02 junho 2022

A RETÓRICA BELICISTA NÃO INCLUI A PALAVRA PAZ! 


O regime de sanções é simbólico, é uma medida de força, não é para resolver coisa nenhuma, é apenas para aumentar a pressão. Esta é a lógica das sanções que estão a infernizar os ucranianos, os russos e todos os cidadãos da Europa, muito particularmente aqueles que já tinham rendimento reduzido e que agora têm ainda menos. África também já está a ser atingida, por força dos aumentos de preços dos bens alimentares. Outros se seguirão, devido à escalada e amplificação de um conflito regional. 

A questão que se deve colocar é pura e simplesmente esta, a quem interessa este estado de coisas? Ainda para cúmulo, as sanções pouco atingem o invasor, enquanto poder constituído. Ao que parece, a Rússia, por ter possibilidade de diversificar as suas fontes de financiamento, acaba por ter alguma margem de manobra, relativamente à sua estratégia e à sua própria sobrevivência. Neste contexto, o que faz a dita união europeia, onde o nosso País foi incluído, por decisão de administrações e sucessivos governos? Está a fazer algo pela paz e pela segurança e protecção dos cidadãos? Absolutamente nada. Antes pelo contrário, uma vez que a prioridade é a decisão política obcecada de “esmagar” a Rússia. Claro que esta estratégia, como a prática demonstra, apenas serve para esmagar (sem aspas) os cidadãos europeus. O país invadido está, como a prática demonstra, completamente refém de uma agenda externa, que promove e incentiva a guerra, por todas as formas possíveis e imaginárias. O prejuízo, que é evidente para toda a Europa e também para a própria Ucrânia, acaba por ser secundarizado pela fome de guerra e ainda por uma questão ideológica permanente que não aceita, nem tolera, o poderio comercial da Rússia e o seu possível incremento. De lado parece ficar a dependência energética de uma Europa, que nunca foi capaz de encontrar um caminho independente, força das opções neo-liberais, que protegem o capital e oneram o trabalho, com as transferências certas de rendimento do segundo para o primeiro. 

Como resolver a delicada questão do aumento do preço dos combustíveis? Ao que se sabe, existe uma pressão dos EUA e Europa sobre o cartel formado por 23 grandes produtores de petróleo, designado por OPEP+, para o incremento da produção, no sentido de reduzir os preços do petróleo. Note-se que, a valores de 31 de Maio, o preço do barril de brent atingiu os 122 dólares (há 1 ano esse valor não excedia os 70 dólares). Este cartel parece não querer atender. Entretanto a UE procura novos mercados, podendo estar na mira a Nigéria e Angola. Segundo o Jornal Libération, que cita o Wall Street Journal, os principais países exportadores irão reunir-se em Viena, esta semana, e poderão actuar à margem de Moscovo de forma a ter carta branca na produção de barris. 

As sanções estão hoje completamente esgotadas. O Conselho Europeu adoptou o que se espera ser o último grande pacote de sanções contra Moscovo. A partir daqui o que se segue, na estratégia europeia? Que nunca existiu e que está permanentemente refém dos americanos, que têm a guerra bem longe de casa, mas que a alimentam, para sustentar o lobby do armamento. E não só, mas também para combater indirectamente a China. A aparente e tão propalada unidade europeia deverá terminar em breve, a realidade assim o parece demonstrar: ao contrário das sanções anteriores, adoptadas em poucas horas, desta vez levou quase um mês de negociações para chegar a um acordo. E sabe-se quais as possibilidades de desacordo próximo, uma vez que, por exemplo, Alemanha, Áustria e Itália, são totalmente dependentes do gás russo. Se essa fosse, como pretende a UE, a possibilidade de colocar a Rússia de joelhos, a medida vai esbarrar na realidade. Aí, a defesa do interesse próprio irá vencer a hipocrisia. 

Por isso mesmo e por todas as razões, humanitárias incluídas, é que a UE já deveria, há muito tempo, estar unida para impedir a guerra e lutar por negociações, em vez de andar a armar um país e a condenar à fome e à miséria, milhares de milhões de cidadãos. E a Ucrânia, ou melhor, o governo ucraniano não está a lutar pela liberdade na Europa, uma infâmia que a propaganda nos quer vender. Em vez de aceitar negociar, está a condenar o seu povo à escravidão e ao sofrimento, enquanto proíbe toda e qualquer voz que não apoie o líder, agora catapultado para o estrelato. 
Contudo, a guerra é real e não é o festival da eurovisão.

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