações de militantes e dirigentes BE, bem mais “sensatas” e, sobretudo, com alguma substância política.
E é aqui que a questão reside. MM disse, de uma forma absolutamente simplista, que o BE “está contra a deriva autoritária de Maduro”. Sem explicar o que isso significa, acrescenta que “deve haver eleições livres, tendo em consideração o pensamento do Secretário-Geral da ONU e do Papa Francisco”. Para além de não explicar (também) o que entende por “eleições livres”, partindo do princípio (fabuloso) que as “outras” não foram livres, depois de escrutinadas por centena e meia de observadores internacionais, vai ao “fantástico” de meter o Papa no meio da argumentação, como se competisse algum papel político ao chefe de uma igreja. Com todo o respeito aliás, pelas posições progressistas do senhor em questão.

Claro que este tipo de “análise”, nada tem de substantivo e em nada contribui para a discussão política da questão venezuelana. É um mau contributo para a Esquerda, que só se pode compreender pela falta de preparação política dos intérpretes em questão. Pior do que isso, acresce ainda, que a tentativa que parece ser de não tomar partido (“Nem Maduro, nem Guaidó”), representa um manifesto acto de oportunismo político.
Acontece que nada do que foi dito (e aqui referido) tem a ver com o essencial da questão. Ao contrário da tese (bastante partilhada) de que existe um “falhanço do Socialismo” e de ele ser o “culpado” pela situação actual, manifestada numa crise alimentar, sanitária, etc.., a responsabilidade vai, de forma evidente, para a guerra económica levada a cabo pela burguesia norte-americana e pela administração dos EUA, com sansões, manipulação de taxas de câmbio, e destruição e desvio de bens essenciais. 
Claro que, a política que seria exigida, numa situação como esta (e que já vem do tempo de Hugo Chávez), seria a de ter na mão do Estado o poder de decisão, relativo às grandes empresas do País. Não propriamente sob a forma de um controle burocrático, o que levou à circunstância de Maduro precisar do apoio de uma burocracia estatal e do exército, acentuando dessa forma o carácter bonapartista do regime. O que implica concluir da necessidade que o próprio regime teria de aprofundar a sua relação com as classes trabalhadoras, ao invés de uma conciliação que tem efeitos conhecidos (...).
O essencial da questão está porventura (neste momento) na denúncia firme e permanente do ataque imperialista à Venezuela, de que a melhor prova é a “santa aliança” entre a administração americana, os governos reaccionárias do Brasil, Colômbia, Chile, Argentina, o seguidismo da União Europeia, e da tentativa de “abrir” mais um “quintal” na América Latina.
O caminho é seguramente esse, não desprezando de forma alguma, o debate que deverá existir e ser aprofundado, no seio da Esquerda, portuguesa e internacional. 

Analisando o que se passa na dita “comunicação social” privada, concluímos que, desgraçadamente não é hoje possível dar qualquer espécie de crédito à maior parte das agências de comunicação. Porque, sendo detidas por grupos empresariais afectos à Direita, a sua verdadeira intenção não é obviamente a de informar, mas sim de interpretar os factos, e dar-lhes uma roupagem especial, com vista a baralhar a opinião pública, de lançar a confusão e por vezes mesmo, o pânico, ou simplesmente (e abundam os casos) de produzir notícias falsas, para melhor conseguir os seus intentos. Um excelente exemplo, é dado em noticia do DN, no dia 1 Maio 2019 (17:47h); na altura já se sabia perfeitamente que a intentona de Guaidó e Lopez havia fracassado por completo; o título daquele jornal era,Guaidó chamou o povo à rua. Venezuelanos começam a mobilizar-se”; a essa hora, havia começado precisamente ... a desmobilização; a notícia do DN acaba por significar, para além da falsidade, uma manifesta provocação.

Termino com um apelo veemente às/aos dirigentes do BE, para que estudem a situação e tomem uma posição consentânea com os conceitos e princípios da Esquerda e que saibam integrar, nessa crítica, os valores, mas também os casos reais de intimidação feitos pelos regimes que querem impedir a Venezuela de seguir o seu caminho, agora perfeitamente às claras. Neste contexto, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, admitiu, “que uma "ação militar" é "possível" se for "necessária" para favorecer a transição política na Venezuela: “Nós preferíamos uma transição pacífica para o poder, com a saída de Maduro e a realização de novas eleições, mas o Presidente (Trump) deixou claro que, num certo momento, é preciso saber tomar decisões", afirmou Pompeu, acrescentando que Donald Trump "está pronto a fazer o que for preciso".
O que nós dizemos abertamente, é que estamos prontos para tudo fazer pela Paz, contra os golpistas e pela denúncia dos seus lacaios.
Tirem as mãos da Venezuela!

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