28 junho 2020

ISTO É INACEITÁVEL EM QUALQUER SOCIEDADE DECENTE!



A notícia é do Jornal de Notícias de hoje, 28 de Junho, e tem como título, “Gestores ganham 30 vezes mais do que trabalhadores
Diz que os “Salários dos CEO das 18 empresas cotadas aumentaram 20% face a 2019. Diferença é maior na dona do Pingo Doce.”
E continua:
·      Há cada vez uma maior distância entre a remuneração dos presidentes executivos das maiores empresas cotadas e a dos trabalhadores. Em 2019, os CEO das empresas do índice PSI-20 passaram a ganhar quase 30 vezes mais do que a média do salário dos colaboradores. No ano anterior, ganhavam 25 vezes mais.Em média, cada CEO ganhou 916 mil euros em 2019, uma subida de 20% face ao ano anterior. Já o salário médio dos trabalhadores ficou-se pelos 29 mil euros, uma subida de 1,5% em termos homólogos, segundo os relatórios e contas.
O CEO da Jerónimo Martins é o campeão da diferença salarial. Somando a sua remuneração fixa e variável auferida em empresas do grupo, Pedro Soares dos Santos ganhou 1,8 milhões de euros no ano passado. Corresponde a 167 vezes o salário médio de um trabalhador da retalhista, que se fixou em 10,5 mil euros anuais. O CEO da dona do Pingo Doce teve um aumento de 9% na sua remuneração global enquanto a subida média do salário dos trabalhadores do grupo se ficou pelos 1,9%.
Das 18 empresas que compõem o índice PSI-20, cinco pagam aos seus CEO uma remuneração superior a 50 vezes o salário médio dos seus trabalhadores. Trata-se da Galp, EDP, Semapa, Sonae e CTT.
A lista dos CEO com os salários mais chorudos é encabeçada por António Mexia, presidente executivo da EDP, que auferiu quase 2,17 milhões de euros de remuneração global em 2019. Seguem-se Pedro Soares dos Santos, com 1,76 milhões, Manso Neto, líder da EDP Renováveis, com 1,48 milhões, João Castello Branco, da Semapa, com 1,42 milhões e Carlos Gomes da Silva, da Galp Energia, com 1,39 milhões.”
A notícia coloca a questão, “Quem paga pior?”
·      Quanto às empresas que pagam melhor aos trabalhadores, a campeã é a EDP Renováveis, seguida da REN, da EDP e da Altri. O salário médio nestas empresas pode superar os 40 mil euros anuais. As pior pagadoras são a Jerónimo Martins, a Mota-Engil, Ibersol, a Sonae e os CTT. O salário médio nestas empresas vai dos 10,5 mil euros anuais aos 15,9 mil euros. Alguns gestores a nível mundial tomaram a iniciativa de partilhar o esforço da atual crise, cortando os seus salários. "Esses são gestos bem-vindos, principalmente quando comparados àqueles que se apressaram em cortar custos e receber ajuda do governo sem cortar no topo", defendeu a Bloomberg numa análise. As consultoras já falam em possíveis mudanças na forma como as empresas gerem o talento. Nuno Abreu, diretor da consultora Aon, em Portugal, admite que com a crise "poderá haver uma aproximação entre os salários dos gestores de topo da remuneração média dos trabalhadores". Mas, para já, com trabalhadores em lay-off e alguns a ficar sem emprego, ainda não é visível qualquer mudança no comportamento das empresas.”
Trata-se, no mínimo, de uma questão de respeito pela pessoa humana. 

No momento em que os Objectivos de Desenvolvimento Sustentáveis das Nações Unidas (ODS), falam em uma “... visão comum para a Humanidade, um contrato entre os líderes mundiais e os povos e “uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta”.
Lembro que a chamada AGENDA 2030, é constituída por 17 ODS e foi aprovada em Setembro de 2015 por 193 membros, resultando do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo para criar um novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas.

Vale citar aqui, bem a propósito, o Objectivo 10 - REDUZIR AS DESIGUALDADES:
·      Até 2030, progressivamente alcançar, e manter de forma sustentável, o crescimento do rendimento dos 40% da população mais pobre a um ritmo maior do que o da média nacional.       
·      Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, económica e política de todos, independentemente da idade, género, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição económica ou outra.         
·      Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive através da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito.”
A notícia avança que “...Em média, cada CEO ganhou 916 mil euros em 2019, uma subida de 20% face ao ano anterior. Já o salário médio dos trabalhadores ficou-se pelos 29 mil euros, uma subida de 1,5% em termos homólogos, segundo os relatórios e contas.”
E particulariza, no caso sempre “estimulante” do Pingo Doce (que paga impostos fora do País), que o gestor “Pedro Soares dos Santos ganhou 1,8 milhões de euros no ano passado”. E que tal valor, “...corresponde a 167 vezes o salário médio de um trabalhador da retalhista, que se fixou em 10,5 mil euros anuais. O CEO da dona do Pingo Doce teve um aumento de 9% na sua remuneração global enquanto a subida média do salário dos trabalhadores do grupo se ficou pelos 1,9%.”

Não há mais palavras para descrever injustiças como esta.
Que são aos montes, por esse País adentro. Por esse mundo fora.

QUE FAZER?

19 junho 2020

O NACIONAL PAROLISMO E O FUTEBOL (e, já agora, a EDUCAÇÃO)


Há afirmações que, valendo o que valem, quando proferidas por responsáveis políticos, adquirem uma dimensão particularmente significativa.
É o caso daquela cerimónia ridícula, a propósito da Liga dos Campeões, e da hipótese de aquele evento se vir a realizar em Lisboa.
O que apetece dizer, assim numa primeira impressão, é que “o mundo de cada um é os olhos que tem”, uma espécie de provérbio que o Mestre aplicou ao campo de visão do burro, no Memorial[i].
É o habitual parolismo lusitano, interpretado a alto nível por Sousa, Costa e aquele senhor cinzento que dizem ser ministro da Educação. Mas havia mais, naquela palhaçada.

Quase não se quer acreditar...
Para cúmulo, Costa foi ao ponto de afirmar que a final da Liga dos Campeões em Lisboa, é “um prémio aos profissionais de saúde”. Grande descaramento!
Enquanto isto, em França, o governo vai dar um bónus de 1500 € aos profissionais de saúde e a Alemanha prepara-se para lhes aumentar os vencimentos.
Será que a pandemia afectou o sentido do ridículo?” perguntava hoje, no jornal Público, o deputado Pedro Filipe Soares, enquanto que, no mesmo jornal, em artigo de opinião, a jornalista Susana Peralta, avisava que “a Liga dos Campeões é a educação”.

Mas porquê, senhor?
Porque triste sina, “temos” que ser assim?
Por que carga de água é que aquela cerimónia foi transformada no acontecimento mais importante, pós-pandemia?
E, já agora, porque é que os mais altos dirigentes da Pátria aceitam cair assim no ridículo? Aqui e no resto da (louca) Europa que aposta milhões e milhões no futebol?
A resposta parece simples: face à necessidade emergente de dar nas vistas, de qualquer ângulo, parece valer tudo, na aposta da PROPAGANDA, uma forma de centrar atenção e de tentar lançar o país no “mais do mesmo”.

Porque afinal, o que é preciso,
É tudo voltar ao mesmo, consumir (seja o que for, principalmente o que menos falta faz) e não pensar. E, na verdade, que melhor senão a pura alienação do espectáculo do futebol, mais o convencimento geral que isso é bom para o País e para os portugueses?

Mas não é um risco?
Mesmo que o seja, mesmo que mais ninguém na Europa queira verdadeiramente encher de povo um qualquer estádio de futebol, pelo perigo potencial que acarreta (ainda nesta fase) promover ajuntamentos daquele gênero.
O país pequeno daqueles que se prestaram (e prestam) ao ridículo, parece girar em volta deles, mesmo com um grave prejuízo, quer para a saúde pública, em geral, quer para a saúde mental, em particular.
Voltando ao campo de visão do burro, diríamos que, de tão estreito que lhe baste para a função, assim transportado para os humanos, precisaria de um pouco mais de imaginação: uma pequena luz que ilumina a escuridão e a que se costuma chamar conhecimento.
Mas, infelizmente, tudo isto parece muito pouco provável. 
É bom estarmos avisados...




[i] “Memorial do Convento” (1982), José Saramago, pág. 274

16 junho 2020

A “EXTREMA ADVERSIDADE











Poderíamos estar a falar da situação de cerca de 20% de cidadãos portugueses, que vivem em condições de pobreza, ou fome, ou mesmo miséria.
Poderíamos estar a falar das quase 5 mil e 500 cidadãos que, neste momento, estão a viver na rua, ou em centros de abrigo temporário. Para que se saiba, entre 2014 e 2018, o número de sem-abrigo subiu 157%, em Portugal (números da OCDE).
Poderíamos falar de um número ainda não calculado de cidadãos que perderam o seu emprego, devido à pandemia e ao aproveitamento que algumas grandes empresas fizeram dela.
Poderíamos estar a falar de um número também ainda não contabilizado de portugueses que morrem, por terem frio, em pleno século XXI.
Qualquer dos casos significam, para tanta gente do meu País, uma EXTREMA ADVERSIDADE. Sim, sem aspas.

NÃO!
Estamos a falar da afirmação de um banqueiro, que pelos vistos ganha, qualquer coisa como cerca de 30 mil euros por mês, e que se queixa de “EXTREMA ADVERSIDADE”, para pedir mais dinheiro ao Estado Português.
Que ele “peça” dinheiro, pelo banco dele estar na penúria (está sempre, aliás), não surpreende ninguém. Afinal, ele é responsável pelo prejuízo recorde de 179,11 milhões de euros (último valor conhecido). É ainda responsável (sabe-se agora) por vender um conjunto de activos do banco ao amigo "Rei dos Frangos" com desconto de 11 milhões de euros. E mais deve haver, que (ainda) não sabemos. O que surpreende é a circunstância de, dia a dia, estarem a ser conhecidas novas cláusulas do tal Contrato, que nem a Assembleia da República (AR) conhece...

São estas as “contas certas”?
A grande fala deste governo é a alegoria das contas certas. Por mais que queiram, Costa e Centeno, culpabilizar o governo de ocupação da troika, não se inibem de forma alguma das responsabilidades que têm na venda definitiva ao Lone Star. Assumam o erro e corrijam-no de uma vez!

Raiva ou racionalidade?
Penso que é natural a raiva, ao saber-se que o contrato do Novo Banco (NB) prevê a entrada automática de dinheiro do Estado, se sobrevirem “circunstâncias extremas” (assim escrito ou de outra forma qualquer).
Mas é a racionalidade que ora se impõe.
Não basta que o novo Ministro Leão aconselhe "calma e boa gestão" ao (ir)responsável pelo NB até ao final do ano.
A posição deve ser de imediato preparar as condições para a nacionalização do NB.
Tal significa, desde já, a AR investigar para ROMPER O CONTRATO e NACIONALIZAR O BANCO!




15 junho 2020

A PALAVRA TRAIÇOEIRA

O que valem as palavras?
No entender de Mestre Saramago, “As palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa[i]
O contraponto desta inteligente e sábia imagem, poderá ser encontrado na conhecida alegoria atribuída a um (pouco "abonado") presidente do Brasil[ii] que dizia ter encontrado o País à beira do abismo, “Connosco, vamos dar um passo em frente”.
O certo é que (as palavras) valem o que valem, o seu uso pode ser certeiro ou fatal, passando por degraus intermédios de complexidade.
Há uma que tem sido utilizada por Costa, para simbolizar a transição entre Centeno e Leão. Segundo ele, a política económica e financeira do País, orçamental quiçá, será então de “continuidade” e que a dita transição se faz (assim) de forma natural e sem sobressaltos.
Os “socialistas” modernos não gostam de sobressaltos, lá terão as suas razões. Na verdade, se sobressaltos tiveram existido, porventura não estaríamos agora com uma brutal dívida pública, agravada pela pandemia. Será que uma vez mais à beira do abismo? Cuidado com o passo em frente!
Mesmo partido do pressuposto que os portugueses (dizem) gostam da estabilidade, poderia questionar-se que portugueses afinal gostarão da “estabilidade” de ficarem na rua, sem emprego e sem habitação, sem o mínimo das condições de uma existência condigna, sem expectativa alguma (que conheçam) de ver mudar tal estado? Mas há alguns que gostam. Que gostam que tudo fique na mesma, mesmo que alguma coisa sejam obrigados a mudar, oh aparências.
A outra margem
O problema é saber se queremos atravessar e passar para a outra margem. É o rio que nos oprime ou são as margens que o oprimem a ele?[iii] Retórica à parte, o que Costa pretende mostrar, para não assustar ninguém, é que tudo vai correr bem, mesmo apesar de Centeno ir embora, para o tal “outro ciclo”, que poderá ser uma "ciclovia inclinada", lá para os lados da Rua do Comércio[iv].
A questão é porem algo (para não dizer completamente) diversa. E resume-se a isto: se continuar a mesma política de baixos salários e de falta de investimento público, agora que as condições concretas são bem diferentes de antes, o mais certo mesmo é o passo em frente da alegoria.
Impunha-se uma entrada de leão? Talvez, se coragem houvera para enfrentar o rio e querer passar para o outra margem, onde por exemplo, a aposta firme num tipo de desenvolvimento completamente diferente do que temos e onde se aposta fundamentalmente em duas “verdades” perversas, sendo a primeira aquela que reza que o desenvolvimento tem que ser o mesmo em toda a parte e a segunda que impõe o crescimento infinito, que já se viu onde irá dar.
O desastre?
Sim, o mais provável. Entretanto andaremos (por quanto temo ainda?) entretidos com a miragem dos não-sei-quantos-milhões da União, fazendo contas à laia do que não existe, ansiando (fé?) por melhores dias, com a mesma política de sempre: CONTINUIDADE, palavra traiçoeira, senão mesmo, maldita.
Vale a pena lembrar
Mesmo dando de barato que muito foi conseguido, no primeiro governo de Costa, onde campeava em Centeno, esquisito à primeira vista, tem que dizer-se que tal aconteceu devido sobretudo à enorme pressão da Esquerda Parlamentar e, de alguma forma também, a uma conjuntura internacional algo favorável.
Mas (há sempre um “mas”), nem Costa, nem Centeno queriam alcançar uma outra margem, tal não era aliás “permitido” pelos barqueiros de serviço, em Bruxelas e Estrasburgo. E, nem um nem outro, ousariam sequer fazer algo que desagradasse a quem comanda lá fora, continuando assim “bons alunos”. E nós, olhando o rio...
Um agoiro escusado
Um governo houve, de má memória, neste País, que quis utilizar uma outra alegoria. Chamaram-lhe “evolução na continuidade[v]. Me perdoem se faço injustiça, que os tempos agora são outros, as pessoas são outras, outro ainda é, apesar de tudo, o País que acabou, num belo dia de Abril, de derrubar quem pensava que enganava tudo e todos, com palavras de algodão.
Apenas se mostra um perigo iminente: falar ”às massas” de forma matreira e de sentido duvidoso, nunca dá bom resultado, é a tal teoria que se pode enganar durante algum tempo, mas depois...
Atravessar o rio...
No momento em que estamos a assistir a um aumento significativo do desemprego, urge pensar diferente, olhar para o rio, que entretanto vai crescendo em caudal, e ver (ou simplesmente pensar que) pode haver algo, na outra margem que seja minimamente interessante: onde possa não existir fome, nem miséria, nem desemprego, onde possa existir uma casa para qualquer um, onde os limites da decência não permitam que ninguém fique para trás, nem que se afunde simplesmente no rio, só porque uma qualquer cheia se avizinhe.
Tudo menos continuidade!
Aprender as lições, possivelmente lutar mesmo, em certas situações, contra a corrente, olhar o rio com a coragem necessária e com aquela força que significa por vezes audácia. De fazer diferente. CONTINUIDADE NÃO, OBRIGADO!
E nós, olhando o rio?

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[i] José Saramago, “A Caverna”(2000)
[ii] Artur da Costa e Silva (1899/1969), 27º Presidente do Brasil e 2º do período da Ditadura Militar, governou o Brasil entre 15 de Março de 1967 e 31 de Agosto 1969
[iii] Referência a um pensamento de Bertolt Brecht, “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”
[iv] Rua do Comércio, nº148: a sede do Banco de Portugal, em Lisboa
[v] Expressão utilizada por Marcello Caetano, o “fascista renovador”, Portugal 1969. Dizia-se, ao tempo, que viria uma “Primavera Marcelista

ALERTA GLOBAL!


Aqui lançado no dia (tinha que ser um Domingo?) em que o chefe do tal banco que se diz "novo", vem dizer que quer mais dinheiro, por causa da covid19.
Para além da desfaçatez e pouca vergonha do senhor em questão, esta é porventura uma resposta à "taxa de solidariedade" prevista para a banca em geral.
Mas este ALERTA é essencialmente um aviso à navegação, porque (quem sabe?) o novo centeno não vá já embarcar na puxada do homem e abrir os braços e a mente ao "chamamento", enfim os cofres, prevendo já uma qualquer cativacão, para acudir àquilo.

É preciso dizer que este banco, qual sorvedor automático dos dinheiros públicos, gasta milhões em publicidade, nas rádios, TV, jornais e revistas. Por exemplo, na minha qualidade de ouvinte da TSF, posso testemunhar que de meia em meia hora (no mínimo) há um anúncio sobre produtos, serviços, seguros, do tal banco, um delírio profundo de quem se diz um "apoiante da economia nacional" e detentor da patente "a economia somos todos nós". Se calhar é por causa desta afirmacão balofa e patética, que "eles" acham que todos lhes devemos pagar...
Muita atenção: este lançar o barro à parede não é inocente!
Alguém de direito tem que parar isto. Os Partidos Políticos e os muitos Movimentos Cívicos devem pronunciar-se e propor um cerco sanitário qualquer ao homem e à instituição que ele dirige.
Uma medida URGENTE de SAÚDE PÚBLICA e de SENSATEZ DEMOCRÁTICA!

10 junho 2020

10 DE JUNHO 2020


Ao falar hoje de “Os Lusíadas”, Tolentino apresentou-os como uma viagem. 
Uma viagem pelo mundo, uma viagem interior por nós próprios. Deixou, como imagem mais marcante, aquela a que chamou “...inultrapassável arte de navegação interior que é a poesia".
O Poeta teria escrito uma incomparável história de amor, com um protagonista improvável como o Adamastor. Não é o medo, é o amor da Ninfa. O Velho do Restelo[i] não mereceria o epíteto com que normalmente é premiado, só pelos avisos à “vã cobiça” ou à “glória de mandar”. Só porque diz, “Desta vaidade, a quem chamamos Fama!/Ó fraudulento gosto, que se atiça[ii]
O Velho poderia ter tido, mais tarde decerto, ao astronauta, “Aqui, na Terra, a fome continua/A miséria, o luto, e outra vez a fome/Acendemos cigarros em fogos de napalm/E dizemos amor sem saber o que seja...”[iii], embora esta seja outra história, bem localizada, no tempo e no espaço.

Mas Tolentino diz ainda, utilizando outra imagem bem menos poética, que "Camões desconfinou Portugal", lançando a dúvida sobre a partida das naus e sobre as “dúvidas” auguratórias do Velho. Aceita-se a asserção, enquanto etapa da Viagem, onde cabem todas as cousas, dir-se-ia à época.

E agora também, porque não?
Podemos afirmar (ou confirmar?), com os pés em solo firme, e sem temer as ondas e os maus adamastores (que nem olham para ninfas...), “No jornal, de olhos tensos, soletramos/As vertigens do espaço e maravilhas/Oceanos salgados que circundam/Ilhas mortas de sede, onde não chove.”[iv]

Mesmo sem partilhar da totalidade do aviso (nem tal se afigura necessário), atentemos apenas aqui:
“E, entrando assi a falar-lhe, a tempo e horas, 
A sua falsidade acomodadas,
Lhe diz como eram gentes roubadoras 
Estas que ora de novo são chegadas; 
Que das nações na costa moradoras, 
Correndo a fama veio que roubadas
Foram por estes homens que passavam, 
Que com pactos de paz sempre ancoravam.”[v]

Pronto, estamos avisados!
Mesmo sem fazer de vós “...a prova da riqueza,/E também da pobreza, /e da fome outra vez/E pusemos em ti sei lá bem que desejo/De mais alto que nós, e melhor e mais puro.”



[i] Na realidade a expressão “Velho do Restelo”, nem sequer consta da Obra. O tal velho proferiu o seu discurso na partida de Vasco da Gama para a Índia. A designação poderá ter a ver com o, local onde o Velho terá discursado, ou seja, na antiga praia do Restelo. O nome que Camões lhe dá, é “velho d'aspeito venerando”.
[ii] Luiz Vaz de Camões, “Os Lusíadas”, Canto IV, 95
[iii]  Referência ao Poema Fala Do Velho Do Restelo Ao Astronauta”, de José Saramago, in: MENÉRES, Maria Alberta; CASTRO, E. M. de Melo e (Compiladores). Antologia da poesia portuguesa: 1940-1977. Lisboa: Moraes, 1979. v. 2. p. 377.
[iv] Idem, ibidem
[v] “Os Lusíadas”, Parte I, Est. 78

08 junho 2020

HIPOCRISIA APENAS...


Querer fazer de 1 ou 2 cartazes idiotas, uma cena de pura propaganda, é sinal de simples hipocrisia.
Se tal, e como tal, é aproveitado por meia-dúzia de sujeitos, mais ou menos informados, ainda vá. É a cena do putativo direito de opinião, leio, passo mais ou menos de forma indiferente pelas palavras escritas, fico na mesma, estou habituado.
Outra coisa, completamente diferente, é quando de se trata de Entidades que pretendem manter a sua credibilidade. 
Quando as polícias vêm à praça pública manifestar o seu repúdio por causa de 1 ou 2 cartazes ofensivos da sua integridade, é sinal que não estão a cumprir o seu papel de defesa dos cidadãos.
Quando um membro dirigente da PSP vem dizer que apresentou queixa e que quer identificar os portadores dos tais cartazes, atinge-se o ridículo da coisa.
Nem mais!

Quando as Polícias deviam estar atentas aos movimentos fascistas e nazis que pululam, pelos vistos impunemente, no seu seio. 
Quando as Polícias deviam estar atentas ao comportamento indigno, cobarde e criminoso de muitos dos seus agentes (conhecemos e estamos atentos ao que se passa)
Quando as Polícias deviam estar atentas à formação integral e cidadã dos seus Quadros e Agentes.
Quando finalmente as Polícias deviam dar o exemplo à Sociedade, que deles espera protecção e justiça.

E, por falar nela, e, em abono da verdade, faça-se desde já justiça, aos Agentes que exemplarmente prestaram e prestam o seu serviço público, para as pessoas e pelas pessoas, sobretudo as mais carenciadas.
São estes porventura os mais atingidos pela atitude irresponsável e hipócrita dos dirigentes policiais que vieram a público por causa de 1 ou 2 cartazes.

A propaganda das Polícias é, num caso como este (que nem chega a ser caso...) é inadmissível. 
Haja quem lembre às Polícias, aos Polícias o seu papel. 
Haja quem lhes lembre também o péssimo comportamento que tiveram (e continuam a ter) em casos de discriminação racial e étnica. 
Haja quem lhes lembre o decoro, a decência e o cuidado que devem ter, nas relações que têm que manter com os cidadãos do nosso País.

Digamos então, ao arrepio do cartaz idiota:
• UM BOM POLÍCIA É UM POLÍCIA BEM FORMADO E BEM PREPARADO PARA PRESTAR UM SERVIÇO CIDADÃO!

(pode dar um cartaz grande demais, mas eu estou em crer que bem o poderia levar numa qualquer manifestação...)

07 junho 2020

NEM MAIS 1 CÊNTIMO PARA A EUROPA DO SUL 







































Provavelmente a grande maioria dos cidadãos holandeses, nem sequer conhecem isto...
Provavelmente a grande maioria dos cidadãos holandeses, nem sequer leu, nem sequer valorizou, perdendo tempo com isto...
Provavelmente a grande maioria dos cidadãos holandeses, nem sequer sabe a quem isto se destina...

Porque afinal, lá como cá, deverá existir um enorme distanciamento entre a propaganda e a realidade, do dia-a-dia das pessoas, que devem ter problemas semelhantes às de cá, pelo menos a nível dos mais necessitados. 
De qualquer forma um pacato cidadão holandês deve estar positivamente nas tintas para o facto de a Europa do Sul, ir receber (vai mesmo???) mais ou menos cêntimos.

Provavelmente também a grande maioria dos cidadãos portugueses não saberá, não conhecerá, a gigantesca máquina de propaganda que, dentro da chamada “união europeia” se está fazendo, a coberto da pandemia. Para salvar um projecto que nada tem de bom para nós, antes pelo contrário.

Sejamos sensatos. 
Esta imagem deve ser vista como propaganda também. Não sei se lhe chame, positiva ou negativa, tenho dúvidas.
O que suponho é que a grande maioria dos cidadãos portugueses, sobretudo aqueles que perderam quase tudo, em pouco mais de 3 meses, se está verdadeiramente nas tintas para isto.
Estará muito provavelmente preocupado em como recuperar o seu emprego, em estabilizar o seu salário, em sair de sua casa com algum receio e com todas as cautelas, porque pode acontecer que nem tudo corra bem, porque esteve enclausurado numa habitação sem condições, porque teve a família em “teletrabalho” (conceito novo, que o Governo pelos vistos quer eternizar...), porque esteve distante dos entes queridos mais idosos, empacotados em lares sem condições, porque tanta coisa que nos escapa, nós que, à vista deles, somos uns privilegiados.
Porque há situações de uma injustiça social extrema que são mais importantes que uma capa de revista.
É contra elas que devemos lutar, não contra a capa de uma revista conservadora!


É DIFÍCIL DESINSTALAR O MEDO





As primeiras reacções hostis às manifestações contra o racismo e a violência policial nos EUA, em diversas cidades do nosso País, vindas de quadrantes diversos, contém argumentos demasiado leves, para serem considerados pífios, “muita gente junta”, “não respeito pela distância social”, junto com outros, que, nas redes sociais, ganham foros da costumeira “CMTVização”, “incrível”, “inacreditável”, “depois queixem-se”, ilustram até agora as posições daqueles que misturando tudo (e mais alguma coisa) querem sobretudo desvalorizar um verdadeiro movimento de repulsa e repúdio pela violência policial e contra o medo.
Gente que vai ao ponto de escrever, "A demência e irresponsabilidade de um povo à vista de toda a gente!", nem entende a profunda contradição que encerra, por estar mais interessada em semear a intolerância e o ódio. A propósito desta frase, o meu Amigo Jorge Campos (Jornalista), fala no “povo bom” do “toda a gente” e coloca-se (tal como eu) do lado do “povo mau”, aquele que, nas palavras dele entende “...que o racismo é inaceitável e o silêncio sobre a demência que lhe é inerente uma irresponsabilidade.”

Está por demais claro o avesso de certas pessoas a manifestações. Expressões “modernas”, como, “manifestações, numa altura destas?”, “tem algum jeito ir para a rua?”, “se soubessem, a figura triste que fazem...”, são a imagem distorcida da liberdade de expressão, aqui sob a forma de um certo desprezo burguês pela rua, que acham ainda o lugar das massas malcheirosas dos que trabalham. Conotadas ou nem por isso, essas tiradas mais ou menos reaccionárias, fazem as delícias dos tiranetes disfarçados, que não podem (nem devem) mostrar ainda a sua verdadeira fase. Ou a transição definitiva para tiranos, mesmo que de papel e caneta. 
É possível encontrar facilmente os indignados de hoje. Não compreendem verdadeiramente a situação? Não entendem o verdadeiro alcance do perigo racista, quer seja nos EUA, quer seja aqui, no País à beira-mar plantado e “pacífico”? Não creio, de todo. 
Vou mais pela tese, não querem ver. 
E porque não querem ver? Mesmo que me socorresse do Niemöller [1], "Primeiro levaram os socialistas e eu não protestei porque eu não era socialista. Depois levaram os sindicalistas, e eu não protestei porque não era sindicalista. Depois vieram pelos judeus, e eu não protestei porque não era judeu. Então eles vieram por mim, e já não havia ninguém para protestar por mim.", não conseguiria “impressionar” os detractores de hoje. Que fizeram o mesmo em relação ao 1º de Maio. Porque para eles, o que conta é o formalismo e a encenação do medo instituído, não percebendo (aí sim) que um dia tudo contra eles se pode voltar.
E sobretudo que se calaram, como ratos, aquando da violência policial, aqui bem dentro de portas, contra negros e ciganos (...). 

Assim, é bom ver a quantidade de jovens na rua, nas manifestações. A sua reacção contra uma ordem social que é adversa, quer às suas próprias aspirações de uma sociedade que lhes parece fechar todas as portas, quer ao cerceamento da liberdade conquistada. Que para eles, é um dado adquirido, porque nasceram depois da data da Libertação do jugo fascista. Mesmo que tal não seja visível, começa aqui (ou pode começar) uma consciencialização da violência do capitalismo. Porque é afinal disso que se trata, em último grau. 

E já agora, para que conste, o mesmo (a mesma violência) se passou na Palestina, uma denúncia necessária do maratonista palestino Mohammad Alqadi, que publicou na sua conta no Twitter, quatro fotografias de soldados israelitas imobilizando palestinos com o joelho sobre o pescoço ou sobre a cabeça e com este comentário, “É extraordinário como o mesmo acontece na Palestina, mas o mundo opta por ignorá-lo” [2].

E será ainda bom lembrar a reacção do procurador-geral de Minnesota, Keith Ellison, que declarou num comunicado: “A sua vida (George Floyd ) era importante. Tinha valor. Vamos procurar justiça e havemos de encontrá-la”. E, em declarações posteriores, acrescentou, “O que temos pela frente não é um caso isolado mas um problema de sistema. E tanto a investigação como a acusação estão a ter isso em consideração com o objectivo de chegar às últimas consequências. Estou certo de que o fazem com competência. Mas isso não porá fim ao assunto. O despedimento dos agentes não acaba com o assunto. O processo penal já iniciado não lhe põe fim. O processo de direitos civis não lhe põe fim. Necessitamos de uma mudança de sistema profunda e permanente”[3].

Na realidade não é fácil desinstalar o medo. A instalação foi muito bem executada, pelos melhores técnicos, alguns deles dentro da elite bem-pensante da “transição digital” e das “reformas estruturais”. Todas oriundas quiçá de uma velada, mas atenta sempre, supremacia branca e claro, do “america first”. 
A luta contra este sistema que oprime e mata, terá de ser completamente desconfiada.
Porque é da nossa vida que se trata!


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[1] Embora habitualmente atribuída a Brecht, esta conhecida asserção é realmente da autoria do 
teólogo protestante alemão Martin Niemöller (1892-1984)
[3] Fonte: “O Lado Oculto”, in: https://www.oladooculto.com/noticias.php?id=797       




01 junho 2020

O FRUGAL DELÍRIO DOS PROFETAS


Muito embora o debate seja sobre a eventualidade de determinadas subvenções e fundos serem avançados pela União Europeia, no combate à pandemia, o certo é que um outro debate lhe sucede ou é resultado dele. 
Tanto faz. 
O outro debate é produzido (ou reactado) pela crença (ou ausência dela) no futuro da Europa tal como ela está actualmente desenhada, ou seja, da “união” entre 27 Estados, “atados” a uma moeda única, que lhes retira soberania e capacidade de decisão, monetária e orçamental.
Ou seja, um debate inquinado, uma vez que a oposição ao modelo Europeu, hoje e agora, é memorizada e, por vezes, ridicularizada. Iludida por parte de agentes externos à questão, que jogam a sua influência na “capacidade de influenciar” (a nota é forçada, precisamente no termo) as decisões soberanas dos Estados.
O que acontece na realidade é que está a ser devidamente "montado" um verdadeiro circo mediático, à volta das propostas até agora conhecidas da UE. Alguns comentadores do sistema, rejubilam com elas, por vezes até, de forma patética. Veja-se o caso da Teresa de Sousa, que, no Público da passada 6ªfeira, elogia Merkel e o "antigo entendimento com Costa" (confesso que desconhecia, mas já nada me admira...) e elogia ainda o papel dos EUA e ainda diz que "...a capacidade de reacção dos Governos e das instituições europeias afasta o risco imediato do recrudescimento das forças políticas extremistas e populistas". Esta última afirmação é de uma estreiteza de vistas fantástica e só demonstra aquilo que quero dizer: montar o circo, para depois culpar os tais quatro "frugais", pelos vistos os maus da fita.

Frugalidade vs. Manipulação
Para o Dicionário da Porto Editora, “frugalidade” é um “nome feminino”, com significados que vão desde a “moderação na alimentação”, à “simplicidade de costumes”, passando pelas inevitáveis, “temperança” e “sobriedade”. 
Quanto a sinónimos, encontramos, “abstinência”, “moderação”, “parcimónia”, “simplicidade “e “temperança”.
Abstendo-me (por causa da “abstinência”) de comentários, que seriam, neste caso, perfeitamente escusados, lembro o “cheirinho feudal” que Susana Peralta[i] sugere, a propósito das afirmações do PR,  do apoio para que se façam doações para o banco alimentar, particularmente quando nos vem dizer, “...que espécie de sociedade é esta que permite pessoas que podem ficar com fome durante mais de 1 ano, se contenta com oferecer uns pacotes de arroz para as campanhas do dito banco?” 
Neste caso e em casos semelhantes, o Estado parece esquecer-se das suas obrigações sociais, permitindo que arrivistas de duvidosa proveniência e postura social, sejam o verdadeiro centro das atenções e da publicidade. Não interessa a pobreza, a não ser para fazer ela a lamentação assistencialista, pérfida imagem das sociedades actuais. 
Curioso encontrar enormes semelhanças entre os sinónimos do Dicionário e as posições sóbrias, moderadas e com grande parcimónia, de determinados dirigentes, comentadores e politólogos, que antevêem nesta crise e nas medidas propostas pela EU, os maiores elogios e esperanças. Acima de tudo, esperança, que os 2,4 mil milhões, venham salvar esta europa. Onde uns vêem a continuidade do fracasso das políticas “unionistas”, Rui Tavares vê a salvação e, utilizando uma expressão que lhe é muito querida, termina a sua crónica[ii], com um épico “É tempo de avançar para a democracia europeia”.

É na realidade o delírio...
Apesar de todos os cuidados e moderação que tentemos utilizar, imitando quiçá os “frugais”, o quadro apresentado pela EU, não é realista, nem sério. De facto, a verba atrás referida não é senão um somatório feito à pressa, de subvenções previstas, de empréstimos equacionados e ainda de verbas que haviam já sido apresentadas para o futuro quadro financeiro 2021/2027. Mais, o que a EU não refere (e é verdade), é quanto já desviou das verbas da chamada “coesão”, para as aventuras guerreiras da NATO, completamente ao arrepio da vontade dos Estados, que nem sequer se pronunciam pelos seus cidadãos.
O delírio pelos milhares de milhões é evidente, até (aliás começa aí...) no PM português, quando se sabe que está tudo dependente da aprovação em Conselho Europeu, onde é obrigatória a unanimidade. Aí, os quatro “frugais”, podem até ser mais, sem qualquer agoiro.
São profetas, não de uma desgraça, mas portadores de uma mentira enorme sobre as responsabilidades sociais. Porque não pode existir um plano de combate, sem uma análise estruturada das razões que nos levaram aqui, os seja, do volume imenso da dívida de cada País e da sua progressiva sujeição à dominação do capital financeiro, do mercado livre que originou a globalização que temos, da tremenda injustiça que representa uma moeda única que serve apenas para proteger a economia alemã. 
E quem nos quer levar nesse delírio irresponsável, acaba por ser conivente com a mentira e com a dominação. Sempre.

Solidariedade para quem?
Saibamos interpretar o verdadeiro significado do conceito. E saibamos ainda estender esse conceito à economia, para tentar engendrar políticas sérias e coerentes, que consigam erradicar a pobreza, conforme está estabelecido nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. 
Nada disto, porém, será possível, enquanto soubermos, por exemplo, que 90% das substâncias activas dos produtos farmacêuticos, são produzidos apenas em 2 países.  
Também nada será conseguido, enquanto as políticas securitárias forem a resposta às crises sanitárias. A situação será sempre em desfavor de quem tem menos hipótese de sobreviver, num mundo em que era suposto viver. 
Será possível pedir alguma parcimónia” a esta gente?




[i] Artigo “Jamaica, Azambuja, Banco Alimentar: os pobres da covid-19 e a nossa hipocrisia”, Jornal Público de 29 Maio 2020
[ii] Artigo “Então e esse fim da União Europeia”, Jornal Público de 29 Maio 2020


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