11 outubro 2021

ÁGUA PESADA


 


 











Diz-se de uma variante da água, muito semelhante, em termos químicos, à água normal, mas que inclui o isótopo de deutério do hidrogénio (2H2O ou D2O). Pesada, porque simplesmente aqueles átomos de hidrogénio são mais pesados, uma vez que os seus núcleos têm a mais um neutrão, para além do protão característico dos átomos de hidrogénio. Em termos muito simples, o protão, é a partícula do núcleo de um átomo com carga eléctrica positiva e o neutrão, a partícula do núcleo de um átomo desprovida de carga eléctrica.

 

Apresentada a ciência da Física Atómica, pretende-se estendê-la, ou, como é usual fazer-se, aplicá-la ao mundo real, neste particular à política concreta, se tal coisa tiver vida própria e for possível (porque não?) atribuir-lhe um valor, positivo, negativo, os simplesmente “sem carga”. 

Vem a propósito, a “carga” que o OE representa, ou representará, na vida dos cidadãos deste país, muito embora se saiba, que “...há mais vida para além do Orçamento”, uma conhecida asserção, da autoria do saudoso Jorge Sampaio, corria então o ano de 2003.

A água pesada é conhecida, na gíria comum, pelo papel que desempenha na regulação dos processos dos reactores nucleares que não usam urânio enriquecido. A saber, quando os ditos (reactores) se envolvem na fissão, libertam os tais neutrões, que são partículas conhecidas pelo seu movimento, que é tão rápido, que necessita de alguma estabilidade, necessária para que a reacção em cadeia seja devidamente controlada. Aí entra a água pesada, como o dito regulador.

À possível confusão, criada pela introdução da Física, sucede a circunstância da possível assimilação de um processo, controlado, ou nem por isso, para que a reacção, ou reacções em cadeia, se processem de forma, digamos, pacífica. Tal poderá, contudo, não ser viável, se entrarmos em linha de conta com outras variáveis, não propriamente físicas, mas sobretudo de ordem socio-psicológica. 

 

A questão das cargas

O que é, ou não, positivo, pode, em determinada fase do processo, ser fatal para o mesmo, ou pelo contrário, ser aditivo, em termos de importância. Vamos por partes. Enquanto no processo de fissão (nuclear), se constata a partição de um núcleo atómico, pesado e instável, em dois núcleos atómicos médios, no processo político apenas interessa a particularidade de ser “aditivo”, ou seja, que junte os diferentes contributos, para produzir um “núcleo” forte, que possibilite uma execução equilibrada.  

Por razão evidente, se conclui da necessidade de “cargas” positivas no processo, ou no mínimo, que não tenham qualquer carga, a saber, que não introduzam elementos de diversão ao objectivo final. 

 

O papel da “água pesada

Se tem papel, se interessa que tenha algum papel, ele tem que ser devidamente pesado. Não se pense que a água é “neutra”, ou politicamente inócua, como por vezes se pretende. Se porventura, como acontece na fissão nuclear, se pretende uma quebra, ou uma divisão, na política orçamental devia pretender-se exactamente o contrário. Aparentemente, o contrário. Todavia, a dialéctica da coisa, deixa antever, como sempre, a aproximação ao dito processo de fissão. Bem ou mal, acaba por ser quase sempre assim. 

E aqui entra a “água pesada”. Apenas um ligeiro pormenor de um “neutrão a mais”, para lhe conferir o tal “peso” que faz a diferença, ou a afirmação da diferença, pelo peso conferido pela razão? Traduzido em palavras “normais”, será um orçamento como os outros, preocupado sobretudo no cumprimento das metas do défice, ou um orçamento especial, num momento de crise evidente, onde os que mais sofrem são sempre os que acabam por pagar o ónus de uma carga, “pesada” demais para os respectivos ombros? Um orçamento que “suporta” a evidente e aparentemente generalizada subida de preços, com a necessária resposta dos sindicatos, que desencadeia o conflito negocial? Ou um orçamento de “pacificação”, devidamente acordado (ou controlado?) pelo acordo (que parece próximo) do Partido Socialista com a Esquerda parlamentar?   

 

Avançando, ou apenas continuando a ilusão?

Nas duas questões anteriormente colocadas, pode entroncar uma vez mais (não entra sempre?), a centralidade evidente da necessidade de controlar devidamente o papel desempenhado pelo partido do governo. E tal controle só é possível, com a presença da Esquerda no Poder. É a tal diferença que a “água pesada” confere, apenas um neutrão a mais. Porque não se pense que é derrubando Costa que o País vai resolver algum problema, mas sim forçando-o (sim, é este mesmo o termo correcto) a negociar com a Esquerda. Não é Direita que tem a solução, falta-lhe “carga” para despoletar seja o que for, para além do fogo de artifício provocado pela agitação constante e permanente do espectáculo e da diversão onde se movem as figuras que conhecemos. De todo. A evolução, no sentido de uma política de substância aditiva, que signifique melhores condições de vida para quem realmente necessita, estará porventura no despoletar de um processo de fissão, não no sentido da “quebra”, ou da “divisão”, mas no caminho da libertação de uma quantidade enorme de energia, típica deste tipo de processo. É dessa energia que o País precisa para que a transformação comece, ainda que timidamente, a dar os passos certos e necessários.

 

Sempre a Física a dar respostas?

Existe um isótopo ainda mais pesado de hidrogénio, que não é utilizado para água pesada, nos reactores nucleares. Não falamos dele, porque é radioactivo e ocorre muito raramente na natureza, é um subproduto de eventos nucleares. A ingestão ou inalação artificial de trítio (assim é chamado) pode ser algo inconveniente para o ser humano. O cidadão deve ficar apenas pela preocupação natural em evitar este isótopo, ou outros de perigo semelhante, que desgraçadamente pululam por aí. 

Fica, pelo menos para já, a sugestão de leitura de mais informação científica, caso ocorra algum perigo de contaminação.

Para bem entendedor, basta, contudo, um conselho básico: evitar o contágio.


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