19 março 2021

 ANTÓNIO SOARES FERREIRA (14 Fev 1916 – 22 Dez 1997)


 

 























O meu Pai.

Esta foto data de 1949, era eu um recém-nascido, ele tinha apenas 33 anos.

Um engenheiro dos antigos, aliás, um agente técnico de electrotecnia e máquinas, como ele gostava de se afirmar, formado no antigo Instituto Industrial do Porto (hoje ISEP).

Cedo afirmou a sua verdadeira vocação, era um artista da manufactura, trabalhava muito bem a madeira, o ferro e outros metais, tinha uma parafernália de ferramentas e uma autêntica oficina, na nossa casa de Ponte do Bico, onde se dedicava, nas horas vagas, a fabricar objectos variados, a que todos nós dávamos uso. Lembro que fabricava rede (de arame), tendo inventado uma máquina para tal, que muitos visitaram. A rede era necessária para a quinta, uma pequena, mas altamente produtiva área, onde havia de tudo um pouco, graças à sua diligência e empenho.

Nunca o consegui acompanhar nessa empresa, dada a minha manifesta falta de jeito. Mas sempre prestei atenção aos objectos, conservo ainda alguma coisa, do muito que se perdeu, quando a casa foi vendida. 

Um engenheiro inovador, particularmente na vertente da luminotecnia, lembro aqui o sistema de luzes que propôs e executou, por exemplo, na igreja dos Congregados e na casa do Nogueira da Silva, na cidade de Braga.

Era também um professor exemplar, os seus alunos da Escola Técnica Carlos Amarante, lembram ainda hoje o seu talento para ensinar, deve ter feito certamente alguma escola, nas vertentes da electricidade, mecânica e desenho técnico. 

Tenho muita pena que tenha abandonado a sua arte, aquando da reforma, nunca mais foi a mesma pessoa, parecendo faltar-lhe o convívio dos seus alunos e dos seus muitos clientes. 

Uma figura, sem qualquer dúvida da Braga antiga, católica e devota, sempre seguiu as pisadas da igreja católica, pertenceu a uma agremiação que penso se chamava “congregação de leigos”, havia uma palestras no Sameiro e uns almoços a que ele me levava quando andava no liceu e que abandonei, quando entrei na faculdade, em Coimbra, no glorioso (para mim, não para ele...) ano de 1969.

Divergíamos em quase tudo, bem que tentou afastar-me das “leituras perigosas” em que me meti, Hélder Câmara, Teilhard de Chardin, Simone Beauvoir, Sartre e claro, Engels e Marx, que ele considerava “decididamente errados”.  Todavia, nada disso impediu uma educação séria, honesta e digna, que sempre procurei seguir.

Hoje, tantos anos após a sua morte, acho que morreu muito cedo, mas conheceu dois netos, que também o recordam e que o adoravam.

Uma saudade imensa do Homem, do Pai, que foi António Soares Ferreira, nome que muito prezava e que sempre disse que os dois apelidos deveriam ser um só, separados por um hífen, uma confusa explicação, que tinha a ver com os nomes materno e paterno.

Por isso, em sua memória, adpotei a ideia e, desde há muito que a uso, apesar de não estar exarada no meu registo: Alfredo Soares-Ferreira


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