28 novembro 2017

A MARCHA-ATRÁS


Se pudéssemos voltar atrás. 
Pensar melhor, honrar os compromissos, constatar que o nosso voto iria contribuir para melhorar de forma significativa a situação de milhares e milhares de famílias do nosso País, diminuindo uma factura energética que é das mais gravosas em toda a Europa. E que, ao fazer assim, estaríamos a dar uma enorme machadada naquela que é talvez a mais injusta das situações em Portugal: a perspectiva rentista. Atente-se que quando se fala de rentismo, estamos a referir todas as tentativas e pressões de grupos privados sobre um governo, no sentido de obterem privilégios legais, e/ou monopólios significativos. 
(Se pudéssemos voltar atrás...)
Poderíamos perceber como em 2 ou 3 dias se muda uma posição que parecia acordada, para não permitir mais prebendas a quem usufrui já de favores do Estado, à custa de dinheiros públicos. Quando ouvimos a toda a hora, todos os dias, agentes e comentadores clamarem que não há dinheiro para ... nada, custa saber que não podemos voltar atrás. Afinal cedemos. Afinal, era tudo encenado naquela 6ªfeira? Afinal, onde está o equilíbrio, onde está a dita “palavra honrada”? 
(Se pudéssemos voltar atrás...)
E resistir a não ser (sempre) subserviente aos poderes das empresas. Que aliás gastam milhões a fazer lobby, para obter benefícios, pelos vistos vale mesmo a pena, porque afinal somos nós a pagá-los, quando pagamos a mais (sempre a mais) pelos seus serviços. Uma coisa assim apresentada a 10 portugueses anónimos (um pequeno focus group...) receberia certamente um comentário robustamente zangado (no mínimo). Ouvimos a Mariana, uma espécie de porta-voz de uma indignação colectiva, ““...uma contribuição solidária sobre as energéticas para a extinção do défice tarifário, responde por quem trabalha, pela economia, pelo ambiente e não custa um cêntimo aos cofres do Estado...” e ficamos a pensar como fomos capazes de voltar atrás.
Depois de tanto conseguir, um tanto que é apenas muito pouco, mas para muitos, é muito. Foi a justiça para os trabalhadores, foi a retribuição devida para quem trabalhou tanto tempo e agora tem idade para tranquilamente descansar, foi a Escola reconhecida como pública, reafirmando a sua importância e prestígio, foi o Serviço Nacional de Saúde “reconquistado”. 
(Se ainda pudéssemos voltar atrás...)
E permitir que a medida chumbada (com o apoio da Direita) permitiria ir buscar 250 milhões de euros às empresas produtoras (nomeadamente à EDP Renováveis, que vende para Espanha com mais 20% de lucro) para baixar o preço da eletricidade no nosso País. Se fizessem outro (pequeno) focus group, obteriam decerto 100% de acordo garantido em respostas “sim”. 
Agora não podemos voltar atrás. Mas podemos dormir descansados porque não teremos em cima dezenas (talvez centenas) de processos judiciais colocados pelas empresas de energia ao Estado que é (dizem) nosso. Afinal as EDP, as Galp e as REN são mais portuguesas que todos nós, apesar de serem estrangeiras. Choca, não é?
César diz que não cede a lobbys. A César o que é de César, assim diz o ditado. Quem somos nós para o desmentir? Apesar de parecer que a realidade o desmente mesmo. Mas quem somos nós, afinal???
Pelos menos não fomos nós que voltamos atrás...


14 novembro 2017

É “ISTO” UM DIRECTOR DE JORNAL? DO DN? FRANCAMENTE...


O costumeiro fraseado do “País a sério” é um dos mitos criados pela pequena-burguesia insatisfeita com quase tudo e sempre incapaz de compreender as mudanças sociais, porque não tem consciência de classe e aspira sempre ao que nunca irá conseguir. As vozes que constroem este mito, são incapazes de ir além de um raciocínio de baixo perfil, habituadas a moverem-se no círculo tortuoso da ignorância consentida. 

Este indivíduo é um bom exemplo. Escreve mal, raramente apresenta uma ideia medianamente elaborada, utiliza jargões vulgares e raramente é capaz de um comentário coerente e justificado. Só de pensar que é director de um jornal, ainda por cima de um periódico com a tradição que tem o DN, sente-se um certo desânimo e tristeza pela mediocridade gritante da grande maioria da comunicação social em Portugal. 
Atente-se na asserção, “Nesta hipocrisia de um país que se alimenta de todas as polémicas, nem vale a pena perder tempo com o debate político assente no passa-culpas”. Mesmo que se admita que o País se alimenta de polémicas, quer saber-se quem “fornece a comida”, usando (mesmo que custe fazê-lo) a terminologia rasca do sujeito. Ora é por demais sabido que são personagens como ele os verdadeiros responsáveis por essas “polémicas”. E deve saber-se ainda que a maioria dos portugueses estão a milhas destas polémicas e não querem saber delas para nada, porque têm mais com se preocupar e diga-se de arrasto, têm seguramente mais que fazer. 
Mas, sujeitos (malformados) como este têm uma característica comum, que os aproxima de cabeças perigosas de cariz censório e ditatorial: a arrogância mal disfarçada e claramente expressa em frases chave com esta, “? O poder político, maioria e oposição, precisa mesmo que se lhes recorde a lista de prioridades.”. Aqui está o convencimento maior que reside na putativa capacidade do autor se considerar com “categoria” capaz de sugerir (ainda que seja ao de leve) recomendações. Em situações como esta, a arrogância mistura-se com a prepotência, muito próprias (ambas) de espíritos menores, ignorantes e desprovidos de razão própria, incapazes de mexer um neurónio que seja para pensar no ridículo que significa a sua existência terráquea.
Um exemplo mais, retirado desta miséria de crónica que facilmente seria (digo eu) chumbada em qualquer primeiro ano de uma escola de jornalismo, “...faça-se então o que o povo indignado diz que tem de ser feito. Proíba-se!”. Um possível comentário a “isto” poderia ser simplesmente: o povo não está minimamente indignado, o autor é que está, e nem sequer sabe muito bem porquê, nem porque escreve um emaranhado de asneiras, atropelando-se constantemente (sem dar conta disso, porque não é mesmo capaz de o fazer) na mais pobre da argumentação e no discurso mais torpe que é possível imaginar.
Se quiséssemos porventura seguir (cousa difícil) a lógica deste sujeito, seriamos obrigados a dizer que “num País a sério” era impossível que um exemplar destes chegasse a jornalista, quanto mais a director de um jornal. Mas não somos capazes de utilizar lógica tão rasteira e tão deprimente...
Já lemos por mais que uma vez escritos deste sujeito. Já ouvimos a sua voz aos microfones da rádio, lembrando que já foi director da TSF. Já pudemos aquilatar das suas posições reaccionárias, por exemplo, sobre os professores ou sobre os funcionários públicos, alimentadas pelo preconceito pequeno-burguês liberal sobre o papel do Estado Social. E sentimos então uma vergonha imensa, pensando na qualidade sublime de tantas mulheres e homens deste País, que são e foram progressivamente afastados das redacções, em proveito desta gente menor e sem qualidade. 

Afirmamos então que em termos de prioridades (tantas que são), poderíamos eleger uma educação cívica permanente, desde os primeiros anos da Escola, até a um Ensino Superior de enorme exigência e qualidade, nomeadamente na formação dos quadros para os profissionais da comunicação social. Mas também (se é que isso é mesmo possível) o direito que temos a uma informação digna e descomprometida com os interesses dos grandes grupos económicos, sabendo, entretanto, que quando aí chegarmos, será mesmo impossível que um exemplar deste jaez se digne sequer pensar em escrever para alguém.

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A COISA:

Num país a sério...
Num país a sério, não gastávamos tanto tempo a discutir uma questão de lana-caprina. Não queremos jantares no Panteão Nacional? Gerou-se nas redes sociais um consenso generalizado sobre esta matéria? Está decidido, não haverá mais jantares no Panteão. Ponto final, parágrafo. Também é verdade que, num país a sério, não deixamos que sejam as redes sociais a governar, tanto mais que a intensidade da indignação contra o dito jantar é proporcional à indignação dos que não percebem que se perca tempo a discutir o dito jantar. Num país a sério, toda a gente sabe que se a diretora do Panteão tivesse proibido o dito jantar estaria agora a ser crucificada por ter impedido o repasto da Web Summit, depois de outros jantares terem sido permitidos. É que convém não esquecer: a Web Summit é a "feira" que recebe todos os apoios possíveis e imagináveis do Estado, no pressuposto de que tudo lhe deve ser permitido porque o país tem tudo a ganhar com a "feira". Nesta hipocrisia de um país que se alimenta de todas as polémicas, nem vale a pena perder tempo com o debate político assente no passa-culpas. Ninguém passa fome, todos conseguem atirar polémica para cima dos outros. Entre quem fez o despacho e quem autorizou o evento com base no despacho, não existem uns que são mais culpados do que outros. Até agora estava tudo bem, a festa e a festança onde estava sempre a Dona Constança era boa para o país porque ajudava a manter de pé os monumentos. A indignação coletiva diz que tem de ser posta ordem na balbúrdia, faça-se então o que o povo indignado diz que tem de ser feito. Proíba-se! Agora, não estranhem que as mesmas redes sociais, depois de se terem mostrado indignadas com o jantar, se manifestem agora indignadas com a importância que lhe está a ser dada. Num país a sério, há prioridades. O problema gravíssimo da seca está resolvido? No calor infernal que se vai fazer sentir no próximo verão, a prevenção e o combate aos fogos vão funcionar? A tropa agora já guarda como deve ser os seus quartéis? O SNS que existe para nos salvar, não está ele à espera de que o salvem? O poder político, maioria e oposição, precisa mesmo que se lhes recorde a lista de prioridades.”


11 novembro 2017

NEM ME CHAMASTE PADRINHO...

(ou de como um erro de casting pode confundir a pátria)


Puxaste dos galões, pensaste porventura que me impressionaria ver-te de sotaina, a reclamar atenção a qualquer causa que te apresentasse. Decidias e pronto. Acima a Família, com os seus valores tradicionais que nunca enjeitamos, mesmo que derivas imensas se aposentem em cenários diversos.
(Nem precisavas disso)
A Madrinha estava lá, serena na sua postura apostólica, que não romana, esteta que era, na sua louca complacência. Não sabia rir, de tanta laca e creme, mas associava-a sempre ao bondoso, embora circunspecto, sorriso da cabrinha mansa, oh senhora minha que pariste a mais pífia imagem de presépio decadente.
Alguém se lembrou que poderias ser elevada num pedestal de barro preto, que partisse à primeira investida, bufando simplesmente caía.
(Olhe que não)
Pensamos nisso montes de vezes, faltando-nos porém aquele rasgo, típico de seres privilegiados, que descobrem o sentimento colectivo, qual fatia de queijo, à mercê de qualquer rato de esquina. 
(Como foste capaz de dizer aquilo?)
Eu, na verdade, pensando bem, é que poderia ser o figurante siciliano, esta palavra agrada-me imenso, sabe-se lá porquê. Mas Ele lembrou-se dela, ficando eu quedo e mudo, ao canto da marquise, comendo de boca aberta o pão que o diabo rejeitou. Assim dito, fica bem melhor que o clássico.
(O homem está bem, mesmo?)
Vendo as coisas como o são, Ele tem que dizer qualquer coisa todos os dias, não interessa bem o conteúdo, o importante é a postura afectuosa, que lembra sempre o primo do Brasil, quando chega à província.
Agora terei de enviar aerogramas, exactamente a quem? Nem sei muito bem o que direi, mas posso falar de solidão, de como vivemos com as parcas reformas que o sistema nos destinou, nós que demos o corpo ao manifesto, seja lá o que isso for. Era bom que Ele ressuscitasse o Movimento, coisa linda que os militares da abrilada comunista renegaram. Ele pode fazer isso, não pode?

(Oh mulher, que raio...)
Haja respeito, ao menos pelo teu marido, eu nunca gostei dele, isto cheira-me a assédio, acho que que é assim que se diz. Fecha a marquise e vem preparar o discurso, não me deixes ficar mal.
(Podia ter-me chamado Padrinho...)

  


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