20 março 2023

 TRIBUTO AO HOMEM E À SUA MÚSICA

 


 

Sábado, 18 de Março de 2023, um Homem sobe ao palco para nos brindar com a sua Música. Não apenas, mas também. Ele que conheceu um tempo em que o tempo era sempre a correr, tantas vidas, tantos sonhos de mudança, tanta matéria de facto, uma ilusão que a luta torna realidade, uma busca eterna da lógica da palavra certa no momento mais oportuno.

É assim Roger Waters, quase 80 anos plenos de energia e vigor militante pelas causas da Liberdade e contra todas as opressões e dominações. Contra a inação, também, como o atesta a forma como começa o Concerto, quando diz que provavelmente estamos todos confortavelmente adormecidos, esquecido o sonho de outrora, “The dream is gone//I have become comfortably numb”, a tristeza de não poder entender o que dizes “Your lips move but I can't hear what you're saying”, talvez porque a distância é grande e os obstáculos são imensos, hoje, num tempo de distopias. E, bem a propósito, quer lembrar Orwell e Huxley, aluno e mestre que sempre nos trouxeram à memória, nas suas obras de denúncia de todas as formas de governo e opressão, neste que mesmo parece o Admirável Mundo Novo do Mestre, onde uma administração zelosa da dominação por todos os meios, manobra os cidadãos, com propaganda e manipulação, através de um rigoroso controle. Quantas semelhanças, mesmo nas diferenças, com o mundo estúpido onde hoje habitamos, para mal do pecado imenso da culpa individual que o Grande Império nos quer transmitir e inculcar.  Que aliás ele mostra em imagens, onde a culpa está perfeitamente identificada, como “ser negro”, “ser palestiniano”, “ser mulher”, “ser pobre”, “ser diverso” e outros "ser".

E o porco esvoaça, transmutando-se em carneiro, ou vice-versa, numa dança permanente, ostentando a verdadeira razão de ser do capitalismo predador, na sua faceta neoliberal “Steal the Poor And Give to the Rich”, o Homem que não hesitou em chamar porcos fascistas a Trump e Bolsonaro, situação que hoje em Israel se aplica que nem uma luva a Netanyahu. A banca que, dentro do Pavilhão, denuncia a ocupação ilegal da Palestina, a que aparentemente ninguém liga, porque a propaganda do Império, responsável número um pela situação, está virada para a “encomenda” do mesmo império, na Ucrânia. Mas o mundo não se esquece da face violenta e brutal do estado de Israel, nem do assassinato de Shireen Abu Akleh, morta no ano passado, com um tiro na cabeça enquanto trabalhava como jornalista em Jenin, são “75 anos de ocupação colonial, de apartheid e opressão, de expropriação e esbulho dos palestinianos”, como se podia ler num folheto distribuído no evento. 

Roger não se esquece do seu Amigo Syd Barrett (Wish You Were Here), a quem o ligaram sonhos e partilhas, onde está a homenagem, chamada Shine On You Crazy Diamond, uma enorme emoção, bem demonstrada na forma como foi interpretada e sentida pela multidão. Roger aliás não esquece todas as formação de opressão e chama-as pelos nomes. Por isso mesmo, lhe tentaram, felizmente em vão, calar a voz, como conseguiram fazer na Polónia, na Alemanha e na França, três dos fiéis caninos de um império em decadência, afinal os pigs que em vez da pocilga preferem esvoaçar por aí, para comer a carne e o sangue da manada, tal como os vampiros de que o Zeca nos falava.


 




 

Se são ou não loucos, nunca o saberemos, mas sabemos que andam por aí. Uns são bons, os outros nem por isso. Quase no final, o Brain Damage vem lembrar que “The lunatic is on the grass // The lunatics are in my hall // The lunatic is in my head…”. E, se nada mais houver a fazer, vamo-nos encontrar no lado escuro de qualquer lua. Até lá, andámos por aí e decerto que nos cruzamos na próxima luta. Que pode ser até mais um concerto destes... 


This page is powered by Blogger. Isn't yours?