08 março 2024

 DIA 8 DE MARÇO 2024: "LA LEGA"


Neste 8 de Março, uma canção tradicional italiana do final do século XIX, que evoca a luta das Mulheres de todo Mundo e, em particular o relato da revolta camponesa contra os patrões, quando se organizaram as primeiras organizações operárias sob a forma de “ligas”. O tema “A Liga”, integra a banda sonora do filme "1900" de Bertolucci (*), "Sebben che siamo donne/Paura não abbiamo/Por amor dei nostri figli/Socialismo noi vogliamo", ou em português, "Embora sejamos mulheres/Medo não temos/Pelo amor dos nossos filhos/É o Socialismo que queremos". 

 

O dia de hoje é dela. Ela que preenche os nossos dias, povoa as nossas cidades, sofre e luta e cala não raras vezes. Ela que é Gabriela, cravo e canela, com samba e liberdade à mistura. Ela que é Luísa, sobe a caçada de um qualquer sítio, no peso de uma existência por vezes sem sentido. Ela que pode ser Marta ou Mariazinha, conforme a disposição do companheiro, amante ou patrão. Ela a quem por vezes oferecemos flores, mas também pisamos direitos. Ela que é sistematicamente discriminada, mas a quem rendemos homenagem se corre mais depressa na pista ou se desfila na passerelle. Ela que em remotos lugares é privada dos mais elementares direitos de cidadania, ensino e educação, violentada e amordaçada. Ela que é paixão, o tal fogo que arde e que em tempos passados a queimou na fogueira, sempre em nome de grandes princípios, curiosamente ainda os mesmos que ainda hoje a diminuem e enxovalham. Ela mesmo, que é menina, com doce balanço e carinho do mar. Que pode ser deusa, princesa ou rainha, feiticeira ou puta, conforme vira o vento ou muda a sorte.

 

Para Sophia, este poderia ser um retrato para uma princesa desconhecida, para que ela fosse aquela perfeição. Numa sociedade longe de ser perfeita apela-se á igualdade de género, de mãos dadas com os perigos, enquanto outros vão à sombra dos abrigos. Nunca desiste, muitas vezes em si fechada, com alguns muros e paredes que não se vêm, a indiferença que magoa, a hostilidade que choca, muitas consciências pequenas que não querem ver o crescer do mar, nem o mudar das luas. Mas o real é a luta, sempre a luta, a vida, sempre a mesma vida, a esperança, sempre adiada. Devemos mudar o mundo, para haver mais Sophias. E porque os outros se mascaram, mas tu nãoPorque os outros se calam, mas tu não

 

Ela, a quem dedicamos um singelo dia no ano, em memória da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Hoje!

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(*) https://www.youtube.com/watch?v=p7CfYwqkVlU  

[este texto é um arranjo feito com outras peças da minha autoria, publicadas em diversos 8 de Março e tem referências expressas a António Gedeão, António Carlos Jobim, Sophia de Melo Breyner, José Mário Branco e Jorge Amado]


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