26 setembro 2009

A Cena Parte 4. O meu VOTO



Não sei bem se a lei se aplica aqui, ou seja, se na blogosfera a campanha termina à meia-noite de hoje. Eu faço sempre campanha todos os dias. Habituei-me desde muito jovem a encarar a cidadania global como um símbolo de uma luta pelos direitos humanos, pela dignidade das pessoas, pela igualdade a todos os níveis, pela Democracia participativa, por uma sociedade mais justa. E também uma luta contra a pobreza, contra a exclusão social, contra os privilégios de pessoas e grupos que oprimem a grande maioria, enfim contra o fosso enorme entre pobres e ricos; em Portugal e em todo o mundo. Uma luta que não pode esquecer 4 décadas de fascismo, que não deve esquecer quem conseguiu abrir as portas que Abril abriu.


Serei hoje, por um dia, politicamente correcto, ou seja, respeitando a lei. Para fazer o meu apelo ao VOTO. Aproveito aqui e agora, as palavras simples de Jerónimo “… não há governo à esquerda, não há política de esquerda sem a contribuição decisiva do PCP e da CDU[1]. Perfeitamente à vontade, dado que não milito em qualquer partido há bastante tempo. Nada me obriga a concordar com tudo o que o PCP faz, ou diz. O meu apoio é um apoio crítico, porém convicto. Um apoio a um imenso grupo de mulheres e homens, muitos jovens, que defendem causas, princípios e ideais seguros de esquerda. Uma esquerda que não precisa de se travestir para se afirmar. E sobretudo na defesa de “…uma política de desenvolvimento económico visando tais objectivos pressupõe na sua realização uma decisiva intervenção do Estado na efectiva regulação da actividade económica e na concretização de políticas que prossigam opções estratégicas nacionais e a valorização do trabalho e dos trabalhadores, questão nuclear de uma política alternativa[2].


Num momento em que tanto se fala em coligações, alianças e outros acordos ou desacordos do género, Jerónimo diz muito claramente que “…só aceita dialogar uma aliança, se primeiro o PS aceitar políticas e bases programáticas”; e ainda, “o PCP esteve sempre aberto a qualquer discussão; o problema não é aceitar ou não dialogar: o problema é dialogar em torno de quê e procurar convergências em torno de quê[3]. Ao contrário de alguma esquerda, com propostas muito válidas diga-se de passagem, que talvez iludida pela “dança” das sondagens, vai dando alguns pontapés na coerência…


Entramos então no período de reflexão; já passa de facto da meia-noite, já me sinto um pouco infractor. Irei decerto amanhã reflectir, há sempre tanto para reflectir. Não decerto sobre o meu sentido de voto. O meu voto é segura e decididamente CDU!


Fim de cena.
25 Setembro 2009
Alf.


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(1) In Jornal “Público” de 25 de Setembro
(2) Programa eleitoral do Partido Comunista Português
(3) Idem nota 1


24 setembro 2009



A Cena

Parte 3. Casos, Gafes, Fitas, Gatos e mais coisas interessantes (ou não…)

http://sic.sapo.pt/online/sites%20sic/gato-fedorento/esmiuca-os-sufragios

Não diria que vale tudo nesta Cena. Mas, inundados que somos, praticamente todos os dias, com notícias mais ou menos desencontradas (?), ficamos com a sensação que nos passa ao largo muita coisa, que deveríamos conhecer melhor. Falo de transparência, claro. Ou da falta dela. Podemos comentar, protestar, ficar mais ou menos furiosos, mas de todo impotentes (salvo seja), uma vez que o afastamento é grande. Resta-nos mesmo contribuir como o Voto, afirmação de cidadania. A abstenção só servirá aquelas(es) que contribuem para a confusão.
TVI. Uma empresa privada, de orientação conhecida, despede (no meio da tal confusão), imiscuindo-se na Cena. Para que se saiba, a conhecida “jornalista” que se apresenta (ou apresentava) “ eu sou a MMG”, deu uma entrevista no mínimo provocatória ao DN uns dias antes de a administração lhe ter tirado o tapete. Nessa entrevista MMG chama "estúpidos" aos seus superiores. Aliás, as palavras "estúpidos" e "estupidez" aparecem várias vezes sempre que MMG se refere à administração e muito boa gente. É muito interessante rever a rábula feita pelos “Contemporâneos” que, para além de ter imensa piada, espelha na íntegra forma despudorada, provocatória e despida de qualquer conteúdo jornalístico que a dita cuja senhora utilizava. Mas há mais: é conhecida a forma como tratava os colegas dos outros canais, de “cobardes”, chegando ao ponto de classificar o programa da RTP 2, “Clube de Jornalistas”, como “uma verdadeira porcaria” e dizendo do Sindicato dos Jornalistas, "… pessoas que nunca fizeram a ponta de um corno na vida". Teve pois, em minha opinião, o que merecia. Claro que a Direita em peso apareceu em peso, como era de esperar, particularmente aqueles que no malfadado Governo de Santana Lopes fizeram o que se sabe e que nem vale a pena falar. E o que é perturbante, é que algumas pessoas de Esquerda tenham embarcado na onda, se bem me faço entender..

Das gafes, a melhor terá sido a da tal senhora que queria (quer?) “… parar a Democracia por 6 meses para pôr tudo na ordem”, ao dar autênticos pontapés na gramática da língua pátria, em várias situações, nomeadamente nas aparições nos “Gato Fedorento”, os quais montaram sobre o tema uma verdadeira profusão de asneiras. Também é de rever, para quem não esteve atento.

O Sr. Silva (até me custa recorrer ao Bokassa da Madeira, mas enfim…) deve contudo ter protagonizado a mais insólita gafe desta Cena. E o problema é muito mais que gafe. O dito senhor “desconfia” que anda a ser espiado pelo Governo, há praticamente ano e meio. Vai daí recorre ao Sr. Lima, seu fiel adorno há 20 anos, para abordar um jornalista, montando uma outra Cena. Deu no que se sabe: o dito senhor já foi demitido, o Sr. Silva tem agora mais um “tabu”, a lembrar os tempos em que desbastou os dinheiros públicos, na qualidade de PM. Bem, se de facto tinha desconfianças, não tinha outra solução senão abrir um inquérito e demitir o Governo. Mas a Direita é mesmo assim, retorcida; o Sr. Silva continua (apesar das suas “preocupações sociais”) a ser a imagem dessa Direita, que não queremos (eu, particularmente não quero mesmo!).

Um dado interessante: tendo-se falado muito durante a campanha, na luta contra a pobreza, na luta pela inclusão social, não ouvi, não li, não vi, qualquer dos partidos enquadrar devidamente essa prioridade com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), um compromisso mundial, assumido nas Nações Unidas em Setembro de 2000, pelos chefes de Estado e de Governo de 189 países, incluindo Portugal, Foi então assinada a Declaração do Milénio, comprometendo-se a lutar contra a pobreza e fome, a desigualdade de género, a degradação ambiental e o vírus do VIH/SIDA. Foi ainda assumido o compromisso de melhorar o acesso à educação, a cuidados de saúde e a água potável. E, para avaliar o cumprimento daquele compromisso, foram estabelecidos 8 ODM ([1]), a alcançar até 2015. Para além de constituir um compromisso de solidariedade internacional, que deve inspirar todos os cidadãos e organizações governamentais e não-governamentais, implica que o futuro Governo do País deve conceder mais e melhor ajuda pública para o desenvolvimento, nomeadamente no que reporta aos países de língua portuguesa. Tal referência poderia fazer contudo toda a diferença, no que significaria uma mobilização para a cidadania global.

Fim do terceiro acto.

24 Setembro 2009
Alf.
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([1]) Os 8 ODM: Pobreza e Fome / Ensino primário universal / Igualdade de género / Mortalidade infantil / Saúde materna / Doenças graves / Sustentabilidade ambiental / Parceria global para o desenvolvimento
In: http://www.objectivo2015.org/pobreza/index.shtml


23 setembro 2009



A Cena

Parte 2. A “Política da Verdade






A Cena é a tal “politica da verdade”Alguns dados da autora (e intérprete).

Manuela Ferreira Leite, Ministra da Educação do XII Governo Constitucional, de Aníbal Cavaco Silva, de 1993 a 1995. Inventou a “Geração Rasca”, para designar os jovens que terminavam o 10º ano de escolaridade. Esteve no centro da polémica das Lei das Propinas (pouco tempo depois de ter existido uma carga policial contra estudantes do Ensino Superior que se manifestavam frente ao Parlamento). Asfixiou completamente as Escolas Profissionais, através da medida de corte de financiamento público. Afirmou que os salários dos professores se iriam tornar iguais aos de um canalizador. Assinou a Lei de Bases da Educação que faz referência à escolaridade obrigatória até ao 12ºano.
Manuela Ferreira Leite, Ministra de Estado e das Finanças do XV Governo Constitucional, de Durão Barroso, de 2002 a 2004. Inventou a obsessão extrema pelo défice. Promoveu cortes orçamentais cirúrgicos às PME, que tiveram como consequência a falência de algumas delas. Idem às restrições orçamentais feitas às Câmaras Municipais que colocaram muitas delas à beira do colapso económico. Contratualizou, em sede europeia, o projecto do TGV, juntamente com Durão Barroso, então líder do PSD.
Manuela Ferreira Leite, candidata às eleições para a Assembleia da República de 27 de Setembro 2009. Afirma que a geração jovem é fundamental. Propõe corte radical com as actuais medidas da Educação, apoiando os professores (...). Afirma que a escolaridade obrigatória até ao 12ºano terá poucas ou nenhumas vantagens. Critica a obsessão de José Sócrates pelo défice. Propõe um programa de apoio às PME. Propõe rasgar contrato do TGV. Apresenta 2 candidatos na sua lista arguidos em processos de justiça. Defende que, no seu partido, os candidatos a um determinado cargo não o poderão ser a mais nenhum cargo nas eleições que ocorram este ano. Alberto João Jardim é candidato inverso da afirmação anterior. Manifesta-se publicamente, no debate com o PM contra “os espanhóis”. De 2006 a 2008 foi Vogal do Conselho de Administração do Banco Santander.

Basta comparar, não é preciso dizer mais; na realidade, não vale a pena…
A “santinha da ladeira”, como parece ser conhecida por alguns dos seus colegas de Partido. Aquela que propõe “parar a democracia por 6 meses” (uma ironia?). A mulher que elogia publicamente a “democracia” na Madeira. A mulher que diz que o casamento é para procriar. A “outra senhora” segundo a feliz alegoria de Manuel Alegre, nada tem no seu programa de concreto, porque simplesmente nada tem para dizer ao País. E, segundo consta, também ao seu Partido.
Não sei porquê, lembro tempos passados, quando o SNI coordenava, na Emissora Nacional, o programa do salazarismo "Rádio Moscovo não fala verdade"…
Não havia necessidade…

Fim do segundo acto.
22 Setembro 2009
Alf.

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Fontes:
o http://www.sg.min-edu.pt/expo03/min_21_ferreira_leite/expo2.htm
o http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuela_Ferreira_Leite
o http://thoughts-and-letters.blogspot.com/2009/07/cv-da-avozinha.html


21 setembro 2009



A Cena


Parte 1. Mas que cena é esta?



Uma serie de estórias, factos mais ou menos reais, outros assim-assim; alguns ainda de pura inspiração, dislates de consciência, desabafos mais ou menos incontidos, reflexões sérias, honestas e desonestas, puro divertimento e gozo, alguma ansiedade (natural?) no palco imenso de mais uma campanha. Os contornos enquadrativos de uma Cena, que se desenrola no tal palco, que devia representar o País, que de facto passa ainda ao largo de alguns milhões de cidadãos, por razões que a razão conhece, mas que alguns teimam em esquecer, para aliviar talvez a irresponsabilidade dos que usam a irritante frase feita “o interesse nacional está acima dos interesses particulares, o meu desejo é o de servir o meu país”. Bastava citar meia dúzia de casos conhecidos, para desmontar a asserção, tal é a completa e desmesurada promiscuidade entre a pequena política e os grandes interesses que, infelizmente, dominam a Cena.
A primeira parte da Cena é naturalmente dedicada aos que tiveram a responsabilidade de governar durante os 4 últimos anos. As outras partes tentarão visar os que continuam em cena de há muitos e muitos anos atrás, resguardados agora e sempre atrás de um poder oculto que transformam de facto a verdadeira Politica, que devia ser de todos e, não o sendo, distorcem a Democracia, transformando-a num mediático circo, iludindo os que votam para uma sociedade deliberdade, igualdade e fraternidade; e de mais algumas coisas… Razão para não votar? De todo, o apelo ao voto é quase um desespero de causa, ou se quiserem uma causa em si mesmo. Votar pois, apetece mesmo dizer como em tempos “o voto é uma arma” que, bem usada, pode alguma coisa transformar.
Votar por (ou para) causas, ideais, uma qualquer utopia. Ou muito simplesmente por nada de especial, como por exemplo, por protesto. O protesto, pode começar por ser feito de uma forma muito simples: não tivemos 4 anos um governo socialista, mas sim 4 anos de um governo do Partido Socialista. Apesar de, à primeira vista, poder parecer o mesmo, de facto não o é. O PS adoptou uma esquisita, mas conhecida estratégia, de praticar uma politica de direita, a que dá a designação de “reformista e de esquerda moderada”. Uma contradição, uma vez que aquilo na realidade não significa positivamente nada. Primeiro, porque o termo “reformista”nada diz em concreto, é uma abstracção, ou se quiserem uma afirmação de quem quer fazer “reformas”, sem se saber que tipo de reformas. Segundo, a “coisa” a que se chama “esquerda moderada”, também não é substantiva; ou é esquerda ou não é; será uma posição entre a esquerda e a direita(?); será uma posição entre a direita e a esquerda (?). Com toda esta ambiguidade, a realidade mostra um País com: um nível de pobreza assustador, em termos da União Europeia, um sistema bancário e financeiro protegidos em termos de carga fiscal, um número absolutamente intolerável de salários elevadíssimos em cargos de chefia em empresas (públicas e privadas), um critério de privatizações que deu no que sabemos, electricidade, combustíveis, serviços de telecomunicações mais caros, penalizando sempre os mesmos. A direita não faria melhor nem pior, faria exactamente o mesmo. Para “equilibrar”, a politica “reformista e de esquerda moderada”, mostrou alguma disponibilidade na consolidação do Serviço Nacional de Saúde, na promoção de muitos milhares de pessoas a quem foram reconhecidas qualificações (Novas oportunidades), enfim, um tímido combate à evasão e fraude fiscal e o chamado “simplex”.
Não chega, como fácilmente se constata pela frieza dos números que dia a dia vamos conhecendo. Mais de meio milhão de desempregados, uma politica económica que de facto, protege (velada ou directamente) os grandes grupos económicos e, acima de tudo, na continuidade do “centrão”: a rotatividade escandalosa de meia-dúzia (realmente muitos mais) de figuras PS e PSD à frente de empresas públicas. E, por falar em números aqui vai, sem comentários (não vale a pena…), uma notícia de 12 de Setembro da TSF: “o porta-voz da Comissão de Trabalhadores disse que, segundo o relatório do primeiro trimestre da PT, os administradores executivos receberam mais de seis milhões de euros
A Cena repete-se portanto. E é hora de a Cena mudar. Mas a mudança não é escolher dentro do centrão. Para surpresa de muitos iludidos, que dizem à boca cheia que a diferença entre esquerda e direita se vai esbatendo. Puro engano: esquerda é esquerda, direita é direita, assim mesmo. Precisamos de introduzir na politica uma radicalidade, que significa a já falada defesa de causas e princípios; aliás, assim o dizem muitas figuras conhecidas dentro do Partido Socialista.


Fim do primeiro acto.
20 Setembro 2009
Alf.


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