06 março 2024

DIA 6 DE MARÇO 2024: LISBOA, NÃO SEJAS RACISTA 

 

Poderia ter escolhido obras supremas para ilustrar o temas racismo, como o “Biko” do Peter Gabriel, que adiante será citado. Escolho esta, bem portuguesa e suficientemente provocatória. O tema, do Grupo Fado Bicha, tem a sua origem na conhecida canção de 1945, que a Amália cantava, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão. Aqui, mantém-se a música, mas a letra deriva para a denúncia racista. Aqui se afirma, “Bastardos serão, portanto/Do Jamaica à Cova da Moura...” e se avisa “E Lisboa, não sejas racista/Cassetete fascista/É bosta e bem”. Lembramos, como é devido, o assassinato de Alcino Monteiro, cidadão português com 27 anos, interceptado no Chiado e violentamente espancado pelos skinheads, que vinham de um jantar comemorativo do Dia da Raça, como o fascismo salazarista do Estado Novo designava o 10 de Junho, hoje Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

 

Como interpretar as palavras de Gabriel, “When I try to sleep at night/I can only dream in red/The outside world is black and white/With only one colour dead”, em September '77, Port Elizabeth? Como admitir a supremacia branca, em pleno século XXI? Que, para além de semear medo e ódio, mata, quando pode. Como é possível sonhar com esta canalha por perto, a intrometer-se  na vida pacata dos cidadãos, sem sentir repúdio? Como bem diz a letra “Lisboa, na praça/Tempos maus vejo aí vindo/Pela corja do dia da raça/Que agora ri/No sofá da TVI/A falar bem do Salazar...”, para concluir o inevitável, “São opiniões, é só um nazi/Não vês mal em normalizar”.

Se existe insegurança em Lisboa, tal se deve às hordas racistas e fascistas de que são exemplos os grupos de marginais perigosos que gostam de Salazar e de outros que tal.

 

Estávamos no final da 2ª Guerra e a letra original rezava assim: “Lisboa, não sejas francesa/Com toda a certeza não vais ser feliz/Lisboa, que ideia daninha/Vaidosa, alfacinha, casar com Paris/Lisboa, tens cá namorados/Que dizem, coitados, com as almas na voz/Lisboa, não sejas francesa/Tu és portuguesa, tu és só pra nós”. Uma arenga xenófoba, inadmissível nos dias de hoje, embora pudesse ser interpretada de outra forma quando foi escrita. Hoje, devemos ter orgulho na miscigenação, na cultura do que é diferente e nos enriquece.

E atenção, ao aviso da nova letra, “Lisboa, não sejas racista/É tão quinhentista/Vê se mudas de ar”... 

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(*)    https://www.youtube.com/watch?v=kBk5Q4tpYTM


 


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