22 junho 2005

SERVIÇOS MÍNIMOS??? 


A nova invenção do Governo chama-se serviços mínimos na Educação e aplica-se, para saber, àgreve geral dos professores decretada pela FENPROF e pela FNE, as duas estruturas sindicais que representam os profissionais do Ensino em Portugal. Lembre-se a propósito, que as alíneas do nº2 do art. 598º do Código do Trabalho, por força de previsão expressa do art. 595º, nº 2, do mesmo Código, estabelecem necessidades sociais impreteríveis, como os tais serviços mínimos. O ridículo da situação, dificilmente superável, faz lembrar os piores momentos da Ferreira Leite no ME. De entre as asneiras que se têm dito e escrito sobre o assunto salienta-se a prosa, sempre diligente, do insuspeito José Manuel Fernandes, no PUBLICO de 20 de Junho; cito, sobre a greve ... a mais cruel chantagem..., ...tomar os alunos como reféns... e esta outra digna de qualquer cabeça fascista ...sindicatos dirigidos por profissionais do sindicalismo que se assustam com a perspectiva de um dia terem de voltar a dar aulas....

Então agora, a maioria dos comentadores estatizados inventou uma que também não desmerece o autor anterior e que ele aliás subscreve implicitamente no seu artigo merdoso. Trata-se da asserção fantástica de que a greve prejudica os alunos, as famílias e mais não sei quê! Ora essa, então uma greve não prejudica sempre alguém, a começar pelo grevista, que vêreduzido o seu ordenado e que se sacrifica por ele e pelos que (comodamente) não fazem greve? Pois claro que há prejuízo, para isso é que se faz greve, ou não será? Por esse andar ninguém fazia greve, que se calhar éa ideia da maioria daqueles que agora vociferam contra os professores...

Pelos vistos está na moda atacar os funcionários públicos e, por arrastamento claro, os professores. Pelos vistos querem reformar o sistema contra aqueles que sistematicamente o aguentam contra a incapacidade e a incompetência de sucessivos ministros, ministérios e comanditas associadas. Claro que é incomparavelmente mais fácil, mais barato e, se não dá milhões..., pelo menos resulta em demagogia e populismo...

Pois que viva a Sr.ª ministra da educação, que vai contra os interesses corporativos instalados e contra os malditos professores, que são uns malandros e que fazem greve aos exames, impedindo os meninos e os seus papás (e mamãs) que têm de ir de férias e não podem permitir que se atrase um exame... E viva também a mão firme do Sr. primeiro-ministro que não vacila diante de um grupo mais que privilegiado da nossa sociedade..
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Que tristeza!

# publicado por Alf : 14:59

14 junho 2005




LUTO E LUTA...

Mais uma morte de um companheiro de luta pela liberdade. A morte de Álvaro Cunhal deixa a democracia e todo o seu legado mais pobre. Um grande pensador, um escritor, um artista plástico. Um Homem a quem devemos a liberdade; 11 anos preso nas cadeias fascistas, um nome da resistência, um politico de dimensão internacional, um internacionalista. Uma vida por uma causa.

É justo lembrar uma das quadras de Manuel Alegre, que dedico ao Álvaro, nesta despedida da vida: 
"Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não
".

Gente de vários quadrantes lamenta a perda de uma vida com sentido. Muitos gostam de salientar as grandes divergências que com ele mantinham. Poucos têm a coragem de admitir que durante décadas, o Partido que dirigiu foi a única fonte de resistência ao fascismo; numa hora destas, isso é muito mais importante que tudo o resto...
Para homens como o Álvaro, poderemos dizer com Luiz de Camões:
"...e aqueles que por obras valerosas
se vão da lei da Morte libertando.
.."

Adeus camarada...

# publicado por Alf : 19:06

12 junho 2005







ADEUS COMPANHEIRO...

A morte saiu-te àrua num dia de Junho. Abril tem 30 anos e sempre o soubeste recordar nas tuas intervenções... Curiosamente, a revolução passou-te compulsivamente áreserva, depois do triste Novembro, ao qual se associaram todos os democratas de hoje, e todos os salazaristas do passado. Força, força, ... se cantava, na altura em que tudo era possível. Soubeste resistir ao conformismo, foste um político do povo, sem fato e sem gravata. Falavas para os trabalhadores, irritaste os senhores do dinheiro. Soubeste merecer o respeito de muitos dos políticos de vários quadrantes, apesar de muitos deles te terem minado o terreno, á boa maneira da burguesia comprometida. Lutaste pela Reforma Agrária, pelos direitos dos camponeses; no entanto, agora 30 anos depois, vemos o Alentejo transformado num deserto gigantesco, ao sabor das políticas da massificação. Disseste até ao fim que acreditavas na Revolução, mas sempre com uma preocupação latente.

Foste um combatente e um patriota. Adeus companheiro Vasco!

# publicado por Alf : 14:00

08 junho 2005





UMA BALADA ESPECIAL....

Um momento de rara beleza em Braga, na passada 6º feira (3 de Junho), aquando da apresentação em Braga, na cooperativa Velha-a-Branca do livro *Balada Solitária* de Fran Alonso e Renato Roque, das edições Eterogémeas. Na linha seguida durante a apresentação, uma projecção com as fotos de ilustração do Renato Roque, a música (o piano) do João Lóio e leitura poética da Regina Castro.

A "Balada Solitária", onde Fran opina sobre a solidão e sobre inúmeras facetas do relacionamento entre as pessoas numa sociedade massificada, é um momento de delicada harmonia entre um conceito terrivelmente dramático e um pragmatismo de discurso e ilustração, com uma geometria mais que variável de sentimentos e palavras.
Através do que pode ser considerada a afirmação do betão, o Renato transporta-nos à complexidade emaranhada da individualidade intrínseca á urbanidade dos nossos dias: porque associei logo os arames do betão ao traçado (errático?) dos nossos neurónios? Puro acaso???

A radicalidade assumida dos autores aliada a um despretensiosismo evidente, leva-nos à cidade que nunca é a nossa, mas sim a que desenhamos numa arquitectura imaginária, onde o sonho é possível. Ou, já agora, como diz o Fran Alonso
Fran Alonso, Cidades, Edicións Xerais de Galicia, Vigo:

"Entre tódalas cidades prefiro as que dormen sobre o mar
ou aquelas que se erguen na areado deserto.
As primeiras están habitadas por sardiñas de prata,
e as segundas por dátiles de luz"
.

# publicado por Alf : 12:49

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