14 maio 2019

CRISIS? WHAT CRISIS?

























Corria o ano de 1975 e a banda pop-rock rock britânica Supertramp, formada em 1969, editava o célebre álbum com aquela designação, e iria mostrar ao mundo, a qualidade da sua produção, baseada numa crítica inteligentemente mordaz, na abordagem social que se propunha e numa aposta no que se classificava então de rock progressivo, um estilo que faria incursões pela música clássica e pelo jazz de fusão. 
Uns anos mais tarde, “apenas” 5 décadas depois, o partido do governo parecia já não ter apoio no parlamento, não conseguia aprovar leis, nem executar o orçamento, a oposição parecia unir-se, mesmo aquela que era situação, tudo parecia desmoronar-se. Isto era o que parecia ser. Mas, como as crises já não são o que eram (dantes), de um momento para o outro, a coisa vira para o outro lado, o fiel da balança desloca-se de novo, o País fervilha de emoção, embora inquieto, uma vez que o inquilino actual do palácio de Belém está mudo e quedo, já vai longe de tão perto a dita crise, e o mérito parece ir todo para o chefe do governo, homem que dizem ser hábil nestas funções e em outras, porque o verdadeiro artista não se limita a uma só faceta e, antes pelo contrário, desmultiplica-se e reinventa-se a toda a hora, ouvindo-se a si próprio, convivendo e curtindo a sua música e a sua figura, assim o diz afinal a canção, que lhe parece assentar como uma luva, And if you know who you areYou are your own superstarAnd only you can shape the music that you makeSo when the crowds disappearAnd only the silence is hereWatch yourself, easy does it, easy does it, easy while you wait[1].

Entretanto, parece que há uma outra crise. Porque há professores neste País que há muito reclamam a contagem de tempo de um serviço que efectivamente prestaram, uma ousadia muito especial a um governo que está comprometido em prestar um serviço, que é manifestamente público, que se resume (ao que parece) a “servir” uma tal comissão europeia, com “contas certas” e cujas ordens, embora derivem de um grupo excursionista particular e cujo chefe pertence ao “nosso” governo, são para cumprir. Não da forma como eram antes (cumpridas), mas agora de uma forma muito criativa e com um sorriso escancarado, mas sempre cumpridas. Vejam só que, apesar dos juros baixíssimos, o País até adianta pagamentos à dívida, cuja não se deve, nem pode, questionar-se, uma vez que assim está escrito e é para o bem de todas e e de todos, muito embora quase ninguém saiba do que se está a falar, ou seja, quem deve a quem e quanto. Mas dívida é dívida, é assim para todas e para todos, à excepção de alguns, que trabalham para o nosso bem-estar, embora não pareça, há um que até foi reconhecido como “comendador”, por duas vezes e parece (volto a dizer, parece) ninguém compreender e tem a tal opinião pública (agora) contra ele. Ele que até não deve nada e apenas tem uma garagem. O mundo é muito estranho e, ao que parece, injusto. Uma pena...

Mas há ainda uma outra crise. Essa tal campanha, parece (sempre a mesma palavra) perturbar a grande maioria das agremiações partidárias. Ou porque o cabeça (da lista) não é grande coisa, ou porque um outro não vale mesmo nada, enfim, a situação parece (...) ser preocupante, principalmente porque essa imensa maioria, não tem mesmo nada para nos dizer, a não ser mais do mesmo, que é quase a mesma coisa que o zero absoluto. Seja porque andaram a prometer um reino que ninguém (ainda) conseguiu identificar, seja porque se entretêm a pintar um cenário que é mesmo cinzento, o certo é que as pessoas vêm tudo às avessas, é uma chatice: os preços sempre a subirem, os bens cada vez mais longe da vista, o salário cada vez mais curto, a perspectiva de ter que trabalhar cada vez mais, a história que diariamente lhe contam do “descalabro da segurança social”, o melhor mesmo é investir num seguro privado, onde tenho eu agora dinheiro para pagar isso, dado que tenho que ajudar o meu banco a pagar aquilo que deve a não sei quem, tudo muito complicado, há aquele senhor na TV que nos avisa que este governo está a derrapar outra vez e que essa coisa do passe social ainda nos vai custar caro. O que hei-de pensar disto tudo, é ou não é, uma grande crise? 

Estou doente. Assim a modos que fragilizado. Não sei já o que fazer para vencer este desânimo. Queria sorrir, mas não vejo porquê. Volto a ouvir o disco, “I hear, only what I want to hearBut, I have to believe in somethingHave to believe in just one thing…[2], a música parece não ajudar muito, mas continua a tocar, agora num ritmo frenético, uma festa que parece não ter a ver comigo. E o que tem a ver comigo, parece (...) que tem a ver com milhões de pessoas e não com pessoas que devem os milhões que se sabe. Queria mesmo entrar em campanha, para dizer o que realmente penso, mas acho que não vai dar, ou se der é mesmo para o torto, dado que estou também em crise. Existencial, pelo menos.

Com tanta crise e sem saber mesmo qual é a crise, o que parece um disparate, mas não o é, sempre vos digo que só vejo uma solução. Dado que aprendi, na minha juventude, que a “cantiga é uma arma contra a burguesia”, irei utilizar e lembrar e atacar com cantigas boas, daquelas que servem para “agitar a malta”. Sempre contra a submissão, porventura o maior dos males deste início de século. Isto porque não quero ir noutras cantigas, porque isso seria tão só, música para os meus pobres ouvidos, cansados de ouvir tanto disparate pegado. E não quero (isso nunca!) ir a reboque, porque sei bem o resultado que daria. Bem diz a canção “Se tu cantas a reboque / não vale a pena cantar / se vais à frente demais /bem te podes engasgar[3].

CRISE? Mas qual crise?



[1]Extracto do tema, “Easy Does It”,Rick Davies & Roger Hodgson, 1975
[2]Extracto do tema"A Soapbox Opera"Rick Davies & Roger Hodgson, 1975
[3]Extracto do tema “A cantiga é uma arma”, José Mário Branco, 1975

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