15 março 2015

O DIA DO PI

 
 
 
 
 
 
 
 
Torta feita pela Universidade Técnica de Delft no 'Dia do Pi'
(Foto: Wikimedia Commons)
A “irracionalidade” do valor da coisa (o ) contrasta com a putativa racionalidade de quem a usa. Seja no cálculo, seja na vida, qualquer número com 52 casas decimais é levado da breca para fixar. A parte aparentemente mais simples será porventura aquela que revela o conceito de aproximações sucessivas, ou se quiserem, séries infinitas de somas, multiplicações e divisões. Uma transcendência, dirão alguns, uma grande maçada, opinarão outros. Para uns e para outros, quer a Matemática ser a razão suprema de todas as coisas e, de uma certa forma, a razão de nos reconciliarmos com a existência, na medida em que entendemos as suas racionalidades. A espantosa ciência, de que muitos são afastados por uma incongruência, ou uma vez mais, irracionalidade desta feita sem comas, é a prova de que a mente humana é suficientemente capaz de interpretar a forma, a beleza e a cor. Para elas, a Matemática tem algumas interessantes respostas. Claro que um polígono será sempre um polígono e foi provavelmente socorrendo-se nisso, que Arquimedes formulou a representação matemática para o cálculo de , o que é designado agora como o método clássico para o respectivo cálculo.
Ao falarmos destas matemáticas curiosidades, lembramos um outro do mesmo nome, a que o realizador Ang Lee deu vida, no filme “A Vida de Pi”, um romance de Yann Martel.  Aqui já o nome se escreve com o alfabeto clássico, passando “Pi” a ser racional, ao contrário do outro, ao qual a Matemática chama “irracional”.

Assim são as vidas em universos distintos, aos quais a realidade que conhecemos assaca um valor determinado. Que, mesmo que não seja possível determinar, ao arrepio de uma quantas casas decimais, a vida atribui um valor certo. Parece contraditório, mas não o é, na exacta medida de que a relatividade das coisas lhe dá o peso que não parece ter. O pi matemático continuará a ser o que sempre foi. O pi da obra passará umas dezenas de dias no mar, num barco com um tigre de Bengala e após isso, na exacta dimensão do tempo que conhecemos, terá direito a umas dezenas de anos de vida, sem qualquer casa decimal a incomodá-lo.
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos/Por criar uma situação que a todos liberte…”, opinava Bertolt Brecht. Libertar e mudar. Libertar, abrindo a mente para o que surgir como novo e analisar. Mudar, para que o sentido das coisas seja um desafio, dia após dia. Não vale a pena contrariar a Matemática. Mas vale decerto tentar libertar o que temos na mente, para mudar o rumo do barco, com ou sem um tigre lá dentro…

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