06 agosto 2021

 A TRAIÇÃO DOURADA

 

O Homem que traiu o seu País, cousa vulgar, na história de hoje de sempre, tantos houve, ao longo dos tempos, inenarrável de tanta vulgaridade. Dir-se-ia que Brutus e Judas, exemplos habituais, haveriam de produzir excelentes exemplares da traição clássica.

 

O contrário já é mais rebuscado. De modo que, quando o Homem se sente traído e encontra razões para saltar dos seus, para a propalada Liberdade e o faz de forma tripla, buscando o aplauso colectivo, porque o ouro conquistou, a gente gosta. O País rejubila, porque afinal essa outra cousa é tão rara, que tem mesmo que se ir sempre à História, procurar idênticos feitos, neste e noutros séculos, desde que os olímpicos jogos são notícia.

Então vem o Presidente e fala, ele que tanto gosta de o fazer, por isto ou por aquilo, fala sempre. E, pelos vistos, a gente gosta, que sim, que sabe reconhecer e mostra que sabe do que fala. Diz ele que devemos prestar homenagem e a gente presta, e rende-se ao feito, porque é uma honra e mexe connosco, ouvir o hino e ver a bandeira subir, é sempre a lágrima incontida, mesmo que não ao canto do olho. 

 

Somos, diz-se, um País pequeno, ouvimos isto e sempre lembramos. E sempre lamentamos, porque, diz-se também, já fomos grandes, um imenso Império, onde, diz-se finalmente, um dia nos afundamos. Mas nunca esquecemos. Há países identicamente pequenos. Há um, por exemplo, do outro lado do mar, que já sacou até agora, nestes jogos, 6 medalhas de ouro, 3 de prata e 4 de bronze. E, pelo que rezam as estatísticas oficiais, ganhou já 226 medalhas, sendo 78 ouros, 68 pratas, e 80 bronzes, ocupando assim, a 3ª terceira posição entre os países das Américas, em relação a conquistas de medalhas de ouro (atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá) e conquistou mais medalhas do que qualquer país da América do Sul. 

 

Curiosamente, é desse País que falamos, e que, diz o medalhado, o traiu. Então, diz ainda o herói, “Em Cuba sou um traidor, mas eu já não sou cubano...”. Esquece o herói que foi o País onde nasceu que lhe deu as bases para que ora seja ouro? Sobre isso, sabemos nada, mas afinal o que é que isso interessa? O importante para ele, é que irá receber 50 mil euro, para além da liberdade que conquistou ao saltar de um país onde era, segundo alegadamente, um “traidor”. 

 

Para além da habitual romaria de vaidades, quando um atleta conquista uma medalha, ao serviço do País, fica a incrível falta de aposta nas modalidades olímpicas, situação que se repete sistematicamente. E, talvez por isso, somos “obrigados” a festejar cada medalha, como se fosse a última, porque a continuar assim, o lugar modestíssimo que o País ocupa, será eterno. 

Desta vez foi assim, amanhã pode ser na mesma. Afinal, não deverá haver assim tantos cubanos a querer saltar...


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