25 maio 2022

 MENTIR E NÃO DIZER A VERDADE É A MESMA COISA?

Aqueles que mentem sobre a guerra estarão particularmente protegidos sob o chapéu imenso da histeria coletiva que grassa um pouco por todo lado. E que foi nitidamente provocada e organizada, instalando um clima de medo, com o objectivo de moldar as consciências para o pensamento único.
Não pensam, não sabem. Executam apenas ordens vindas não sabe bem de onde. Mas o que é certo é que a instalação resulta. Resultou, sim.
Hoje, qualquer posição escrita ou falada que não apele ao sentimento de uma guerra injusta, aos mortos em combate, às chacinas e até a massacres, resulta em cheio. E trazem como consequência fabricada, a necessidade (dita urgente), de mais armas, mais tanques, mais munições, para investir na guerra. E, acima de tudo, mais e muito mais dinheiro. Quem não se comove com imagens (podem ser falsas, ou de outras guerras, claro) de uma casa destruída, com roupa a secar na varanda? O nosso primeiro-ministro usou aliás esta figura para se referir ao horror de uma guerra indigna. Daí, a necessidade urgente do "apoio". Não às pessoas, mas sim indiscriminadamente, à manutenção da guerra. Mais, ao incentivo a que continue, porque não basta o que está, é preciso ir mais além, mesmo que esse além, não se saiba bem o que é.
Aqueles que mentem não vão sofrer consequências alguma. Se porventura a mentira chamar muito a atenção virão dizer que se tratou de um erro de uma fonte menos bem colocada. Aqueles que ao contrário optem por colocar em causa, analisar, repetir e voltar a investigar, são objectivamente pró-russos ou, o que é bem pior, pró-Putin, não merecendo enquanto tal qualquer credibilidade.
Outros menos agressivos, mas mesmo assim algo persecutórios dizem que não querem ler ver ouvir posições que questionem, uma vez que, na sua avisada opinião, já escolheram um lado. E se dúvidas houvesse sobre "o lado", lá vem o acrescento, "... não tens razão mas tens o direito de ter a tua opinião", como se fosse necessário reconhecer ao outro o direito de se expressar.
Aqueles que todos os dias falam em centenas ou mesmo em milhares de crimes de guerra cometidos pelos russos (por quem haveria então de ser?) ficam-se pela afirmação e não dizem mais nada, é assim e pronto. Não é preciso investigar, não é preciso saber mais, basta a notícia espectacular, a passar a toda a hora. Nada mais interessa do que se passa no mundo. Nem cá dentro, sequer.
Aqueles que todos os dias aparecem a pedir mais dinheiro mais armas mais munições vão reunindo mais razões para um dia poderem porventura invadir o invasor e pôr ordem nos apoiantes.
Quem nos vem pedir mais sacrifícios porque temos de prescindir de alguma coisa para poder “ajudar”, são os mesmos que no dia-a-dia aceitam passiva e servilmente que seja uma ínfima parte da sociedade a explorar uma maioria imensa, com o maior desplante e com a complacência de quem os protege.
Aqueles que se calam e submetem são possivelmente uma imensa multidão de gente que se habituou a calar, ou que tem mesmo medo de se exprimir. Há assim uma percentagem significativa que pensa que sempre foi assim e não é agora que vai mudar. Isso convém mesmo aos espíritos belicistas e guerreiros. Assim podem-lhes pedir apoio e exigir deles ainda mais sacrifícios.
Aqueles que detém o poder e estão em condições de o exercer sem contestação formal, ou contraditório significativo, são particularmente beneficiados por uma conjuntura favorável. Ficam no seu posto e no papel que pensam ter de guardiões da democracia. Estão convictos da sua razão por que dizem foi o povo que os escolheu.
Não dizem, mas deviam dizer, por exemplo, que as maiores fortunas cresceram tanto em 24 meses de pandemia, como nos 23 anos antes, assim nos conta um relatório publicado pela Oxfam, que, diz ainda, que por cada bilionário criado durante a pandemia (um a cada 30 horas!), um milhão de pessoas em 2022 são empurradas para pobreza extrema, com a mesma rapidez
Não dizem, mas deviam dizer que, hoje, o salário líquido de um trabalhador português, com ordenado médio e sem filhos, correspondeu em 2021 a 72,0% do valor bruto recebido, abaixo da média de 75,4% dos 38 países da OCDE.
Mas a quem interessa tudo isto, quando o que parece importar é alimentar a guerra?
Basta, é demais!

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