13 janeiro 2023

 O EXAME DE ADMISSÃO 

Recuo ao início dos anos 60 do século passado. Fazíamos então o exame de admissão ao Liceu, vindos da Escola Primária. Não me lembro se tinha 36 questões, mas acredito que se tratava de perguntas pertinentes, relacionadas com a exigência da coisa. Sem o exame não poderíamos entrar no Liceu, poucos, entretanto tinham esse privilégio, a maioria ficava por aí, sem acesso sequer a um exame, prerrogativa só possível aos filhos da burguesia. O exame era um "luxo", a admissão uma miragem, tal como a Ponte, da canção. Havia, para um grupo ainda mais restrito, as explicações do Prof. Gil, que nos preparava o melhor que podia e sabia para a dura prova.                  

A admissão dos dias de hoje é quase a mesma coisa. Há uns tantos candidatos que vão agora, após muitos anos de entrada directa, fazer o exame de ingresso. Difícil como o outro, deverá ser, a única coisa que sabemos é que são 36 perguntas. Decerto que haverá, como no outro caso, um qualquer Prof. Gil a dar-lhes as explicações necessárias para passagem à primeira. 

Mas se calhar dá para imaginar perguntas, tipo, “tens algum processo em cima?”, “a tua mulher tem alguma conta arrestada?”, “sabes o que é uma conta arrestada?”, “entregaste algum subsídio à Empresa X?”, “sabes o que é um subsídio?”, etc... Estas são fáceis, outras possivelmente mais difíceis, como por exemplo, “define ética republicana”, “quantos dias esperas estar no Governo?”, “tens algum prima no Governo e em que departamento?”, “ainda namoras com o secretário de estado Y? E para estas últimas penso que as “explicações” antes do exame não serão grande ajuda.

Gostaríamos de saber ainda se bastará a prova escrita ou, se lhe sucede uma prova oral. Ou se há, neste caso concreto, dispensa da oral, com nota acima de 14 valores. Ainda este pormenor que poderá ter algum sentido: onde serão afixados os resultados da prova escrita? Poderia sugerir que fosse na Autoridade para a Transparência, se esta não tiver paredes de vidro. Esta última sugestão era capaz de ter alguma lógica, ao menos serviria para inaugurar e dar que fazer a esta digna instituição, que já tem estatuto, uma lei orgânica, que tem o número 4 e data já do longínquo ano de 2019, já agora ao décimo-terceiro dia do mês de Setembro.

Mas, como é evidente, nada disto tem interesse. O que interessa aqui é agitar as águas, de um rio bem sujo e onde fica seguramente mais bonito saber até que ponto vale mesmo a pena tomar banho nele. Se porventura tomarem contacto mais estreito com alguma, ou algum, dos visados façam favor de serem compreensivos para com os candidatos, que estes levam um vida muito preenchida e não devem estar a mudar-se só porque sim.

 Com esta termino. Deverá haver, para os examinandos, uma espécie de atendimento imediato e um despacho rápido, que esta gente tem mais que fazer e coisas importantes a tratar. Deus sabe o tempo que nos fazem perder num simples interrogatório. Deviam ter algum respeito e consideração connosco, pronto, enquanto escrevia, sei que passei na escrita, mas não tenho dispensa da oral, deve ser na semana que vem.

Aguardemos.


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