29 dezembro 2006


"Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
flor do quotidiano
é voo de um pássaro
é uma canção..."
Carlos Drummond de Andrade
Dezembro de 1968


Todos gastamos tempo à procura de qualquer coisa muitas das vezes não sabemos bem o quê lá está a tal busca contínua que nos perturba e assusta já está quase é fim do ano vem mais um afinal provavelmente igual a tantos outros talvez não desta vez será melhor vai haver mais eu sei que sim é agora que vai acontecer o que quero mas também se não for não faz mal lá vamos mais uma vez a tentar agora que nos prometem mais coesão mais solidariedade mais dinheiro quem sabe sófalta mesmo um minuto para saber a meia-noite o espumante os brindes aquela canção que curtimos é linda fala de uma ilha em qualquer mar em qualquer parte não tem guerra nem fumo de metralha podemos sempre estar lá é uma questão de querer Leva-ma para lá eu estou pronto desta vez não vou recuar vou afastar os medos tens razão vale a pena vamos comendo as passas formulando desejos que a mala está vazia mas as mãos não estão uma na outra talvez seja um sinal afinal o voo do pássaro é mesmo uma canção...
Basta apenas o sonho de 1 minuto para ser feliz!

24 dezembro 2006

O MINUTO DA PETRA...


Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham...


Venho do fundo do Tempo
não tenho tempo a perder...


Rómulo de Carvalho
(Fala do Homem Nascido, 1958)



Nesta quadra de Natal 2006 a Petra teve uma prenda especial: um minuto. Sim, nem mais nem menos, 1 minuto. No faz de conta que as crianças gostam e por qualquer razão que já não lembro, lhe disse: toma este minuto, guarda-o muito bem, é o teu minuto. Neste tempo de loucura, em que ninguém tem tempo para nada, toda a gente se queixa que não tem tempo, que o dia deveria porventura ter mais horas, alguém se lembra de ofertar tempo. Nada que seja original claro, apenas o simbólico que se reconhece a quem merece todo o tempo doMundo. Tu Petra, que ainda não sabes ler, mas entendes bem quem te presta a atenção que mereces e quem te ama. O tempo, qualquer coisa indefinida, quiçá virtual está contudo acima de qualquer suspeita. E aquelas e aqueles que jáviveram muito tempo, muitos tempos, alguns difíceis, outros venturosos, aprenderam (?) o valor que nele se encerra e alguns valores que porventura se vão perdendo. Será esta uma lição para nós todos que por vezes perdemos tanto tempo em coisas inúteis, fúteis às vezes e que, quando damos conta o vamos tentar agarrar mais além... Esse minuto que guardas hoje, poderá ser aproveitado para o quiseres. Não éo tal minuto de glória, não é seguramente um minuto de silêncio. É apenas o teu minuto que alguém te deu: um minuto de liberdade, um minuto de paciência, um minuto de ternura, um minuto de paixão, um minuto de mistério, um minuto de sonho...
E, acima de tudo, um lapso de tempo que no futuro saberás dar aos outros, em atenção, carinho e amor que tanta falta fazem na torrente do tempo que corre...

Natal de 2006
Alfredo Vari

12 dezembro 2006

A MORTE DA BESTA... 

Chile, 11 Setembro do ano 1973. Chove em Santiago, uma chuva de terror, misturada com muito sangue, um País que morre um pouco àcusta do golpe militar onde emerge a besta que hoje vai a enterrar. Custa classificar de humano este mamífero horrendo que, durante dezenas de anos, carregou o ónus de verdadeiros crimes contra a humanidade, sempre impune, sempre assumindo os actos hediondos que praticou, os assassínios que perpetrou ou mandou executar. Milhares de chilenos desaparecidos, famílias destruídas, um País a ferro e fogo, perseguições que durante anos e anos completaram o cenário dantesco de um crime que ficará para sempre como dos mais sádicos da história do século XX. A administração americana e a CIA, que conseguiram criar nos últimos 50 anos as figuras mais execráveis (Sadam, Bin Laden,....) sempre seguraram Pinochet, sempre o protegeram e ficarão também por isso com mais este episódio no seu triste historial de apoio às ditaduras e aos fascismos que floresceram graças à sua ajuda moral e material.

A morte da besta não significa, como bem diz Isabel Allende filha de Salvador, que os seus crimes sejam esquecidos; a sociedade chilena e os patriotas do mundo livre têm por obrigação denunciar nos fóruns internacionais os crimes de Pinochet, julga-los e mostrar aos jovens de todo o Mundo como foi possível o 11 de Setembro no Chile, onde impunemente se destruí um regime democrático, se assassinou um Presidente eleito e se chacinaram pessoas indiscriminadamente em nome de pura e simplesmente NADA...

Que a morte da besta sirva ao menos para recordar o que muitos querem deixar esquecer...

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