18 outubro 2008






Eu também ACUSO, claro que haverá mais que também acusam, eu sei, porém eu quero acusar hoje o Governo de Portugal pelo dinheiro que deu à Banca, por estes dias. Foram 20 mil milhões de euros, sob a forma de garantia, que deve dizer-se, é dada àqueles que foram os responsáveis e beneficiários da dita crise. Antes, os que mais defendiam “menos estado”, como o impagável António Borges, grande mestre de economia, esse salvador da Pátria, que nem o partido dele salvou que louvava (ainda há alguém que se lembre disso?) o “subprime”, vêm agora aplaudir “mais estado”. A mais descarada especulação, o incremento da já designada “economia de casino”, os lucros fabulosos da Banca que agora pede dinheiro, apenas para manter uma situação de privilégio escandaloso, a mandar e a controlar de perto a economia mundial que lança na miséria cada vez mais pessoas.

E o mais grave da cena é que a “dadiva” à Banca é feita sem quaisquer condições, sem a exigência de quaisquer garantias; ou seja, o Governo se não regula coisa nenhuma, apenas está a contribuir para que a Banca continue a sua politica de especulação. Pergunto; quem é responsável por esta situação? Não deveriam ser os banqueiros a solucionar o problema que eles próprios criaram? Não deveria o Governo proteger os interesses do elo mais fraco, ou seja garantir os depósitos dos contribuintes? Que eu saiba, se uma empresa não tem dinheiro, então o(s) empresário(s) não têm outro remédio senão injectar capital. Não esqueço também que esta mesma Banca beneficia ainda de uma protecção especial que é consubstanciada no facto de pagar quase metade do IRC que as outras empresas. E é por isso mesmo que considero uma VERGONHA, um Governo que se diz socialista, tome esta medida, quando há muito tempo deveria ter:
• acabado com o sigilo bancário
• posto fim ao off-shore da Madeira
• igualado a situação do IRC da banca às das outras empresas
• controlado as actividades especuladoras
• adoptado uma politica de protecção das pequenas poupanças
• controlado de facto a subida das taxas de credito á habitação, que penalizam os menos ganham.
Então, por isto tudo, EU ACUSO. E acudo com a consciência tentar contribuir para mais alguns (espero que muitos…) se levantem e mostrem a sua indignação, numa altura em que se fala na erradicação da pobreza. Estima-se que existam hoje, a nível mundial 980 milhões de pobres, leia-se pessoas que “sobrevivem” com menos de 1 dólar por dia. Era (digo eu…) uma altura mais que adequada para este Governo tomar uma medida (ou varias medidas) que as pessoas vissem na realidade de protecção aos mais fracos. Convém não esquecer que em Portugal, quase 20% da população, ou seja 1 milhão e 800 mil, vivem abaixo do limiar da pobreza. E não basta a, José Sócrates dizer que “o Orçamento de aposta nas famílias e empresas” e que “…para o Governo 400 euros é o limiar da pobreza”. A realidade, segundo um relatório da OIT hoje conhecido, é que em Portugal o fosso entre os que ganham mais e os trabalhadores que ganham menos está a aumentar; mais, o nosso País faz parte do grupo de países que registou maiores aumentos entre os 10 por cento de trabalhadores que ganham mais face ao mesmo número que recebe menos. Enfim, mais uma VERGONHA…
Estamos nesta Europa, uma das zonas mais ricas do mundo e, mesmo assim, com 78 milhões de pessoas a viver no limiar da pobreza.
Agir e não ficar indiferente é pois a palavra de ordem!

18 Outubro 2008
Alf.

05 outubro 2008



Promiscuidades…


O Tribunal de Contas publicou uma auditoria que visou designadamente a análise das consequências jurídicas, económicas e financeiras decorrentes do novo Acordo celebrado entre o Estado e a LUSOPONTE SA, no ano de 2000, na sequência do 2º contrato de concessão datado de Março de 1995. Entretanto quem vai defender os interesses da LUSOPONTE na renegociação do contrato com o Estado sobre as travessias rodoviárias do rio Tejo é a dupla Jorge Coelho (PS) / Ferreira do Amaral (PSD), os dois ex-ministros que anteriormente negociaram em representação do Estado o contrato de concessão e os acordos de reequilíbrio com a dita empresa. Para o Tribunal de Contas, a LUSOPONTE saiu sempre a ganhar nas negociações que fez com o Estado. Convém lembrar que foi durante o cavaquismo que a empresa se tornou dona e senhora do Tejo. E é importante que se saiba (para quem não sabe, claro…) que o Ferreira do Amaral é actualmente Presidente do Conselho de Administração da LUSOPONTE e que o Jorge Coelho é agora Presidente Executivo da MOTA-ENGIL. Fantástico! Antes negociaram do lado do Estado os contratos com a LUSOPONTE; agora, negociam “do outro lado”. Mas há mais: Murteira Nabo que agora é Presidente Executivo da GALP irá presidir à Comissão Executiva criada pelo Governo para decidir as negociações com a LUSOPONTE.

Para quem não está atento são mais umas nomeações, afinal são invariavelmente os mesmos nomes, estão ao que parece em todo o lado, ou melhor passam de um lado para o outro com toda a tranquilidade e a gente a vê-los passar, ou melhor a mudar…

Se isto não é PROMISCUIDADE, vou ali e já venho…

04 de Outubro de 2008
Alf



Capitalistas nos lucros, socialistas nos prejuízos!

Rosa Brooks Rosa Brooks is an é professora
da Universidade de Georgetown e colunista do Los Angeles Times onde normalmente assina artigos sobre politicas de segurança e direitos humanos, este artigo é, na minha opinião, um contributo notável para acordar algumas consciências mais distraídas e como tal o passo a transcrever, com a devida vénia.

EUA, bem-vindos ao Terceiro Mundo!

Não é todos os dias que uma superpotência tenta transformar-se em nação do Terceiro Mundo. Por isso, nós, aqui no Banco Mundial e no FMI, desejamos ser os primeiros a dar-lhes as boas-vindas à comunidade de Estados necessitados de ajuda económica internacional. Enquanto vocês se afundam, muito nos alegra poder responder à solicitação do vosso Departamento do Tesouro para que participemos numa avaliação conjunta da estabilidade do seu sector financeiro. Nesta época turbulenta, podemos oferecer-lhes empréstimos subsidiados e até especialistas. Como vocês sabem, há muito tempo que é necessária uma intervenção na vossa economia. Na semana passada, mesmo antes do recente colapso em Wall Street, ex-ministros da Economia de vários países reuniram-se na Virgínia e concordaram que vocês precisam reformar o vosso sistema financeiro. O ex‑ministro das Finanças da Índia, Yashwant Sinha, sugeriu até que vocês peçam ajuda ao FMI. Esperamos que vocês não se sintam envergonhados. Lembrem-se que outros países já estiveram nessa posição. Já ajudámos as economias da Argentina, do Brasil, da Indonésia e da Coreia do Sul. Assim, gostaríamos de reconhecer o progresso que vocês fizeram na evolução desde superpotência económica até ao completo descontrolo económico. Normalmente, tal processo leva 100 anos ou mais. Entretanto, devido às vossas oscilações entre o extremismo do livre mercado e a nacionalização de empresas privadas, vocês atingiram com sucesso, em poucos anos, muitas das principais características observadas nas economias do Terceiro Mundo. As vossas medidas de irresponsável desregulamentação governamental em sectores críticos permitiram que vocês desenvolvessem rapidamente uma crise energética, uma crise de habitação, uma crise de crédito e uma crise no mercado financeiro, todas ao mesmo tempo, e acompanhadas por impressionantes níveis de corrupção e especulação. Enquanto isso, os vossos políticos, que deveriam supervisar o sistema, estavam dormindo com os lobistas. Tomemos como exemplo John McCain, o vosso candidato republicano à presidência, cuja equipa principal de assessores inclui meia dúzia de ex-lobistas de renome. Ele mesmo afirmou recentemente que foi presidente do Comité de Comércio do Senado, que supervisa todas as vertentes da economia. Não restam dúvidas, portanto, relativamente ao fracasso da sua liderança em perceber o estrago causado pela desregulamentação irresponsável. Agora, vocês enfrentam as consequências. A desigualdade aumentou. Enquanto os ricos recebem dinheiro caído do céu, a classe média viu os seus rendimentos estagnar. Um número cada vez menor de cidadãos tem acesso a habitação, assistência médica ou segurança social. Até a expectativa de vida diminuiu. E, quando os problemas económicos passaram de crónicos a agudos, vocês responderam - como fizeram tantos outros Estados do Terceiro Mundo - com um programa extenso de nacionalização de empresas privadas. As vossas gigantes do ramo das hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac, pertencem agora ao Estado. Nesta semana, a gigante dos seguros, a AIG, foi também foi nacionalizada. Alguns podem chamar a isso "socialismo", mas épocas de desespero exigem medidas desesperadas. A vossa transição para o Terceiro Mundo será dolorosa. No início, vocês terão dificuldade em habituar‑se às favelas que crescerão nos subúrbios das cidades, mas, com o tempo, elas tornar-se-ão parte da paisagem. À medida que as taxas de desemprego aumentarem, vocês terão problemas para encontrar ocupação para a massa de jovens desempregados, mas logo vocês vão perceber que podem recrutá-los para alguma qualquer guerra, um tipo de solução que já foi utilizada por muitos Estados do terceiro mundo antes de vocês. Talvez esta carta os surpreenda e vocês sintam que ainda não estão prontos para se juntar ao Terceiro Mundo. Mas não fiquem preocupados: Apesar de nunca terem percebido, vocês já estavam há vários anos a preparar-se para este momento
.”

Rosa Brooks, 18 de Setembro 2008, Los Angeles Times

04 de Outubro de 2008
Alf

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