22 dezembro 2015
O JANTAR
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho
que querer o que for ”
Fernando Pessoa
Juntamo-nos
porque sim. A amizade cruza-se com a oportunidade, sempre há o Natal e nunca
deixamos passar uma festa assim, sem o calor da Casa que tem unido, nos bons e
maus momentos, os espíritos inquietos de que falava Pessoa e que, por aqui e
por ali, vão semeando pequenas revoluções, mas com um sentido estético digno de
realce. E já agora, diga-se, de bom gosto. Claro que se fala da situação e das grandes
mudanças a que tivemos direito e que, diga-se também, contribuímos, com a nossa
inquietude, irreverência e permanente insatisfação. Umas pequenas maldades,
aquelas que nunca revelamos, mas que vêm constantemente à tona, quando de
alguns personagens menos qualificados falamos, aproveitando para brandir a
fúria destemida de portugueses de gema, republicanos e laicos, inspirados num
Eça e num Antero, que nunca poupavam os adversários, na sociedade e na
política.
Avançamos
sempre soluções, apontamos caminhos, elaboramos cenários, pois é essa a nossa
forma de estar, no espaço mediático de Telheiras, refúgio clássico de
inquietudes, misturados com esperançosas alternativas, que apontam sempre ao
futuro, inspirados num Almada (“… até
hoje fui sempre futuro”), presente mesmo sem o imaginar, que descansa
em paz seja lá onde for. Antecipamos o governo das Esquerdas, pelo menos em esperança
que tardava, deixando no ar uma semente revolucionária, que afinal aí está,
para que a felicidade voltasse aos lares da Pátria, a partir de Telheiras, qual
chaimite encapotada, passeando nas ruas da cidade, à espera da alegria.
Lembro,
de uma forma provocatória, a nossa francofonia, invocando o Maio 68, o Sartre,
a Simone e o Marcuse, entre tantos que me lembro, a música inesquecível do
Brel, do Ferré ou do Aznavour, os filmes marcantes do Resnais, do Godard, do
Truffaut, do realismo dos anos 60 e 70, que vivemos com intensidade
determinada. E ainda, pois claro, do Camus e do Vian, que ainda hoje devoramos,
pelo menos em pensamento. Mesmo dando de barato uma certa e perigosa tendência
dos franceses para a extrema-direita, assinalamos Paris, uma cidade de grandes
referências, deixando aqui esta encantadora tirada, devidamente assinada, ainda
que não datada: “Etrangère,
séductrice et troublante, la langue française est un puissant moyen de
contestation et de rencontre” [Bourguiba, H.]
Perscrutamos
as presidenciais. Sim, porque mesmo na ausência incómoda e ameaçadora das
camaras televisivas, dos microfones ameaçadores das rádios e do cheiro do papel
de qualquer pasquim, o Grupo manifesta-se e vota decida e determinadamente
contra o esperto de Cascais e sentencia-lhe o castigo imenso de uma segunda
volta que o atirará para o caixote do lixo da História, na companhia da Judite,
na melhor das hipóteses. SNAP é o nosso lema, com espírito, com alma portuguesa
e com a Cidadania que prezamos, difundimos e, há que dizê-lo com frontalidade,
praticamos diariamente.
Na
realidade, é bom que aconteça tudo aquilo que abordamos. Primeiro porque sim,
segundo porque também. Saímos e ficamos mais ricos. Mesmo sem a devolução da
sobretaxa. Irmanados no mesmo espírito de revolução permanente, aquela que sem
a nomear, nos ensinou o imortal Moustaki, saímos da Casa, saudamo-nos com
aquela emoção e vamos as nossas vidas, marcando sempre encontro num dia
qualquer. A nós, ninguém nos cala!
14 dezembro 2015
“UMA VERGONHA?[1]”
“A vergonha, isso passa quando a vida é
longa....”
Jean-Paul Sartre
Retirado ou roubado o título ao seu autor,
repasso a leitura e apenas consigo vislumbrar um Vasco cansado, ressabiado a
agora sem o “pulimento” que já exibiu em tempos. Continua porém Valente, supostamente arrogado
na valentia típica do leão enfurecido quando falha sucessivamente as suas
arremetidas.
Porque insiste Vasco em atacar o candidato
Sampaio da Nóvoa? Porque não gosta do estilo, da forma, do conteúdo, ou quiçá
da figura? Porque não se revê (claro!) num discurso diferente, na defesa das
causas da cidadania que tenta reposicionar a costumeiro fraseamento
político-partidário? Porque não aceita que um brilhante académico, com provas
dadas no Ensino Superior Público, com teses e escritos sobre o ensino e a
formação em Portugal, reconhecidas por sensibilidades tão diversas da vida
pública portuguesa, se posicione como “mais
um de cada um de vós”, dizendo claramente ao que vem e o que se propõe
fazer?
O que faz mexer assim a idiossincrasia retorcida
do Vasco, o mais velho dos velhos de um Restelo recuperado? Para quem escreve
este diletante personagem, que se deve julgar apóstolo da descrença lusitana e
do mais retrógrado sentimento apócrifo de um nacionalismo borolento? Oh Vasco,
atenta por exemplo Amós, que diz, "Aos
profetas ordenastes, dizendo: Não profetizeis" (Am 2.12 cf. 7.10-13).
Numa coisa acerta o Vasco, quando afirma “…há milhões de portugueses que podiam com a
mesma cara garantir o mesmo”, sendo que na interpretação livre do conceito
radica a ideia (correcta) de ter na Presidência da República, talvez pela
primeira vez, um Homem que defende uma cidadania efectiva e plena. Lembro
apenas, “Dou-me a esta candidatura sem
hesitações, sem calculismos, sem medo. Em nome da liberdade, da dignidade e do
futuro. A candidatura pertence aos portugueses. Darei tudo o que puder, o
melhor de mim mesmo, mas sei que esta tarefa só tem sentido se for vivida e
assumida, por inteiro, pelas mulheres e homens deste país, de todas as terras,
de todas as origens, de todas as condições.[2]”
Se tal não diz nada ao Vasco, dirá porventura a milhões de portuguesas e
portugueses, cansados da retórica e do distanciamento.
Vasco é passado, o nosso Candidato é futuro. É
isso que irrita o Vasco. Claramente, o que escreve é mesmo…uma vergonha!
[2]
Extracto da Carta de Princípios da
candidatura a Presidente da República de António Sampaio da Nóvoa
(Porto, 25 de
Maio de 2015)