29 março 2021
O “APOIO” AOS APOIOS
A posição do Governo do Partido Socialista relativamente ao diploma aprovado pelo Parlamento sobre reforço de apoios sociais, foi, em primeira instância, dizer que se tratava
de “uma violação ostensiva da lei-travão inscrita na Constituição, desvirtuando o Orçamento em vigor”. Estávamos a 26 Março.
Hoje, 29 de Março, sabemos que o PR promulgou o decreto que prevê as alterações introduzidas pelos partidos da oposição, a três decretos-lei do Governo relativos a apoios sociais, respeitantes à economia, saúde e educação.
O primeiro diploma alarga o universo e o âmbito dos apoios sociais previstos para trabalhadores independentes, gerentes e empresários em nome individual. O segundo, aumenta os apoios para os pais em teletrabalho. O terceiro, estende o âmbito das medidas excepcionais aos profissionais de saúde, no âmbito da pandemia e também à recuperação dos cuidados primários e hospitalares não relacionados com covid-19.
Particularmente, no que diz respeito ao diploma que reporta aos apoios económicos, o Parlamento alterou o decreto-lei do Governo n.º 6-E/2021, que estabelece mecanismos de apoio no âmbito do estado de emergência, alargando o universo de beneficiários das medidas, que já incluía no decreto do Governo, os trabalhadores independentes, gerentes e empresários em nome individual.
Não é com qualquer agrado que se regista aqui a lamentável posição do Governo e, pelo que se sabe, do único Partido que o apoia. Lembramos os tempos de chumbo da troika, em que o Partido Socialista, juntamente com a Esquerda, protestava contra a dureza das medidas impostas e dos cortes infames que a Direita, unida aos grandes interesses financeiros, fez à grande maioria dos apoios sociais, deixando muitos portugueses na pobreza e na miséria, naquele que foi o maior e mais vil ataque a um País, submetido à ocupação estrangeira. Este Partido, agora no Governo e sem qualquer apoio significativo que não seja o de um grupo parlamentar minoritário, não honra o seu passado, nem merece o apoio de quem nele votou, que esperaria uma governação que defendesse os interesses dos mais desfavorecidos e que precisam, agora mais que nunca, da sua atenção. Nem merece mais o apoio da Esquerda, condenando-se assim ao fracasso das suas políticas e ao repúdio dos cidadãos que nele confiavam.
Este Governo não cuida dos seus, enquanto que se revela uma vez mais brando e complacente com aqueles que atacam o Estado.
Quanto à Direita, registe-se aqui simplesmente, a hipocrisia.
Os mesmos que tentaram (e quase conseguiram) vender o País ao desbarato, desprezando os que que tinham dificuldades, culpando-os de viverem acima das suas possibilidades, autorizando e participando em autênticas fraudes e negócios fraudulentos, vêm agora, de forma absolutamente demagógica, juntar-se à corrente, apenas com o tacticismo próprio dos oportunistas, que nada têm para propor, a não ser as mesmas receitas de austeridade de sempre e a mesma política de subordinação que deu as provas que bem conhecemos.
21 março 2021
DIA MUNDIAL DA POESIA
(aqui, para trazer um Amigo que está sempre perto...)
CANTIGA À RALIDADE
S’a ralidade não me chatiar
Não vou eu chatiar a ralidade
Porém, essa megera sem idade
Não tem tempo e fronteiras, não tem lar.
Não tem respeito, sempre a dar a dar,
Remexe-me no peito, busca o qu’há-de
Servir-lhe de pretexto pra provar
Que continua a mesma ralidade.
E eu, que tenho mais o que fazer,
Dormir, dormir, morrer, talvez sonhar
- Ou contra o cruel fado a ‘spada erguer.
Mas esta dor no peito, a falta de ar,
Esta barba há três dias por fazer
Já ‘stão à minha espreita ao despertar
Manuel Resende, “Poesia Reunida”, Ed. Cotovia (2018), p.127
19 março 2021
ANTÓNIO SOARES FERREIRA (14 Fev 1916 – 22 Dez 1997)
O meu Pai.
Esta foto data de 1949, era eu um recém-nascido, ele tinha apenas 33 anos.
Um engenheiro dos antigos, aliás, um agente técnico de electrotecnia e máquinas, como ele gostava de se afirmar, formado no antigo Instituto Industrial do Porto (hoje ISEP).
Cedo afirmou a sua verdadeira vocação, era um artista da manufactura, trabalhava muito bem a madeira, o ferro e outros metais, tinha uma parafernália de ferramentas e uma autêntica oficina, na nossa casa de Ponte do Bico, onde se dedicava, nas horas vagas, a fabricar objectos variados, a que todos nós dávamos uso. Lembro que fabricava rede (de arame), tendo inventado uma máquina para tal, que muitos visitaram. A rede era necessária para a quinta, uma pequena, mas altamente produtiva área, onde havia de tudo um pouco, graças à sua diligência e empenho.
Nunca o consegui acompanhar nessa empresa, dada a minha manifesta falta de jeito. Mas sempre prestei atenção aos objectos, conservo ainda alguma coisa, do muito que se perdeu, quando a casa foi vendida.
Um engenheiro inovador, particularmente na vertente da luminotecnia, lembro aqui o sistema de luzes que propôs e executou, por exemplo, na igreja dos Congregados e na casa do Nogueira da Silva, na cidade de Braga.
Era também um professor exemplar, os seus alunos da Escola Técnica Carlos Amarante, lembram ainda hoje o seu talento para ensinar, deve ter feito certamente alguma escola, nas vertentes da electricidade, mecânica e desenho técnico.
Tenho muita pena que tenha abandonado a sua arte, aquando da reforma, nunca mais foi a mesma pessoa, parecendo faltar-lhe o convívio dos seus alunos e dos seus muitos clientes.
Uma figura, sem qualquer dúvida da Braga antiga, católica e devota, sempre seguiu as pisadas da igreja católica, pertenceu a uma agremiação que penso se chamava “congregação de leigos”, havia uma palestras no Sameiro e uns almoços a que ele me levava quando andava no liceu e que abandonei, quando entrei na faculdade, em Coimbra, no glorioso (para mim, não para ele...) ano de 1969.
Divergíamos em quase tudo, bem que tentou afastar-me das “leituras perigosas” em que me meti, Hélder Câmara, Teilhard de Chardin, Simone Beauvoir, Sartre e claro, Engels e Marx, que ele considerava “decididamente errados”. Todavia, nada disso impediu uma educação séria, honesta e digna, que sempre procurei seguir.
Hoje, tantos anos após a sua morte, acho que morreu muito cedo, mas conheceu dois netos, que também o recordam e que o adoravam.
Uma saudade imensa do Homem, do Pai, que foi António Soares Ferreira, nome que muito prezava e que sempre disse que os dois apelidos deveriam ser um só, separados por um hífen, uma confusa explicação, que tinha a ver com os nomes materno e paterno.
Por isso, em sua memória, adpotei a ideia e, desde há muito que a uso, apesar de não estar exarada no meu registo: Alfredo Soares-Ferreira
19 DE MARÇO - DIA MUNDIAL DO SONO 2021
Pensei que era dia do Pai
E do SONO (também) é afinal
Isto de dias das coisas
Tem algo de seminal...
De sono me vesti
A dormir me encontrei
Foi a inspiração do Ary
Que ajudou aqui, eu bem sei.
Porque dizem que o SONO
É um “estado de consciência”
Falta saber o que resta
Quando perco a paciência...
Diz que sabe (e acredita)
Eu, por mais SONO que tenha
Não ofereço resistência.
Venha a cama e o sofá
Desde que seja sem custos
Vamos dormir descansados
O belo SONO dos justos.
E, se bem dormir
Encontrou-se
Se foi para o SONO eterno
Passou-se...
08 março 2021
8 MARÇO – DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Sorri, és mulher
Dona de ti própria
Que, da antiga condição
Resta apenas a lembrança
E uma eterna razão
E se lembrares Catarina
Assassinada
E também Marielle
Assassinada
Terás talvez medo
Até de ser amada
A posse já não existe
Neste tempo de fascínio
Todavia prevalece
A sensação de domínio
Podes passar a palavra
De sorriso e de luta
Jamais serás humilhada
De certeza absoluta
Porque a força é demais
Naquela que se intitula
Mulher
Aqui e num canto qualquer!