25 setembro 2008

Fracturas…

“…Now I won't judge you and you don't judge me
We're all the way nature meant us to be
Just human beings -- born to be free…”

"I Was Born This Way" (Bunny Jones/Chris Spierer)
Podia ser mais um combate, porque é sempre preciso combater a indiferença para fazer notar a diferença. Elas e eles que merecem todo o respeito para que as diferenças não sejam transformadas (como normalmente o são…) em desigualdades. Na rua há um mural que dita “Não faças do pensamento um bloco duro de cimento”, frase porventura banal, dá pelo menos para pensar, não custa nada, faz bem à mente e talvez possa libertar algumas (mentes) de preconceitos e pré-conceitos. Discute-se agora na AR o Projecto que visa para acabar com a discriminação de casais de pessoas do mesmo sexo no acesso ao casamento, vale tudo como em outras ocasiões e descobre-se sempre alguma coisa nova; repetem-se os argumentos do costume, eu por acaso lido mal com o termo “conservador”, vejo-o só mesmo à frente (ou atrás…) de um qualquer museu, arrumado sempre direitinho, enfim. Não fica bem também aquele outro (argumento) de que há coisas mais importantes neste momento, pois há, há sempre qualquer coisa mais importante, dá para tudo, de pouco imaginativo; depois há o outro (argumento ainda), brandido neste caso pelo PM, de que “tal não consta do programa do partido e que não vamos a reboque das propostas dos outros”, imagem de arrogância que pode ser lida (pode de facto…) as minhas propostas é que contam, as dos outros estão sempre (que azar, o deles) fora da agenda oficial, mas há algo que não é nada oficial e que se chama CIDADANIA, uma daquelas palavras “… que se recusam / mas de repente coloridas / entre palavras sem cor…” e assim o apelo pode fazer colorir o cinzentismo, abrindo janelas, é sempre bom estarem abertas, não há mal nenhum em deixar entrar o ar fresco que faz bem (dizem…) às consciências. Haverá sempre lutas assim, vale a pena trazer mais gente a estas “pequenas”, a que chamam “fracturantes”, não sei se bem ou mal, o que conta é derrubar os muros do silêncio, porque “…os outros se calam, mas tu não”!

Palavras citadas:
o José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
o Alexandre O´Neil
o Sophia de Mello Breyner Andresen


24 de Setembro de 2008
Alf

21 setembro 2008

AMBIENTES… (1)

A defesa do ambiente é uma questão central do desenvolvimento sustentável; uma vez que os poderes públicos normalmente são pouco sensíveis a estas questões, leia-se não dão votos, compete à sociedade civil organizar-se no sentido de alertar, sensibilizar e educar; é mais uma vez, a cidadania global que está em causa. Elencamos algumas premissas para ajudar a compreender o que está em causa.

1. Os 4 Rs e o negócio da Reciclagem
Quando se fala em 4Rs, associamos de imediato a Agenda 21, que é um plano das Nações Unidas para ser adoptado nas as áreas em que a acção humana tem impacto sobre o meio ambiente; esse Plano tem abrangências global, nacional e local e deverá em principio ser levado a cabo pelos governos e pela sociedade civil, em defesa do meio ambiente. Os 4R derivam dos termos Reduzir, Reutilizar, Restaurar e Reciclar e contêm em si o significado do que deveria ser feito, em termos do que comummente se designa por consumo sustentável. Reduzir, significa a opção do consumidor por produtos de longa duração e com menor quantidade de embalagens; um bom exemplo é utilizar sacos de compras de pano no supermercado, para reduzir o uso dos sacos de plástico. Reutilizar é aproveitar os materiais usados, como por exemplo, embalagens, ou produtos que permitam uma utilização ilimitada, como são as pilhas recarregáveis e as recargas de produtos. Restaurar significa reparar (móveis,…) ou consertar (aparelhagens danificadas,…). Finalmente, Reciclar, provavelmente o termo mais conhecido, quer dizer promover a separação dos resíduos, com vista a uma posterior utilização.Estima-se que em média, cada português produz 1,3 kg de lixo por dia; produzir menos lixo deve ser então um dos objectivos primeiros a ser atingido; reduzir por exemplo o número de embalagens que compramos, preferir embalagens grandes em vez de muitas embalagens pequenas, evitar alimentos embalados, usar o papel dos dois lados em vez de comprar mais e mais papel, usar os sacos mais do que uma vez, são algumas das sugestões para que seja drasticamente reduzida a quantidade de lixo que produzimos. Se pensarmos nos milhões os sacos de plástico e outras embalagens que todos os anos entram nas nossa casas, no desperdício de energia que poderia significar uma poupança de 86 milhões de contos por ano, ou seja, 16 milhões de barris de petróleo, encontraríamos decerto razões de sobra para mudar determinados padrões de comportamento.
Mas, é preciso que se diga, a reciclagem transformou-se num negócio; proliferam as empresas que reciclam tudo e mais alguma coisa, muitas vezes mal e com objectivos mais que cinzentos. Veja-se a título de exemplo o que fez a empresa Valorsul, segundo informação da QUERQUS. “A empresa de tratamento de resíduos urbanos da grande Lisboa está a incinerar 55% dos plásticos recicláveis provenientes da recolha selectiva efectuada pelas câmaras municipais de Lisboa, Loures, Amadora, Vila Franca de Xira e Odivelas. Após análise dos resultados da recolha selectiva e triagem de plástico a nível nacional, conclui-se que na estação de triagem da Valorsul a taxa de rejeitados dos materiais do contentor amarelo, onde é colocado o plástico, atingiu um valor de 72%, sendo o triplo da média nacional (24%), segundo dados da Sociedade Ponto Verde e do Instituto dos Resíduos. Como resultado, em 2004 a Valorsul só reciclou 1,9% do plástico, sendo o segundo pior sistema do país (dos sistemas com mais de 200 mil habitantes). Este sistema só foi ultrapassado pela ERSUC (Distritos de Aveiro e Coimbra) que apresentou um valor de 1,5%. A explicação para estes fracos resultados, só pode ser encontrada no facto da Valorsul querer queimar o plástico, obrigando assim as câmaras a pagar esse processo, impossibilitando-as simultaneamente de receber o dinheiro a que tinham direito pelo esforço que fizeram na recolha selectiva.” Entretanto, outra empresa do género, a ERSUC, quer instalar um grande incinerador, pelo que tem sistematicamente impedido o lançamento de uma política de reciclagem nos Distritos de Aveiro e Coimbra. Estas 2 empresas abrangem cerca de 22% da população portuguesa que se vê assim impossibilitada de dar o seu contributo para a reciclagem de plástico. Os dados da Sociedade Ponto Verde são claros: em 2004, Portugal apenas reciclou 2,7% das embalagens de plástico dos resíduos urbanos, quando para 2005 a meta comunitária é de 15%. Cumprir as metas que o País se comprometeu? Assim, nunca mais!


2. O principio do utilizador/poluidor/pagador
Pagamos impostos, para que a redistribuição possa garantir maior equidade; e para que o investimento público tenha preocupações sociais e de desenvolvimento; e ainda, para garantir igualdade de oportunidades, no sentido de que o colectivo assuma solidariedades internas, para que o acesso a serviços essenciais não seja um privilégio apenas de alguns. Certo portanto que sejam aqueles que mais poluem, ou seja (nestes casos) tenham opções de compra que contribuam para o desperdício; vendo bem, porque razão hei-de eu pagar pelos poluidores, ou seja aqueles que compram os produtos que eu recuso à partida? A questão das eco-taxas deve ser colocada então na ordem do dia, como por exemplo cobrar mais por produtos de pequena duração e com maior quantidade de embalagens.

Há quem diga que o mais importante é reciclar as atitudes; nessa linha, o sistema educacional pode cumprir um papel relevante, educando devidamente as novas gerações; estará cumprindo o seu papel? Parece contudo que os dois primeiros Rs, Reduzir e Reutilizar ainda encontram resistências culturais e económicas assinaláveis e portanto há que investir fortemente na sua correcta interpretação. Segundo estudos do World Resources Institute (WRI), a produção total de resíduos de Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Holanda e Japão cresceu pelo menos 28% nos últimos 25 anos! Será que pagam para isso? Duvido.

(continua...)

Links relacionados:
http://www.abinee.org.br/index.htmhttp://www.svtc.org/svtc
http://www.wri.org/materials/index.html
http://www.naturlink.pt/canais/artigo.asp?iCanal=35&iSubCanal=66&iArtigo=15374&iLingua=1
http://www.amarsul.pt/listagem.aspx?sid=76e8fc08-2125-4986-b1df-9a8a3a24fa09&cntx=EZXOFWZpyeNggHax73GMfsxxoEh%2FREt5AabOm2y%2FJh33l86ar5IlhMuKWhex9eHA
http://www.portaldoscondominios.com.br/reciclagem2.asp

21 Setembro 2008
Alf.

19 setembro 2008


De 1851 a 2008…


Assistimos dia a dia e desde há uns tempos a esta parte à novela do costume acerca do preço dos combustíveis. Agora que o preço do barril de crude está no casa dos 90 dólares, seria de esperar uma diminuição considerável dos preços no consumidor. Há um comissário da Energia (o que é isto?) que alerta para uma intervenção da chamada Autoridade da Concorrência, mais um ministro que diz esperar que o preço baixe, o preço não baixa e o contribuinte paga, o contribuinte paga sempre e isto rola assim. Recorde-se (é sempre bom recordar) que, com a privatização da GALP pelos governos do PS e PSD, e com a liberalização dos preços dos combustíveis do governo PSD/CDS, o que deveria ter acontecido (segundo a lógica deles…) era o aumento da concorrência e uma consequente descida dos preços; entretanto, entre Janeiro de 2004 e Maio de 2008, o preço da gasolina 95 aumentou 57,3% e o do gasóleo rodoviário 102,7%. São estes os resultados que a direita parlamentar tem para apresentar ao País; agora reclamam do governo PS medidas imediatas para baixar os preços, hipocrisia só possível mesmo para quem não queira ver! Entretanto o que faz este governo, dito socialista? Nada, positivamente nada, porque não é capaz, nem quer ver as verdadeiras razões, ou seja, a mais descarada especulação das companhias petrolíferas, a coberto precisamente da incompetência do ministro da economia e da cumplicidade óbvia do primeiro-ministro. É preciso que se diga isto claramente, que é uma pouca-vergonha esta política de complacência perante os grandes interesses económicos e especulativos de que este governo é completamente refém e cúmplice. Não adianta pois tentar mascarar a realidade, com declarações de falsa ingenuidade, quando os factos comprovam exactamente o contrário. Quando o preço do crude aumentava, o preço dos combustíveis subia todos os dias, agora que já baixou para quase metade, tudo fica na mesma e até (pasme-se!) há uma distribuidora que nos últimos dias ainda veio aumentar ainda mais o preço…

As pessoas não são estúpidas e sabem que os preços dos combustíveis determinam em grande parte o agravamento das suas condições de vida: os transportes, o preço dos bens alimentares, o funcionamento do sector produtivo. Somando a tudo isto o aumento desenfreado das taxas de juro, temos um cenário real de um país que não consegue nunca convergir e pelo contrário se afasta cada vez mais da União de que tanto se orgulha de pertencer. E, mais uma vez, como em situações passadas, o partido Socialista hipoteca a sua herança, atacado à direita por uma direita sem qualquer crédito e à esquerda por praticar a política dos que o atacam, uma situação só aparentemente bizarra; na realidade não o é. Talvez seja desta que os indecisos queiram ver ao que levam as políticas monetaristas, amarradas ao liberalismo económico e reféns do capitalismo selvagem; aliás, a dita crise dos mercados financeiros, não é mais que uma máscara para fazer passar na opinião pública a necessidade de aumentar ainda mais a intervenção do império no controle completo e único do mercado internacional.

É a economia estúpido!”, que poderia agora ser adaptado por qualquer coisa como “a economia é só para estúpidos”, ou “os estúpidos são os economistas”, ou até “estúpidos são os que acreditam nos economistas”; pelo menos, nestes…

19 de Setembro de 2008
Alf.

12 setembro 2008


CRÓNICAS MOÇAMBIQUE 4: Batiks…

Quase na partida deste País que ora conheci, apenas algumas imagens, algumas terras, pouco porventura, para além de Maputo, Inhambane, Tofo, Bilene, Manhiça, Xai-Xai, enfim o que foi possível. Quisera ter visto mais de perto como vivem as pessoas, um aspecto que fica nos relatos dos amigos, nas conversas de rua, nos cafés, nos hotéis. Da janela do 4º andar do Girassol me despeço do azul do mar, hoje com mais ondulação, alguns barcos, uma vista magnifica, complementada com o verde da vegetação, as cores dos edifícios, o recorte das ruas. As arrumações, o fecho das malas (um pavor…), as últimas notas, as mensagens, aquela sensação que falta sempre qualquer coisa, que vai esquecer isto ou aquilo. O importante agora é mesmo partir, já que tem que ser e chegar o mais rápido possível ao destino, a casa, a família, os amigos, as rotinas habituais que também fazem alguma falta, diga-se de passagem.

Estamos fora de Portugal desde finais de Julho, as emoções em Angola e aqui em Moçambique foram sempre muito fortes, as expectativas foram de facto superadas, existe uma certa curiosidade sobre a nossa prestação em África, iremos tentar que as respostas sejam o mais possível próximas do que se espera. O contributo que uma organização da sociedade civil, com algumas características que as pessoas consideram especiais (sem qualquer receio do termo…), pode significar irá a partir de agora ser testado em situações concretas, nos 2 Países, enquanto se analisa, com o pormenor necessário, as questões ligadas à organização local, que assumirá em cada um dos países, formatos adequados.

Batiks para levar; o termo, muito vulgar em Moçambique, designa uma técnica de panos pintados; a exploração artesanal introduz uma industria local de algum significado, há artistas que produzem panos de belíssimo efeito visual; de dimensões variadas, podem apresentar variadas formas, conforme a origem, o mais usual tem formato de rectângulo, medindo à volta de 65 X 25 cm, a pintura é feita em altura; há ainda batiks maiores, podendo assumir 1,35 m de largura e cerca de 85 cm de altura. Nos panos são pintados motivos tradicionais, com a ida à agua, os trabalhos da mulher (muitos), a pesca, etc… ; a pintura é coberta com cera, conferindo alguma consistência ao pano, tornando-o mais pesado, à semelhança de uma tela. A imagem de uma feira de Batiks (foto), os panos esvoaçando ao vento é simplesmente espectacular, o colorido é fantástico, há para a todos os gostos, todas as cores… Os desenhos são feitos com cera quente e coloridos com tinta; a técnica batik consiste no tingimento após a impermeabilização de partes da tela, que pode ser em algodão, seda pura ou mesmo couro; as áreas recobertas com cera ficam impermeabilizadas e é com ajuda da cera e banhos sucessivos de tinta que se obtém a sobreposição dos diversos tons.

Apetece então dizer “vou-me embora, vou partir mas tenho esperança /de correr o mundo inteiro, quero ir…”, todas as partidas custam um pouco, fica a certeza de voltar, sempre…


Maputo, 11 de Setembro 2008
Alf.

08 setembro 2008





CRÓNICAS MOÇAMBIQUE 3:
A Engenharia no Combate à Pobreza

Os engenheiros em Congresso apostam no combate à pobreza. É uma imagem significativa, naquilo que poderá ser um desafio (quiçá uma miragem). Fala-se no papel dos técnicos de engenharia, na sua possível contribuição, com engenho, através de soluções de baixo custo que possam contribuir para a autonomia das populações. Ao lado dos grandes empreendimentos, que geram quase sempre mais desequilíbrios, mais injustiças, menos inclusão. Defendemos o chamado empreendedorismo social, no fundo a capacitação das pessoas para criarem o seu próprio emprego, com uma componente social de intervenção e uma resposta organizada e eficiente a necessidades sociais e de gestão inovadora das organizações sociais. Acrescentamos a proposta de que o empreendedor social defina como prioridade a missão social, ou seja, a defesa de um princípio assente na cooperação entre empresas e organizações não lucrativas em torno da experimentação de projectos inovadores. Enfim, salientamos o modelo voluntário de participação e co-responsabilização dos empreendedores sociais, não motivado apenas pela obtenção de lucro, colocando a tónica na prestação de serviços que podem propiciar bens palpáveis, proporcionando ganhos sociais para a comunidade.

Notamos com satisfação uma enorme adesão às nossas propostas, balizadas em medidas concretas de apoio à formação de empreendedores sociais, na implementação de um trabalho em rede, no apoio à descoberta de soluções de micro-crédito, na intermediação com o Estado e com outras organizações da sociedade civil. Sabemos que passamos uma mensagem que poderá ser alternativa, desde que sejamos capazes de pôr em prática o que defendemos; a educação para o desenvolvimento deverá fazer a diferença face ao discurso economicista, que dá os resultados que conhecemos. Algumas abordagens inovadoras completam o cenário de um Congresso que valeu a pena, pese ainda o facto de a participação africana ser ainda ténue; trabalhos de investigação que começam a fornecer indicadores significativos, mostram que a cooperação internacional pode desempenhar um papel decisivo nas mudanças que se pretendem; competirá agora aos poderes governamentais fazer a interpretação correcta, esperamos para ver.

A nossa “estreia” em Moçambique não podia ser melhor, todavia é apenas um sinal, impõe-se agora a sistematização dos dados, muito trabalho pela frente a partir de agora, vale claramente a pena.
Maputo, 5 de Setembro 2008
Alf.


The last square


“…They had taken up position for this final action, some on the heights of Rossomme, others on the plain of Mont-Saint-Jean. There, abandoned, vanquished, terrible, those gloomy squares endured their death-throes in formidable fashion. Ulm, Wagram, Jena, Friedland, died with them
Victor Hugo, “The Last Square” (Les Miserables-Chapter XIV)
Fui à praça numa pressa
(numa pressa relativa)
e mesmo assim impositiva
dei de caras com um canil
e mais um disco vinil
achei tudo muito vago
e num instante me acabo
de estender numa latrina
mas que chatice Laurentina
Foi assim que comecei
mais um dia, aqui d’ el rei,
a mufla estava partida
e eu a deitar contas à vida
pediram-me cem mil reis
por um punhado de papeis
desencantei um anzol,
tropecei num Nissan Patrol
E descubro uma notícia
(escrita com alguma malícia)
O Papa perdeu-se e, cheio de medo
foi parar à rua do putedo
era a Vanessa, mais a Clarisse
e foi esta mesmo que disse
“oh filho que estás tão pálido
Vem comigo e tira o hábito”
E de repente, aconteceu
caiu nele e ficou ateu…

Lindo serviço, esta praça,
mas o que é que aqui se passa?
Está tudo numa grande calma
à espera do Jorge Palma
e eu, etcetera e tal
bic laranja, bic cristal
(duas escritas a vossa escolha)
quem anda à chuva é que se molha.
Na praça há um monte de gente
e que fique desde já assente:
no dia em que eu decretar
lá nos iremos encontrar
(poderia ser aqui e agora)
soltar da borda para fora
tomar o barco e partir
e ninguém se ficaria a rir

Lembro-me agora da Rita
penso que nem me despeço dela
salta do lado esquerdo uma cadela
parte a loiça toda em Espinho
e eu já tropeço no caminho…
Volto de novo para a praça
aquilo está uma desgraça!
É que os trabalhadores do comércio
não pagaram ao senhor Décio
armaram cá um chinfim
mas, não foi para isto que eu vim
E só de contar as desgraças
(e de fumar mais umas passas…)
cansa-me tanto, eu garanto
que quase que entro em pranto
não me apetece dormir, não sou capaz de partir
Pensando mais um bocado
ponho o meu fato de lado
uma gravata a rigor
vou mas é para o interior.

Nunca mais volto a esta praça
nem que esteja cheio de massa
é uma feira de vaidades
e mesmo com muitas vontades
não penso que vá mudar…
E, quando tudo isto acabar
já sei para onde me virar:
compro um terreno em cascais
(tenho uma poupança em meticais…)
ponho o resto a render em juros
e entro no mercado de futuros…


Bilene, 7 Setembro 2008

Alf.



CRÓNICAS MOÇAMBIQUE 2: Inhambane


Se das Áfricas posso levar alguma calma, conforto talvez nas paragens sem fim, aqui ficam as praias do Tofo, na costa de Inhambane. Moçambique diferente, acima de Maputo, quase 600 km para Norte. Terras novas para mim encontradas. Finalmente. As praias, o bar Dino´s, o mercado, o sorriso de Anifa; todo o dia sopra uma ventania terrível que vem não se sabe bem de onde, parece ser de todo o lado, por vezes fresco de mais, para mim frio, claro; os dias passam-se entre a praia e o mercado, da casa onde estamos é mais perto ir a pé pela praia, não mais que uns 300 metros. Como não temos Internet, estamos por assim dizer “unplugged” e deixamos assim o portátil em sossego.

A viagem é muito agradável, paramos em Xai-Xai, obrigatória a visita à praia, magnifica por sinal, um bom almoço, não sem uma longa espera; dá para apreciar aquele que poderá vir a ser num futuro breve um ponto turístico de eleição, com imensas possibilidades a explorar. Ficamos a saber que em Manhiça (no caminho para o nosso destino, a 80 km de Maputo), onde há falta de água, se prepara uma importante intervenção com vista a desenvolver o cultivo de trigo. Embora o grupo queira sobretudo descansar um pouco, não descuramos saber o que se passa na sociedade civil e detectamos aqui e além carências e necessidades que poderão ser objecto de trabalho futuro. Quanto a vias comunicação, fica o registo que são boas, estradas aceitáveis, sinalização mínima e algum controle policial que dá, por assim dizer, uma confortável segurança.

No horizonte está o Congresso de 1 a 4 de Setembro, onde temos 3 comunicações a ultimar, nos intervalos já se pensa nisso, falta pouco tempo, a responsabilidade é muita e, embora sem stress, vamos cumprindo as nossas metas.

Tofo, 30 de Agosto 2008
Alf.

03 setembro 2008


CRÓNICAS MOÇAMBIQUE 1: Maputo


A chegada a Maputo a 20 de Agosto, um atribulado dia, após algumas confusões em Joanesburgo, (ficam decerto como complemento de viagem), há sempre algo de novo num País desconhecido. Alojado principescamente em casa do César, amigo novo, parceiro novo, anfitrião inexcedível, uma família encantadora. Do 29º andar, frente ao mar, avista-se a cidade em toda a sua extensão, uma delícia para a vista; à varanda, no fim da tarde, curte-se a cidade do alto, bebe-se um copo, apreende-se devagar a geometria das ruas e projectam-se passeios a pé. Até Sábado, dia de mudança para o Girassol Bahia Hotel, esperando o grupo que chega de Portugal. Comer bem e beber melhor, 3 dias de relaxe, pondo em dia conversas adiadas, falar dos amigos de longa data, reviver outros tempos.


Para quem passou quase 1 mês em Angola, a primeira sensação é a da limpeza das ruas; não existe aqui a pressão demográfica de Luanda, em contrapartida um assédio constante e premente dos vendedores de rua; num passeio de Sábado a pé pelas ruas é vê-los com panos, telas, cestos, bugigangas, artigos feitos à mão; na 24 de Julho, grande avenida de referência na capital, ao pé do Shopping Polana, é um rodopio constante e envolvente; refugio-me numa belíssima esplanada, mesmo assim abordado de longe, não faz mal, este dia não é para comprar nada, intervalo. Passeia-se pela baixa, sempre a pé, para sentir a cidade, fala-se com as pessoas, simpáticas sempre, uma indicação aqui outra acolá, acabamos por descobrir o que queremos, a avenida Lenine, a 25 de Setembro (data do Dia das Forças Armadas , feriado nacional em Moçambique ). No Domingo, já com o grupo completo, visitamos no Centro Cultural Franco-Moçambicano, uma belíssima exposição, passamos na Casa de Ferro, desenhada como casa do Governador, por Gustave Eiffel no final do século XIX, pela Estação Central dos Caminhos de Ferro, edifício também desenhado por Eiffel no início do século XX; acrescento ainda o belíssimo edifício do Instituto de Meteorologia e a Igreja de Sto. António da Polana; o mercado da baixa é uma delicia, fazemos compras para o jantar, camarões claro, que iria ser o prato forte, com muito jindungo (aqui é piri-piri, atenção!), acompanhado por bom vinho português.

Duas excelente reuniões de trabalho, no Ministério da Ciência e Tecnologia e na Faculdade de Engenharia, servem de ponto de partida para o nosso trabalho por cá, muita receptividade e boas perspectivas futuras; consolida-se a nossa presença em Moçambique, o nosso representante desmultiplica-se em proporcionar encontros e contactos interessantes.

Desenha-se a hipótese de uma viagem a Inhambane, a meio da semana próxima. Começa a preparar-se a partida, não sem equacionar todas as demarches necessárias, o alojamento, o aluguer da viatura, enfim aquela ânsia característica, quando não sabemos bem o que teremos pela frente, o mar que nos espera, tão perto e tão longe, são mais de 500 km para o Norte, como será o percurso, viemos de tão longe, onde nos vamos encontrar…

Maputo, 24 de Agosto 2008
Alf.

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