27 junho 2014
PIRRO ou PORRA?
Só a ideia de ter como “representantes” uma boa dúzia de
meninos ricos e mimados, cujo “valor” flutua na relva do mercado (ou no mercado
da relva), assusta qualquer um. A pompa aqui ajusta-se a circunstância. O conjunto
das chamadas figuras públicas e comentadores pagos que vieram a terreiro atestar
a mais-valia desta selecção, mais valia que estivessem calados, foi tempo
perdido, ilusões vendidas a preço de saldo e que talvez tenham deslumbrado as
estrelas que penosamente se arrastaram pelos Brasis.
E aquele a chamam o “melhor do planeta” e que raramente
consegue articular 2 frases sem sentido, como irá lidar com este rotundo
fracasso? Afinal, mais uma vez, acaba por ficar aquém das expectativas. Mas falemos de atitude. Com todas as cambiantes possíveis e imaginárias, houve de tudo, desde a arrogância (vai ser o ano de Portugal, somos melhores,…) até a resignação pura e dura (sabíamos que havia outros melhores que nós…), patente aliás no ultimo jogo. Mas há mais atitudes, como a do inefável Bento, “…não me demito, aconteça o que acontecer”. Tal com o outro, que também não, nem mais ou menos, apesar do/s fracasso/s evidente/s. Também, tal como o outro, tem um desígnio, pelo menos nacional, quiçá europeu, ou mesmo mundial, quem sabe? É também isso que irrita, de tão diletante.
A pífia campanha publicitária à volta da coisa quer sobretudo alimentar o incontido brio lusitano, ferido em tempos de servidão. Para fora, com algumas adendas, para dentro com prebendas e comendas, como iremos ver…
PIRRO na vitória, ou PORRA para isto tudo?
16 junho 2014
“FAZER UM GOL NESSA PARTIDA NÃO É FÁCIL, MEU IRMÃO…"(1)
Por ser
dia de jogo, lembro o Afonsinho, aliás Afonso Celso Garcia Reis, o primeiro
jogador de futebol no Brasil a conseguir o passe livre (…não preso a nenhuma
equipa), na década de 70 do século passado, numa época que o Brasil vivia uma
repressão feroz, sob a Ditadura Militar.
Afonsinho tornou-se conhecido pela luta contra duas ditaduras,
a dos militares e a que escravizava os jogadores de futebol naquela época, o
passe. E tudo isso aconteceu por conta de um episódio no Botafogo, quando ele
ainda muito jovem, já havia liderado os seus companheiros de equipa contra os
dirigentes do clube, por pagamentos de prémios atrasados. Mais, os dirigentes
do clube e o técnico Zagallo blindaram a sua ida a selecção, por usar barba e
cabelo comprido, um visual subversivo, segundo eles.
Afonsinho representava, por assim dizer, uma alma. Uma chama
diferente, porque contra a corrente. A sua luta abriu caminho para que outros
jogadores também lutassem pelos seus direitos.
E digo com ele (Gilberto), "Prezado amigo Afonsinho/eu
continuo aqui mesmo/aperfeiçoando o imperfeito/dando um tempo, dando um jeito
desprezando a perfeição/que a perfeição é uma meta/ defendida pelo goleiro/ que
joga na selecção/e eu não sou Pelé nem nada…”.
Talvez aquele que hoje é “entronizado”, como melhor do
mundo, o salvador da pátria (do futebol, pelo menos), não conheça Afonsinho,
nem muito menos o que ele representou. Talvez porque a cultura seja a inversa. Ele,
como a maioria dos seleccionados, ricos e mimados, investidos de um poder
fátuo, por força da propaganda e dos milhões, a que devem obediência.
Apenas um jogo de futebol. Contra os dominadores da Europa e
quiçá, arredores? De todo, apenas uma equipa de futebol, adversária e não
inimiga, segundo as “boas regras” do desporto.
Se for então difícil “fazer um gol nessa partida…” é porque –
apenas – não foram capazes de “…aperfeiçoar o imperfeito”, que é o zero-a-zero,
o empate constante do meio-termo, do tal meio-campo em que se joga a/o tempo
inteiro. O jogo, tal como a vida, é sempre p´ra frente, ao ataque, seja qual
for o adversário, marcar golo é vencer, as lutas são para ganhar.
Afonsinho, meu irmão!
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(1) “Meio de Campo”, Gilberto Gil
10 junho 2014
DESFALECER…

Uma palavra esquisita. Deveria querer significar o contrário. Como desnaturado que, segundo o dicionário da língua portuguesa, significa “que se desnaturou, que não tem os sentimentos naturais”. Ou desfazer, que é naturalmente o contrário de fazer. O prefixo “des” refere separação ou acção contrária.
Este, ao que consta, desfaleceu hoje. Numa cerimónia pública em que mais uma vez, o governo foi mandado para a rua. O homem que, paulatinamente desfez o País, desde que esteve ao leme, durante 2 mandatos: indústrias, agricultura, pescas,... Gabando-se de ser o único a ter razão, nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, “deixem-nos trabalhar…”. Trabalhou de facto para a destruição, para transformar o País num deserto de serviços, muitos inúteis, como agora se prova. Ajudado e amparado por uma maioria fictícia, que talvez hoje nele nem se reveja, é um homem acossado. Governou e governou-se, tentando ostentar uma máscara de seriedade, institucional ou não, acima de barões e baronetes. A quem recorreu, quando necessário e que o premiaram no caso que todos conhecem.
Uma tristeza. Um País que desfalece aos poucos, por causa dele e dos que
hoje o suportam. Que continuaram a obra do chefe, e que agora suportamos.
Desfalecemos um pouco, todos os dias, martelados e subjugados, pela
notícia sempre igual, pelo comentário comprado e bem pago, pela medida sempre
mais austera, que é necessário, para bem da nação. Este e os outros todos que
pululam alegremente sobre a nossa tristeza, com a linguagem maldita da ficção
de um mundo só para alguns.
Desfaleceu? Se disséssemos que era bem feito, estaríamos porventura a
incorrer em pecado mortal. Como, apesar de não perfilharmos as teses da
maldição, somos pessoas de bem, desejamos que não desfaleça mais. Que faleça de
vez no cargo que ocupa, politicamente falando, claro…