27 março 2020


21 março 2020

PALAVRAS PERDIDAS (ou perdido por palavras?)


Protesto!
Formal e completamente
Com tanta coisa para escolher
havias de ir para aquilo
Aliás,
ando eu a escrever pela casa
e tu vais e limpas as palavras.
Não faz sentido
virei tudo do avesso
e só encontrei um “Não”
(sei que não preciso)
Que faço com ele
acho que está gasto,
usado
(lembro-me agora)
Despejado não sei quantas vezes,
talvez encontre debaixo da cama
a palavra que falta
piso agora algumas letras soltas
(amarfanhadas),
não sei como agrupá-las
alguém me ajude!
O gato levou-me o “k”
brinca com ele
dava-me jeito.
Uma chatice,
acordo agora
(um sonho desastroso)

Cantava “The Letter”[1]
acompanho-me à viola
ainda bem que acordei
havia uma canção.
De contrário, assassinava a canção
(havia palmas?)
Encontro agora na casa de banho
a palavra “descartado”
(molhada)
As voltas que eu dei e aparece-me isto,
que faço com ela?
(digam-me por favor)

Resolvo descartá-la
(é mais sensato)
De que vale o meu protesto?
(alguém me ouve?)
Vou formalizar devidamente a queixa
porque apareceu-me agora um “x”
(acho que fica bem assim)
Saio
Vou ao parque apanhar folhas
(não posso ficar o dia todo em casa...)
Pode ser que algumas palavras
tenham voltado
(que ingenuidade!)
O gato devolveu-me o “k”
(aos pedacinhos)
vá lá, nem tudo está perdido

Descubro agora um “sim”
no forno do fogão de lenha
Um “sim” chamuscado,
mesmo assim, um “sim”
Cheira-me a esturro...
não entendo porque ris,
não se brinca com o fogo
(sempre ouvi dizer).
Na casa de banho há sinais
de que por lá passou
algo que que já suspeitava
(mas não tinha coragem de admitir)

Mas que ousadia despejar pela sanita 
a “Cidade”...
que, porém, sobrevive,
apesar do cheiro óbvio
(as cidades cheiram todas assim?)
Uma catastrófica imagem
(estamos todos na merda?)
Vá lá saber-se porquê
À porta do quarto
sobrevive a “gente”


(termo estranho a muita gente...)
entra, não entra,
o vento atira a palavra fora,
escadas abaixo
(mais abaixo)
acaba no caixote do lixo
(gente atirada ao lixo!)
orgânico?

Salta-me para as costas
(solta-se do tecto)
a palavra “dignidade”
(parece)
mal escrita, faltam-lhe letras
(mas sei que é ela)
arroja-se aos pés,
quase que a pisava
(estranha sensação de culpa).
Afinal caem outras letras de cima
não sou capaz de as juntar
(mania das limpezas...)
Um caos completo, a outra sala
um atropelo de consoantes,
era bom que houvesse alguma calma
para encontrar sentido
onde ele desapareceu
(mistério?)

Continua a busca de letras perdidas
(ou de palavras, melhor)
É noite, esta casa tem pouca luz
Desisto!
(podia ir ver televisão)
Subo as escadas para o quarto,
a porta, meia-aberta
(um quarto vazio)
(já começo a ver mal)

A palavra perdida
“Eu”,
Já desconfiava...


[1]Lennon & McCartney

16 março 2020

A PROPÓSITO,


Do artigo “Polaridades Ideológicas Da Pandemia”, da autoria de Alexandre Weffort, publicado no LADO OCULTO, que deixo anexo, nas páginas seguintes.
Considero que é de leitura essencial para quem quiser entender (mais um pouco) dos contornos políticos da pandemia.
Todos os lamentos, todos os medos, não são, de forma alguma, despiciendos.
O ataque dos humanos contra o vírus maldito, tem que levar em linha de conta os contornos ideológicos e, se quiserem, sociológicos da questão.
A "instalação" das respostas, médica, sanitária e humanitária é fundamentalmente política, porque é ao Estado e às administrações e governos, que assiste a obrigação de prover a saúde e o bem-estar das pessoas, bem como das suas melhores condições de VIDA.      
Os Estados, administrações e governos devem socorrer-se das posições abalizadas das comunidades científicas, médicas e sanitárias: universidades e institutos públicos, devem prestar a melhor assistência, no plano da prevenção, da contenção e da cura.         
Qualquer hesitação das autoridades, qualquer erro assinalável, pode deitar a perder a luta. 

E aqui e agora (também) se fala de Portugal.  Mesmo sabendo que não é fácil, deve haver uma estratégia consistente do Governo, uma exigência suprema para aqueles que não se têm revelado à altura (como em outros casos, infelizmente).
Medidas avulsas e á deriva, como é habitual, só podem conduzir a maus resultados. 
Afinal, o "nosso" Governo responde aos cidadãos, ou ao directório europeu?
As verbas necessárias para o reforço do SNS são mais ou menos importantes do que "reforçar" o sistema bancário?     
Isto pode parecer injusto, mas é em momentos como este, que se destacam as lideranças positivas e assertivas. E isto, como é evidente, nada tem a ver com o chamado "estado de excepção".
A diferença entre duas atitudes diversas, será analisada quando tudo, como se espera, passar com o mínimo de perdas.           

E atenção, é mesmo de VIDAS que estamos a falar...

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POLARIDADES IDEOLÓGICAS DA PANDEMIA
15 Março 2020
Alexandre Weffort, O Lado Oculto

"Pandemia" é um termo que indica, desde logo, uma sua dimensão global, que diz respeito a todos. O vírus, colocada a questão de forma simples, é uma estrutura que não possui capacidade metabólica autónoma. Sendo inerte fora do ambiente intracelular, recorre às capacidades metabólicas do hospedeiro para a finalidade da sua reprodução. Assim, o vírus desenvolve-se e propaga-se em função da capacidade de interacção dos animais infectados (entre eles, o ser humano), daí que a quarentena se apresenta como o mais antigo e mais seguro meio de combate a um surto viral.

O surto de um vírus é, atingida a dimensão da "pandemia", um evento global, traço que o insere no âmbito dos fenómenos (culturais, económicos e sociais) que o termo “globalização” encerra, algo que decorre da superação das barreiras naturais de circulação dos seres humanos - as barreiras de circulação impostas às pessoas, considerados os limites geográficos naturais (aqueles que resultam da orografia) como aqueles que resultam das divisões políticas - as fronteiras entre os Estados.
A economia global deu especial suporte ao crescimento do turismo, indústria que irá transformar a paisagem local, com inúmeros hotéis e casas de hospedagem, recorrendo a meios de transporte de grande capacidade, como os navios de cruzeiro que literalmente despejam milhares de pessoas nas cidades portuárias como Lisboa (e a cultura local se adapta, homogeneizando o produto, para o consumo dos autênticos “enxames” de turistas oriundos de paragens economicamente mais fortes, sendo o mercado asiático um dos que registava forte presença na velha Olissipo. Para fazer circular os milhares de turistas, implantaram-se os “tuk-tuk” (numa versão modernizada do tradicional meio de transporte tailandês).
Se o desenvolvimento desenfreado do turismo é do agrado dos comerciantes locais (e também dos governantes, que o promovem, chamando os habitantes locais à lógica do serviço, pelo alojamento local), esse desenvolvimento, atingindo rapidamente o ponto de saturação que as condições locais permitem, provoca um desequilíbrio que irá prejudicar o modo de vida tradicional (uma perturbação que se instala ao nível do ecossistema).

Análise de comportamentos
O COVID-19, nome dado ao coronavírus que se dissemina hoje globalmente é um exemplo do que acima foi dito, mas apresenta outros traços que interessa analisar numa leitura ou corte ideológico. Como sugere o título deste texto, o vírus (ou, antes, a história do seu surgimento e propagação) é passível de uma leitura ideológica, que podemos realizar através da análise dos comportamentos que determinam, condicionam e acompanham a sua existência, bem como das suas consequências. 
Em Portugal, um traço de comportamento social surgiu em torno das decisões governamentais de encerramento das escolas com o objectivo de se limitar o contacto comunitário e a contaminação a esse nível. Libertos das aulas, número significativo de estudantes universitários foram...para a praia! Logo surgiram críticas à falta de responsabilidade evidenciada. Por outro lado, o ministro da Educação do Governo português, ao apresentar as decisões governamentais, fez questão de sublinhar que “os professores não estão de férias e que terão de se apresentar diariamente nas escolas”, numa afirmação mais de âmbito patronal que de Estado, obrigação sublinhada mesmo que isso implique sujeitar os professores à contaminação em meios de transporte normalmente lotados.
A decisão de fechar as escolas foi colocada pelo Governo português ao Conselho Nacional responsável pela saúde pública. O órgão consultivo deliberou unanimemente no sentido do não fechamento, enquanto o governo, apoiado em uma directriz da União Europeia, acabaria por decidir em sentido contrário. Fica a sensação de sermos todos “peões de jogo”.

A componente norte-americana
As dimensões ideológicas do problema em apreço são colocadas também em relação ao seu início. Um artigo publicado a 2 de Março, no site AbrilAbril, António Abreu apontava para a possibilidade de envolvimento de laboratórios norte-americanos no surgimento deste novo coronavírus. No artigo referido são alinhadas as coincidências temporais da publicação de um estudo elaborado pelo Instituto John Hopkins contemplando “uma simulação, com precisão, do coronavírus inicial” (em Outubro 2019). Refere-se ainda no artigo, a correlação temporal entre o surgimento do Covid-19 na China e a realização dos Jogos Militares Mundiais de 2019, “realizados em Wuhan em Outubro passado”, onde participaram também militares norte-americanos.
A questão, que nos remete para os meandros mais sórdidos da guerra biológica, aparece agora referida de forma expressa por um responsável do governo chinês que questiona: “O CDC [norte-americano] foi posto contra a parede. Quando o paciente zero começou nos EUA? Quantas pessoas estão infectadas? Quais são os nomes dos hospitais? Pode ter sido o Exército americano que levou a epidemia a Wuhan. Sejam transparentes! Tornem públicos seus dados! Os EUA devem uma explicação!”.
A questão, segundo a notícia, levantada pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Zhao Lijian, em post publicado no dia 12 Março na plataforma Instagram, afirma que o “Exército dos EUA pode ter levado a nova doença do novo coronavírus (COVID-19) para a China”, algo que, a ser comprovado, obrigará a uma revisão profunda dos posicionamentos a nível global acerca desta "pandemia", da possibilidade de esta estar originariamente vinculada a uma dimensão ideológica no relacionamento entre nações e constituir mais um elemento da guerra (também) comercial a que temos assistido, sempre que os interesses norte-americanos à esfera global são postos sob pressão (no caso, pelo crescimento económico da China).
A dimensão militar assinalada, vista segundo este prisma das «polaridades ideológicas», ajuda a compreender também o modo e tempos de reacção chineses. E convidam a reflectir sobre a natureza ideológica dos comportamentos - da China face ao problema surgido no seu solo e da sua capacidade de reacção, da sua postura solidária face ao descontrolo que o mesmo apresenta na Europa, nomeadamente, em Itália - e da postura belicosa e irresponsável mantida por Trump e Bolsonaro, primeiro minimizando o significado da epidemia e depois, quando lhes bate dentro dos próprios gabinetes, assumindo discurso inverso.

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In:https://www.oladooculto.com/noticias.php?id=690&fbclid=IwAR3lAKEXqDonrJkeqj_KhjufeB2bpOZugfi-Wc53BoWmCrpkOs6eURifD6M              

01 março 2020

Olá a todos!
A pedido do meu Amigo Lúcio Lima, sou a publicar este texto, de sua autoria.
Já me fez pedidos como este, por diversas vezes. A minha resposta, óbvia (digo eu) foi sempre, “Publica tu!”.
O Lúcio Lima é assim um tipo efusivo e, ao mesmo tempo, curiosamente introverso. Tem dias e julga que o chã preto é a cura suprema para a mediocridade. 
Desta vez, a primeira, não sei muito bem porquê, acedi ao pedido e ... lá vai a “coisa”.
Não sei se me vou arrepender...

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EM SENTIDO!


Atrai-me o sentido que não faz sentido 
Encontro um sentido sem sentido
Em tudo o que é real e efémero
(ou parece ser) 

Daqui para a frente há um sentido 
Consentido 
Mas atenção, ficamos em sentido!
A partir do momento em que aceitamos 
O sentido que nos impõem
Veem, não é sequer preciso chamá-los:

Domínio
Impulso 
Reverência

(Isto faz algum sentido?)

Mas, o que não faz sentido, 
É alguém num impulso contido 
Aceita ficar em sentido

Isso é torpe!
Isso é contra-natura
Isso é mau de mais para fazer sentido

Alguém que ponha cobro a este dislate
Já!

Mas, à nossa volta, porém, 
Descobrimos sempre outro sentido 
Sabias?
Devias saber 
Sim, sabias, mas não querias saber 
Anestesia?

Há um rio que desta vez não vai ter ao mar
Acordou e, no seio da sua torrente
Olhou a margem descontente 
A vida toda à sua volta, o barco tardio
E decide ali mesmo 
Que não.
Há outro caminho 
A minha corrente afinal tem alguma força 
(tem muita força)
Os meus rápidos são tão rápidos
Deitam muros abaixo.  

Então, porque hei-de consentir-me
No sentido que não é meu 
O sentido que não é mar

Que faz sentido para a geografia 
Mas não está na minha geometria 
(normalmente variável)
Ouvi dizer
E gostei.
Variável, um termo contra a monotonia 
Contra o vento a favor
Contra!

Recapitulemos
Dizes então que a vulva se fecha sem sentido?
Pobre de ti 
Que tremenda confusão 
Vai lá ver e descobre o quanto desconhecias

É sempre assim 
O sentido que deixa de fazer sentido 
A marca que deixa de marcar
A balança que deixa de balançar 
(porque haveria de o fazer?)

O Mestre que foi engolido e se fechou em copas
A mulher a seu lado atiçando a chama de ódios 
Antigos
A tartaruga que perdeu a paciência 
O nenúfar que derrubou o elefante 
A tromba que não foi a ela própria
A trotinete que atropelou o Mercedes
A passadeira que derrubou o camião TIR.

O que eu passei para vir aqui
Não sei terminar
Será que fui capaz de começar?
Sinto agora, além, algum sentido
Na doce calma da confusão 
No capricho insondável da decisão
Provavelmente darei um salto à cantina
Ali ficarei à tua espera
Mesmo sabendo que não vale a pena.
Agora já não estou em sentido, uf...

Lúcio Lima
28 Fevereiro 2020

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