22 janeiro 2012


Ao homem que clama estar a passar dificuldades por ter abdicado do vencimento a que o cargo compete, vivendo exclusivamente das suas reformas, que rodam os 10 mil euros mensais e que diz que, somente o facto de ter sido poupado toda a vida, arrecadando uns tostões para se ir sustentando, lhe permite agora fazer frente a tanta despesa (!), só podemos aventar que assim continue, como exemplo da poupança nacional a que obrigam os tempos que correm. Embora se possa pensar também que é estulto quem vive acima das suas possibilidades, regra de ouro e, ao mesmo tempo um estigma, que justifica a imposição da austeridade. Seguindo a norma de quem nos ensina todos os dias, voltamos ao homem que se supõe representar o País, para avaliar a profundidade das suas declarações em Guimarães, capital europeia da cultura, termo aliás que para o homem deve ser coisa estranha, que ao largo lhe passa. Não poderá dizer, como Homero, De muitos homens vi as cidades e conheci os pensamentos, dado que parece só se ver a si próprio e limitado aos pequenos círculos que vai traçando, à volta das suas conhecidas amizades e das paragens protegidas da sua coutada algarvia. Um homem que não aprende, será porventura a melhor definição e o pior insulto. Saber se o “merece” só dele depende. Poderia, citando Italo Calvino, perder-se a memória, em termos civilizacionais, sem a marca do passado e um projecto de futuro. Como a não perdemos e temos do futuro uma visão dinâmica, voltamos ao homem que não aprende, apenas para o colocar no lugar a que tem direito, lixo será porventura pouco preciso para ataviar, muito embora se tenha rodeado dele, nomeadamente quando chamou para o conselho de Estado, um ladrão de cartola, com quem mantinha relacionamento conhecido. Como sabemos que não aprende, não saberá sequer medir o tremendo insulto que fez a todos aqueles a quem diariamente são exigidos sacrifícios, areia de mais para uma camioneta carregada de cinzentismo e hipocrisia. Um cidadão a quem se exige exemplo, mostra a verdadeira face da sua pequenez. Como ainda nos lembramos, Nunca me engano e raramente tenho dúvidas, de facto a melhor definição para quem não sabe nem quer aprender, deixamos para o homem o conselho de Hemingway, São precisos dois anos para aprender a falar e sessenta para aprender a calar, esperando que se cale de vez!


18 janeiro 2012

OS AMARELOS





Como é, de um momento para o outro viraram para amarelo? Não, nem por isso, sempre o foram. E, nos momentos decisivos, assumem a sua verdadeira face de traidores do movimento sindical e dos trabalhadores. Até, pelos vistos, dos seus próprios associados, a acreditar nas notícias vindas a terreiro após a assinatura do acordo. Aliás, foi assim que apareceram, uma organização inventada pelo Mário Soares, para lutar contra a unidade sindical. Constituída ao contrário, isto é de cima para baixo, será sempre o rosto da divisão, dos interesses partidários do PS e do PSD /CDS, na capitulação intolerável aos mais elementares princípios de ética sindical. O que não significa que não existam na dita organização, trabalhadores empenhados na luta pelos seus legítimos direitos. O que estão é enganados. Vão sempre a tempo de rever a sua posição. A única organização que defende os trabalhadores é, sem qualquer dúvida, a CGTP – Intersindical Nacional. Assim mesmo.
O pretenso acordo na concertação social, não é pois um verdadeiro acordo. Não passa de uma imposição do governo e dos patrões, para legitimar as alterações na legislação laboral e a instauração de um estado de sítio, em termos de direitos dos trabalhadores. Serve para tornar mais fácil e mais barato despedir e reduzir indemnizações, subsídios, férias e feriados. A CGTP afirma, a propósito, “É um compromisso que coloca o Estado e o dinheiro dos nossos impostos ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros e fragiliza a segurança social, ao forçá-la a financiar as empresas para baixar salários, generalizar a precariedade e, de seguida, enviar os trabalhadores para o desemprego.”Vale a pena atentar ainda no que diz o PM, “Acordo laboral é mais inovador e audaz do que previa o memorando com a troika”. E finalmente no que diz um porta-voz do PS, “Este é um mau acordo”. Entretanto e, para lançar ainda mais confusão, o agente João Proença, diz que “A paz social não está garantida…” Claro que não está, ainda bem que não está!

Não se trata então de um acordo. O problema reside também no aspecto psicológico. Das pessoas e também das instituições. Pretende-se passar a mensagem de que houve um acordo tripartido: governo, patrões e trabalhadores. E esta mensagem vai passando, dia após dia, hora após hora, na comunicação social, vendida aos grandes interesses. Começa sempre da mesma maneira, “foi assinado um acordo laboral entre os parceiros sociais e o governo…”, “…a CGTP pôs-se de fora, abandonando as negociações”. Umas horas depois, já nem se fala da CGTP, mas somente do acordo que foi assinado e … garante apoio da sociedade às medidas do governo…, o governo fica agora numa situação mais confortável, após o acordo assinado…, a nova situação criada pela assinatura do acordo…. Perante este cenário, as pessoas que só lêem os títulos, que só têm tempo, quando têm, de ouvir os telejornais oficiais, passam a ficar automaticamente convencidas de 2 coisas. A primeira, que houve um conjunto de organizações (…) que se esforçaram por chegar a um acordo. A segunda, como sempre, a CGTP auto exclui-se do processo, os mesmos de sempre, nunca assinam qualquer acordo. Todos os portugueses têm que estar unidos, com o se fosse uma equipa de futebol, diz o fascistóide Álvaro, que veio do Canadá ensinar a teoria do pastel de nata e outras alarvidades. A união nacional do antigamente, está de volta, pelas vozes autorizadas e sensatas destes governantes medíocres, de que o Álvaro é porventura o expoente máximo. Vejamos, aos trabalhadores impõem-se as medidas que se conhecem, aos patrões nada é pedido, aos fabulosos gestores que temos oferecem-se ordenados de 45 mil euros mensais, para além de reformas de 9 mil, como o caso do homem do pintelho… Vão ser reclamadas verbas indevidamente pagas pela Segurança social a trabalhadores, sem dizer se que em muitos desses casos a responsabilidade é mesmo do sistema, e os roubos descarados no BPN e no BPP continuam sem rosto. Arrecadar dinheiro mal pago pela Segurança Social, uns tostões, comparados com os escândalos financeiros de Dias Loureiro, por exemplo. E dos outros amigos do Cavaco, o tal que anda por aí a espalhar boa-vontade e caridade, aos pobrezinhos e desfavorecidos e muito preocupado com as desigualdades.

O lema parece agora ser: trabalhar mais a receber menos, com menos direitos e um aumento da exploração com trabalho forçado. Tal e qual!

Sempre e ainda a inevitabilidade. O mesmo discurso de culpabilização, patente nas afirmações dos políticos e comentadores do regime sobre produtividade e competitividade. Um exercício diário e constante, para fazer crer que a falta de uma e a diminuição da outra, são causadas pelos salários dos trabalhadores, pelas faltas ao trabalho, pela apertada legislação laboral, entre outras falsas asserções. Nunca está em causa o desempenho dos responsáveis, gestores, presidentes ou directores. Nunca. Aliás, até há prémios para tal: um autarca, caloteiro a uma empresa do Estado, que passa agora para gestor dessa mesma empresa.
Este acordo significa pois, um retrocesso civilizacional de várias décadas, a nível dos direitos do trabalho, como bem afirmou Carvalho da Silva. Que a Força esteja com ele, com a nossa CGTP e com todas/os aquelas/es que realmente defendem os direitos dos trabalhadores!

12 janeiro 2012



Prefiro chamar-lhes pedreiros. Embora com avental e sem martelo, são figuras essenciais da estória. Porque se dedicam à construção. Parece, à primeira vista, não estarem sindicalizados, nem terem contribuído em nenhuma das greves. Meu caro, a coisa é assim, Entras pela Ongoing, viras à direita na secreta, vais sempre em frente até ao Oriente e aí apanhas o metro para o Parlamento, é perto da estação do rato; aí chegado, sobes uma escadaria, procuras duas salas, ambas começam por P, uma com um S e a outra com um S e um D, fiz-me entender, ou queres que faça um desenho. O chefe não sabe de nada, nem quer saber, o outro da TVI não entrou porque quis fazer-se de fino. Mas o que raio será uma Ongoing, nunca ouvi falar, pode ser uma daquelas tretas de publicidade dos bancos, que nos impingem todos os dias, tenho que me desenrascar, parece que é urgente. Encontro na Avenida uma data de fulanos a falar da loja do Mozer, foi o que me pareceu, sei que era do Benfica e treinou na Naval, mas nem sei onde pára agora. Ou então é outro qualquer, os meus conhecimentos de música andam um pouco por baixo. Sabes que mais, é preciso seres iniciado para entrar, Já tenho idade para jogar nos seniores, mas pronto.

Please allow me to introduce myself, I’m a man of wealth and taste, Pleased to meet you, hope you guess my name, But what’s puzzling you, is the nature of my game, pensei que se adequava à cena, sabia lá eu que o gajo me enfiava na cozinha, com o tal avental, e me mandava estrelar uns ovos, se calhar para me experimentar. A coisa era contudo mais complicada, tinha que ir espiar para a Quinta da Marinha, eu que até sou uma pessoa simples, paragens de ricaços não era bem o meu forte, vai o outro aos arames, Quem pensas que és para mandar bitaites, faço já queixa ao grande mestre, eu ouvi assim e lembrei-me do outro do filme, que era o do crime, oh valha-me deus, que é grande e está por toda parte…

Tens que fazer confiança com ele e depois sacas a informação e vens contar tudo. Penso, Foi para isto que eu aprendi a profissão de meu pai, levantar paredes e outras mandar abaixo, conforme o desejo do cliente, agora pôr-me à escuta. Depois talvez se arranje alguma coisa numa daquelas empresas dele, já me estava a ver a arranjar a equipa do meu primo, para assentar o tijolo, Qual primo, qual carapuça, não estás mesmo a topar a cena, ouviste, muito complicada a situação, ainda por cima queria ir para casa, horas do futebol em canal aberto, Eu é que te digo  the nature of my game, aí fiquei mesmo lixado, mandei o gajo às urtigas. Resultado, apanho uma pazada com a trolha, que dizem ser um instrumento neutro e símbolo da tolerância, pois sim, fiquei com elas e uma dor de costas do caraças…

Quando for grande, não quero ser pedreiro…

11 janeiro 2012

A melhor notícia de 2012!


Os trabalhadores dos CTT processaram o Estado por causa dos cortes salariais aplicados no ano passado, decorrentes do Orçamento do Estado. Carris e Metro estão entre as empresas visadas. Muito embora, a acção tenha tido contestação, este é um excelente sinal de resistência neste novo ano e significa um bom prenúncio. De facto, a decisão do Tribunal do Trabalho de Lisboa em relação aos CTT pode ter aberto um precedente. Os juízes deram razão ao sindicato, obrigando a empresa a devolver o dinheiro que retirou à remuneração dos funcionários. Para além disso, terá de pagar juros de mora, incluindo as partes pecuniárias dos subsídios de refeição, trabalho suplementar, trabalho nocturno e abono de ajudas de custo e transporte referentes àquele período.

Sabe-se que, pelo menos quatro ou cinco sindicatos de empresas públicas do sector dos transportes e comunicações seguiram o exemplo dos trabalhadores dos CTT. E, da parte da CGTP surgiu também a confirmação de que há várias acções a decorrer, abrangendo praticamente todos os sindicatos de empresas públicas afectas à central sindical.



 
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11 Janeiro 2002. Os EUA abrem uma prisão de alta segurança, na base de Guantánamo, em Cuba, na sequência do 11 de Setembro e do choque dos aviões com as torres gémeas. Se bem que uma certa névoa ainda se abate sobre o que realmente aconteceu (…), a abertura da prisão e o regime de tortura que lá vigorou e, pelos vistos, continua a vigorar, são uma realidade. O país da dita liberdade, onde ainda vigora a pena de morte, o racismo em alguns estados, para além da mais absoluta ignorância do que se passa no mundo, é um dos mais patéticos símbolos da hipocrisia e do desprezo por direitos humanos inalienáveis.

800 presos políticos teriam passado pelas celas da prisão, 160 será o número que actualmente lá se encontra, tudo isto porém envolto num secretismo, mais próximo da Guerra Fria, do que da era dourada que muitos acreditariam ser o consulado Obama. Não deixa também de ser no mínimo curioso, o ataque cerrado que os EUA fazem habitualmente a Cuba, por causa dos presos políticos e dos direitos humanos…

Exigir o encerramento de Guantánamo e a realização de inquéritos aos autores, é um acto de cidadania. Exigir ao mesmo tempo, o fim das detenções arbitrárias, das detenções ilimitadas sem julgamento e da utilização da tortura. Exigir finalmente que as transferências de prisioneiros sejam efectuadas segundo as leis internacionais, bem ao contrário da prática corrente, que já ocasionaram aliás, em várias situações, protestos da comunidade internacional.


10 janeiro 2012

"Eu revolto-me, logo existo"
Albert Camus




O início deste novo ano nada de novo traz, no plano político. A nível interno, as trapalhadas do costume, as habituais mensagens de ano novo, completamente vazias de conteúdo e do resto, mais as outras que, apesar de terem alguma substância, apenas significam mais do mesmo, austeridade, sacrifício e inevitabilidade. A nível externo, a politica de dominação e exploração da riqueza, continua, agora descaradamente, com a ditadura alemã a sobrepor-se a todo e qualquer processo de equilíbrio europeu, ao menos conjuntural.
As escolhas do governo português, espelham a mais ignóbil ideologia ultraliberal, que como se sabe, conduz apenas ao desastre económico dos países e das populações e ao enriquecimento de um pequeno grupo de agiotas, que se alimenta do sistema e que, nunca pode perder um cêntimo que seja, na chamada crise dos mercados. A venda da EDP, por exemplo, significa a cedência do sector da energia, estratégico em qualquer país, ao capital estrangeiro. Mas esta é apenas uma das muitas que se irão seguir: vender tudo, se possível a preço de saldo, que é a época deles. Deve dizer-se a propósito que, aquele senhor que ora ocupa o cargo de Presidente da República, e que agora se preocupa com os pobrezinhos e os reformados, foi o primeiro responsável pelas privatizações e pela sucessiva hipoteca do País. Mesmo que possa parecer à primeira vista que estão em desacordo, um e outro, Presidente e Governo, seguem exactamente a mesma linha ideológica, os mesmos princípios da economia da desgraça, que o primeiro quer mascarar com as ditas preocupações sociais, de cariz meramente assistencialista, enganador porém, pelos vistos, para a maioria da população. Exactamente o mesmo que o partido Socialista fez, durante o tempo em que esteve no poder. E, perante o episódio consumado que foi a de o grupo Jerónimo Martins transferir a sede social das suas empresas para a Holanda, os comentadores que diziam aqui del rei que se impomos novas condições aos empresários, eles vão embora daqui, estão agora preocupados em justificar a atitude do grupo…

Ficamos a saber, neste início do ano, que a fortuna acumulada de Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, supera o rendimento anual de cerca de três milhões de portugueses. E que o preço das novas taxas de saúde, ditas moderadoras, duplicou, no mínimo, com custos que atingem, por exemplo 20 a 50 euros nas urgências hospitalares, mais um negócio chorudo para meia dúzia de especuladores e, provavelmente um impedimento na prestação de cuidados médicos para uma grande fatia da população. E também que, na distribuição de energia, iremos ter aumentos no consumo domésticos de mais de 25%. E nos transportes, portagens e telecomunicações, bem como no sector alimentar, mais aumentos, absolutamente indiscriminados, com aqueles arredondamentos do costume, sempre em prejuízo de quem paga, de quem tem necessidade dos serviços respectivos, ou dos bens em questão.

Sabemos ainda oficialmente, sempre o soubemos afinal, que é impossível baixar o famoso défice para a meta acordada. E que vai haver necessidade, sempre se disse, de renegociar a divida. Porque este governo e estas políticas só o conseguem fazer, roubando dinheiro e direitos a quem trabalha, nomeadamente aos funcionários do Estado. É muito fácil cumprir metas, desta forma. E, mesmo assim, parece que não as cumprem…
A comunicação social, paga pelos grandes interesses, vai cumprindo o seu papel de preparar as pessoas, para a inevitabilidade. É espantoso notar, dia após dia, nas notícias e nos comentários, cuidadosamente elaborados pelos mesmos comentadores de sempre, a preocupação em passar, nos últimos dias, a mensagem Será que vão ser necessárias mais medidas de austeridade agora em 2012? A TSF é disso um triste exemplo, com os fóruns que diariamente organiza, e onde inclui, no início de cada debate, um comentário económico-político de um dos inevitáveis amigos especialistas do Diário Económico, Dinheiro Vivo, etc… O objectivo é claramente manter a maioria da população num estado contínuo de ansiedade e numa situação de insegurança e angústia e que acaba por justificar a adopção de toda e qualquer medida, sem se questionar se existe alternativa. Ao fim e ao cabo, quem defende alternativas, não é propositadamente consultado, nem ouvido, não tendo assim qualquer direito a existir.

Esta é a versão actual de Democracia. O nosso País, como outros na Europa, está progressivamente a ser anexado, os sucessivos governos não são mais que agências de interesses, puxados por cordelinhos, cumprindo as decisões alemãs e francesas, de uma forma perfeitamente acrítica e escandalosamente submissa.

Resta apenas RESISTIR. A partir do ponto a que isto chegou, todas as formas de resistência são válidas.



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