24 fevereiro 2009



A VERGONHA DO COMANDANTE HENRIQUES ALMEIDA


(ou a cidade de Braga no seu melhor…)


Por esta altura já a santa e sacrossanta cidade de Braga, ou dos arcebispos (seja lá o que isso for…) anda nas bocas do mundo e mais uma vez, pelos piores motivos. Há já mais uma figura púbica (desculpem, pública…) neste País, de seu nome Comissário Henriques Almeida (HA), subcomandante da PSP, que “sensível” a uma tentativa de sublevação popular, quiçá a transbordar numa guerra civil, decide enviar a tropa para apreender um livro que apresenta na capa um excerto do quadro “Origem do Mundo”, do pintor oitocentista Gustave Courbet (1819-1877), um dos fundadores do realismo em pintura, que expõe as coxas e o sexo de uma mulher; o quadro absolutamente pornográfico, foi pintado em 1866, e está exposto no Museu D`Orsay em Paris. Está em curso já uma participação à INTERPOL, para recolher o original de França e transportá-lo para a PSP de Braga, que orientará as investigações e providenciará buscas por todo o País, incluindo museus, livrarias, galerias, ginásios, igrejas, estádios de futebol e Assembleia da República, para recolher o resto da pornografia... Bem-haja pois HA, bem-haja a cidade de Braga que, é bom lembrar, a 28 de Maio de 1926, lançou o nome desse grande patriota Gomes da Costa (GC), para pôr ordem neste País, onde então reinava a mais completa pornografia. Pois, HA é o novo herdeiro de GC, honra lhe seja feita, pelo menos no ridículo.

Bem vistas as coisas e tentando uma explicação séria, só podemos condenar de forma absolutamente contundente este triste episódio, que infelizmente se segue a alguns outros, como buscas e apreensões em sindicatos, perseguições a livres-pensadores que não “encaixam” na norma, que parece mais que nunca nos querem impor. Se ainda cá estivesse, o grande François Truffaut, decerto poderia reescrever novo argumento para
“Fahrenheit 451”, ou a a história de uma sociedade totalitária no futuro, onde os livros foram banidos.

Tratou-se de uma medida cautelar para evitar uma alteração da ordem pública e o cometimento de outros crimes”, afirmou HA ao PÚBLICO. Onde chega o descaramento, a prepotência, deste zeloso polícia, que deveria imediatamente ir ao banco dos réus. E não só ele, mas sim os perturbadores da ordem púbica (desculpem, pública), que na cidade santa, afrontaram (ao que parece) a lei e a ordem.

Quero ver agora que medidas toma a tutela, caso anda informada pelo que se vai passando neste país, dito de brandos costumes (raio de termo!) perante este acto censório.

Movimento púbico (desculpem, público) para demitir HA, já! E como medida abonatória do seu puritano comportamento permitir que leva para a cela um exemplar do livro que mandou apreender; pode ser que aprenda alguma coisa, sob a “Origem do Mundo”.


Alf.


19 fevereiro 2009

Palavras….
“Que helada que esta casa !

sera que esta cerca el rio
o es que estamos en invierno
y estan llegando, estan llegando...los frios.”
Patxi Andion, 20 anos

Reporto 20 anos. Atrás de uma juventude inquieta e perdida algures, sempre presente porventura atrás de recordações, memórias vivas, alguns livros. Irrequieta, sinal de emoções e loucuras que sabem bem e têm aqui e ali um toque nostálgico do que vivemos, ainda nos sentimos do lado de lá, inventando poemas, sons de revolta, de esperança, na anarquia que tentamos manter, transmitindo os sinais que acreditamos ainda marcam alguns gestos e atitudes. Que fria está esta casa, dos invernos que não passam, a névoa que teima em ocultar o rosto que ora fixávamos com a malícia antiga, de fantasias e cumplicidades. Perdem-se quiçá invernos em que só aparentemente nos aquecemos, o calor que não conseguimos transportar para os que nos estão perto ou longe, para o caso de darem conta que existimos. Não conseguimos passar a solidária mensagem que nos vai na alma, estamos lá e não estamos ao mesmo tempo, a casa grande foi reconstruída por quem não consciencializou a ternura que guardamos e que só faz sentido dentro de nós. Apenas a lembrança, que alimenta o sonho, agora algo agitado pelo agreste vento que parece não levar mais que sombras, tudo fica sempre no mesmo lugar, apesar da maré que tentamos sempre inverter, aquela persistência que guardamos, a teimosia de lutar por causas que não podem ter idade. 20 anos que podem mesmo ser mais, muitos mais, porque há coisas que não se apagam, apesar dos invernos. Perdemos agora o norte num sul que precisa das palavras que não são uma canção, mas que ainda conservam a força da mudança. Perdemos alguma força todos os dias, alguém a irá encontrar e fará dela o que aprouver. Estamos atentos, porque sabemos que cada dia que passa, pode ser o sol que resiste e aquece a luta. Continuaremos a pintar as paredes, até encontrar um rosto de criança sem fome que consiga saltar da tela imaginária, contra o cinzento dos invernos presentes. Os 20 anos cortam o tempo literal, já ninguém escrever direito por linhas tortas e há hoje palavras que nascem mortas. O Patxi falava noutra canção no marinheiro “ Con Toda la Mar Detras”; que venha ele e traga a onda que falta, apesar dos 20 anos que nos pesam, pode ser a força que precisamos…
Alf.

12 fevereiro 2009


A QUE DISTÂNCIA?
Os dias terríveis são, afinal, as vésperas dos dias inesquecíveis”.
Almada Negreiros

Recupero agora um texto antigo no qual descubro algo que me chama a atenção. Tem a ver com a distância, a medida certa em que nos devemos posicionar para obter alguma coisa, como por exemplo enxergar algo. Tal como acontece com outras variáveis, a distância é relativa. Pois, um dado adquirido. Contudo, nos anos 20 do século passado, Edwin Hubble descobriu que todas as galáxias do universo estão progressivamente se afastando; e ainda, que quanto mais longe a galáxia estiver de nós, mais rápido ela se afasta. Conservamos enfim a distância, quando de forma prudente, queremos ganhar tempo, ou simplesmente temos receio. No texto, o efeito da distância sobre a velocidade é tão terrível, que nem dá para respeitar a tão conhecida distância mínima de segurança. Vamos por partes. Então, qual é distância entre 2 pontos? Mesmo aqui, a Matemática é traiçoeira; assim, a distância de um ponto de coordenada positiva à origem é o valor da própria coordenada; no plano, para pontos com a mesma abcissa, a distância é o módulo da diferença das ordenadas; já no espaço, só podemos determinar a distância entre 2 pontos, através do teorema de Pitágoras. Desculpem se entretanto perdi a distância ao texto, era de facto o que me interessava. Estamos distantes, naquela terra distante, com algum distanciamento. Posso agora utilizar o meu comando à distância, para me recolocar, palavra quiçá perigosa. Será a distância uma atitude? “Só à distância se admira alguém, no tempo ou no espaço, porque nos não faz concorrência[i]. O texto vai de fugida, o horizonte mente, perdemo-nos agora, com a ajuda da Física, na distância focal: a distância entre o centro óptico de uma lente delgada e os seus pontos de foco. Mais descansado, olho a fotografia desfocada, descubro o tempo que já passou. Nada está no seu lugar e apesar do longe que se faz perto, a distância lá está, o tempo passa, a distância aumenta. E no entanto diminui, se tivermos em linha de conta o que já falta percorrer. Estranho, há linhas que ainda restam, que de não se cruzarem nos guiam, aproximando o que se parece afastar. Deixo de pensar se vale realmente o esforço, já que na distância que nos une, está a força que nos separa.
Atitude?

11 de Fevereiro de 2009
Alf
[i] "Conta-Corrente 4" , Vergílio Ferreira

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