17 março 2013
O ALMA tem alma?
São Pedro de Atacama, Montanha
de Chajnantor, deserto de Atacama, 1600 kum da capital Santiago, República do Chile.
Este deserto é o lugar na Terra que passou mais de 1400 anos sem indícios de
chuva, considerado o deserto mais alto e árido do Mundo. No passado 13 Março
2013, é inaugurado o observatório ALMA, iniciais de Atacama Large
Millimeter/submillimeter Array. Trata-se uma infraestrutura astronómica internacional, parceria entre a
Europa, a América do Norte e o Leste Asiático, em cooperação com a República do
Chile. O ALMA é financiado na Europa pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), na
América do Norte pela Fundação Nacional para a Ciência dos Estados Unidos (NSF)
em cooperação com o Conselho Nacional de Investigação do Canadá (NRC) e no
Leste Asiático pelos Institutos Nacionais de Ciências da Natureza (NINS) do
Japão em cooperação com a Academia Sínica (AS) da Ilha Formosa. Um contrato de um milhão de euros, mas cujo valor
global do projecto ascende a mil milhões, obra do European Southern Observatory.
São 66 antenas gigantes interligadas, um grande telescópio que será capaz de
observar o Universo com uma sensibilidade e resolução sem precedentes, com uma
nitidez que será dez vezes superior à do telescópio Espacial Hubble. Vai permitir, segundo os promotores, estudar os blocos de estrelas em
crescimento, sistemas planetários, galáxias e a própria vida. Há um filme
espectacular disponível na internet (http://www.eso.org/public/portugal/videos/eso1312a/)
que conta
a história do Projeto desde os seus primórdios,“... quando a Europa, América
do Norte e Leste Asiático desenvolveram um conceito comum para um novo e enorme
telescópio, no milímetro e submilímetro, que pudesse observar os objetos mais
frios e mais distantes do Universo. Mostra também a busca do local perfeito e
os desafios técnicos e logísticos originados pela construção duma
infraestrutura tão grande num lugar remoto e sob condições extremamente
rigorosas.“
A pesquisa e
investigação científicas constituem desde sempre uma das conquistas
civilizacionais e um orgulho da Humanidade. Avanços científicos, técnicos e
tecnológicos foram até agora possíveis, graças ao esforço e ao pensamento
criativo de pessoas e organizações, escolas e instituições do ensino superior,
institutos de investigação. Doadores internacionais e estados conjugaram
esforços no sentido do desenvolvimento, muitas vezes com objectivos humanistas,
cuja meta seria criar condições para que as pessoas vivessem melhor e mais
tempo, com uma qualidade superior, adequada à dignidade da pessoa humana.
Pesquisas inacreditáveis levariam a que se duplicasse a esperança média de vida
ente os séculos XX e XXI, um espantoso avanço, difícil de prever. As médias
entretanto valem o que valem e os números não têm o mesmo peso nos hemisférios
Norte e Sul, as diferenças transformam-se em desigualdades, todos os anos, por
exemplo morrem, por razões relacionadas com a pobreza, cerca de 18 milhões de
pessoas (50 mil por dia), sendo a maioria mulheres e crianças e as estatísticas
ainda dizem que, todos os anos morrem 11 milhões de crianças antes de
completarem 5 anos e que, finalmente, 1 bilião e 100 milhões de pessoas, vive
com menos de 1 dólar por dia, cerca de um sexto da humanidade.
As ciências ditas
exactas, como a Matemática, a Física e a Química, aliadas à Biologia à Estatística
e às ciências da Computação, confluem no que se pode considerar a Engenharia
moderna. Por outro lado as “ciências da compreensão”, em que se incluem Ciência
Política, a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia, a Economia e a
Arqueologia, ajudam a interpretar um mundo que se pretende melhor. E a Ciência
no seu conjunto pode contribuir para encontrar respostas e soluções para um
novo equilíbrio, a nível mundial. Parece dado adquirido ter de haver uma certa
distanciação da realidade, para melhor a interpretar, nomeadamente através de
sinais que formos capazes, dia a dia, de recolher. Novo paradigma de
conhecimento? O ALMA pode dar respostas a esse nível, pese mesmo a ingenuidade
da questão?
Filosofia? Séneca diz, "Foges em companhia
de ti próprio: é de alma que precisas de mudar, não de clima." No clima mais seco do Mundo, o ALMA ficará
à espera que mudemos, ou mudará ele próprio as antenas, em função das “respostas”
que consiga obter dos “…objetos mais frios e mais distantes do Universo”?
Dizem que os extremos acabam por se tocar, aqui sim, parece ser verdade, neste lugar inóspito, onde as temperaturas variam entre 0ºC à noite e 40ºC durante o dia. Diz o matemático que, àquela altitude não é possível a resolução de problemas, os técnicos descem ao centro de pesquisa situado a 2.440 metros e voltam depois ao local, com as contas feitas.
Filosofia? Einstein diz "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."Será que o ALMA andará a procura do fim do Universo, já que, relativamente a estupidez humana, não valerá a pena procurar muito, já que a temos sempre invariavelmente ao virar da esquina.
A curiosidade
da busca de elementos sobre este fantástico Projecto, conta que os 180
quilómetros de cabos isolados de média tensão, incluídos na construção, foram fornecidos
por uma empresa portuguesa e destinam-se ao transporte de energia a 30
quilovolts entre a central de produção de energia e o planalto, através da
instalação de dois circuitos paralelos de extensão aproximada de 30
quilómetros.
Filosofia? Francisco, o homem que em Roma será entronizado como o chefe de uma das mais poderosas e ricas “empresas” do mundo, faz um apelo, quiçá patético, para uma igreja mais pobre. E já que a prometida salvação para os católicos, parece vetar o reino dos céus aos ricos, é caso para perguntar se a alma tem preço. O telescópio também não dará decerto resposta a esta, como a muitas outras questões da vida…
04 março 2013
A vergonha suprema de um País
5 milhões de desempregados em Espanha, notícia do
dia. A comunicação social dá conta de que o número
de desempregados inscritos, aumentou quase 60 mil em Fevereiro 2013, para os
5,04 milhões. Um número superior a um quarto da população (26,2%).
As políticas de austeridade, de
natureza ideologicamente identificáveis com o neoliberalismo, a cegueira
completa do défice público, a imposição de uma política de ataque às classes trabalhadoras,
têm conseguido nos 3 últimos anos, o que se vê. Desde a Grécia a Portugal,
passando pela Itália e pela Espanha, as mesmas soluções, os mesmos erros, as
mesmas aparentes “teimosias” de uma direita profunda e vincadamente reacionária,
contudo eficaz e muito competente na forma de gerir a “crise” e de aportar mais
benefícios, vantagens e acumulações para o grande capital. Destruir o estado
social na Europa, anular as conquistas dos trabalhadores, estrangular a
democracia, estes os grandes objectivos de um programa global, que está em
curso, sob a batuta da administração alemã. Para daí tirar vantagem, aliás óbvia:
a Alemanha está a lucrar imenso com a gestão das dívidas públicas dos países do
Sul. Para além de colocar em risco a coesão social e a própria democracia representativa, o epifenómeno do desemprego galopante, na Europa do Sul, pode dar origem ao aparecimento de soluções de extrema-direita. Exemplos não faltam.
A situação assustadora em que as famílias são colocadas, pelo desemprego, é aflitiva. Significa em primeiro lugar, a carência absoluta em termos de meios de sobrevivência. Significa ainda a dependência em que são colocados perante outros ou outrem. Significa finalmente uma fragilidade psicológica, cujo grau pode variar de caso para caso, mas que no limite, é o espelho do desalento, da incapacidade de resposta e da indiferença. Mas, em termos sociais, o desemprego é a vergonha suprema de um País. Qualquer governo, de qualquer país, deveria parar para pensar as razões para este flagelo. Não param, não pensam, por isso, há que os parar à força, para depois ser possível pensar o País…
03 março 2013
O
povo é quem mais ordena?
Devia ser!
Não é, de facto e disso lamentamos,
sofremos, verberamos. O povo nada ordena, antes é ordenado de uma forma vil, aterradoramente
subjugado, como antes talvez não tenha acontecido. Atado a grilhões que
desenham a mais terrífica campanha contra o ser humano que, ao invés de ser
protegido, ao abrigo dos mais elementares direitos, é vilipendiado, sugado e
triturado numa poderosa máquina, construída precisamente para esse fim. Vai longe
o tempo em que curiosamente cantávamos Vila
Morena, Terra da Fraternidade. Com alegria, orgulho de ser português aqui. Cantamos
de novo, agora com a mágoa, a garganta presa, de raiva. De medo, ali ao virar
da esquina, o perigo espreita, não estamos preparados para tanta repressão,
disto se trata afinal, parece não haver regras para nada, no que toca a cortar na
dignidade mínima, na vida. De forma cega, cuidadosa e meticulosamente dirigida,
para os que trabalham e fazem enriquecer o País. E que agora, de novo, vão
enriquecer uma clique cada vais mais infame, mais bruta, disfarçada. Aqui e
além de laranja e cor-de-rosa foram pintando o mais cinzento panorama de que há
memória, ocuparam tudo que havia para ocupar e agora, de forma mais ou menos
enviesada, defendem o seu território, como hienas famintas de mais e mais. Sabemos
lidar com tanta ignomínia? Que direitos nos são sucessivamente sonegados, o
custo de vida aumenta e o vencimento diminui. Pagamos a factura mais cara da
Europa em impostos e não chega. Temos o salário mais baixo da Europa e não dá. Somos
o país mais desigual e a resposta é mais e mais desigualdade. Com a cabeça fria
da elite mais cretina e rasteira de que há memória, a mandar licenciados para
as matas, formados para a emigração, professores para a caixa do supermercado,
o saber e o conhecimento de uma geração, de várias gerações, para o caixote do
lixo, que eles é que sabem, desde que lhes esteja garantido a palavra, a declaração
sem sentido, a mais assustadora mediocridade, o lugar-comum mais estreito, a
estuporada máxima de servir o País, a pífia e abjecta frase feita, a
desprezível opinião formatada pela trela do insulto à inteligência. O ponto a
que se chega é o ponto donde se parte, nada se resolve, a não ser mais e mais
injustiça, aguentas não é verdade, se eu aguento também, a lógica infame de um
bando de ladrões, pior que ladrões em bando. O bando do banco, da banca, essa
sim devidamente protegida, adulada, acamada na doce reserva da protecção. O estado
do Estado a que estamos assistindo, onde um burlão descansa em Cabo Verde,
outro parte para negócios em Moçambique e um outro está de pedra e cal num
governo de símios inferiores. Agarrados ao poder, para um lado e para o outro
da miséria de um país, que sofre, que se deprime só de olhar para as imagens da
TV e ver como é possível que Grândola ainda esteja cá e não tenha sido
exportada para um qualquer paraíso fiscal, ou medida de alto a baixo pela polícia,
como no tempo do outro. No entanto,
dentro de ti, ó cidade, há ainda gente armada que te possa defender. A cantiga,
que de arma foi feita é agora evocada, renascida, trazida para um tempo amargo.
Em cada esquina se cruza e traz decerto outro amigo também. O povo acorda,
nunca é tarde, mesmo que não haja pequeno-almoço para tomar, já que pelos visto
é preciso começar de novo, com o pão, a paz, a saúde e a educação. Esta corja
não sabe o que isso é, porque nunca lhes foi necessário, tudo têm à mão, porque
o subtraíram a quem trabalha. Muitos delas e deles foram-nos alimentando sem
saber, fizeram-lhes a cama sem gorjeta, levaram-nos ao colo para onde agora
estão. Acordaram agora? Indignados, Indignai-vos!,
poderia dizer o Homem que partiu (a),
deixando o apelo mais digno, mais necessário, mais urgente. Como ele, afirmamos
seguramente, "A minha longa vida
deu-me uma série de motivos para me indignar".
Destruir. E construir o que é preciso. Em cada
rosto igualdade, isso é que está certo, foi para isso que fizemos a revolução. Para
então, ser de novo, O povo é quem mais
ordena!
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(a)
Referência a Stéphane
Hessel, Diplomata, ex-combatente da Resistência, que morreu em Paris, na semana passada