22 julho 2012


"Now the years are rolling by me
They are rockin' evenly
I am older than I once was
And younger than I'll be and that's not unusual.
No it isn't strange,
After changes upon changes
We are more or less the same
"


The Boxer”, Paul Simon, 1968





Calhou de ir em viagem e ouvir a canção. Não é um poema qualquer, simples e directo, como quem desabafa as mágoas com que se confronta. Que fala de um lutador, uma estória de vida, de uma de tantas que, seja onde for, existem para contar. É importante sim, quem a conta, nem mais nem menos que o Paul Simon, também ele à sua maneira um lutador. A musica passa, a gente pensa, I have squandered my existence for a pocketful of mumbles - such are promises / All lies and jest, still a man hears what he wants to hear / and disregards the rest, é mesmo isso, promessas e mentiras que fazem parte do mesmo saco inútil que nos vão vendendo. E que fazemos, interrogamo-nos todos os dias, e a resposta tarda, é de uma passividade que até irrita, enquanto que o espanhol luta na rua, o português luta na pastelaria, como dizia o Poeta é sempre lá que a aventura termina (1). A estrada avança, esta é daquelas que eu sabia praticamente de cor, de tanta vez que era cantada nas tertúlias da casa do Jaime, resta agora a batida forte da orquestra que acompanha o autor, mais o enigmático Art Garfunkel, tanto tempo que já lá vai, a música é sempre aquele registo que perdura, dizemos as palavras que o poeta escreveu, ao ritmo da pop, que foi e é um pouco a nossa cultura. Onde estão os lutadores, vou questionando para dentro, agora até temos os Homens da Luta, uma caricatura bizarra de quem tem ainda os pérfidos brandos costumes, que enterram na lama as razões de existir, porque o homem existe precisamente para lutar e não propriamente para passar a tarde na pastelaria, onde a memória não existe, apenas alguns espaços de uma pequena estupidez e de uma mediocridade terrivelmente arrasadora. 
Recordo o final, quase angustiante, mas sempre desafiador, In the clearing stands a boxer and a fighter by his trade / and he carries the reminders of every glove that laid him down / or cut him till he cried out in his anger an his shame: / I am leaving, I am leaving / but the fighter still remains.

Difícil esquecer este lutador, que se interroga porque razão, mudanças após mudanças e continuamos na mesma... Um destino, apenas um destino?

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(1)  Referência a Alexandre O'Neill

08 julho 2012




“… O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão
…”
Tabacaria, Álvaro de Campos, 1928

















O tempo envelhece depressa, (a) lembro o Mestre Tabucchi, que saudade, poderia ser agora uma voz, de muitas, a denunciar o estado de coisas a que isto chegou, ele sempre atento às confrontações do Tempo e dos tempos. A propósito de tudo o que se passa, num ritmo perfeitamente alucinante, o Tribunal decreta a inconstitucionalidade de um roubo, há quem interprete que roubar é legal, se for para todos. Ou seja, para todos que trabalham, porque há sempre os que se colocam fora da lei, sem que a lei os coloque de fora, nem poderia ser, porque a lei é universal. A lógica, sabemos bem, não é contudo esta, de tão simples que possa parecer. Perde-se então o respeito por essas personagens, elas também não o têm por nós, nada merecem, senão o nosso desprezo. Por não os querer nomear, lembro por exemplo o que disse Jerónimo sobre o tal da licenciatura tirada à pressa, os doutores da mula russa, mais uma aberração ignóbil. Parece agora que vão sendo vaiados e insultados em cerimónias públicas, vê bem António, muitos dos que ora os invectivam, são os votaram neles, pode ser que acordem de vez, vá lá nem tudo se perde.

No livro, há um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio, protagonizando uma aventura que gira sobre si próprio. Que poderia ser um homem Seguro, se a oposição que um com o mesmo nome faz ao governo, fosse real e não imaginária, como é de facto. E completamente inócua.

Por ora, está tudo calmo, como sempre. Depois, não se sabe bem, a vida não está por ordem alfabética, como bem disseste, a política deita-se na cama com a indiferença da maioria, até ao dia em que o tempo reapareça a pedir contas. Aí, pode ser que uma consciência acorde e varra definitivamente com estes falhados. Não lhes escrevo os nomes, não é necessário. Há quem dia a dia, hora a hora o faça, distorcendo a realidade, invertendo a democracia, nas agências de poder paralelo de uma comunicação social distorcida, retorcida, das empresas de sondagens, dessa nova casta a quem chamam politólogos, os arautos da inevitabilidade, que saltitam impunemente de um lado para o outro, martelando as mesmas receitas, não sabem António, que Ao seguir a sombra, o tempo envelhece depressa. Principalmente para ti. Já cá não estás, que saudade, fica a tua obra, o teu pensamento libertário e o teu charme revolucionário. Bem hajas António!

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(a) A propósito da edição de “O Tempo Envelhece Depressa”, de António Tabucchi, Tradução G. Martins Oliveira, D. Quixote.

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