20 outubro 2006

A MULHER DECIDE, A SOCIEDADE RESPEITA, O ESTADO GARANTE A IVG 

Um direito fundamental não é referendável. Não se referenda um direito do ser humano em usar o seu corpo e decidir em relação à concepção. Sabem as mulheres que por tal já passaram o sofrimento físico e moral que tal significa; todos os testemunhos apontam para isso. Não basta à mulher tais sofrimentos, ainda tem que passar pelo enxovalho público de ser arguida, julgada e potencialmente condenada por uma decisão que sóa ela deveria caber. Os moralistas de todos os quadrantes, os fundamentalistas de todas as matizes, apregoando a defesa da vida, querem imiscuir-se e ditar a sua lei; não os ouvimos contudo defender a vida que existe num Mundo cruel, desumanizado, em que mulheres e crianças morrem de 3 em 3 segundos. O mesmo para as igrejas, principalmente a católica, que para além de pura e simplesmente não respeitarem a mulher como ser humano de pleno direito, ainda querem impor a sua prédica reaccionária e atrasada não sei quantos séculos de um discurso do pecado e da condenação; nem dá para acreditar que estamos no século XXI!
A mulher decide, a sociedade respeita, o estado garante a IVG é o título da petição entregue na AR, conta já com perto de3000 assinaturas e chama a atenção daquele órgão de soberania para ... a capacidade, a legitimidade e a responsabilidade de mudar a lei. Isto, afirmam ainda os subscritores, porque ao Estado compete garantir às mulheres que necessitem de interromper voluntariamente uma gravidez, o direito de decisão em segurança para a sua saúde e dignidade, de acordo com as várias recomendações das Nações Unidas e do Parlamento Europeu. A petição solicita a despenalização do aborto na Assembleia da República, a pedido da mulher até às 12 semanas de gravidez.
E aqui cabe uma palavra para aqueles que deveriam em principio preservar a sua coerência de uma politica de ataque ao atraso do Pais; esta é apenas mais uma das vertentes em que a sua decisão não deveria vacilar. Contudo preferem escudar-se no formalismo de um referendo, quando a questão poderia (deveria) limitar-se á afirmação politica do voto na própria AR. E também uma outra palavra para todos os que (pelos vistos...) se decidiram agora pelo politicamente correcto que sempre atacaram noutras ocasiões... Enfim, não deixa de ser um coro engraçado, em que só não entra a extrema-direita parlamentar (vá lá...)
Ainda há, nestes tempos de indiferença, quem assuma aquilo que considero uma certa radicalidade, em termos da defesa de princípios e direitos fundamentais da pessoa humana, nesta caso da mulher. Que decididamente não se referendam!

18 outubro 2006

MESTRE GIL... 

Em dias de tempestade, agravada pelo vento agreste do Norte (ou será que é do Sul???) a ministra vem de novo á liça dizer que a greve não faz sentido por estar ainda a decorrer o processo negocial .... O JN de hoje informa que a Paralisação de professores fecha a maioria das escolas do país. Como diz o povo em tempo de guerra não se limpam armas, não háforma de entendimento possível nem resposta garantida a quem arriscou demasiado numa luta que já cansa à vista (pelo menos) dos mais avisados...

A verdadeira luta, essa deveria ser por uma qualidade de ensino que prestigiasse o Pais, pela dignificação da formação dos portugueses; estamos ainda na cauda da Europa, não se esqueçam, que diabo. Que adianta termos mais catedrais de consumo, mais betão por todo o lado se não temos vencida a batalha (não será a antes a guerra???) da educação e da formação? E aqui convém não confundir as responsabilidades: é ao governo da Republica que compete cuidar da inversão das estatísticas...

Quando me convidam a pronunciar se estou a favor da ministra ou dos Sindicatos, eu sinceramente não entendo e não aceito tal dicotomia. Alguém se lembraria por exemplo de perguntar se sou a favor ou contra os maquinistas da CP, ou dos controladores de voo da TAP, ou dos trabalhadores da limpeza da câmara de não sei quantos??? É na realidade uma falsa questão, em que no entanto alguns insistem em martelar a opinião pública; temos sim, na qualidade de cidadãos deste Pais de exigir que o Governo actue onde deve actuar com propostas concretas e medidas eficientes. Alguém de boa fépode entender que se queira, por exemplo, colocar os pais a avaliar os professores??? É pois sobre alarvidades como esta que eu me posso pronunciar e não sobre questões técnicas de natureza laboral, essas sim da alçada dos sindicatos e dos profissionais do ensino. Nada de confusões, que ...
O esperto só acredita em metade, o génio sabe em que metade deve acreditar.
O povo costuma ainda dizer O pior cego é aquele que se recusa a ter cão, forma politicamente (in)correcta de dizer que ... é o não quer ver. Queiramos então ver as cosas com olhos de ver. Já algures insisti na tese de que nada se faz contra os professores; à vontade o digo, porque professor não sou; entendo que, apesar de algumas aberrações típicas, a sociedadedeveria cuidar melhor dos mestres que educam os seus filhos.

Quem semeia ventos colhe tempestades, não duvide senhora ministra! E para que saiba, não ajuda nada a asserção popular Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube, tentativa vã de escolha fácil de caminhos duvidosos. Mas afinal, saberá (qual Inês Pereira...) que da malícia feita ao desconhecimento vai realmente um caminho estreito?

A sabedoria de mestre Gil lhe ditará às tantas o resultado final...

17 outubro 2006

Mohamed Yunus





Um dia, quando realizava trabalhos de campo com os seus alunos, num povoado indiano pobre, um desconhecido, de seu nome Mohamed Yunus, professor de Economia na Universidade de Cittagong, encontrou uma mulher que se dedicava à fabricação de tabuletas de bambu. Yunus perguntou quanto ela ganhava por cada uma delas, o que dava uma cifra irrisória. Um negociante emprestava-lhe dinheiro para comprar o bambu, com a condição de que ela lhe venderia de imediato as tabuletas por um preço por ele estabelecido. Yunus pensou que se aquela mulher tivesse dinheiro, não precisaria de viver naquela situação. Decide então levar os seus alunos para um trabalho de investigação num povoado e tentar descobrir quantas pessoas precisariam de dinheiro para iniciar alguns pequenos negócios. No total havia 42 pessoas que necessitavam qualquer coisa como 30 euros. Contudo, os bancos tradicionais negavam sistematicamente créditoa essas pessoas.
Então Yunus ofereceu-se em alguns casos como fiador, pensando sempre em criar um Banco que ajudasse os mais pobres. Assim, em 1976, apesar da resistência dos grandes bancos de Bangladesh, Yunus conseguia fundar o Banco Grameen (banco rural), que em1983 obteve a categoria de banco autónomo. Desta forma, a pessoa que solicitasse um crédito não teria que responder por um grande capital ou com garantia de propriedades; o sistema implicaria tão-somente que houvesse um conjunto de 5 pessoas que consigo garantisse o reembolso.
Com a sua iniciativa Yunus, conseguiu que no ano de 2005, 100 milhões de famílias por todo o Mundo, acedessem aos microcréditos. Na prática o microcrédito é administrado pelo Grameen Bank, que écomposto por 90% de capital privado (dos próprios clientes) e 10% de capital estatal do governo de Bangladesh. A gestão do património tem uma metodologia própria, baseada na decisão comunitária para aprovações de crédito pessoal.
O projecto de Yunus baseia-se no facto de crer no valor que o ser humano dá ao seu próprio nome e à dignidade e, principalmente, o de realizar um sentido para a sua própria vida.
É este homem simples, que, como dizia Wemans (Publico de 15 de Outubro) ...quase pede desculpa por existir que ganha agora o Prémio Nobel da Paz de 2006. A Academia Sueca justifica a distinção com ...esforços para criar desenvolvimento económico e social, através do microcrédito. Decisão não isenta de uma certa surpresa, dado que Yunus não se encontrava de facto na lista de favoritos.
O banqueiro dos pobres, como ficará para sempre lembrado, um homem que é um exemplo na luta contra a pobreza; hoje, Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, émais que justo prestar homenagem a este homem, um exemplo para a humanidade, particularmente para os economistas do ocidente, quase sempre zelosos na defesa dos esquemas tradicionaisque favorecem sempre os mesmos: os ricos e os detentores do capital. Lembrar a obra de Yunus numa altura em que várias organizações não-governamentais apelaram a um LEVANTAMENTO CONTRA A POBREZA, em mais uma tentativa de chamar a atenção de todo o Mundo para este problema: um mundo em que há 1,5 em 6 biliões de pessoas com menos de 1 dólar por dia, ou seja num estado de pobreza (pelo menos) latente...
Ao mesmo tempo vemos da parte da banca tradicional (leia-se institucional...) uma postura do mais completo desprezo pela situação da pobreza a nível mundial, preocupando-se sobretudo em obter dos governos as garantias e isenções mais escandalosas; veja-se por exemplo (é sempre bom lembrar esse facto...) o caso português, onde a banca paga somente 13% de imposto sobre os lucros, quase 1/3 do equivalente a qualquer cidadão ou empresa...

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03 outubro 2006

O PROLONGAMENTO...(a) 

O que apetece dizer sobre a 1ªvolta das eleições da terra que tem muito samba, muito choro e rocknrollparafraseando o poeta que está para chegar, é que é preciso
...muita careta p´ra engolir a transacção
e a gente tá engolindo cada sapo no caminho

É, está de facto preta a coisa e já estivera afinal antes do ato em si.

Apetece chamar Lula, meu caro amigo eu não pretendo provocar nem atiçar suas saudades..., mas não posso me furtar de te lembrar das novidades do mensalão por exemplo, ou ainda do teu excesso de pragmatismo no tratamento das questões económicas. Lembrar talvez hoje o movimento dos sem terra (MST), onde o PT se destacou na luta contra os generais, contra as elites do dinheiro. É verdade, em Maio de 2005, dizias ao MST ...se não cumprirmos as metas da Reforma Agrária, teremos um problema de consciência com nós mesmos; vocês, mais do que ninguém têm o direito de cobrar o governo".

Podes dizer, bom mas eu não sou um caso isolado, não sou o único a olhar o céu... tenho um imenso País a governar, custa sempre saber mais um ou outro escândalo, o que conta é o dia de hoje e um voto na mão conta mais que 2 ou 3 votos para uma qualquer Heloísa...

Sei que li algures assim:
...Prefiro escorregar nos becos lamacentos,redemoinhar aos ventos,como farrapos, arrastar os pés sangrentos,air por aí...

Mas contudo, há qualquer coisa mais forte por aí... Os ventos que outrora sopravam do Palácio do Planalto parecem agora quietos; surdos até ao chamamento de uma vaga que do fundo não vem. A cidade do homem (não do lobo mas irmão) capital da alegria parece cada vez mais longe. Na noite em que era suposto cantar vitoria, ficou antes um longo silencio, noticiado por rádios e TVs.

Lula em silêncio, à espera do prolongamento...

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(a) Colaboração, ajudas e citações:
Chico Buarque de Holanda
Tim
José Régio
Zeca Afonso
Lula da Silva

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