05 março 2024

  

DIA 5 DE MARÇO 2024: NOT IN OUR NAME (*)


 

Um dos mais tocantes temas de Charlie Haden e da Liberation Music Orchestra, com a pianista Carla Bley, é este, o primeiro do albúm que tem o mesmo nome e foi gravado em 2004. O notável contrabaixista norte-americano foi sempre um destacado interventor político, incluindo em Portugal, onde chegou a ser preso pela PIDE/DGS, em 1971, por força do seu declarado apoio aos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas. Tocou com os mais influentes músicos de jazz mundiais, a começar por Ornette Coleman e gravou, em 1990, com Carlos Paredes, o álbum Dialogues. O disco "Not in our name" foi uma manifestação contra a guerra do Iraque e contra o imperialismo americano.

não em nosso nome é pois o protesto assumido, o grito de revolta a situações iníquas, nas quais o seu País é responsável directo, nas intervenções que fez e que faz, por todo o mundo, sempre com a mesma intenção imperial e de supremacia branca que o caracteriza. Não o pode fazer em nosso nome, assim quis dizer Charlie Haden. É justo que aqui se lembre o ano de 2016 e o Guimarães Jazz, onde a Liberation Music Orchestra, dirigida por Carla Bley, prestou homenagem a Haden, que tinha falecido em 2014 e ao nosso 25 de Abril, com uma interpretação do Grândola, Vila Morena. Estivemos lá e sentimos a revolta contra os que querem falar em nosso nome.


No mês de Outubro do ano passado, activistas judeus americanos manifestaram-se pela Paz, organizando um evento de protesto no Capitólio, exigindo aos EUA que imponham um cessar-fogo imediato e justiça para os palestinianos, clamando precisamente “Not in our name”, dizendo claramente a Biden: “Como judeus americanos, estamos aqui, no meio da nossa dor para dizer ao Congresso que a nossa dor não é a sua arma e não serve de desculpa para permitir que um governo tenha intenções claramente genocidas...”

 

Sabemos o que significa falar em nosso nome. Normalmente o que acontece é que aqueles que o fazem, invocam quase sempre os interesses que defendem e os privilégios que lhes estão subjacentes. E, por ser assim, não hesitam em mentir descaradamente e em deturpar a realidade. Recorrem ainda a truques publicitários e a frases-chave que sabem antecipadamente poderem ter algum sucesso. Tenham convencer-nos, por exemplo, que todos os políticos são iguais e todos corruptos, excepto um, aquele que proclama a evidência e que dispõe de todas as soluções para todos os problemas, mesmo que sejam as mais abjectas. Falam em nome de um deus qualquer, que até pode ser ele próprio. Recorrem por vezes a terceiros, que podem até serem fontes atraentes, mas que são na verdade o eco da voz que está por trás. Não reconhecem a alteridade, porque isso escapa à sua concepção de vida e do mundo, querem apenas ser reconhecidos como porta-vozes do descontentamento e eleger-se como tal, interpretando à sua maneira a sociedade e os interesses dos que esmagam direitos e conquitas dos cidadãos.

Não lhes permitiremos que falem em nosso nome!

 

---

(*)   https://www.youtube.com/watch?v=azgqN_VN5l8


This page is powered by Blogger. Isn't yours?