18 março 2024

O MELHOR ATAQUE É A DEFESA

 

Pois, no jargão futebolístico, a asserção é dita às avessas.

No futebol, parte-se do princípio que, ao ataque, a equipa terá mais probabilidades de se defender, mesmo que tenha menos força, poderá marcar um golo fortuito e atrapalhar o adversário.

Na arena política, onde o relvado é altamente flutuante e, tal como no estádio, por vezes escorregadio, parece que jogar permanentemente ao ataque, gastando e exaurindo todos os recursos ao mesmo tempo, significa esmagar e destruir o adversário. Veja-se o caso da Faixa de Gaza, onde o atacante e ocupante antigo só não conseguiu destruir completamente os palestinianos, porque existe uma resistência feroz de quem apenas tem paus e pedras para combater o inimigo. 

Hoje, na política, parece prevalecer a tal questão existencial, uma invenção da ultra-direita, desgraçadamente generalizada.

 

A propósito de “defesa nacional” se fez hoje mais um fórum da TSF, onde o mais interessante foi constatar que os “representantes” do Partido Socialista e do partido racista, xenófobo e neo-fascista disseram, sobre a matéria, praticamente o mesmo. A ideia abstrusa de que a guerra é uma “causa” da Ucrânia e de todos os europeus (consequentemente de todos os portugueses) pela liberdade e pela democracia, esbarra todos os dias na realidade concreta. Na verdade, a causa é a guerra pela guerra, que traz um sacrifício imenso aos cidadãos europeus, particularmente aos trabalhadores, para pagar (de todas as formas) o desvario armamentista e imperialista americano e dos joguetes paus-mandados europeus.

Se dermos o exemplo das munições da França que custam 6 mil euro e foram vendidas por 190 mil, talvez tenhamos a resposta adequada.

Se atentarmos à manipulação grosseira do Ocidente, que quer mascarar a realidade da ideia da dominação económica e mental com a mentira generalizada do que é esta guerra, começada e activada pelo Ocidente e que quis, durante 2 décadas, cercar e intimidar a Rússia, promovendo as mais descaradas iniciativas de armar, do lado de cá, até aos dentes, as suas fronteiras, talvez encontremos hoje as verdadeiras razões do estado actual. 

Se conseguirmos, dentro da ameaça e prática de uma política de cancelamento de tudo quanto é russo, da notícia ao comentário, na arte e no desporto, até à perseguição e intimidação de quem simplesmente quer alertar para a dúvida, temos a resposta exacta ao que significa o exercício do livre pensamento.

 

Na Rússia, onde foram conhecidos os resultados das eleições, não vimos qualquer referência aos números, a não ser para dizer que Putin venceu de forma ilegal, que o reforço do voto electrónico serviu para manipular resultados (fantástico!), que não houve controle e fiscalização, etc... Sabemos que a verdadeira e válida fiscalização tem que ser a do Ocidente, nomeadamente a dos EUA, que nem sequer conseguem controlar os seus actos eleitorais (sabe-se, mas faz-se de conta, por estas alturas...). Já agora, aqui ficam, após aturada pesquisa, os números: Putin (Rússia Unida), com 87,32%, Kharitonov (Partido Comunista), com 4,32%, Dvankov (Novas Pessoas), com 3,79% e Slutsky (Partido Liberal), com 3,19%. 

 

Saber hoje se a Rússia deveria ter invadido a Ucrânia, para nada interessa. Claro que foi um acto de agressão, claro que não deveria ter acontecido. O que importa é saber quem são os verdadeiros culpados e parece não haver dúvidas quanto aos altos interesses que ditaram e causaram e provocaram o acto em si. O imperialismo americano, a NATO e os “amigos” do Ocidente são os culpados, tal como o foram (e são) em todo o mundo moderno, durante o século XX e neste século XXI. Nem vale a pena citar, os exemplos são bem conhecidos e, particularmente nos Balcãs, onde ainda hoje se sentem os efeitos da destruição e da mentira da NATO e dos “aliados”.

 

A defesa deve ter um acréscimo no orçamento de Estado para, pelo menos, um percentual de 2%? Pois claro que sim, defende toda a Direita. E aqui não há qualquer distinção, para um campo alargado que vai desde o Partido, dito Socialista ao extremo da Direita. É um peso imenso, alicerçado na manipulação grosseira e na submissão abjecta. Um ouvinte do fórum TSF diria, em linguagem muito simples, que deveria investir-se na defesa, sim, na defesa contra incêndios e outras catástrofes, na defesa, sim, das pessoas e dos seus parcos bens. 

 

Mas, como é evidente, nada disso interessa, quando estamos perante mais uma ofensiva dos senhores da guerra e dos grandes interesses do Capital, sempre contra os trabalhadores. E mais, para que sejam aqueles a pagar os desmandos de todas as guerras inúteis, para os quais a vida humana conta mesmo quase nada. Os Macrons e os Cravinhos, os Bidens e os Sunaks, algozes que mais parecem bestas de um circo romano, querem-nos convencer que os russos vêm por aí abaixo, invadir e ocupar a Europa do nosso descontentamento. Era assim mesmo que os fascistas de Salazar falavam, em Portugal, é bom que ninguém se esqueça disso.

 

Esteja que estiver à frente da Rússia. Hoje é Putin, um personagem nada simpático, que representa um poder capitalista, igual a tantos outros. Outro qualquer que lá estivesse, daria o mesmo efeito, tão forte que é a vontade de destruir um País, que é afinal um País europeu.

Esta Europa incapaz e burra de tanta incompetência, nem sequer tenta levantar uma dúvida, empanturrada em tanta certeza idiota e em tanta mentira. E na famigerada supremacia, é bom que se diga. A russofobia tem os dias contados? Não sabemos. O que sabemos é que é exactamente igual a tantas outras que por aí andam, com muito ódio à mistura e com muita intolerância ao que não é branco e “puro”.

Triste tempo este.

 


11 março 2024

A DERROTA DA VITÓRIA (Que força é essa?)

Estranho dia.

Há 49 anos, o Spínola tentaria um Golpe, fugindo depois para Espanha, quando viu que não tinha hipótese, tendo causado mesmo assim alguns estragos.

Ontem, a noite haveria de produzir também estragos significativos no panorama conservador do espectro partidário em Portugal. Um partido, cujo capataz é o “homem das limpezas”, iria arrecadar o quádruplo dos votos, e consequentemente, do número de deputados. 

A campanha que as sondagens levaram a cabo para proporcionar uma “vitória” à ex-defunta AD, acabaria por mostrar, uma vez mais, para que serve “sondar”, quando na verdade o que se está a fazer é influenciar e condicionar o voto. Todavia, o erro não é casual e inscreve-se na desesperada tentativa de abrir o caminho à Direita, que ela sozinha não era capaz de fazer. A ridícula manifestação de “vitória”, que, de Pirro passaria a “tangencial”, imitando de forma pífia o futebolês, iria dar à AD, nem sequer 1 ponto percentual e apenas mais 2 deputados que o PS. A história só fica completa com a menção honrosa para o Livre, a aceitação tácita de 13 deputados para a Esquerda (BE+CDU+Livre) e a irrelevância do PAN e da própria IL, esvaziada pelo resto da Direita, mesmo apesar dos 8 deputados eleitos. Num universo de pouco mais de 6 milhões de votantes, a designada AD conseguiu mais 2 mil votos que o PS.

 

A derrota da vitória é assim o assunto do dia. Não se fica a perceber muito bem se a Direita sem o “partido das limpezas” acredita que ganhou ou se, porventura com a cabeça fria, estará provavelmente com medo de “ter ganho”. Entretanto, a agremiação racista, xenófoba e neo-fascista, que cresce à custa da insatisfação dos cidadãos com as políticas públicas do “mínimo possível”, foi devidamente promovida por comentadores e jornalistas, que agora os querem empurrar para um governo que ainda não se sabe bem como vai ser. Vejam só as declarações de Ricardo Costa (SIC-Impresa), sublinhando (antes de conhecer os resultados) que a tal agremiação, “deverá eleger entre 54 e 55 deputados, só menos 20 lugares que a AD” (na verdade, foram 48), prevendo que o capataz do grupo seria o "grande vencedor da noite".

A noite ficaria marcada ainda, como ordena a tradição burguesa, pelos salamaleques de parte a parte, entre “vencedores” e “vencidos”, ignorando olimpicamente o enorme elefante no meio da sala, com quem ninguém parece contar. Mas deve dizer-se afinal que ele se julga “essencial e necessário” para ressuscitar uma Direita anquilosada, sem ideias, sem propostas credíveis e sem um sentido que se possa levar a sério, com os 3 protagonistas que ontem sorriam, mas que rapidamente vão engolir a sua verborreia e a sua manifesta falta de credibilidade. Mas pôde constatar-se também, da parte do PS, na atitude e postura irritada e sem jeito do seu Secretário-Geral, que, uma vez mais, repetiu chavões que demonstram apenas a sua falta de adaptação a uma situação esquisita, que é, por um lado, tentar preservar a imagem de um partido que fez, durante 2 anos, o melhor favor que se pode imaginar na promoção da insatisfação generalizada e, por outro lado, tentar dar um ar novo de renovação, para trilhar um caminho diferente. Não daria certo e comprometeu o Partido e, por arrastamento, a imagem de uma Esquerda, cada vez mais acantonada. 

Assim se transforma uma vitória em derrota, um aparente oxímoro, mas que assume particular relevância, para a análise e, acima de tudo, para a acção. Talvez esteja aqui encontrada uma das virtudes de Pedro Nuno Santos, quando a evocava (a “acção”), como necessidade imperiosa. Todavia pergunta-se, que tipo de acção? Parece que, nestes dias que se seguem, a acção deve ser orientada para encontrar os porquês e procurar soluções. Na primeira vertente, há que admitir que tudo deve estar em cima da mesa, para análise e discussão. A Cidadania assim o impõe. Da mesma forma que têm de se desmontar as velhas falácias (quase todas, mentiras descaradas) como a de “não há dinheiro”, que vem dos tempos da troika, onde se dizia que o País não o tinha, para pagar salários e pensões. É sempre assim que a Direita (toda junta com a direita extrema) gosta de perorar. E, naquela situação específica, para repor a verdade, o que não havia era modo de compensar a Banca pelos seus desmandos e os grandes grupos pelos seus prejuízos, que fomos todos obrigados a pagar.

Mas não só. É preciso colocar, possivelmente como ponto primeiro, a dependência do País perante as políticas nefastas da dita União Europeia e da moeda única. Sem questionar isso, pouco se poderá adiantar. Não dizer isso aos cidadãos é incorrer na ocultação da realidade. Não dizer que são as políticas neoliberais, que transferem permanente e sistematicamente dinheiro do Trabalho para o Capital, é desrespeitar os trabalhadores, deixando-os desprotegidos. E tudo isto gera ansiedade e insatisfação. E, como bem se vê, a insatisfação gera forçosamente o aparecimento de grupos marginais que a burguesia promove a partidos, normalizando-os, mesmo sabendo que não aceitam as regras do sistema.

É mais que necessário desmontar o discurso burguês da aceitação tácita das regras estabelecidas. Antes pelo contrário, a hora é de cortar com regras que estrangulam a economia e as pessoas, particularmente aquelas que só têm a força do seu trabalho. 

Por isso, hoje, o tema musical que se impõe repassar, é este (*), que data do ano 1972, que nos interroga e incentiva: “Não me digas que não me compr'endes/Quando os dias se tornam azedos/Não me digas que nunca sentiste/Uma força a crescer-te nos dedos/E uma raiva a nascer-te nos dentes/Não me digas que não me compr'endes/Que força é essa? Que força é essa?/Que trazes nos braços?/Que só te serve para obedecer?/Que só te manda obedecer?/Que força é essa? Amigo?.

Que força é essa?

---

(*) https://www.youtube.com/watch?v=-42ZiDIZ7KM


09 março 2024

 





08 março 2024

 DIA 8 DE MARÇO 2024: "LA LEGA"


Neste 8 de Março, uma canção tradicional italiana do final do século XIX, que evoca a luta das Mulheres de todo Mundo e, em particular o relato da revolta camponesa contra os patrões, quando se organizaram as primeiras organizações operárias sob a forma de “ligas”. O tema “A Liga”, integra a banda sonora do filme "1900" de Bertolucci (*), "Sebben che siamo donne/Paura não abbiamo/Por amor dei nostri figli/Socialismo noi vogliamo", ou em português, "Embora sejamos mulheres/Medo não temos/Pelo amor dos nossos filhos/É o Socialismo que queremos". 

 

O dia de hoje é dela. Ela que preenche os nossos dias, povoa as nossas cidades, sofre e luta e cala não raras vezes. Ela que é Gabriela, cravo e canela, com samba e liberdade à mistura. Ela que é Luísa, sobe a caçada de um qualquer sítio, no peso de uma existência por vezes sem sentido. Ela que pode ser Marta ou Mariazinha, conforme a disposição do companheiro, amante ou patrão. Ela a quem por vezes oferecemos flores, mas também pisamos direitos. Ela que é sistematicamente discriminada, mas a quem rendemos homenagem se corre mais depressa na pista ou se desfila na passerelle. Ela que em remotos lugares é privada dos mais elementares direitos de cidadania, ensino e educação, violentada e amordaçada. Ela que é paixão, o tal fogo que arde e que em tempos passados a queimou na fogueira, sempre em nome de grandes princípios, curiosamente ainda os mesmos que ainda hoje a diminuem e enxovalham. Ela mesmo, que é menina, com doce balanço e carinho do mar. Que pode ser deusa, princesa ou rainha, feiticeira ou puta, conforme vira o vento ou muda a sorte.

 

Para Sophia, este poderia ser um retrato para uma princesa desconhecida, para que ela fosse aquela perfeição. Numa sociedade longe de ser perfeita apela-se á igualdade de género, de mãos dadas com os perigos, enquanto outros vão à sombra dos abrigos. Nunca desiste, muitas vezes em si fechada, com alguns muros e paredes que não se vêm, a indiferença que magoa, a hostilidade que choca, muitas consciências pequenas que não querem ver o crescer do mar, nem o mudar das luas. Mas o real é a luta, sempre a luta, a vida, sempre a mesma vida, a esperança, sempre adiada. Devemos mudar o mundo, para haver mais Sophias. E porque os outros se mascaram, mas tu nãoPorque os outros se calam, mas tu não

 

Ela, a quem dedicamos um singelo dia no ano, em memória da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Hoje!

---
(*) https://www.youtube.com/watch?v=p7CfYwqkVlU  

[este texto é um arranjo feito com outras peças da minha autoria, publicadas em diversos 8 de Março e tem referências expressas a António Gedeão, António Carlos Jobim, Sophia de Melo Breyner, José Mário Branco e Jorge Amado]


07 março 2024

 DIA 7 DE MARÇO 2024: "SANS LA NOMMER"




 

Escrita e interpretada por Georges Moustaki um Cidadão do Mundo, que nasceu egípcio, foi grego e francês ao mesmo tempo e Autor de letras e músicas inesquecíveis, nos anos 60 e 70 do século passado, “Sans la nommer”, de 1969, foi composta para o festival da Ilha de Wigth de 1970. Do que lá se fala e só no fim se declara, sabem-no todos os que defendem o processo revolucionário de libertação dos trabalhadores do jugo capitalista e imperialista, a Revolução Permanente: “Je voudrais, sans la nommer,/Vous parler d'elle./Bien-aimée ou mal Aimée,/Elle est fidèle/Et si vos voulez/Que je vos la présente,/On l´appelle Revolution permanente..."


Não deixa de ser sintomático que num momento muito particular de descrença na Esquerda, haja ainda quem se dedique a estudá-la e a declará-la como ideia e forma prática de pensar melhor e agir melhor, afirmando sem qualquer rebuço “A Esquerda que não teme dizer o seu nome”. Assim nos diz Vladmir Safatle, filósofo, escritor e músico brasileiro nascido no Chile, que é um jovem com a idade do nosso 25 de Abril. Este professor, considera que a Esquerda poderá ter aberto a mão aos fundamentos da sua luta política, ao ceder ao consenso, na luta pelo poder burguês, onde parece reinar um certo “conforto”. Diz-nos ainda que é pelo contacto com a arte que aprendemos a ser livres. Vale a pena citar as razões pela qual Vladimir entende que a Esquerda não deve temer dizer o seu nome, manifestando-se abertamente contra a acomodação e o esquecimento: recolocar no debate político tudo aquilo que é "inegociável": a defesa radical do igualitarismo, da soberania popular e do direito à resistência. E claro está, que tal implica a ocupação dos espaços de intervenção, nomeadamente o sindical e o das ruas e praças onde nos manifestamos contra as injustiças e as desigualdades. 

 

Reafirmamos assim que a esquerda não deve temer dizer o seu nome, na defesa daquela que, como diz Moustaki, “Bien-aimée ou mal aimée,/Elle est fidèle...”

Por isso, nestes tempos que nos surgem difíceis vamos sempre falar dela, mesmo sem a nomear.

 

---

(*)   https://www.youtube.com/watch?v=hu2BF7nA_TE     


06 março 2024

DIA 6 DE MARÇO 2024: LISBOA, NÃO SEJAS RACISTA 

 

Poderia ter escolhido obras supremas para ilustrar o temas racismo, como o “Biko” do Peter Gabriel, que adiante será citado. Escolho esta, bem portuguesa e suficientemente provocatória. O tema, do Grupo Fado Bicha, tem a sua origem na conhecida canção de 1945, que a Amália cantava, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão. Aqui, mantém-se a música, mas a letra deriva para a denúncia racista. Aqui se afirma, “Bastardos serão, portanto/Do Jamaica à Cova da Moura...” e se avisa “E Lisboa, não sejas racista/Cassetete fascista/É bosta e bem”. Lembramos, como é devido, o assassinato de Alcino Monteiro, cidadão português com 27 anos, interceptado no Chiado e violentamente espancado pelos skinheads, que vinham de um jantar comemorativo do Dia da Raça, como o fascismo salazarista do Estado Novo designava o 10 de Junho, hoje Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

 

Como interpretar as palavras de Gabriel, “When I try to sleep at night/I can only dream in red/The outside world is black and white/With only one colour dead”, em September '77, Port Elizabeth? Como admitir a supremacia branca, em pleno século XXI? Que, para além de semear medo e ódio, mata, quando pode. Como é possível sonhar com esta canalha por perto, a intrometer-se  na vida pacata dos cidadãos, sem sentir repúdio? Como bem diz a letra “Lisboa, na praça/Tempos maus vejo aí vindo/Pela corja do dia da raça/Que agora ri/No sofá da TVI/A falar bem do Salazar...”, para concluir o inevitável, “São opiniões, é só um nazi/Não vês mal em normalizar”.

Se existe insegurança em Lisboa, tal se deve às hordas racistas e fascistas de que são exemplos os grupos de marginais perigosos que gostam de Salazar e de outros que tal.

 

Estávamos no final da 2ª Guerra e a letra original rezava assim: “Lisboa, não sejas francesa/Com toda a certeza não vais ser feliz/Lisboa, que ideia daninha/Vaidosa, alfacinha, casar com Paris/Lisboa, tens cá namorados/Que dizem, coitados, com as almas na voz/Lisboa, não sejas francesa/Tu és portuguesa, tu és só pra nós”. Uma arenga xenófoba, inadmissível nos dias de hoje, embora pudesse ser interpretada de outra forma quando foi escrita. Hoje, devemos ter orgulho na miscigenação, na cultura do que é diferente e nos enriquece.

E atenção, ao aviso da nova letra, “Lisboa, não sejas racista/É tão quinhentista/Vê se mudas de ar”... 

---

(*)    https://www.youtube.com/watch?v=kBk5Q4tpYTM


 


05 março 2024

  

DIA 5 DE MARÇO 2024: NOT IN OUR NAME (*)


 

Um dos mais tocantes temas de Charlie Haden e da Liberation Music Orchestra, com a pianista Carla Bley, é este, o primeiro do albúm que tem o mesmo nome e foi gravado em 2004. O notável contrabaixista norte-americano foi sempre um destacado interventor político, incluindo em Portugal, onde chegou a ser preso pela PIDE/DGS, em 1971, por força do seu declarado apoio aos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas. Tocou com os mais influentes músicos de jazz mundiais, a começar por Ornette Coleman e gravou, em 1990, com Carlos Paredes, o álbum Dialogues. O disco "Not in our name" foi uma manifestação contra a guerra do Iraque e contra o imperialismo americano.

não em nosso nome é pois o protesto assumido, o grito de revolta a situações iníquas, nas quais o seu País é responsável directo, nas intervenções que fez e que faz, por todo o mundo, sempre com a mesma intenção imperial e de supremacia branca que o caracteriza. Não o pode fazer em nosso nome, assim quis dizer Charlie Haden. É justo que aqui se lembre o ano de 2016 e o Guimarães Jazz, onde a Liberation Music Orchestra, dirigida por Carla Bley, prestou homenagem a Haden, que tinha falecido em 2014 e ao nosso 25 de Abril, com uma interpretação do Grândola, Vila Morena. Estivemos lá e sentimos a revolta contra os que querem falar em nosso nome.


No mês de Outubro do ano passado, activistas judeus americanos manifestaram-se pela Paz, organizando um evento de protesto no Capitólio, exigindo aos EUA que imponham um cessar-fogo imediato e justiça para os palestinianos, clamando precisamente “Not in our name”, dizendo claramente a Biden: “Como judeus americanos, estamos aqui, no meio da nossa dor para dizer ao Congresso que a nossa dor não é a sua arma e não serve de desculpa para permitir que um governo tenha intenções claramente genocidas...”

 

Sabemos o que significa falar em nosso nome. Normalmente o que acontece é que aqueles que o fazem, invocam quase sempre os interesses que defendem e os privilégios que lhes estão subjacentes. E, por ser assim, não hesitam em mentir descaradamente e em deturpar a realidade. Recorrem ainda a truques publicitários e a frases-chave que sabem antecipadamente poderem ter algum sucesso. Tenham convencer-nos, por exemplo, que todos os políticos são iguais e todos corruptos, excepto um, aquele que proclama a evidência e que dispõe de todas as soluções para todos os problemas, mesmo que sejam as mais abjectas. Falam em nome de um deus qualquer, que até pode ser ele próprio. Recorrem por vezes a terceiros, que podem até serem fontes atraentes, mas que são na verdade o eco da voz que está por trás. Não reconhecem a alteridade, porque isso escapa à sua concepção de vida e do mundo, querem apenas ser reconhecidos como porta-vozes do descontentamento e eleger-se como tal, interpretando à sua maneira a sociedade e os interesses dos que esmagam direitos e conquitas dos cidadãos.

Não lhes permitiremos que falem em nosso nome!

 

---

(*)   https://www.youtube.com/watch?v=azgqN_VN5l8


04 março 2024

  

DIA 4 DE MARÇO 2024: “L'INTERNATIONALE



Nada melhor para começar a última semana antes do 10 de Março.


Esta versão da INTERNACIONAL (*), não propriamente identificada, é absolutamente fantástica e demolidora. O Hino dos Trabalhadores de todo o Mundo data de 1888, tem letra de Eugène Pottier (operário e poeta francês), e música de Pierre De Geyter(operário belga), ambos anarquistas militantes. A partir de 1896, a Internacional passa a ser o hino do Partido Operário Francês, o primeiro partido marxista em França e espalha-lhe por toda a Europa, através dos delegados estrangeiros presentes, no Congresso do Partido. Aquando da Revolução Socialista de 1917, a Internacional torna-se o Hino do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), primeiro hino do Estado Soviético (até  Estaline o abolir em 1941) e, naturalmente, o hino do socialismo internacional revolucionário: “C'est la lutte finale/Groupons-nous et demain/L'Internationale/Sera le genre humain...”. Em língua portuguesa, adaptada desta forma: “Bem unidos façamos/Nesta luta final/De uma terra sem amos/A Internacional”.


O insuspeito empresário norte-americano Henry Ford disse um dia, “Se as pessoas compreendessem o nosso sistema monetário e bancário, teríamos uma revolução amanhã de manhã.” Ora nem mais. O que parece é que “as pessoas” ainda não entenderam bem como a coisa funciona. Uma das razões que possivelmente contribui para tal é a forma como as organizações e partidos políticos que defendem os trabalhadores são tratadas pela comunicação social. Do muito que escrevemos (e que se escreveu) sobre a matéria, vale a pena salientar o excelente artigo que a Ana Drago publicou a 1 de Março no DN, a que chamou “Pode escolher a cor desde que seja laranja”. Na verdade, é curioso, diz Ana, que num país em que a esquerda tem sido maioritária desde 2015, é bizarro que as televisões privadas tenham hoje um profundo enviesamento à direita, quer no alinhamento e escolha dos temas, quer na maioria do comentário em emissão. E, no contexto pré-eleitoral, escreve a Ana, “...somaram-se painéis de análise política que tendem a ser compostos por comentadores, jornalistas e editores maioritariamente alinhados à direita, e onde figura depois um solitário jornalista/comentador mais ou menos à esquerda, que assegura o “pluralismo”. Na SIC, continuamos a ter preleções semanais e sem contraditório de um advogado com um passado na extrema-direita nacionalista e salazarista (José Miguel Júdice) e de um ex-líder do PSD (Marques Mendes). Na TVI é um ex-líder do CDS (Paulo Portas).”

 

E sobre as sondagens? Já escrevemos que valem o que valem, ponto. Mas não deixa de ser curioso que a última sondagem da Aximage, que dá o PS como vencedor com  33,1% (mais 3,5% que a AD), seja apresentada, em primeiro lugar como “empate técnico” e que seja valorizada a “subida da AD”. Na verdade e a dar como válido que ninguém se quer coligar ou fazer acordos com o partido fascista, as contas são estas: a Esquerda (PS+BE+CDU+Livre) soma 44,7% e a Direita (AD+IL+PAN) soma 35,5%. 

 

A música de hoje é muito mais que isso. Após tantos anos, mantém-se como o símbolo da LUTA CONTRA A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA e a EMANCIPAÇÃO DOS TRABALHADORES DE TODO O MUNDO, uma LUTA INTERNACIONALISTA!

É bom não esquecer...

 

---

(*)https://www.youtube.com/watch?v=mhZ8rPHezas&feature=share&fbclid=IwAR1m5s_9R7UQl9VkyY7dHM7fOxMpDkIyMOYIyEST7_bz83ZrsatvEyngKUE


03 março 2024

  

DIA 3 DE MARÇO 2024: “MONDNACHT




Em bom português, “Noite de Luar” (*) , é um tema que faz parte da obra 39 (op.39)”, um ciclo denominado Liederkreis, do compositor romântico alemão Robert Schumann do século XIX, com poema de Joseph von Eichendorff, aqui interpretada pela soprano Sophie Rennert e pelo pianista Sascha El Mouissi, considerada uma pérola da música clássica. Lembra o campo, a terra com as suas plantações ondulantes e a floresta, um idílico sonho, onde se diz que a terra está silenciosamente no brilho das flores.


Isto a propósito do sonho de um Amigo que me fala no “acordo das lezírias”. Para que fique claro, uma lezíria é um terreno plano, periodicamente alagado pelas enchentes fluviais, com uma fertilidade acima do normal e que abrange, no nosso País, largas zonas do Ribatejo e Alentejo, mais de 25 mil hectares. Importa saber ainda o que se faz, o que se produz, o que fica no país, o que vai para exportação, como se processa a exploração, quem são os trabalhadores dessas terras, como vivem e como são pagos. Tantas questões, para as quais alguém terá respostas, embora seja importante referir que nessas zonas há milho, vinha, olival e imensos prados permanentes. E, para que se saiba, é uma empresa pública que dá lucro, que se chama Companhia das Lezírias, que fica no Ribatejo e que é a maior herdade do país, com 18 mil hectares e está, desde 1975, nas mãos do Estado.


Mas o que representa então o sonho do “acordo das lezírias”? Tão só e apenas, a tentativa de reunir pessoas e organizações populares, trabalhadores, cooperativas, associações e empresas e encontrar uma forma de aumentar a produção nacional para ser a base das nossas necessidades, rever os circuitos de distribuição, erradicando de uma vez por todas o monopólio das grandes distribuidoras, que sufocam o mercado e que provocam a “morte” dos pequenos empreendimentos, cujos detentores acabam por vender os seu produtos, decerto bem melhores, por preços altíssimos. A impossibilidade prática de concorrer com as grandes superfícies, para além de ser uma evidência prática é uma das idiotices mais descaradas do neoliberalismo. Reparem só nestes exemplos do meu Amigo: por que raio é que temos que pagar a banana da Madeira (a nossa banana) ao dobro do preço de uma qualquer banana importada e de qualidade inferior? E porque é que o preço da cebola portuguesa é o dobro da congénere espanhola?  O acordo das lezírias poderia resolver os nossos problemas, os da agricultura e o da distribuição? E muitos outros? 

Se calhar, até. Porque não tentar?  

 

---

(*) https://www.youtube.com/watch?v=TrUS9B0LcqY    


02 março 2024

DIA 2 DE MARÇO 2024: “ESTOU ALÉM


É a nona música do albúm “Anjo da Guarda”, do António Variações, do ano 1983, numa versão digna da grande mulher que é a Lena D´Água (*) .

Embora não consiga dominar/este estado de ansiedade”, tenho que dar a palavra a este Homem da minha terra. Nunca o cheguei a conhecer, era só 4 anos mais velho, mas morreu com 39 anos, muito provavelmente nos teríamos cruzado nas noites de Lisboa, nos anos 80, no Rock Rendez-Vous, por exemplo. O que ele sentia e transmitia, quando dizia não conseguir “compreender/Sempre esta sensação/Que estou a perder”, mas, por outro lado, uma outra (sensação), ao ter “...pressa de sair/Quero sentir ao chegar/Vontade de partir/P'ra outro lugar”. Nós não estamos noutro lugar, estamos aqui, para apreender (sempre) com os Autores, Poetas ou não. Embora nos identifiquemos com a tal ansiedade, “Porque eu só estou bem/Aonde eu não estou/Porque eu só quero ir/Aonde eu não vou”, não vamos decerto dar a mão a quem não o merece, quando podemos dá-la, isso sim, aos nossos, à nossa gente. Na canção, ele pergunta, “Mas porque é que eu recuso/Quem quer dar-me a mão”, na verdade é preciso ver quem de facto está (ou não) do nosso lado. 

A chegada à Campanha dos  2 “pesos pesados” adês, que todos conhecemos, bastará para convencer quem pensa que se pode (ou deve) dar a mão à Direita?  O de Boliqueime, que não se livra que o País lhe chame “múmia” e um dos personagens mais sujos da política internacional, que com Bush, Aznar e Blair descobriu as armas de destruição maciças do Iraque, que mentiu e ajudou a saquear, em nome do tal Ocidente e que disse ontem, elogiando Passos, "Temos de ter orgulho pelo que fizemos". Será preciso mais, para concluir da profunda e miserável aproximação à extrema-direita de uma Direita, que hoje é impossível classificar como “democrática”?

Para completar a cena de Santa Maria da Feira, fica a dita gafe do machista Melo, ao pedir "uma vitória robusta que permita ao Pedro Nuno Santos ser primeiro-ministro". Se depois disto ainda há indecisos, só podemos lembrar-lhes uns versos do Sérgio Godinho, que falam assim: “O fascismo é uma minhoca (não é? lá isso é)/que se infiltra na maçã (não é? lá isso é)/ou vem com botas cardadas/ou com pezinhos de lã”.

Sim, António, “Vou continuar a procurar/A minha forma/O meu lugar... ”! 


---

(*) https://www.youtube.com/watch?v=sv628d1nt-c     


01 março 2024

O MEU DIÁRIO DE CAMPANHA


Desde hoje, dia 1 de Março até ao dia 10, este será o meu Diário de Campanha.

Tenho um saco enorme cheio de adjectivos e substantivos, coisas para dizer, protestar, reclamar, proclamar, lamentar, arengar, ironizar, provavelmente, rir e chorar.

Com firmeza e com alegria, com raiva e alguma esperança, com uma enorme sede de vitória e desejo que a nossa Esquerda finalmente compreenda a urgência de tomar o Poder, em prol da luta dos trabalhadores.

Não sou candidato, não tenho já aquela força de vir para a rua gritar. Sei entretanto que havemos de ser mais / Eu bem sei e também que Só nesta rusga / Não há lugar prós filhos da mãe. E se o Zeca assim me inspira, acrescento que a música, dele e dos outros, ajudará.

Em cada dia, uma canção, um tema clássico ou do jazz, português, espanhol, francês ou italiano, sem esquecer os blues ou o rock, a salsa ou a rumba, o samba ou a morna, os sons e as músicas do Mundo, sem esquecer a Internacional, o hino dos trabalhadores, na sua luta pela emancipação.

 

 

DIA 1 DE MARÇO 2024. “FURTHER ON UP THE ROAD

Avancemos então estrada dentro.

Este clássico dos blues, aqui (*) protagonizado por Eric Clapton e Joe Bonamassa, ajuda-nos a avançar estrada fora, como ora convém, mas com algumas cautelas. Soubemos hoje dos perigos que existem, pelo menos na zona do Ribatejo, com uma tremenda insegurança, provocada por hordes nada pacíficas. Quem o avisa, sabe do que fala e, apesar de desmentido, continua cheio de medo, clamando por hipotéticas “milícias armadas”. A gente ainda se lembra do Casqueiro, chefe de fila das direitas e “admirador confesso” da Reforma Agrária, que, apesar de morto e enterrado, parece continuar a inspirar uma tal confederação de agricultores, cheios de protagonismo e avessos a cedências.

Tenho uma outra explicação que, a ser levada em linha de conta, poderá ter algum peso na Campanha. É que a coisa coincide com a entrada na estrada de personagens que, apesar de irradiarem uma “enorme simpatia no povo português”, ainda não aqueceram os motores e podem maltratar alguém desprevenido e tal como na canção, acabar maltratado, porque afinal, avançando na estrada, vai acabar mesmo por acontecer. Isto a propósito da grande Cristas, do imenso Núncio e do fanático (perdão, fantástico) Passos. Resta apenas a dúvida, as milícias devem ser para os proteger ou para nos proteger dela, deles e de outros que ainda não apareceram mas que estão decerto para chegar? 

Ainda estamos (estou?) no primeiro dia e a fertilidade da argumentação ainda tem muito terreno a desbravar. Ou seja, há ainda muita estrada para andar. Porém, os avisos feitos na canção devem ser, digo eu, para levar a sério, olhe que hoje você está-se a rir, mas um dia você vai chorarLá mais para diante, (baby) espere e verá.

 

 

---

(*) não deixes de ver, ouvir, dançar e...pensar,  ao ritmo dos blues, nesta versão ao vivo de 2012: https://www.youtube.com/watch?v=h5aVK70P88k


20 fevereiro 2024

  

 

O AMIGO IMPROVÁVEL

 

Há amizades que não são recomendáveis. É uma afirmação provavelmente pacífica, na medida em que a maior parte das pessoas, se costuma precaver de algumas situações desagradáveis, afastando quem levanta alguma suspeita, ou simplesmente não inspira confiança. Sendo a Amizade um sustentáculo da cultura humana, seria de esperar um pouco mais de eventuais amigos improváveis. Muito provavelmente.

 

Faleceu, a 16 de Fevereiro, um indivíduo, de nacionalidade russa, chamado  Alexei Navalny (AN), um jovem advogado, com apenas 48 anos, muito conhecido no Ocidente, por ser alegadamente o principal opositor político de Vladmir Putin.

Uma morte tem sempre um lado negativo. É o desaparecimento de alguém. 

Convém entretanto saber de quem falamos. Independentemente do facto de ser injustificável, em pleno século XXI, alguém ser (ou estar) preso por delito de opinião. 

Mas de quem falamos então? Segundo a UE e para o Ocidente em geral, o senhor NA é o símbolo de resistência anti-Putin, declarado como líder da oposição. 

Nada mais falso. NA sempre foi um nacionalista, da ultra-direita, tendo sido expulso do Partido Yabloko (social-democrata e pró-europeu), por ter declarado apoio expresso aos neo-nazis e extremistas de direita. Fundou então o NAROD-Movimento de Libertação Nacional Russa, uma organização que juntou neonazis de várias matizes, com o apoio de alguns jornalistas de extrema-direita. Este senhor foi, a partir da sua radicalização crescente, um blogueiro de extrema-direita, xenófobo, com um convívio bastante amigável com os fascistas e racistas mais execráveis. É bom lembrar, a propósito, as suas declarações, constantes de um video de 2007, em que comparava os imigrantes a baratas e incentivava a população a tratar estrangeiros como se fosse pragas, sugerindo o uso de armas de fogo para eliminar muçulmanos. Essa peça foi citada pelo insuspeito New York Times, em 2011, valendo a pena transcrever a posição do Jornal norte-americano:  “Ele apareceu como orador ao lado de neo-nazis e skinheads, comparando militantes do Cáucaso de pele escura a baratas. Enquanto as baratas podem ser mortas com um chinelo, diz ele que, no caso dos seres humanos, recomendo uma pistola

 

O senhor NA foi, na sua essência um xenófobo racista, que defendia a “higienização completa” (palavras dele), a deportação dos cidadãos islâmicos e, pior ainda (se tal é possível), como se viu, a eliminação. Conforme também se sabe, este senhor era pura e simplesmente irrelevante no seu País. Como afirmou recentemente numa entrevista o jornalista José Goulão seria impensável e até um acto de estupidez que o regime de Putin o mandasse eliminar. A própria Amnistia Internacional lhe retirou o estatuto de “prisioneiro de consciência”, deixando antever a manifesta mentira da propaganda do Ocidente.  Atentando no seu artigo de 11 de Março de 2021, “Conheça o herói russo da União Europeia”,

José Goulão lembra o percurso  fulgurante do senhor AN, nos Estado Unidos: “Em 2010, Alexei Navalny recebeu o diploma de graduado no programa World Fellows na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Trata-se de um seminário de 15 semanas para «futuros líderes estrangeiros», ou seja, onde se preparam, por exemplo, agentes de «revoluções coloridas» a exportar para todo o mundo onde os Estados Unidos as considerem necessárias. Alguns colegas de Navalny nesse curso não demoraram a entrar em acção e tornaram-se intérpretes do golpe dado em 2014 por Washington e a União Europeia em Kiev, que implantou na Ucrânia um regime sustentado por organizações nazis...Navalny tornara-se blogueiro e, dois anos antes da sua graduação por Yale, defendeu a guerra russa contra a intervenção da Geórgia na Ossétia do Sul em tons apaixonadamente nacionalistas. Propôs que Moscovo lançasse um míssil de cruzeiro contra o Estado Maior das Forças Armadas da Geórgia porque, garantiu, os georgianos não passam de «ratos».”

 

Entretanto, um outro senhor chamado João Gomes Cravinho, vem uma vez mais, alinhar com a propaganda: "Presto homenagem a Alexei Navalyn, que resistiu ao regime de Putin e lutou pela democracia na Rússia. Putin, que exerceu o seu poder arbitrário prendendo-o em circunstâncias cada vez mais draconianas, é responsável pela sua morte"

Sem qualquer prova evidente, acusa o regime de assassínio. E quanto à luta “pela democracia na Rússia”, das duas uma: ou anda a dormir, ou concorda com um nazi confesso e um exterminador de muçulmanos. Não há aqui meio-termo possível. É este mesmo senhor que hoje veio criticar a ausência de temas internacionais da campanha eleitoral em Portugal, para depois declarar abertamente que é preciso investir nas indústrias da guerra. O ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros, que não deve conhecer a palavra PAZ, sustentou que todas as lideranças políticas têm responsabilidades na procura de respostas para a “desordem internacional” que tem repercussões na vida de todos. Enquanto isso, vai fazendo de conta que a guerra em Gaza e na Palestina nem sequer existe, defendendo a miserável posição dos EUA, NATO e quejandos. 

Conhecemos bem a retórica anti-russa e a defesa da guerra interminável contra o “inimigo”. Tantas vezes me lembro, nos tempos de outrora, da propaganda da Emissora Nacional fascista de Salazar: “Rádio Moscovo não fala verdade”.

Tudo hoje (infelizmente) muito semelhante...

 

NOTA:   aconselha-se os eventuais “distraídos”, quando se abordam questões ligadas à Rússia, Ucrânia e outras ali bem perto, a informarem-se, a estudarem bem o assunto, antes de aderirem ao síndrome “Cravinho”, apenas e só para não fazerem a mesma triste figura dele...


05 fevereiro 2024

SOBRE A CAPACIDADE DE APRENDIZAGEM

 

Não se pode (nem deve) pedir a uma pessoa mais do que ela é capaz. Aprender sempre foi um desejo, uma vontade, aprender sempre mais um pouco, aprender todos os dias. Com os outros e consigo. A conhecida asserção “Aprendizagem ao Longo da Vida, está fortemente conotada, no Ocidente e particularmente na Europa, com a visão do Livro Branco da União Europeia “Aprender e ensinar: rumo à sociedade cognitiva” e dá um especial ênfase às aprendizagens, ao acesso à aquisição de competências e ao conhecimento, enquanto factores determinantes da adaptação à globalização das economias, às mudanças tecnológicas e sociais. E tem associada uma prática centrada na adaptação às mudanças nas organizações, e, naturalmente na identificação de soluções para os pontos fracos e os obstáculos da organização.

Mas a ideia, o conceito está lá e possivelmente terá expressão, em termos educacionais e sociais, na chamada “Educação Contínua”. Na verdade, é de uso corrente a expressão "nunca é tarde para se aprender", uma filosofia popular, própria de quem nunca desiste de saber mais um pouco e de aprender com a Vida.

 

Todavia, há pessoas que não sabem aprender. Ou que não querem aprender. Poderão ser situações diversas, pode dar-se o caso de a pessoa até saber, no sentido de ter possibilidade de, mas na prática não querer, ou por não lhe convém, ou porque está limitado, na sua capacidade de aprender, por teias imensas de interesses ou concluios. É o caso do Ministro Cravinho, um caso sério de “limitação intelectual”. Este senhor, que pessoalmente conheço, vem desde há algum tempo, a disparatar completa e cegamente na sua função, não se percebendo muito bem por que razão é (ainda) Ministro. Porventura, nem ele saberá, dado o acumular de declarações desajustadas, para ser muito brando na classificação. A sua declaração de hoje, ao partir para mais um acto de vassalagem à Ucrânia, muito simplesmente quando diz “Nada mudou” é uma manifestação de "impotência intelectual", de tal modo avassaladora, no que significa a sua incapacidade para aprender. 

Nada mudou? Pois, fique sabendo que é exactamente o contrário, tudo mudou. Mudou o contexto, mudaram as condições, mudou o cenário. Até mudou a atitude dos que entusiasticamente se lançaram contra Putin e depois acabaram por “acordar”, quando descobriram que a questão não era exactamente um problema pessoal, porventura do tal diabo à solta que anda por aí e que (sustentaram) queria invadir a Europa toda. E acordaram quando viram as consequências da russofobia, nos vergonhosos episódios de cancelamento, cultural, desportivo e social. E nos resultados das estúpidas sanções, que se voltaram contra os cidadãos, particularmente contra os trabalhadores europeus.

 

Em que mundo vive João Gomes Cravinho? Parece que só tem na cabeça a narrativa da posição norte-americana, da NATO e uma adesão canina aos interesses bélicos do armamentismo e do imperialismo. Não é capaz de “descolar”, para ele a situação é a mesma de antes do início da guerra e nem vale a pena situar a data de início, por que tal seria de facto pedir muito. Nem a própria UE tem essa visão. Aliás, mesmo sem ter nenhuma, por óbvias razões, só mesmo quem não queira ver coisa alguma, para além da propaganda enganosa que diz, “defender a Ucrânia é defender os valores e o nosso modo de vida”. O senhor Cravinho, que andará em estado de hibernação permanente, não percebe, por exemplo, o fiasco completo da chamada contra-ofensiva, que, para além de nunca se ter verificado, se converteu no mais rotundo fracasso, que nem o armamento de topo que ia resolver todos os problemas, sequer teve algum êxito. E estão neste caso, os tanques, as bombas de fragmentação, os drones, os F16, etc...

 

E claro que não é capaz de perceber que toda a encenação mediática de um governo corrupto, que não admite oposição, nem partidos, nem sindicatos, governado por um fantoche patrocinado pelos EUA, significa na prática o verdadeiro terror para os seus concidadãos, o desespero e a morte de milhares de militares mal-preparados e de civis inocentes. O despejar de toneladas de dinheiro que, sem qualquer espécie de controle, nem sequer se sabe para onde vai é um insulto constante e permanente a quem sofre as consequências da “guerra de encomenda” que é, no fundo, esta.

 

Para este senhor, apoiar a Ucrânia é apoiar e instigar a guerra. Nunca se ouviu Cravinho a falar de Paz. Ou sequer de um possível entendimento, tenha ele o significado que lhe quiserem dar. No mínimo, um pequeno esforço, um pequeno passo, no sentido de impedir a destruição completa de um País, que merece bem melhor que os dirigentes que tem e que os “apoiantes” de ocasião. À sua volta (dele) a UE desaba e ele nem dá conta disso. O seu “pensamento” está completamente bloqueado e sujeito, quero dizer, subjugado. É uma espécie de mensageiro dos EUA e da Guerra. Não é capaz de ser “assaltado” por uma singela dúvida, mas porque é que estou a fazer isto? E, em nome de quem? Será preciso lembrar-lhe a posição que decidiu tomar, em 2021, no caso dos diamantes em que estiveram envolvidos militares portugueses em missão na República Centro-Africana, onde, segundo ele, “não era vislumbrável” a escala e a natureza dos crimes e já conduziu à abertura de uma nova investigação?  

 

Caso a capacidade de aprendizagem de Cravinho fosse real e tivesse algum significado, alguma coisa, pelo menos para ele, deveria ter percebido que, quase há um ano, o insuspeito Financial Times revelou o “conselho” do Secretário de Defesa Lloyd Austin, ao afirmar que havia “uma janela de tempo reduzida para ajudar os ucranianos a preparar uma ofensiva." Foi em Fevereiro de 2023, senhor Cravinho. Deve andar mesmo muito distraído, mesmo até do que vão pensando os seus amigos norte-americanos...

 

O pior cego é mesmo o que não quer ver, diz o povo. 
Então “nada mudou”???

This page is powered by Blogger. Isn't yours?