20 junho 2021

 GEOGRAFIA DO SILÊNCIO


 

















Sabe-se que há silêncios mais eloquentes que palavras.

Guarda-se silêncio, por isto ou por aquilo, por vezes nem sequer sabemos porque o fazemos, tamanho é o espanto perante o que se passa à nossa volta, estranha realidade que se quer imiscuir no nosso quotidiano e nos perturba o dia a dia.

Direito a um silêncio que reputamos imprescindível, perante a vozearia que perpassa por todo o lado, num crescendo de tal forma violento, que parece querer destruir o pouco que ainda temos, de algum recato a que temos direito.

Pensamos aí, se ainda nos resta algum direito, que se pode resumir em simplesmente não querer mais. O direito de não querer saber. De não querer saber dos desastres, das tricas e das disputas, das hipotéticas desavenças, dos ditos “factos”, arquitectados em gabinetes de fala-baratos e profetas da desgraça.   

Se vantagens houve no mediatismo social das últimas décadas, eis que ora escapam por entre os dedos e confundem-se com a mexeriquice das tias das várias linhas, em mapas desenhados com mesquinhice e cretinice. 

Ouvem-se a eles próprios, convencidos que representam alguém, como se houvesse alguéns que queiram ser representados. Aliás, a suposta representação escapa e estingue-se, no momento preciso em que abrem a boca e vomitam estupidez, em forma de informação. Alguns até piscam o olho, num assomo supremo, misto de ignorância e ignomínia. Que lhes valha a tela que têm pela frente e os protege da ira popular, se ela existe e tem força, ainda que contida. 

 

Daí que o silêncio pode construir uma geografia eloquente, perante tanta falta de sabedoria. Assim, talvez venha a obter um estatuto, capaz de ombrear com tanta pequenez, moral e intelectual. Valha-nos a razão de não querer, assista-nos o direito de não alinhar. Haverá algures um mapa, ao qual a geografia presta contas, ainda que seja desenhado com uma qualquer geometria variável, onde caiba, pelo menos, a diversidade que nos querem subtrair, sob a forma recente da auto-proclamada “resiliência”. 

Iremos por aí, encontrando esta e aquele, tu e mais alguém que resista, recordando os tempos de uma noite triste, onde apenas havia escuro e perfídia. E, como o Poeta nos ensinou, “...há sempre alguém que diz não”, recusando em definitivo, toda e qualquer servidão. 

 

Apenas murmúrios, vindos de outras terras, relatam dores e prantos, por vezes invisíveis aos ouvidos. Respostas não existem, apenas um perplexo estado de mutismo, quiçá insensibilidade, perigo constante que espreita as sociedades que fazem do lucro e do consumo, o supremo estado de alma. 

Deixem vir até nós as vozes de quem tem algo para dizer, talvez um “...desafio pairando sobre o rio”. Talvez uma miragem...

 


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