09 março 2005

A PALAVRA QUE FOGE…
Por vezes há certos tiques que são fatais. Expressões verbais que caem mal a quem ouve, mas que ficam muito pior a quem as profere. Em tempos de acalmia politica, em tempos de expectativa mais que justificada, as coisas apresentam-se sempre sob um manto diáfano, que nem os próprios intervenientes directos convêm macular. Os sintomas manifestam-se normalmente quando um dado personagem é instigado, sempre pela atenta comunicação social e não consegue disfarçar aquele sentimento de quem foi justamente promovido à elite da causa pública. Então, como que pautado pelo desígnio de quem tem entre mãos a responsabilidade de chefiar uma putativa mudança (mesmo que tal não passe de …), atira para o ar aquelas frases que nada dizem, mas que ficam bem na conjuntura; pois "estaremos atentos aos novos sinais…", "sabemos o que o País espera de nós…", "naturalmente é ainda muito cedo para …". Outros não conseguem disfarçar a "promoção" e fazem aquilo que em ciência politica é considerado desajustado ao momento. Não conseguindo dominar impulsos naturalmente mal dominados, os tiques, deixam escapar a incontida vontade, manifestando a surda escapadela para o óbvio. Mas, como bem dizia Stendhal, "a palavra foi dada ao homem para esconder o seu pensamento"; na gíria, há realmente coisas que não se devem dizer.

Por isso, o recém-nomeado Ministro das Finanças esteve mal, ao declarar o propalado aumento de impostos, como acto natural, ainda que não no imediato. Contra tudo o que disse na campanha quem o nomeou. Tradicionalmente no nosso País, o cargo da liderança das Finanças é visto (e na realidade o é) como um super ministério, acima (?) dos outros. Todos os colegas lhe devem a natural vassalagem, pois será ele quem determina as verbas para cada um, os cortes, sei lá que mais. Os casos dos notáveis do passado, que passaram pelo lugar, a começar pelo inevitável homem de Santa Comba, deixaram uma marca que ainda hoje se mantém. Não só uma marca, como ainda uma estrutura de médio século de burocratas, uma tradição de favor e de comprometimento com os que não cumprem e de justiça de talião para as pequenas escapadelas.

Haverá finalmente quem tenha coragem de mudar isto???


O RETRATO
O episódio do retrato que deixa a sede do Caldas e vai (vai mesmo?) para a sede do Rato não é mais que uma manobra de diversão. Independentemente da justiça relativa do acto. A política é feita de factos e este é mais um de quem já não tem mais nada para dar aos cidadãos. Há os que afirmam "não posso conformar-me com o facto de o partido ser um partido de 7 vírgula tal por cento…", Nobre Guedes à TSF na grande entrevista de Margarida Marante, sábado passado. Há ainda quem diga "Paulo Portas tem muito a dar ao partido…", Telmo Correia também à TSF na semana passada.
Mas eles não têm nada, mas mesmo nada para dar ao País. E ainda bem, porque o País não precisa mesmo nada deles, nem da demagogia, nem do populismo parolo que os caracteriza. Ficam muito bem na prateleira e diga-se de passagem que lá ficariam se não fora alguém lhes ter dado a mão para chegar onde chegaram.
Este o verdadeiro retrato de uma direita envergonhada, bacoca e sem arte para fazer melhor. Deste retrato já não podem fugir e não pode ser mandado para uma outra qualquer sede…

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