20 novembro 2019

PARA TI!



No dia de ontem, que marca a minha tristeza, não consegui escrever mais do que estas palavras, que deixei no Facebook:
Se uma morte custa aceitar muito, uma morte destas deixas-nos arrasados.
“Qual é a tua, oh meu”, partires assim, sem estarmos preparados?
Tu, que escreveste a melhor definição para essa coisa tenebrosa que era (é) o FMI!
Lembro-me como te conheci, no longínquo ano de 1975, em reuniões partidárias, tu na tua UDP, eu na minha LCI: num primeiro impacto, achei que eras o tipo mais antipático do mundo.
Hoje, com uma terrível sensação de perda irreparável, penso que és o maior artista do mundo.
Lembrar-me-ei sempre de ti, assim, como nesta bela foto!
Adeus Camarada!












Hoje, ainda que não refeito da perda, quero deixar a inquietação, porque “Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer/ Qualquer coisa que eu devia perceber”, eu sei que sei, mas se calhar não sei. 
Morre o Homem, não morre a ideia, uma frase feita, por quem espera sempre um mundo melhor, que só o será, pela mudança, pela transformação, quiçá mesmo pela Alegria, que o Zé Mário queria já e agora. Subscrevo também que, “Com tantas guerras que travei/Já não sei fazer as pazes”, já não tenho sequer paciência para ouvir certas coisas, tantas que passam por mim e me tentam impingir sei lá o quê.
Tantas “partidas” nos últimos anos, cansam-me, não sei dizer como. Pois se calhar, algum egoísmo, é mesmo difícil ultrapassar, a gente diz que sim, mas fica cá dentro aquela sensação que as “almas jovens”, mesmo as “censuradas” se foram e não voltam, pelo menos a frequentar o mesmo espaço que nós ainda pensamos que é finito. 

O pouco tempo (muito pouco) com que privei contigo, leva-me (nostalgia, pois) para trás, quando quero andar para a frente, que fizemos nós para assim ser, como ultrapassamos?
Quem mais seria capaz de confessar, “Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois”. Olho para a outra margem e vejo apenas a sombra da tua inquietação. Porventura minha, nossa, que arrepio imenso, diz-me que continuas, vá lá, preciso mesmo.

Numa das últimas entrevistas dizias, sobre a política, que “O capitalismo é que vai conseguir levar à prática aquele apelo do Marx do século XIX: "Proletários de todo o mundo, uni-vos". E os capitalistas de todo o mundo já estão unidos há muito tempo.” Apesar de tudo, continuavas a ser um político.  Andavas por aí a incomodar consciências, ora bem.

Apanhas agora outro barco, sequer sabes do rumo, mas que importa? O que conta é que “Entre a rua e o país/ vai o passo de um anão/ vai o rei que ninguém quis/ vai o tiro dum canhão...”E, claro, o trono é de quem? Pois, e a propósito, farias um “inocente” comentário, “Esta coisa podre em que a gente vive agora faz com que não me sinta bem a cantar as coisas do costume”.

E agora? Olha, eu também “...não meti o barco ao mar/p´ra ficar pelo caminho”, ora porra!

---
(*) Imagens escritas de “Inquietação”, “FMI”, “O Charlatão” e entrevista de 2018

This page is powered by Blogger. Isn't yours?