30 janeiro 2016
Devíamos estar a falar de coisas mais importantes…
Como por exemplo. De saber
como podemos aumentar a produção nacional. De como poderemos aproveitar melhor
os recursos nacionais. De como poderemos melhor distribuir a riqueza que
produzimos. De como equilibrar os rendimentos, erradicando de vez a pobreza. De
como devemos melhorar o ensino público. De como deveremos oferecer melhores cuidados
de saúde a população. De como trabalhar menos e produzir mais e melhor. De como
preencher o lazer, porque a ele temos direito. Não, o que discute é o
famigerado Orçamento de Estado 2016. Reformulo, porque nem 0,1% da população
está interessado nisto, o que nos querem fazer discutir. A comunicação social
predadora faz deste tema um alarido permanente. Como nunca se viu. Quem se
lembra de discutir o Orçamento de Estado? “Fruto
de uma cultura obesa e que fabrica a conformidade e o consenso”[1],
como bem diz A. Guerreiro, o séquito voraz de comentadores, analistas e painelistas
atira-se ao Governo como nunca havia feito aos anteriores, fazendo passar a mensagem
que a Comissão Europeia “chumba” o Orçamento. A histeria é de tal ordem que
chega ao cúmulo de albergar frases como “Costa
sob fogo, Bruxelas pressiona”, “Comissão
chumba Orçamento”, “Governo apertado
entre Bruxelas e PCP”, numa clara intenção de reinventar a malfadada
inevitabilidade. A histeria desta comunicação social é a pedra de toque cavada
pela Direita. Desta vez é o Orçamento, como antes foi a tese da fragilidade dos
acordos. Bafejados pelos favores da Direita, que deles por sua vez se alimenta,
escrevem e postulam com a arrogância que os define. O objectivo é sempre o
mesmo. Criar um clima de suspeição permanente na opinião pública, que mais cedo
ou mais tarde, estará disposta a atirar a primeira pedra a um Governo que
tenta, contra a corrente, devolver ao Povo o que lhe foi roubado. Curiosamente,
parece que as pessoas já se terão “esquecido” das malfeitorias a que foram
sujeitas, às vezes a memória é curta…
Proust disse, “A sabedoria não se transmite, é preciso que
nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e
que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas”[2]. Ser
sabedor implica, nos momentos difíceis, ser capaz de pensar do lado discreto
das coisas. Não fazer ondas desnecessárias, descobrir nesta caminhada a melhor
forma de levar às pessoas a mensagem certa no momento oportuno. Este será
porventura o momento de o Governo se aproximar daqueles que renegam a política,
porque se afastaram pura e simplesmente das decisões. Ou porque delas foram
afastados.
Os acordos celebrados
pelas Esquerdas são em muitos anos um sinal de mudança. Há quem não queira
mudança alguma. Ou porque não lhe convém, ou porque lhe convém manter os seus privilégios.
Haverá porventura uma última razão, que tem a ver com a circunstância de não
acreditar em nada, porque já perdeu a esperança. Tão simples quanto isto. Pela primeira
vez existe uma maioria parlamentar que pode virar a página. No nosso País há
tanta coisa para fazer, que alimentar as querelas dos que não aceitam que é
possível, é simplesmente perder tempo. Faz bem pois o Governo que tem mantido
uma atitude de recato aconselhável perante as investidas antipatrióticas dos
que desejam de facto o regresso ao passado.
Quem fala dos benefícios
sociais até agora revertidos? Quem se preocupa com as camadas desfavorecidas da
população, marginalizadas durante os últimos anos? Que fala, por exemplo, de felicidade?
Quem quer que ainda tenhamos medo?
Já agora, lembro
David Bowie, quando dizia,“Viver com medo
é a manifestação da miséria mais profunda”.
[1]
António Guerreiro, “Escritora, Princesa do Espírito”, Público/Iplison, 29 Jan
2016
[2]
Marcel Proust, in “Em Busca do Tempo Perdido- Do Lado de Swann”.
22 janeiro 2016
O QUE FAZ FALTA…
“O que faz falta é dar poder à malta…”
Zeca Afonso
Tanta
coisa que faz falta. Faz falta tanta coisa que não cabe em poucas palavras. No
último dia nunca poderíamos inventariar o que na realidade faz falta. Temos
agora alguma consciência do que faz falta, quando finalmente o País acorda de
uma longa noite de 4 anos. De trevas e de silêncio. Também de uma certa
impunidade que revolta.
“Quando nunca a noite foi dormida/O que faz
falta…”. Acordar, pelo menos e sacudir o medo. Erradicá-lo seria o termo
para definir melhor.
“Quando nunca a infância teve infância/O que
faz falta…”. Lembrar “os filhos dos homens que nunca foram
meninos” [1], triste sina de quem não se
pode dar ao luxo de ter infância, porque os pais estão desempregados e não há
dinheiro em casa.
“Quando um homem dorme na valeta/O que faz
falta…”. E cada vez eram mais e mais, nas valetas de um País perdido na
desgraça do “ajustamento”. Mais ou menos 2 milhões, é verdade.
“O que faz falta é avisar a malta/O que faz
falta é agitar a malta”. Agitamos durante 2 semanas a fio, de Norte a Sul
de um País agora mais avisado, um “tempo novo” que anuncia um futuro melhor.
“Quando dizem que isto é tudo treta/O que faz
falta…”. Pois não foi assim que começou esta campanha, que mais pareceu um
estender de passadeira vermelha ao candidato da Direita? Treta, está tudo
resolvido, ganha ele, mais que certo. E agora que a campanha chega ao fim,
afinal até as próprias sondagens reconhecem que nada está garantido…
“O que faz falta…”. Faz falta por exemplo, um
Presidente que corte com o terrível passado de 10 anos que envergonha o País.
Faz falta defender causas. E princípios, que unam os portugueses e que
signifiquem um compromisso para o futuro. Um Presidente CAPAZ, um Presidente
cidadão, próximo das pessoas e do País que quer representar. Um Presidente que
orgulhe o seu País. Um Presidente que seja a cara da mudança.
Esse
Presidente tem nome: ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA!
[1]
Dedicatória final da obra “Esteiros” (1941), de Soeiro
Pereira Gomes, Edições Avante!, Lisboa 2009
18 janeiro 2016
ESTA SEMANA É DE VEZ!
“Não
é fácil ter paciência
diante
dos que têm excesso de paciência”
Carlos Drummond de Andrade
Por todo lado em que se fale das Presidenciais
um pormenor fica para a história. O papel da comunicação social. Não somente o
da estação televisiva que ajudou a promover, a fabricar, um homem presidencial
e que o catapultou para os píncaros da fama etérea. Não somente. Mas também o
da grande maioria da comunicação social, ouvida e falada, escrita e vista, com
um enorme séquito de comentadores, painelistas e politólogos, que se
desmultiplicaram, opinando sempre para o mesmo lado, sempre da mesma forma,
utilizando duvidosos critérios de análise, conseguindo milagrosamente chegar
sempre a mesma conclusão: havia um candidato, era uma pessoa conhecida, muito
popular, muito bem informada, muito rodada nos labirintos do poder
estabelecido, muito cordata, muito sensata, muito culta, muito sabedora, muito
muito e sempre muito, enfim. Porém ter-lhe-á caído a máscara no debate com
Sampaio da Nóvoa, que bem o encostou às cordas. Deixando a sua postura
sorridente e beatífica, concorda com tudo e o seu contrário, apoia e
cumprimenta todas e todos, a democracia, os partidos e os sem partido, os
pobres e os ricos, os trabalhadores e os empresários, as empresas e os bancos,
os famintos e os gulosos, os preguiçosos e os laboriosos, tudo o que mexe e o
que está parado. A civilização moderna tem o privilégio de ter um homem assim,
acima de tudo e de todos, pairando no aquário da TV, olhando para o Povo com a
mística do educador e do pai presente e ausente. Sempre ao mesmo tempo.
Uma campanha barata. A mais terrível das
mistificações, a mais despudorada postura de arrogância, o maior desprezo pelos
portugueses. Damos umas passeatas pelo País, alinhamos numas “comezainas”,
entramos em meia dúzia de cafés, somos eu, a estrela da televisão transformada
à pressa em candidato. Assim é o marketing político, lançamos um produto,
criamos a necessidade, está tudo feito. Vendemos a eterna ilusão de que está
tudo bem, que o “tudo bem” serve mesmo para tudo, para a Direita, para a
Esquerda, isso mesmo, o politicamente correcto levado ao absurdo extremo, o
deus e o diabo na mesma pessoa, tudo é mesmo possível, desde que se faça um
fotogénico sorriso, um pode e não pode, tudo fica na mesma, por milagre, como
uma varinha de condão constantemente brandida na cabeça do pobre cidadão, ele
até é boa pessoa, simpático, bondoso, etc, etc…
Sondagens para o gosto de quem as fabrica, de
uma forma profissional e meticulosa. Apontando sempre na mesma direcção.
Atenção, esta maioria durará até quando? Não pode durar sempre e por isso se
torna necessário prever o que irá acontecer se houver desentendimento, se o
acordo, ou acordos, se quebrarem, é preciso saber o que fará, que decisão
tomará, dissolve ou não dissolve, nomeia ou não nomeia, apoia ou não
apoia? A uma senhora perguntaram até
quanto tempo previa que este governo se iria manter, ainda antes de ele tomar
posse (…). Assim se faz Portugal.
Mais uma semana. Só faltam 5 dias para o final.
Vale a pena o esforço para derrotar o mito, nesta primeira volta. Que muitos
dão como já resolvida, há muito tempo. O que é certo é que as expectativas que
mais certas parecem, podem sair furadas. Queremos que lhes saiam furadas. Nada
está resolvido, tudo pode ser possível. Arrastar a decisão destas eleições para
uma segunda volta é trabalho de todas e todos aqueles que acreditam de facto na
Democracia, na Liberdade. E também que a mudança é possível, neste tempo dito
novo, imagem bela e de esperança. Mas também da certeza que temos em acreditar
no País e nas pessoas.
13 janeiro 2016
A ESQUERDA DA DIREITA?
“A vocação de um político de carreira é
fazer de cada solução um problema.)”,
Woody Allen
1. Conhecíamos o centro-esquerda, o
centro-direita, a extrema-esquerda, a extrema-direita (salvo seja!), enfim, o
centrão. Agora ficamos a conhecer, pela mão extremosa de Marcelo, a “A Esquerda da Direita”. Uma espécie de
invenção livre, entre muitas outras do candidato, que parece queres livrar-se
da Direita. Contudo sabemos que não quer de facto, nem tal coisa lhe passaria
pela cabeça. Apenas uma diversão, mais uma, nesta espécie de campanha, que
decidiu levar a cabo, para seu deleite pessoal, tendo em linha de conta que
outras e outros já fizeram o caminho por si. Que é o de o tentar levar ao colo
para Belém, no mais profundo desprezo pela Democracia de que há memória, após o
25 de Abril de 74.
2. Esta poderá ser mais uma tentativa de
mascarar a diferença profunda entre Esquerda e Direita, um exercício já antigo
e que vai ganhando algum espaço, precisamente graças aos esforços da Direita.
Assim mesmo. O que acontece é que, devido precisamente a uma conjuntura de
confronto ideológico, cavado por uma Direita impiedosa e implacável, nas
últimas décadas, cada vez faz mais sentido na actualidade a diferença entre
Esquerda e Direita. Há um “simples” pormenor distintivo, nos tempos que correm,
temática abordada por Isaiah Berlin [1], e que concerne ao conceito de liberdade.
Segundo este autor, existem dois tipos de liberdade, a positiva (“livre para”) e a negativa (“livre de”). Muito embora esta dualidade possa
ter algum sentido, não é porém suficiente, apenas indicativa da orientação de
liberdade, negativa para a Direita e de liberdade positiva para a Esquerda. A
melhor e mais significativa distinção entre Esquerda e Direita estará
propriamente nos conceitos “autonomia” e “dominação”. Defendemos portanto,
autonomia, a Direita prefere, sem qualquer dúvida, dominação.
3. Será Marcelo um libertário de
direita? A classificação poderia até fazer algum sentido, se aquele
considerasse porventura o Estado como uma máquina opressora, para indivíduos e
instituições. Mas não parece ser esta a orientação do candidato, a avaliar
pelas suas concordâncias constantes com políticas dos partidos de direita,
expressa em posições públicas conhecidas.
4. A expressão “A Esquerda da Direita” assimila
bem a tese de Groucho Marx, “Estes
são os meus princípios. Se vocês não gostarem deles, bom, eu tenho outros".
E assim se esvazia a dita tese, que só se entende como mais um dislate do
candidato a quem parece que tudo é permitido.
5. E já agora, Marcelo onde estavas no
25 de Abril de 1974?
[1] Berlin, I. (1958) “Two
Concepts of Liberty”
12 janeiro 2016
A MUDANÇA
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades”
Luiz Vaz Camões
1. Propalada por muitos, abjurada por alguns, assume um enorme impacto nos tempos que correm. E há quem a considere uma marca (ou mesmo, a marca) da actualidade. A mudança. Temida por uns, desejada por outros. Temida, porque irá decerto tocar em privilégios, colocar em causa posturas adquiridas e cargos ocupados. Desejada, defendida, por todos aqueles que consideram que pode determinar as necessárias transformações. Na vida e na sociedade. No emprego e no trabalho. Nas escolas e nas universidades. Um pouco por todo o lado, a mudança que se sente e se pressente é algo que, embora difícil de definir, já vai assumindo contornos assinaláveis. Contudo a mudança vai sendo construída, com mais ou menos percalços, ganhando forma e sentido, com sinais exteriores e interiores, tomando então “as novas qualidades” e algum sentido objectivo. A mudança implica ainda contornos subjectivos, assim como a atitude diferenciada perante situações semelhantes. Mesmo que seja, nas palavras de Ruy Belo, “…fatal até para a face mudada”.
2. Nos últimos dias assiste-se a uma preocupação sistemática, orquestrada como
sempre por uma comunicação social voraz, que tenta projectar receios e temores
face a mudanças pontuais na legislação entretanto produzida. O caso do ensino,
com as alterações no sistema de avaliação dos alunos. O caso do trabalho, com a
reintrodução de alguns feriados. O caso do emprego, com um ligeiro aumento do
salário mínimo nacional. Habituada a um imobilismo sistemático, desde os primórdios
da Revolução de Abril, a sociedade civil viveu de certa forma adormecida pelas
promessas de uma Europa adiada, assistindo sempre com suavidade e brandura à progressiva
tomada do aparelho de Estado por arrivistas de baixo perfil e “aventureiros” de
recorte definido. Que acabaram, com a sua acção perniciosa, por desprestigiar
as instituições e a República. E objectivamente minar a confiança nos
representantes do Povo e com isso, a Democracia. E como nestas coisas normalmente
se toma o todo pela parte, acabou por se reduzir a chamada classe política a
meia dúzia de senhoras e senhores pouco ou mesmo nada recomendáveis. Particular
e especial relevo para a personagem Cavaco Silva, agora perto da retirada
definitiva (assim se espera…), que nos governos que chefiou e na Presidência
que ocupou, significou sempre e em todas as circunstâncias, o retrocesso, o
imobilismo, o conformismo. E a inevitabilidade também. Consequentemente pois, a
resistência a mudança. Lembramos ainda o “deixem-nos
trabalhar…”, quando confrontado, o alerta contra “…as forças de bloqueio”, quando sujeito ao contraditório.
3. O “tempo novo” que ora vivemos é um tempo de mudança. Desde logo pela circunstância
da recuperação para o possibilidade de governação de formações partidárias que
se tinham afastado e foram afastadas do exercício do poder político. Mas ainda
pelo facto de se ter devolvido a esperança às portuguesas e aos portugueses. O tempo
de mudança de paradigma e de atitude. A resistência a esta mudança pode
constituir um “acto natural” daquela parte da sociedade que detém o poder
financeiro e económico. Da parte a quem foram concedidas todas as benesses e
que ainda detém privilégios. Afinal os mesmos que foram responsáveis pela destruição
do sistema produtivo do País. Natural será assim a sua atitude retrópica,
aquela que evoca um passado recente, aquele que precisamente recusa a Utopia como
bem explicou aos seus pares um lídimo representante da Direita conservadora[1].
4. Defende-se então a mudança em toda a linha. Será sim natural mudar quando
as condições assim o exigem. Quando a sociedade se defende dos ataques aos
direitos dos seus concidadãos e a credibilidade das suas instituições. Afinal,
assistimos agora a uma mudança que consubstancia a expectativa das pessoas. Querer,
como faz agora parte da comunicação social, prever uma ruptura breve na actual
conjuntura, é uma ofensa grave a Democracia. E assume uma posição de querer que
tudo volte atrás, nem que seja pela insistência forçada.
5. Outrora, as mudanças caracterizavam-se pela lentidão. De processos e de condições.
Nos tempos que correm, onde as tecnologias desempenham um papel decisivo, há um
parâmetro que se sobrepõe a todos os outros: a velocidade. Então, a mudança
começa a ganhar velocidade, graças as condições e facilidades conseguidas pelos
agentes de informação, até ao ponto de a própria informação poder ser considerada
obsoleta, em função da sua eventual descaracterização. É a sociedade do conhecimento
na forma indelével do aperfeiçoamento constante de produtos e serviços e do aprofundamento
do saber.
6. A velocidade da mudança implica uma mudança de velocidade, jogo de palavras
que ganha todo o sentido na Campanha em que nos envolvemos. Para que tudo seja
diferente. Para mostrar as pessoas a importância de eleger o nosso Candidato. Esta
“corrida” já começou e, sabendo da importância da velocidade, não queremos
ficar para trás, nem permitir que alguém fique para trás. Assim se faz esta
luta, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…”
11 janeiro 2016
“NÃO VALE A PENA TAPAR O SOL COM A PENEIRA"
“A luta do homem pelo poder
é a luta da memória contra o esquecimento”
Milan Kundera
Indiferente às
invectivas de Belém, Sampaio da Nóvoa responde com a serenidade e a competência
que já se lhe conhecem. Muito embora Belém traga argumentos estudados sobre uma
data de questões laterais, não consegue disfarçar o tremendo incómodo que
provocou no Partido Socialista, quando decide avançar com a sua candidatura. E
de facto é aqui que reside a questão central: Belém lança a candidatura no
momento em que Costa concretiza os acordos que haveriam de consubstanciar o
novo Governo, uma espécie de revanchismo atrasado e afinal inconsequente. Belém
personifica uma posição divisionista e sectária dentro do seu partido e coloca
o Secretário-Geral na posição ingrata em que hoje se encontra, muito embora
seja voz comum o seu apoio pessoal a candidatura de Nóvoa.
Interpretamos constantemente
o discurso de Nóvoa, com a esperança que pretende deixar passar, no “tempo
novo” que se vai construindo, deixando para trás o desânimo, a pobreza e as
trevas. Uma nova utopia? Bem pode dizer-se agora que sim, que parece visar a
sociedade livre, de indivíduos livres de que Thomas More falava na sua obra[[1]]. É um discurso novo, sem qualquer dúvida e por
muito que a comunicação social nos queira vender o candidato da Direita, a
palavra e a escrita serão a nossa marca de liberdade e de dignidade.
Enquanto Belém
se sente confortável ao convidar presidentes ou chefes de
estado estrangeiros a almoçar em lares de idosos, um autêntico fait-divers para quem anda nas andanças presidenciais
preocupada mais em chamar a atenção do que propriamente tomar atenção às
pessoas, Nóvoa aproxima-se das pessoas e conquista a sua atenção. A melhor
prova da falta de atenção da agora candidata terá sido a sua “distracção”
aquando de iniciativas parlamentares destinadas a pedir a fiscalização de actos
do anterior governo.
Mal ficaria por
certo Belém se fosse contar espingardas dentro do seu próprio partido, tal é a
torrente de figuras, mediáticas mas não só, que em todo o País apoiam Sampaio
da Nóvoa. Vai invocando os 3 nomes[2], deveras respeitáveis por sinal, e pouco mais
que isso, uma vez que a sua candidatura é de divisão e não de união. Sinal que
baste neste momento e portanto como bem disse Nóvoa durante o debate, “não vale a pena tapar o sol com a peneira"…
08 janeiro 2016
TUDO E O SEU CONTRÁRIO
“Antes
de mudar de ideia,
certifique-se
primeiro de que já tem uma..)”,
Albert Brie
1. O debate entre Nóvoa e Marcelo mostrou ao País o que é e que não é um
verdadeiro estadista. Ou mesmo, um autêntico candidato presidencial. Marcelo sai
do armário e mostra ao país a verdadeira face, colérico, irritado e
intolerante, um homem que acossado, se revelou afinal bastante previsível. Resulta
pois confrontá-lo, quanto mais não seja, com ele mesmo, receita que Nóvoa
aplicou com sucesso assinalável. Confrontado assim com as suas proporias
contradições, descontrolou-se, perdeu o equilíbrio, meticulosamente cuidado
durante anos e anos na TV, que bem poderia apelidar-se de TV Marcelo[1].
O homem pensava que eram favas contadas, protegido pelos barões de uma
comunicação social amestrada e orquestrada, pelos patrões das empresas de
sondagem (vota Marcelo ou vota noutro…?), pelos colegas comentadores,
painelistas, politólogos e outros associados, dos jornais, das rádios e das TV.
Como bem afirma Pedro Reis[2], “O deputado e líder do PSD tornou-se num
heterónimo candidato independente, que nada tem a ver com os partidos. O homem
que participou nas campanhas eleitorais de Passos Coelho e Paulo Portas, passou
a um ser um heterónimo virgem nestas andanças”.
Este debate deveria ter ocorrido em canal aberto. Desta forma, as
portuguesas e os portugueses poderiam ter visto a verdadeira face de Marcelo, o
homem que surgiu das profundezas do aquário da TVi, águas mornas de refúgio e
recato, longe do tal povo que agora lhe surge tantas vezes na boca, mas que não
enquadrada lá muito bem com a sua imagem de vedeta de estúdio. Esse povo teria então visto o homem perder
quase tudo numa noite, ou melhor em apenas uma escassa meia-hora. Na realidade,
perdeu tudo. Perdeu em argumentos, ficando provado (seria mesmo necessário?)
que é capaz de defender tudo e o seu contrário. Perdeu na dimensão de
estadista, não se tendo conseguido descolar devidamente da facção que o apoia e
do cavaco que o chamou para seu conselheiro. Perdeu na verdade dos factos, não
foi ele afinal que votou contar o Serviço Nacional de Saúde, nos primórdios da
Revolução, não foi ele (todos lhe reconhecemos a habilidade…) que criou dezenas
e dezenas de “factos políticos”, que lhe valeram a alcunha de cata-vento
político? Perdeu na pose, na compostura e no decoro, passou as marcas (nem
parecia ele…) da decência “normal” e cordata, tão na linha da habitual imagem
angélica e beatífica.
2. Do outro lado não estava porém uma pessoa qualquer. Sim, esteve um
Português, um homem a quem ninguém pode imputar intriguismo, puro tacticismo,
ou baixa política, na vida pública. Igual a qualquer outro cidadão (“apenas mais um de vós…”), que procura o
melhor para o seu País. Não tem um percurso político-partidário habitual? Tanto
melhor, que pelo menos tal não significa qualquer estigma, com todo o respeito
para quem o possua. Um homem comum, digno da sua palavra e do seu compromisso,
assumido pelo País. Um homem a quem se reconhece o devido mérito pelos lugares
públicos que desempenhou e que honrou com dignidade. Um homem que defende a
Cidadania, que disse ao que vinha no tempo devido. Não é tudo e o seu contrário. É um homem de causas, que podem mobilizar
o País. Um homem que promete “… uma
ampla discussão pública” sobre a Europa e a participação de Portugal no projecto
europeu, que afirma que “É preciso trazer
a vida para dentro da política, com humanidade. É preciso unir uma sociedade
rasgada, juntando os portugueses, as portuguesas, numa luta comum, sem medo de
existir…”. E que diz, com muita clareza, “Só conseguiremos construir um país à altura dos desafios globais do
século XXI se conseguirmos vincular as novas gerações e aproveitar o seu
dinamismo e a sua capacidade de renovação. É também por isso que não podemos
aceitar a emigração da nossa juventude qualificada, da nossa ciência e do nosso
conhecimento”.
3. Que diferença!...
[1] TV
Marcelo, é uma empresa Nacional com 50 anos de experiência no ramo da Assistência
Técnica ao domicilio e especializada em Reparação TV; in: http://tvmarcelo.com/
[2]
https://www.facebook.com/pedro.reis.79230?ref=ts&fref=ts
05 janeiro 2016
Uma VERGONHA!
Não quero contribuir para mais publicidade ao “comentador oficial do regime”. Por isso não publico qualquer imagem, ao contrário das pessoas que, com a maior boa vontade e pensando que isso é bom (…) comentam o jornal Público de dia 4 Janeiro, com as imagens da capa.Uma VERGONHA!
É de facto a maior burla eleitoral de que há memória. Também quero saber o que vai fazer a Comissão Nacional de Eleições.
E o provedor do leitor do jornal em questão.
E o País assiste impávido e sereno a este golpe baixo na ética republicana?
Há que fazer alguma coisa, levantar o País e denunciar esta fraude!
Não pode ser tudo possível em Portugal. Isto é de mais e todos os dias, a toda a hora, em praticamente todos os órgãos de comunicação social, se vende (barata) a tese de que o homem vai ganhar, já ganhou aliás e nem precisa da 2ª volta.
As portuguesas e os portugueses sérios, qualquer que seja a sua filiação político-partidária, não podem ficar indiferentes ao tratamento desigual, que mina a eleição presidencial e enfraquece a Democracia.
Vamos encabeçar um movimento que denuncie esta situação, já basta de MENTIRA e de DESCARAMENTO!
01 janeiro 2016
2016
“Não
habitamos um país, habitamos uma Língua. Uma pátria é isso”
Emil Cioran, 1965
Procuramos sempre captar nos escritos, os sinais e
os símbolos da nossa permanente inquietude e insatisfação, nesta voragem dos
dias, que loucos parecem à vista do observador menos atento. Há outros (diversos)
rascunhos que, por uma ou outra razão, não vêm a luz do dia, e como tal estão
enterrados num qualquer baú, nunca se sabendo se serão recuperados, reciclados ou
simplesmente enviados para a caixinha divinal da reciclagem. Ou seja, lixo.
Poderia lembrar que o último ano de chumbo chamado
2015, acabou por ser, na sua recta final, pejado de surpresas, algumas das
quais com aquela sensação de agrado, que não conhecíamos há muito, muito tempo.
Não escondemos pois a alegria e a esperança de ver o País respirar de novo, após
4 anos completos de imobilismo, da mais vil campanha de descredibilização do
País, da responsabilidade de uma seita, que desrespeitou as mais elementares
regras da democracia, vilipendiou e empobreceu as pessoas, degradou as
instituições e as suas organizações de base, vendeu o País ao desbarato, sempre
com a suprema infâmia de transferir para o capital os rendimentos do trabalho,
já de si mal-amado e mal pago. Foi tudo mau de mais para ser verdade, mas o
facto é que o tal grupo foi avançando, de asneira em asneira maior, da
tentativa ao real, da campanha ideológica mais refinada à mais diabólica
atitude de conservadorismo podre e balofo que nos fez recuar muitas vezes ao
tempo já longo do fascismo mais requentado. Não é possível enumerar todo o mal
que fizeram ao País, vão-se agora sabendo alguns pormenores que, juntos aos
sinais que se adivinhavam, ajudam a construir uma narrativa de miséria e de
terror. Não poderemos esquecer aquela “gente
medíocre que se tornou salvífica pelo serviço que prestaram a interesses particulares
presentes na economia”, assim classificada pelo Pacheco Pereira. Não poderemos
esquecer o que fizeram, por exemplo, nos Estaleiros de Viana do Castelo e na TAP,
apenas dois exemplos de como foi possível desbaratar os dinheiros públicos e
reduzir a cinzas uma e outra empresa, para poderem utilizar o argumento da
putativa falência que teria que ter unicamente uma solução a vista: a sempre
inevitável privatização.
Neste ano que ora começa é em primeiro lugar mais
que necessário destruir o mito dos apelados “superiores interesses nacionais”. O
nosso País tem, como todos os outros, interesses perfeitamente contraditórios,
que não são de forma alguma conciliáveis. Repare-se como a clique que normalmente
ocupa o poder se refere às classes trabalhadoras: greves que põem em causa a
economia, contabilizam-se inclusivamente os “prejuízos” por cada dia de greve (…),
sindicatos controlados pelos comunistas, aumento de salários, como assim (?),
onde se vai buscar o dinheiro, fraca produtividade, pouco tempo útil de
trabalho, entre tantas outras declarações que se repetem até a exaustão,
marteladas devidamente na comunicação social que superiormente controlam, a bem
da nação (…). O reverso da medalha não tem contudo expressão idêntica. Falamos
dos milhares de milhões desbaratados pela banca e alta finança, um sucessivo
multiplicar de situações danosas, quer a nível das aplicações financeiras de
alto risco, sempre em prejuízo do Estado, que na escandalosa situação de
falência dos bancos, acompanhada sempre pela classificação de “resolução”,
escondendo a verdadeira situação de descontrolo sistemático de contas, sempre
na expectativa de que o Estado venha “salvar” a situação, com a injecção de
mais uns milhões, que sempre aparecem milagrosamente, na hora certa e no momento
oportuno.
Este será o mais grave dos sintomas de uma doença
que parece alastrar, acompanhada do remédio mais impuro de que há memória: a
pretensa inevitabilidade, a Europa tem as suas regras, em todos os países é a
mesma coisa, olhem a Grécia e no que deu a rebeldia de um governo irresponsável
e muitas outras atoardas, que infelizmente pegam, é ver algumas pessoas comuns
com o mesmo discurso, vergadas ao peso de uma evidência que para elas já é
adquirida e que não se julgam capazes de desmontar.
A Direita é o que é. O mais requentado argumento do
imobilismo e conformismo foi dado por Paulo Portas aos jotas da autoproclamada Juventude
Popular: "Deixem a utopia aos
revolucionários e ocupem-se da realidade, de melhorar a vida da vossa geração e
servir melhor o vosso país como se faz em qualquer país da Europa ocidental…".
Formatar assim cidadãos, aqueles que um dia serão ministros ou secretários de
estado, é a sua missão. Analisem cada uma e cada um dos que ocuparam aqueles
cargos no defunto governo, estiveram durante 4 anos a frente do País, na mais
clara expressão do que é a mediocridade e a inconsciência social.
Desafios enormes no ano que começa. A nível interno
e também externo. Uma nova atitude, um novo discurso, a esperança sempre
presente. Saber estar no País e no Mundo de forma diferente, uma posição de crítica
sistemática, de defesa de direitos e de afirmação de deveres, na perspetiva da
Cidadania. Na defesa das pessoas e do ambiente. Na exigência de uma Educação de
alta qualidade, na defesa e afirmação da Escola Pública e de um Ensino Superior
em que a investigação científica seja devidamente respeitada e apoiada. Na responsabilização
das instituições, no funcionamento equilibrado do Estado e no compromisso que
este tem para com os cidadãos que pagam os seus impostos e que esperam que aquele
cumpra a sua missão. No questionar permanente da posição que o nosso País detém,
na Europa, na Lusofonia e no Mundo, uma língua falada por 244 milhões de
pessoas, uma riqueza incomparável e sempre mal aproveitada. Acima de tudo, o
País tem uma dívida imensa sobre os jovens, meio milhão escorraçado pelo
governo mais vil da República, desrespeito pela sua condição de futuro do País.
E finalmente, a dívida incomensurável sobre os idosos, a quem o mesmo governo retirou
direitos e colocou na margem da sociedade.
É da responsabilidade de todos nós defender a
solução governativa que foi possível encontrar no consenso das Esquerdas. Nada que
nos deva deslumbrar demasiado. Tudo que nos deve manter atentos e exigentes, tendo
enfim consciência que não é possível mudar tudo de uma vez. Mas sabendo também
que não é com episódios como o da “resolução” da questão Banif que se vai configurando
um futuro diferente. Oferecer mais um banco português, pago com o nosso
dinheiro, a um banco estrangeiro, que o recebe de graça e ainda com um bónus é
de facto um sinal negativo, que mais uma vez fica mal ao Estado e ao Governo.
Trazer as pessoas de volta a nobre arte da
Política será porventura o maior desafio para 2016. Mobilizar o País para votar
nas presidenciais, faltam apenas 3 semanas. Saber que cavaco vai embora não é
suficiente, é preciso muito mais, a saber, colocar na Presidência, uma figura
de prestígio nacional e não um comentador de revista.
Somos pois pela utopia, que supõe conceitos e
ideais de uma sociedade em evolução, sempre para melhor, sempre pela
transformação permanente. Algo (e muito) nos separa daqueles que pensam que a “realidade”
nos impõe a inevitabilidade. A luta continua portanto em 2016!