27 abril 2007


A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA INCLUSÃO


No mínimo perturbante, a declaração do PR na sessão comemorativa do 25 de Abril deixa antever (mais uma vez?) a dificuldade em lidar com a data em si e o que ela representa ou é simplesmente um desabafo de quem não teria nunca posto a hipótese de descer a Avenida que tem nome de Liberdade onde o formalismo engravatado não tem lugar? Não há provavelmente resposta única (nunca há…) para a semântica enfadonha que teima em orientar a intervenção politicamente correcta. O acto redutor do discurso presidencial, sob o pretexto da pretensa ausência de significado para as gerações mais jovens, esvazia-se de conteúdo, simplesmente porque não é capaz de propor uma alternativa, uma palavra de ordem contra o estatismo e a indiferença, um formato novo para despertar as consciências que o próprio PR quer alertar para putativas “inclusões”, por exemplo… Porque será que o obreiro das novas rotas, para além da Liberdade, essas que pretendem uma “inclusão” provavelmente despida das aspas que lhe toldam o sentido, quer coisas que façam mais sentido do que aquelas onde só vê saudosismo serôdio? Não o disse assim às claras, mas António Vitorino assim o interpretou logo a seguir, quando afirmou que o problema do 25 de Abril não é esse, mas sim o dos atentados à Democracia. E ainda sobre a preocupação presidencial com a tal rota das aspas, importa afirmar sem qualquer rebuço que o impacto duradouro das políticas não pode basear-se apenas na sua popularidade imediata, mas tem de contribuir para a construção de modelos eficientes e sustentáveis. Está em todos os manuais, incluindo a cartilha que o próprio ensinava, segundo creio.

A insustentável leveza da inclusão não questiona por exemplo o facto de, ao longo dos anos, o nosso País não ter feito qualquer progresso em matéria de distribuição do rendimento, permanecendo o mais desigual dos 15 da UE. Mas questiona “o que resta da comemorações do 25 de Abril”. Duvidosa opção esta que não fará decerto o apetite voraz de quem alimenta diariamente uma comunicação social bem comportada e timidamente discreta. Mas vamos ver, há sempre alguém que resiste, não é verdade?

25 abril 2007


25 ABRIL 2007


Para que fique na memória e para que conste são já 33 anos sobre a data que em 74 fez liberdade em Portugal tanto mar que já passou tanta esperança perdida outra tanta ganha para outras causas nada a temer que se for preciso lá estaremos de novo ou alguém por nós claro sabemos percorrer de novo a Avenida da Liberdade que outros desceram o que eles passaram para cá chegar Agora que demos à volta ao fado e inventamos outras músicas com os ritmos de Africas e Brasis que perfumam a nossa identidade lembram as Cesárias os Caetanos e os Vitorinos e ele que já não está de corpo entre nós sabia-o desde sempre o Zeca do nosso orgulho que cantou Abril como ninguém e continua que uma voz assim não se calará nunca e a malta nas ruas pintando paredes colorindo um outro País nem sempre atento às diferenças e desigualdades mas sempre solidário com os Timores do outro lado novos actores novas sensibilidades como agora se diz a redundância redonda das parábolas repetidas que se há-de fazer sei lá o cravo na tua mão está vermelho pois na minha também que força é essa amigo lembro a festa que foi bonita pá e com as pedras que surgirem no caminho muitas são e com elas hei-de construir um castelo diz o Pessoa sabias? Já lá vai tanto tempo são as palavras de ordem que ficam tantas que deviam agora ser misturadas e atiradas ao ar a ver se pega alguma num tempo em que estão gastas dizem e o que importa são os símbolos alguém diz Tenho pressa de sair quero sentir ao chegar vontade de partir p'ra outro lugar e eu que estou além quero dar um tremendo pontapé na indiferença na desconfiança nos medos e na mesquinhez e marcar um golo pela capacidade de transformar de construir e de lutar POR UM 25 ABRIL SEMPRE!!!
------------------------------------------------------
Palavras e/ou frases “roubadas” e algumas nem por isso:

António Variações
Chico Buarque de Holanda
Fernando Pessoa
José Mário Branco
Zeca Afonso

16 abril 2007


EULER E A BELEZA DA MATEMÁTICA…

Pergunta: pode uma fórmula matemática ter beleza, ou seja, ser bela? Resposta: pois claro. Assim pensou em 1988 a revista científica Mathematical Intelligencer, que organizou um “concurso de beleza” para eleição da mais bela fórmula matemática de sempre. Talvez a prova de que também na ciência pura pode haver beleza, diria até um certo fascínio, pela contemplação, leia-se admiração por um articulado de símbolos. Pois, de facto a equação que relaciona cinco quantidades matemáticas: “e”, “pi”, “i”, ”0” e ”1”, conhecida como “identidade de Euler” ganhou aos pontos o título. Passam agora 300 anos sobre o dia em que nasceu este grande cientista, que Carl Boyer considerou o "construtor de notação mais bem sucedido de todos os tempos". Matemática Pura e Aplicada, Física, Astronomia, Física e Teologia foram algumas das áreas em que Leonard Euler se distinguiu. Suíço de nascimento, haveria de ficar conhecido na Alemanha e sobretudo na corte russa, pela sua habilidade em trabalhar rodeado de crianças, no meio da maior das confusões.
Mas há mais. Este matemático recuperou e transformou em ciência matemática um dos passatempos favoritos dos habitantes de Koenigsberg, actual Kaliningrado, no Mar Báltico. Na cidade havia sete pontes que atravessavam o rio da cidade; no meio havia duas ilhas; de uma das ilhas partiam três pontes: uma para a outra ilha e uma para cada uma das margens; da outra ilha partiam cinco pontes: duas para cada uma das margens e uma outra, já referida, para a outra ilha; um total de sete pontes, portanto. Euler desenhou um esquema simplificado, com quatro vértices ou nodos - um para cada margem e um para cada ilha - e com ligações em arco, chamadas arestas. Estes esquemas são hoje conhecidos como “grafos”. O matemático demonstrou que um caminho como o que os habitantes da cidade pretendiam apenas era possível se todos os vértices, com excepção máxima de dois, tivessem um número par de arestas.

No ritmo acelerado dos dias de hoje difícil será encontrar interesse por uma fórmula matemática, dando de barato a sua espantosa capacidade de unificação, mesmo sabendo que ela possa ter contribuído para o avanço de outros estudos. Uma fórmula é uma fórmula e o interesse por estas coisas só pode vir de mentes desligadas da realidade, hoje mais interessada noutras fórmulas, como por exemplo, do enriquecimento a todo o preço. Pensemos no homem que gostava dos números, que decifrava o mistério das pontes e que trabalhava no meio das crianças. Pode bem ser um símbolo com beleza, muito para além da sua espantosa descoberta. Vale a pena “gostar” da harmonia e da arquitectura do edifício matemático, mostrar aos jovens (e não só…) que dizem “não gostar da Matemática” que afinal pode haver beleza numa fórmula matemática da mesma forma que pode haver filosofia numa pedra. É verdade!


Colaboração de Nuno Crato, no artigo “As pontes de Euler” public, muito para alé ado em: http://semanal.expresso.clix.pt/unica/vidas.asp?edition=1798&articleid=ES252146

12 abril 2007

SOBRE O DOSSIER JOSÉ SOCRATES…

Depois de ouvir ontem na RTP o PM José Sócrates (JS) fiquei esclarecido. Devo dizer que nunca me preocupei em demasia com o facto de JS ser ou não ser engenheiro, ser ou não ser licenciado, ou bacharel, nem sequer se uma das suas certidões de nota tenha data de um Domingo. E até estou completamente à-vontade para o dizer. Primeiro, porque não votei nele, nem no Partido que ele representa. Segundo, porque sendo licenciado em engenharia, engenheiro com a cédula profissional nº 45360, nunca me senti incomodado que ele usasse o título. Considero aliás perfeitamente sustentável a sua argumentação, quando diz que um titulo tem mais uma carga social do que propriamente técnica, neste país onde vivemos e onde (segundo parece…) não há coisas muito mais importantes a tratar. Considero ainda que o seu percurso académico no ensino superior de mais de 7 anos é uma prova evidente de quem pretende uma qualificação para uma valorização profissional. E acho ridículo que se venha culpabilizar uma pessoa só porque algo funcionou como não devia a nível burocrático; concordo pois com JS quando diz “… pretender culpar um aluno de qualquer disfuncionamento administrativo é simplesmente abusivo”; nem mais!

Durante semanas a fio venderam-se decerto muito mais jornais à conta do que considero um facto menor. Um facto político (?) de gosto duvidoso, quando se devia era fabricar informação qualificada que contribua para o esclarecimento de quem lê. E assim se vai passando o tempo. Por mim estou satisfeito, ponto final no assunto. Deve haver transparência e todos têm direito ao bom-nome. Pode concordar-se ou discordar-se das posições politicas do PM. Estou também aqui na primeira linha de “combate”, já o fiz e voltarei a fazer. Registo contudo com agrado, por exemplo, a sua posição na questão da IVG, quando afirma que é uma vitória da esquerda o que se conseguiu e que, ao contrário da opinião do PR, o aconselhamento da mulher ´”é um direito da mulher” e não uma obrigação; gostei!

Finalmente e, como vem sendo habitual, o líder do PSD vem propor uma coisa absolutamente impensável, no seu entender uma auditoria ao processo das habilitações de JS. Também aqui manifesto o meu acordo com a resposta do PS, quando considera a proposta de “mesquinhez e mediocridade”. De facto o homem não acerta uma, é de uma infelicidade pasmosa…

Por mim gostaria que terminasse o espectáculo mediático das últimas semanas e se abordassem questões verdadeiramente importantes, para que fosse assumida no País uma discussão politica sobre os assuntos que a todos dizem respeito. Querem exemplos? A convergência com a EU, que nunca mais se faz, os privilégios da Banca que são um escândalo, o verdadeiro significado da politica monetária do BCE. Era bem mais interessante, mesmo que venda menos jornais…
Alf.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?