27 setembro 2011

A propaganda aos 100 dias

O direito de ter razão é também o direito de não a ter…

Do Livro dos Conselhos

A TSF promove de novo uma sessão de propaganda, no fórum que diariamente organiza. Desta feita, está Carlos Moedas (CM), um entre dezenas de governantes, secretários e subsecretários de estado, que passeiam pela estação de rádio, desde a tomada de posse deste governo, precisamente há 100 dias. Uma das premissas assinalada por CM é o aspecto positivo que descreve como a dupla medida, fim das golden-shares, por um lado e privatizações, por outro lado. É a estafada teoria que tudo que é Estado é mau e tudo que é privado é bom, uma das bandeiras da elite social-democrata, um argumento bacoco, desprovido de qualquer sentido e impossível de explicar, do ponto de vista de política económica. Uma outra medida salientada por CM, é a das mudanças nas políticas laborais, leia-se a facilitação dos despedimentos. Diz ele que têm de ser protegidos os interesses sociais, fantástica alegoria, que tem a interpretação que se sabe…
Culpa CM, a situação que este Governo encontrou, um argumento conhecido que os 2 partidos do centrão utilizam de cada vez que chegam ao poder. Nem vale a pena lembrar-lhes que toda a política económica é devidamente concertada entre ambos, desde os famigerados PECs, à partilha incessante dos postos-chave do aparelho de Estado, passando pela intervenção cúmplice nas parcerias público-privadas, na última década.
Viver acima das possibilidades…, sempre a mesma conversa fiada. Que é sempre atirada à cara daqueles a quem são pedidos, ou seja exigidos, os maiores sacrifícios. Claro que há quem viva acima das possibilidades, os melhores exemplos estão nos quadros dirigentes das empresas públicas, institutos e fundações, que são praticamente todos, membros dos 2 partidos, mais do CDS, que sempre ajuda nesta contabilidade.
O jornalista de serviço, ajuda à propaganda: perguntas óbvias, sempre amaciadas, uma moderação ligeira, mais que duvidosa, numa encenação grotesca do que poderia ser um programa acutilante, de confronto, de contraditório. Nada disso, o mar na TSF estará sempre calmo, com a brandura de uma comunicação social, perfeitamente domesticada pelo poder do centrão, incapaz de cumprir o seu papel informativo, limitando-se a ser formativa, no mau sentido, uma vez que se dispõe a formar uma opinião publica, cúmplice do poder de que se alimenta e que vai sucessivamente alimentando…

23 setembro 2011


O ultimo romântico?[1]

 
  
Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens
…”
Deolinda – “Um contra o outro”, 2009

O destino pouco importa, o que conta é a viagem
Do Livro dos Conselhos


E se, numa noite destas, encontrares um carro antigo que te leve a um outro tempo, uma festa, várias festas, muitas festas, não recuses o convite e deixa-te levar. Assim, sem mais nem menos, num exercício livre de pensamento criativo. Para melhor compreender este tempo em que vives. E compreender o que de facto queres deste tempo. Para isso, tens que aceitar o convite. E assim, de boleia em boleia, num carro antigo, podes entrar no mundo que sempre sonhaste. Podes então fazer conversa com as personagens que sempre te fascinaram, partilhar ideias e sentimentos, de cada uma forma simples e transparente. Sem códigos. Sem tabus. Sem ordem de prioridades. Serás decerto ouvido com toda a atenção, simplesmente porque consegues captar a atenção. Objecto de curiosidade talvez, um divertido alien, sem armas e sem bagagens. Falar e privar com pessoas concretas que sempre associaste a uma espécie de culto. Ao respeito também, quiçá a admiração, porque de facto marcaram, de algum modo, a diferença, um poema, uma melodia, uma frase que fosse e que fez história. Então, é impossível conter o súbito desejo de percorrer com elas, os caminhos que trilharam. De quando em vez, mergulhas no presente, sentindo contudo que o teu corpo está muito longe e há um arrebato de consciência que te quer trazer à razão. Simplesmente não importa, porque conseguiste arrojar o tempo, vivendo por momentos noutra dimensão.

Ok, recebi a tua mensagem. Não consegui entender bem, Ficaste preso no transito, Encontraste o nosso carro antigo, isto é algum convite para mim…???”



[1] A propósito da estria do ultimo filme de “Woody Allen,”Meia Noite em Paris

12 setembro 2011

Uma verdade a desvendar…



Todo erro se apoia numa verdade da qual se tem abusado
Do Livro dos Conselhos










Passados 10 anos, ainda pouco se sabe sobre o que realmente aconteceu naquele dia. Sabemos da tragédia, em que milhares de pessoas perderam a vida, de forma inglória. Sabemos do aproveitamento político subsequente, por parte da administração americana e da quase totalidade dos governos do ocidente, unânimes no discurso, cúmplices na atitude. Sabemos ainda, porque aqui vivemos, de como o mundo ficou amarrado na presa securitária, de contornos neofascisantes, que nada acrescenta, nem resolve. Mas de facto não sabemos, porque talvez isso não convenha, como aquilo aconteceu, porque aconteceu, quem são os responsáveis. Muito fácil, a explicação americana, muito conveniente. Convém recordar a administração Bush, o seu chefe alcoólico e demente, bem como todo o seu séquito de malfeitores, criminosos de guerra e traficantes de armas. Convém reafirmar que, desde os anos 50 do século passado, os EUA têm praticado por todo o lado, uma politica de destruição maciça de tudo o que mexe no mundo: Cuba, Coreia, Vietname, Chile, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, Líbia, Haiti, Iraque, Afeganistão. Antes, como agora, sempre para “salvar democracias”, leia-se, proteger ditaduras obsoletas, tiranias absolutas, ou salvaguardar duvidosos interesses financeiros. Dominar os recursos, em última instância, o petróleo, os seus protectorados, as suas benesses, os frutos de uma exploração sem limites, a bem do jugo imperial e da sobranceira forma como encaram o resto do mundo.

A história nunca se repete. De qualquer forma, não deixa de ser curiosa a coincidência de datas, no 11 de Setembro. De 1973, em Santiago do Chile a 2001em Nova Iorque, vão 28 anos de intervenções desastrosas. A intromissão americana no Chile, em favor do ultra fascista Pinochet, para derrubar o governo legítimo de Salvador Allende, ficará marcada para sempre, como um dos episódios mais sangrentos do século XX.  Estará o povo americano ainda a pagar pelas políticas imperialistas das sucessivas administrações?   

Mas, ao que parece, a administração americana não é capaz de compreender, nem aprender. As ténues esperanças de mudança, desde que Obama chegou ao poder, vão-se desvanecendo uma a uma. As intervenções falhadas no Iraque e Afeganistão continuam, tal como antes. A base de Guantanamo resiste às vãs promessas e permanece como símbolo da vergonha, do autoritarismo e da arbitrariedade. A notícia da United Press de que o Presidente se iria encontrar, lado a lado, com o antecessor, não deixa de ser preocupante, pela simbologia que representa.

O mundo não está de facto melhor. Está, na realidade pior. De um lado o intolerável e insuportável fundamentalismo muçulmano. Do outro lado, a arrogância imperial dos EUA e os seus seguidores, na Europa, África e Ásia. Comparada com a Guerra Fria da última metade do século passado, a situação actual é assustadora, sobretudo num aspecto: a facilidade e o despudor com que se mata, em nome de qualquer coisa. A inversão desta situação, só será possível num quadro de desenvolvimento global da comunidade das nações, no respeito pelos Direitos Humanos, da luta contra a pobreza, da eliminação progressiva das desigualdades sociais, enfim, na procura de condições para desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento, um compromisso das Nações Unidas, inscrito no último dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, aprovados há exactamente 11 anos atrás.

11 setembro 2011

Kanimanbo, em busca do Tempo Perdido… (1)






Se sonhar um pouco é perigoso,
a solução não é sonhar menos, é sonhar mais
…”


do Livro dos Conselhos



E se sabemos que verdadeiramente nunca reencontramos o que porventura procuramos, o certo é que voltamos às deliciosas paragens de Vila Real de S. António, perdida no limiar do país real, mesmo no limite territorial sudoeste. E se é certo também que Os verdadeiros paraísos são os paraísos que se perderam (1) , ainda restam algumas lembranças da última estadia, como esta, numa breve paragem que tenta reconfortar o corpo e (se calhar) o espírito. E é assim que voltam as voltas da vida, aos mesmos sítios e paragens, quiçá ora mais inquietos, pela passagem dos dias em que tudo é breve, assim se analisam os tempos que correm, mais depressa do que desejaríamos. E assim também o sentem os espíritos inconformados, que tudo colocam em causa, como convém aos que ainda acreditam na mudança. Tudo é igual e diferente ao mesmo tempo, em cambiantes dissimulados pela crise que abala tudo, para deixar tudo cada vez pior. Que o diga o homem da ligadura na perna, que percorre a praia, para um e para o outro lado, num registo diário constante, sempre no mesmo local, que cuidadosamente assinala no final do dia, para que não perca um norte que do sul advém e que as marcas na face não conseguem esconder. E que o ateste o comboio Tschu- Tschu, que antes de borla era e que agora se paga, pudera que a produção do país se vai especializando cada vez mais em prestações de serviços, óbvios de tão óbvia a riqueza nacional se reclama. E, se agradecer devemos à bondade extrema de quem superiormente nos dirige, lembramos, por um feliz acaso, a “doce” melodia Kanimanbo, do tempo colonial, em que o intérprete Tudela se esforça em tentar mostrar que o que era não era o que podia parecer, afinal apenas rimas mais ou menos parvas, que nos servem para soltar gargalhadas imensas, que rir assim é preciso, para soltar amarras do stress que nos quer consumir. Para a história fica também a eterna angústia da lula que quer ser calamar e da outra, que é pota e nunca chegará a lula, numa cefalópoda simetria bilateral e mimetizante postura, que nada significaria, não fora a importância de estas e estes espécies se moverem “por intermédio de propulsão, ejectando grandes quantidades de água armazenadas na cavidade do manto, através de um sifão de grande mobilidade e capacidade de direcionamento dos jactos” "(2) , e sabendo finalmente o quanto dependemos das tecnologias de deslocação rápida, tipo TGV dos mares, para acompanhar os submarinos do Portas.

De tanto rebolar nas areias quentes da imensa praia, e de tão distantes que estão as fontes habituais de informação, que da rádio só as ondas de Espanha se aventuram, não nos embrenhamos, como se calhar deveríamos, na disputadíssima venda (ou compra???) do BPN, onde mais uma vez se demonstra a bondade dos nossos servidores públicos, naquela que poderia ser a fraude do século, um descarado roubo de igreja, Valha-me deus, e que não passou de mais um episódio de uma novela peessediana, com cavacos à mistura, Mira que nos parió, diria um espanhol que vinha comprar tabaco ao quiosque da antiga fronteira. Passariam, ainda por nós despercebidos, os reforços de verão da CGD, que terá adquirido os passes de alguns conhecidos consultores em final de contrato e que terão sido contratados a peso de ouro, que aqui é mais ou menos ao contrário do futebol. E, bem a propósito, resta a casa do Glorioso, este ano com menos trânsito que no ano passado, pode ser que seja sinal de sucesso, nas marcas de um tempo que pensamos ser perdido, mas que dia a dia encontramos por aí…
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(1) in “O Tempo Redescoberto”, Marcel Proust, Lisboa 1998
(2) fonte Wikipedia, in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lula

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