27 abril 2005

ISTO É QUE É MAIS JUSTIÇA, MEUS SENHORES???…

1. A noticia da libertação dos culpados pela morte de um agente da Judiciaria, pelo facto (aparentemente usual) de o Tribunal não ter cumprido os prazos previstos, é um bom exemplo da ineficácia da justiça deste País. Tal aconteceu, dado que (pelos vistos) houve um recurso às condenações, que variavam entre os 8 e os 16 anos. Isto já ultrapassa a chamada lentidão; esta justiça é de facto uma injustiça. Como irão reagir a isto a família e os entes mais próximos do agente assassinado? Sim, porque é preciso equacionar as consequências sociais de uma decisão deste tipo. Os formalismos não se podem sobrepor a tudo. Qualquer dia começam a aparecer fenómenos marginais a estas situações. Depois admirem-se…
2. "Os 23 homens e mulheres suspeitos de recrutarem portugueses para trabalho escravo em Espanha saíram em liberdade, esta quarta-feira de madrugada, do Tribunal de Instrução Criminal do Porto", segundo a notícia da Lusa, hoje de manhã. Os culpados dedicavam a sua actividade à contratação de pessoas desempregadas, algumas da quais com reconhecida debilidade mental, para trabalharem em propriedades agrícolas espanholas. Todos eles são portugueses, embora residissem grande parte do tempo em Espanha e foram indiciados de crimes de "escravidão, sequestro, branqueamento de capitais e associação criminosa". Aguardam o julgamento… em liberdade. Fantástico!
3. O homem que compra votos com electrodomésticos, finalmente "apanhado" nas malhas da lei, indiciado de trinta e tal crimes de corrupção e tráfico de influências vai novamente ocupar o lugar de Presidente da Liga de Futebol. Volta, ao que consta pela porta grande, com todo o desplante de quem tem sempre razão. Parece que nada (mesmo nada) entretanto se passou e ainda por cima aproveita para malhar forte e feio no Director Executivo, que parece que não o foi receber à porta…

Não haverá ninguém que possa por cobro a isto?

PARABENS CORREIA DE CAMPOS!

O Ministro da Saúde (MS) decidiu colocar ponto final em 2 situações de favor, bem típicas da sociedade portuguesa e bem elucidativas das escandalosas arbitrariedades dos Governos da Direita de Barroso e Lopes.
Primeiro, acabou com o Protocolo que previa o acolhimento de doentes necessitados de cuidados hospitalares, mas não permanentes, pelos hospitais de cuidados continuados das Misericórdias, cabendo ao MS pagar um valor por cada doente à instituição acolhedora. A notícia diz que as camas contratualizadas teriam sido negociadas, sendo pagas a 50%, mesmo não estando ocupadas, o que personificava uma situação de enriquecimento que o ministro da Saúde considerou "intolerável". O citado Protocolo foi negociado
em Maio do ano passado entre a UMP e o MS, mas, apesar do seu início estar previsto para Julho de 2004, apenas começou no final do mesmo ano.
Segundo, decidiu suspender a construção do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) no Hospital de S. João, no Porto, e considerou que o Ministério que tutela está a ser lesado de forma "indigna" com o processo. O acordo com a Câmara do Porto previa a construção de um bairro social na cidade, financiado pelo MS a 60%. Ao que consta, o Ministério teria sido lesado neste processo em mais de 10 milhões de euros.

Apetece agora perguntar aos ideólogos (e executivos) da Direita se isto tem alguma coisa a ver com o tal conceito de "menos Estado".

Parabéns então António, que estás no bom caminho; também concordo contigo quando dizes que a vocação do Ministério da Saúde não é propriamente financiar a Câmara do Porto…

25 abril 2005



31 ANOS DEPOIS!</b>

Já lá vão 31 anos. Muitos anos passados sobre a libertação, muitos anos de luta por uma sociedade melhor. Que deveríamos ter, mas não temos ainda. Temos um País mais moderno, mais soft, mais na crista da onda, mais telemóveis, mais auto-estradas, mas centros comerciais, mais canais de televisão, mais uma data de coisas que (nem) toda a gente conhece. Mas, apesar de tudo, temos o País mais atrasado da Europa, mais pobre, mais pobres, mais fome, mais endividado, mais mal-educado, mais caro, mais iletrado, mais mortos nas estradas.

Vá lá saber-se porquê! O certo é que os 50 anos de fascismo, cavados numa memoria colectiva comum, falam por vezes ainda mais forte que a liberdade e a cidadania conquistadas a ferros na manhã de 25 de Abril de 74. Há ainda resquícios de fascismo, de fascismos individuais e colectivos agarrados a conceitos, a preconceitos que por vezes falam mais forte que o sentimento a vontade de mudança. Respiramos liberdade, bebemos democracia, ao mesmo tempo que enjeitamos a diferença. Às diferenças, não somos tolerantes quando é preciso e somos transigentes quando não o deveríamos ser. Parece que nos falta o tal golpe de asa, a radicalidade capaz de rejeitar o que não presta e partir para a construção dos edifícios, das arquitecturas novas, que não se compadecem com o velho edifício a cair que já não pode contemplar qualquer recuperação.
De qualquer forma, é bom o ar livre da liberdade, ou como diria Miguel Torga :
"Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
"

Ao respirá-lo, é bom que tenhamos em linha de conta que o olhar em frente, o olhar para o futuro, não se pode fazer sem pensar o que esteve para trás. Há quem saiba bem fundo o que foi a noite fascista, com bem fala o Sérgio Godinho :
"Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quando não se teve nada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada
"

Nestes 31 anos é bom estar atento e recusar os conservadorismos formalistas que levam a que o País demore anos a recuperar: os atrasos da justiça, os atrasos na formação dos governos, os atrasados mentais que ainda temos à frente dalgumas administrações, os pobres de espírito que entravam todos os processos de desenvolvimento dentro das suas coutadas pessoais de que alguém com bom senso terão qualquer dia terá de correr a pontapé.
Ainda é tempo: Ruy Belo diz que:
"O PORTUGAL futuro é um país
Aonde o puro pássaro é possível...
"
Haverá aí alguém que o possa impedir de voar???

08 abril 2005

MAIS PAPISTAS QUE O PAPA…

Com todo o respeito. Com todo o recato devido pela morte. Com toda a consideração da parte de quem não é católico. Mas realmente todo este espectáculo mediático montado à volta da igreja de Roma e da morte do Papa é demais. Não dá para entender porque motivo o circo publicitário montado anula tudo o que é noticia. Cá pelo burgo e também lá fora. Já se esqueceram que estão novamente a ser julgadas mulheres em Setúbal pelo crime de decidirem que não queriam ter um filho. Nem se fala do novo governo. Parece que caiu no esquecimento o pronunciamento de mais de 200 pessoas no caso "apito dourado". O Benfica leva 6 pontos de avanço, está quase (digo eu!) a ser campeão e ninguém liga nada. Ficamos no entanto a saber o que é o conclave, o que é um cardeal camerlengo (mesmo sem ler o Dan Brown…). Estamos atentos à corrida de apostas sobre o novo Papa (é verdade, eu ouvi…) e ainda que o nosso Presidente aposta num Papa português. Estamos na crista da onda, em cima do acontecimento. A TSF, a minha rádio de referência parece a Renascença: ele é entrevista, ele são programas especiais, ele são fóruns seguidos sobre o mesmo tema (eu já contei 3 em outros tantos dias), mais as opiniões de padres e cardeais, sem esquecer a publicidade barata sobre esse fenómeno horrendo e vergonhoso que é Fátima. Estado laico? Nem por isso. Se calhar aquele deputado do CDS é que tinha razão, quanto à religião oficial do estado (lembram-se?). Porque o que conta, por estes dias, não é o que está estabelecido, mas sim o que está na moda, o que é realmente notícia, o que vende na "abençoada" comunicação social.

Ficam de fora os milhões no mundo que morrem com sida; atenção que o uso do preservativo é pecado mortal! O orçamento do Vaticano era capaz de dar para cobrir a divida do 3º Mundo. Mas isso existe na realidade? Não será muito mais prático não falar das coisas que incomodam? Não vende, portanto não se fala. A hierarquia da igreja de Roma agradece. Mais papistas que o próprio Papa os apoiantes e instigadores deste circo dão de barato a imagem de pessoas preocupadas com a "paz", com a "igualdade", com os "desfavorecidos". Deus lhes perdoe!

Entretanto, a vida continua. Apetecia agora dizer que realmente há vida, para além da morte do Papa. Com todo o respeito.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?