01 março 2020
Olá a todos!
A pedido do meu Amigo Lúcio Lima, sou a publicar este texto, de sua autoria.
Já me fez pedidos como este, por diversas vezes. A minha resposta, óbvia (digo eu) foi sempre, “Publica tu!”.
O Lúcio Lima é assim um tipo efusivo e, ao mesmo tempo, curiosamente introverso. Tem dias e julga que o chã preto é a cura suprema para a mediocridade.
Desta vez, a primeira, não sei muito bem porquê, acedi ao pedido e ... lá vai a “coisa”.
Não sei se me vou arrepender...
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EM SENTIDO!
Atrai-me o sentido que não faz sentido
Encontro um sentido sem sentido
Em tudo o que é real e efémero
(ou parece ser)
Daqui para a frente há um sentido
Consentido
Mas atenção, ficamos em sentido!
A partir do momento em que aceitamos
O sentido que nos impõem
Veem, não é sequer preciso chamá-los:
Domínio
Impulso
Reverência
(Isto faz algum sentido?)
Mas, o que não faz sentido,
É alguém num impulso contido
Aceita ficar em sentido
Isso é torpe!
Isso é contra-natura
Isso é mau de mais para fazer sentido
Alguém que ponha cobro a este dislate
Já!
Mas, à nossa volta, porém,
Descobrimos sempre outro sentido
Sabias?
Devias saber
Sim, sabias, mas não querias saber
Anestesia?
Há um rio que desta vez não vai ter ao mar
Acordou e, no seio da sua torrente
Olhou a margem descontente
A vida toda à sua volta, o barco tardio
E decide ali mesmo
Que não.
Há outro caminho
A minha corrente afinal tem alguma força
(tem muita força)
Os meus rápidos são tão rápidos
Deitam muros abaixo.
Então, porque hei-de consentir-me
No sentido que não é meu
O sentido que não é mar
Que faz sentido para a geografia
Mas não está na minha geometria
(normalmente variável)
Ouvi dizer
E gostei.
Variável, um termo contra a monotonia
Contra o vento a favor
Contra!
Recapitulemos
Dizes então que a vulva se fecha sem sentido?
Pobre de ti
Que tremenda confusão
Vai lá ver e descobre o quanto desconhecias
É sempre assim
O sentido que deixa de fazer sentido
A marca que deixa de marcar
A balança que deixa de balançar
(porque haveria de o fazer?)
O Mestre que foi engolido e se fechou em copas
A mulher a seu lado atiçando a chama de ódios
Antigos
A tartaruga que perdeu a paciência
O nenúfar que derrubou o elefante
A tromba que não foi a ela própria
A trotinete que atropelou o Mercedes
A passadeira que derrubou o camião TIR.
O que eu passei para vir aqui
Não sei terminar
Será que fui capaz de começar?
Sinto agora, além, algum sentido
Na doce calma da confusão
No capricho insondável da decisão
Provavelmente darei um salto à cantina
Ali ficarei à tua espera
Mesmo sabendo que não vale a pena.
Agora já não estou em sentido, uf...
Lúcio Lima
28 Fevereiro 2020