26 março 2023

O MORGADO DA ARMADA

 

Nascido nas bandas africanas de Quelimane, o senhor Passaláqua ostenta rigor e autoridade. Tal como os de antigamente, o senhor parece um morgado, até dá “...gosto vê-lo”, “todo empertigado”, para usar a imagem do Niza, quando escreveu a peça “O Senhor Morgado”, em 1971, que daria uma bela canção do Adriano, estávamos já no final da dita primavera marcelista, não tardaria a Revolução. 

E ele (Adriano) cantava “...ai que bem lhe fica // O Chapéu armado e a comenda ao peito // ...que homem tão perfeito.”, coisa que se poderia aplicar hoje ao Passaláqua, fosse a ideia da “perfeição” tão imperfeita para o gosto de quem escreve. 


Antes assim, pelo contrário, o senhor Passaláqua adquiriu o título da República, muito embora, segundo a história os morgadios tenham sido extintos em Portugal no reinado de D. Luís, em 1863. Coisas da monarquia, algumas ainda cá estão. Corria o ano sem graça de 2020, quando o senhor Passaláqua tomou as rédeas do poder máximo contra a covid, lembramos que antes dele estava tudo mal e quando ele entrou passou a estar tudo bem, apesar de ele ser antes o número 2 do dito poder. Mas só um espírito delirante não entende estas coisas. Mas lembramos, entretanto, que era isso mesmo que o senhor pensava, quando puxou para si todos os louros, na entrevista que deu ao New York Times. 

[é uma chatice a gente lembrar-se das coisas...] 


Bem, por aí fora, já com a comenda ao peito, é nomeado então morgado da Armada, tirando de lá o outro, mesmo a contragosto (do outro). Mas era assim que queria o Governo, aliás até queria mais (o Governo), Costa diria até que queria uma "revolução" na Marinha, mais ainda, que até era o almirante que queria assumir essa “revolução”, a saber transformar os oceanos numa "grande causa e missão global". Tantos “querias” são obviamente propositados, imaginem agora que um de nós simplesmente ...queria.

Sabemos, entretanto, o que não queremos, muito embora alguns navegadores de águas turvas e outros navegantes de ocasião querem projectar o Passaláqua para outros voos, ou melhor mergulhos inusitados de outras águas. Se serão profundas o tempo o dirá, melhor que qualquer opinião necessariamente suspeita de quem não ter a melhor apreciação de morgadios e quejandos.


Os episódios recentes do navio NRP podem ter estragado as pretensões do morgado. Mas atenção, a comunicação social tem destas coisas, se umas vezes mata, outras dá vida. A de cá do burgo farta-se de dar voz ao morgado, tantas e tão poucas que ele vai dizendo que nunca se sabe, quando se fala de eleições à porta. Mesmo que não estejam à porta. 

Mas, os tais episódios, pelo menos, revelaram a verdadeira face do senhor. Acusador, com espírito de inquisidor, vai dirigir-se aos seus subordinados, julgando-os na praça pública, convidando a televisão para transmitir o vexame. Assim, o morgado classificou o acto dos 13 militares como uma insubordinação e disse que "jamais poderá ser ignorado e esquecido".

Ora bem, seja o que for que os militares tenham feito, sendo que para tal vai decorrer o respectivo processo, o que “jamais poderá ser ignorado e esquecido" é a atitude, indigna e prepotente, do morgado. 


Na letra do Niza, o morgado “...é temido e amado, fala a toda a gente”, aqui é capaz de ser um bocadinho diferente. A não ser que as pessoas andem a dormir, coisa que às vezes até acontece. Mas as pessoas estão vivas e não vão dormir eternamente. Credo!


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