31 dezembro 2008

Venha então 2009!


In the terrible night, natural substance of every night,

In the night of insomnia, natural substance of all of my nights
I remember what I did and what I could have done in life
I remember, and an anguish
Spreads itself all throughout me like a shiver or a fear…”
“In the Terrible Night”, Alvaro de Campos







Regressamos de uma viagem de muitos dias, muitas horas sem sono. Deixamos para trás muitos sonhos, algumas certezas, poucas esperanças. Sempre são 365 dias de caminho, temperados aqui e além por algum Sol, que me lembre acompanhado por brisas suaves, às vezes nem tanto, muita poeira decerto, acabamos por suportar tudo sorrindo para dentro, uma imagem repetida vezes sem conta.

Esperamos pela passagem, quiçá para uma outra dimensão. As horas e os minutos contam aqui com a imensidão da espera. Apesar de muito haver para contar, poucos serão talvez os momentos que recordamos com um sorriso; alguns porventura irónicos, não nos trazem senão um encolher de ombros, tanto faz. O podia ser melhor seria talvez o desabafo de quem não consegue traduzir o que vai na alma.

Precisávamos contudo de mais algum tempo para a passagem. Não é justo que, assim de um momento para outro, venha um Novo qualquer e tenhamos que conviver com ele, nem o conhecemos, que diabo. Vida nova? Talvez, com os mesmos, sempre os mesmos desafios. Há mais além uma nuvem que ameaça chuva, que pode talvez lavar a sujidade que por aí existe, nunca é bastante, já que parece não haver forma…

Acreditamos, sim é possível, fica-nos a imagem desta viagem. E se o sonho tem cor, que esta seja a cor daquela imagem. Para que fique a sensação que não desistimos, que ainda há força para transmitir ao Novo que estamos atentos, que não queremos simplesmente passear mais um ano, mas antes passar a palavra, passar á acção. Apesar de, em certa medida, ser uma noite terrível, acreditamos pois, porque “…Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não

31 de Dezembro de 2008
Alf
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Colaboração desinteressada (penso eu…) de Manuel Alegre, na “Trova do Vento que Passa”


30 dezembro 2008

O VERDADEIRO CAVACO

A comunicação de ontem (29 de Dezembro) ao País do Presidente da República marca mais um episódio de intriga palaciana entre órgãos de soberania, segundo os opinion makers habituais। No entanto, a questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores passa à margem da grande maioria das pessoas, porque irrelevante para a sua via e o seu futuro imediato; quem de facto se interessa pela matéria em apreço, mesmo falando da população (quantos serão mesmo?) do arquipélago? Não deve passar de uma boa meia-dúzia, se tanto… O que significa então toda esta história? Começo por dizer não estar minimamente interessado na polémica levantada, estou-me perfeitamente nas tintas para o dito Estatuto e para as regiões autónomas que só levam dinheiro dos contribuintes, particularmente a Madeira; mas essa é outra questão. O que fica é, em meu entender, a verdadeira face de Cavaco.

Primeiro: diz Cavaco que “… é muito importante que os portugueses compreendam o que está em causa neste processo”; e ainda: “…o que está em causa é o superior interesse do Estado português”. A bem dizer, uma questão de vida ou de morte, de perda de soberania, talvez uma Aljubarrota ao contrário, uma invasão de ETs; francamente, dá mesmo para rir, se a altura fosse mesmo de rir


Segundo: diz Cavaco que se trata “…de uma solução absurda, como foi sublinhado por eminentes juristas. Mas o absurdo não se fica por aqui. A situação agora criada não mais poderá ser corrigida pelos deputados”. O PR considera que uma lei aprovada por mais de 2 terços dos deputados é absurda, porque em seu entender “…o Estatuto … introduz um precedente muito grave: restringe, por lei ordinária, o exercício das competências políticas do Presidente da República previstas na Constituição”.

Terceiro: para Cavaco “… está também em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania। Será normal e correcto que um órgão de soberania imponha ao Presidente da República a forma como ele deve exercer os poderes que a Constituição lhe confere?” O que parece leal para Cavaco era seguir a opinião dele e pronto…


Nunca este homem se manifestou de forma tão clara contra as instituições da Republica como neste caso. Impotente para resolver um problema menor, cria (eu acho que é ele que cria…) uma putativa crise, que não passa dos corredores do poder, dado que a maioria da população nem sequer faz ideia do que se discute. Nem a crise, nem as dificuldades subjacentes para o povo, nem a crescente pauperização da classe média, merecem deste homem mais do que declarações de rotina. O dramatismo colocado neste dossier de discutível interesse, mostra a verdadeira face de Cavaco: a de líder autoritário, com desejo de poder absoluto.
Parece estar de volta o homem que foi 1º ministro de Novembro de 1985 a Outubro de 1995, que desbaratou milhões dos 2 primeiros Quadros Comunitários de Apoio (o 1º começaria em 1988, até 1993). Foram 10 anos de oportunidades perdidas: por dia entravam em Portugal 1 milhão de contos de fundos estruturais; para além de estradas, pontes e muitos “elefantes brancos”, o que se fez com esse dinheiro para o melhoramento do país real, por exemplo, na saúde, na educação, no investimento em formação profissional, na agricultura, no desenvolvimento industrial?

Pois é Cavaco, a gente não esquece isso, mais o “deixem-nos trabalhar”, as “forças de bloqueio” e outras que tais; podes ter a certeza que lutaremos com todas as nossas forças para que não tenhas um segundo mandato…

29 de Dezembro de 2008
Alf
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20 dezembro 2008

NATAL 2008

Em cada esquina uma amostra de cidade, uma pequena réstia de vida, uma série de sinais exteriores de nada, um vazio simbólico, uma pedra para atirar (um sapato, quiçá?), uma pequena revolta interior contra, não interessa quem. As luzes já não são neutras, o azul por exemplo já não é celeste, é tmn pois! Pagamos ousadias, desconfigurando a realidade, estamos porventura no centro de acontecimentos que podem transformar qualquer coisa que não sabemos bem, há sempre uma hora em que seremos protagonistas, uma cena patética de televisão, uma promessa? A vida será mesmo feita de pequenos nadas? Passeamos para lá e para cá, a vida é um grande centro comercial, as vaidades pagam-se caro, a euribor está descendo ou subindo (?), os bancos da cidade já não estão no jardim, mas moram em cada esquina, fazem medo porque tudo controlam. Há uma desconfiança crescente, parece que nada está no sítio, excepto a pobreza, essa sim que dia a dia se vai acentuando, um certo alheamento até que nos entre porta dentro, vemos ouvimos e lemos, mas parece que ignoramos. A ponte já não é uma passagem para a outra margem, porque nos dizem que tudo é global, que pena já não haver outra margem. Se tentamos partir para outra, há sempre alguém que nos diz: tem cuidado!

Enfim, é Natal, todos os anos acontece. Cá estamos para o receber, ou ele a nós, tanto vale. Enfiamos um capuz encarnado e sermos o tal pai (mãe, pois…) que sonhamos, porque temos a isso o tal direito. A hora de agir fica para depois, estamos de tal forma desatentos, que até toleramos, afinal somos todos desiguais de tanto iguais que nos querem fazer…

22 de Dezembro de 2008
Alf

12 dezembro 2008

O Rio continua…
“Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi…”

“Evadido”, Fernando Pessoa

A partir de agora, ou mais propriamente a partir de 28 de Novembro, o RIO TORTO continua, cada vez mais torto, mas de uma forma muito especial. Alguém se lembrou de editar as crónicas que, desde finais de 2003, venho editando no blogue. Foi uma prenda de anos muito especial, muito querida, da Bela, minha companheira de sempre, com muito amor e carinho, uma edição em exemplar único, que fica no coração, da parte de quem me vem apoiando, aturando, acarinhando desde há muitos anos a esta parte. Um gesto inesquecível, não há palavras que possam testemunhar esta gratidão que procuro descrever. Convém lembrar as ajudas preciosas do Bruno, do Pedro e da Belinha a esta empresa. Vai este rio caminhando ao sabor das minhas loucuras, de pensamentos e sonhos, sem oprimir as margens e dando margem à imaginação, que não procurando poder, tenta subverter os poderes vulgares (os pequenos poderes?). É que não sei mesmo porque certas coisas devem ser escritas, fixadas quiçá em momentos significativos, sombras que se desvendam e outras que ficam para sempre numa qualquer sombra. Para o futuro, o rio não corre mesmo para o mar (porque tem que ser?), vai simplesmente correndo, devagar ou mais depressa, consoante os ritmos que lhe quisermos transmitir.
Fica a promessa de alguns afluentes se juntarem qualquer dia a este Rio…

28 de Setembro de 2008

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