07 dezembro 2022

INICIATIVA BIDÉ

Ainda bem que temos uma iniciativa que cuida dos nossos interesses. Num dia em que se conhecem situações de crianças com graves infecções respiratórias que entopem urgências de pediatria, em que o preço dos bens alimentares regista uma subida de dois dígitos, em que as empresas de energia “ajustam tarifas” que prenunciam mais aumentos e em que. Se sabe que o ex-Ministro da Defesa e actual Ministro dos Negócios Estrangeiros promoveu um dos suspeitos, agora detido, já depois de saber da derrapagem das obras no Hospital Militar de Belém, a tal iniciativa, que é decididamente liberal, quer acabar com leis iníquas como a das banheiras e bidés.

 




Assinala-se aqui o devido respeito pelo objecto, que, nas nossas casas de banho, ocupa um papel de primordial importância e que ainda é uma das coisas boas da civilização ocidental, tão manchada de cenas muito pouco recomendáveis. Que nasceu em França, por volta de 1600 e morava no quarto onde se dormia, ao contrário de agora. Os salafrários que querem hoje acabar com o bidé desconhecem, por exemplo, que à época se pintavam quadros em que o objecto era senhor e que havia muitos que estavam inseridos em pequenos móveis de madeira, com pés curtos, e tapados com tampo de couro, fazendo parte da vida da corte, da nobreza e da burguesia. Aliás a difusão do adorno foi generosa em todo o Mundo, como excepção dos americanos que nunca entenderam para que servia, como ainda hoje não entendem muita coisa.

 

Mas a vida é assim e quem gosta de bidé irá, muito provavelmente, render a homenagem devida aos servidores da Pátria que, podendo não querer saber de mais nada, cuidam da higiene pessoal de forma tão atenta e oportuna, bem como dos superiores interesses dos cidadãos, preocupados com uma lei tão degenerada. Que cada casa tenha o seu bidé, isto claro, para quem consegue hoje ter um privilégio desses. De ter casa, que não de bidé.

 

Regista-se que, sem banheira e sem bidé, o prazer não é o mesmo. Estendendo assim o conceito conhecido do Miguel Esteves Cardoso, “Sem o prazer, é tudo uma estucha”.



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