28 dezembro 2022

 ALEXANDRA MILHÃO (ou meio)

 

O final do ano que se aproxima parece mais um precipício, onde alguém supostamente se irá afundar. As notícias relativas a Alexandra podem afundá-la, afundar alguém, por via dela. Ou todos, o que nem seria despiciendo. Saberemos agora o que nos diz respeito. Ou não.

 

Contemos a estória. Alexandra, Engenheira de Telecomunicações, 48 anos, não tem, que se saiba, qualquer filiação partidária, “apenas” mérito para integrar, em tão curto espaço de tempo, empresas como a PT, a REN ou a NetJets, sempre na área de compras. Seguiu-se a TAP, onde entrou em 2017, tornando-se um dos rostos da reestruturação da companhia aérea, que levou à saída de perto de três mil trabalhadores. Depois, no ano seguinte, a empresa NAV, Navegação Aérea de Portugal (sabiam o que isto era?), que assegura o controlo de tráfego aéreo, com um vasto conjunto de equipamentos e instalações em vários pontos do Continente e Regiões Autónomas. Aí desempenhou a função de presidente do Conselho de Administração. Alexandra esteve sempre na mira dos sindicatos da TAP, por força da função que ocupava, que era, simplificando as coisas, despedir o pessoal, nestas situações considerado descartável.

E, a este propósito, deverá falar-se porventura de uma certa bondade dos poderes constituídos, quando consideram que a casa está demasiado cheia e o espaço é exíguo, tentam aliviar o ambiente e, a forma mais óbvia de o fazer é convidar algumas pessoas a sair. Tudo isto tem uma lógica muito própria e, na verdade, só mesmo uma mente dura não a compreende, nem alcança. 

Alexandra fez isso, mas como se trata de uma pessoa empenhada, colocou todos os seus vastos recursos na tarefa e isso custa dinheiro. Também não será muito difícil perceber isto. Foram quase oitocentos mil, que se saiba, que reclamava do seu trabalho. Mas fica a dúvida, Alexandra demitiu-se, foi exonerada, foi despedida? Foi competente ou não? Executou as funções inerentes? Mas que interessa tal coisa? A quem interessa? Onde está a diferença?

Saber se a gestão da TAP, ou da NAV, ou outra qualquer é, ou não, transparente, é coisa que não deve perturbar as mentes do vulgar cidadão. Entende-se, pois, a atitude de absoluto silêncio, neste como em outros casos, dos administradores e governantes, para assim poupar o dito cidadão a preocupações escusadas. De nada serve a gritaria, o nosso Governo segue o caminho certo, ou melhor das “contas certas”, estejam assim descansados.

Mas, no entanto, há sempre gente demasiado ansiosa, dizendo mal, escarnecendo dos políticos responsáveis pelos cargos em que a República os investiu, para cumprirem a sua função. E nós, vulgares cidadãos, devemos dar-nos por satisfeitos por podermos votar, de quatro em quatro anos, pois trata-se de uma conquista de Abril. Há 50 anos, nem isso podíamos fazer. 

E quanto à ética republicana, que muitos vieram a evocar, não passa afinal de retórica barata e arma de arremesso contra o empreendedorismo, habilidoso ou não, típico da sociedade moderna europeia que já deveria, há muito, ter-se livrado de utopias falaciosas e desnecessárias.

 

Quanto ao milhão da Alexandra (exactamente, se querem saber, 1,47), que depois se viria a transformar apenas em meio, devemos apenas agradecer (de novo) aos poderes constituídos, porque afinal até poupamos na verba que ela pretendia. Medina, na sua senda de velar pela Pátria (e pelas tais contas), Costa, seu chefe supremo, que decerto que o terá aconselhado. E quando a Pedro, mesmo sem lhe conhecermos uma palavra sobre a matéria, se por acaso procedeu mal, irá apanhar um raspanete, com o da última vez e continuará a servir o seu chefe e a Pátria, por arrastamento natural. 

Se porventura estiverem interessados em saber mais, anotem que o vencimento mensal da jovem Alexandra era de 17.500 euro, já depois de aplicado o corte de 30%, devido ao processo de reestruturação. E ainda que este vencimento estava à margem do Estatuto do Gestor Público, pelo que não se aplicam as limitações de ordenado. Daí que a comparação aos míseros 5.792 euro do vencimento do primeiro-ministro, é simplesmente escusada. Tudo isto a TAP esclareceu, apenas não explicou bem o motivo da saída, coisa de somenos, deve dizer-se, afinal que temos nós com isso? Afinal, na parte final, a Alexandra teria um brevíssima passagem por uma Secretaria de Estado, tendo sido ora demitida. Que querem mais?

 

Voltando às “contas”, o meio milhão dividido pelos três mil trabalhadores, dá aproximadamente 167 euro. Deverá ser esse o valor de cada trabalhador despedido. Nada mau. E, se for entendido como prémio, até nem é grande coisa...


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