30 junho 2025
A SURPRESA(?)
Escrevo sobre política e estratégia há alguns anos, textos, artigos, crónicas, editoriais, ensaios até. Este texto será muito provavelmente o mais difícil que me atrevo a publicar. Que seja entendido como desabafo, possivelmente um lamento, na surpresa com interrogação que o leva da distância da pena à lonjura de uma reflexão. Que pretende talvez atingir algumas consciências preocupadas, obviamente insubmissas, perturbadas com o que se passa à nossa volta e sempre com aquela vontade de intervir, enquanto cidadãos que cultivando uma melancolia consciente e assumida (a visão de Walter Benjamin) e que sabem que ela poderá ser capaz de projectar a tensão entre o luto e a acção revolucionária.
É neste contexto que vos falo sobre a candidatura de António Filipe, ontem anunciada. O Cidadão António Filipe Gaião Rodrigues, é um jurista, professor universitário e político português, com uma longa trajectória parlamentar e de compromisso com os valores do 25 de Abril. É Doutor em Direito Constitucional e Mestre em Ciência Política, Cidadania e Governação. É um Membro destacado do Partido Comunista Português (PCP). Iniciou a sua carreira política na Juventude Comunista Portuguesa (JCP), deputado à Assembleia da República, na Coligação Democrática Unitária (CDU), de 1989 a 2022 e novamente entre 2024 e 2025, representando os círculos eleitorais de Lisboa (1987-2005) e Santarém (2009-2022). Foi Vice-Presidente da Assembleia da República em cinco legislaturas (2005-2009, 2011-2015, 2019-2022). É, desde 1990, Membro da Direcção do Grupo Parlamentar do PCP. É, na perspectiva de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, um cidadão com “seriedade, capacidade de diálogo e prestígio”, a que acrescento um respeito imenso que lhe reconhecem inúmeros políticos da Esquerda e também de alguns sectores da Direita tradicional.
Devo confessar que a apresentação do António Filipe me tira um peso enorme de consciência. Afinal, tenho um candidato em que posso votar, na pessoa e no Cidadão que admiro e respeito e que é um exemplo de político com dignidade.
Só que tal não me é suficiente. Vejamos, a candidatura, embora sendo apresentada como uma resposta à necessidade de um representante da esquerda que defenda os anseios dos “trabalhadores, democratas e jovens”, num contexto de ascensão da extrema-direita, expressões que anotei das diversas notícias a propósito. Todavia, anoto também que o PCP rejeita a possibilidade de retirar a candidatura para apoiar um candidato único da esquerda, enfatizando que a decisão cabe ao povo. E, é aqui que começa a minha preocupação. Na verdade, a candidatura do Cidadão respeitável, não é a candidatura do Cidadão, mas sim a candidatura do PCP. Nada tendo a objectar e tenho que objectar tudo, perdoada me seja a utilização do truque de linguagem, que a nossa língua nos permite. Navegando em águas revoltas, pretensamente dominadas (ao que consta) pela figura preserva que conhecemos e por mais dois ou três representantes da burguesia dominante, impunha-se quiçá um grau de pensamento, análise e decisão superiores. Daí, a hipótese de poder convergir numa personalidade com uma postura diferenciada, longe da pose institucional e com uma atitude e um comportamento de ruptura, capazes de mobilizar os descontentes, injuriados e fragilizados (os proletários) da sociedade de casino em que se tornou o capitalismo predador. A estatura de uma figura agregadora da insatisfação, não reside apenas na aparência, ou pendor panfletário, mas, acima de tudo, num “comum” (termo no qual reside provavelmente a recusa do institucional) que tomasse como sua a iniciativa de levantar do chão os outros “comuns”, dispersos ou organizados, levando-os (elevando-os?) à categoria de cidadãos activos e participantes da grande tarefa de construir a sociedade sem amos, necessária e urgente.
A natural questão que se coloca, perante este tipo de questões: mas então o António Filipe não poderá, pela elevação que possui da nobre arte da política e da cidadania, ser o tal personagem? Não querendo fornecer uma resposta definitiva (não existe aliás esse tipo de resposta), poderei quando muito sustentar, sim e não, ao mesmo tempo. E mesmo sem (querer) entrar na dialéctica dos opostos, não posso deixar de dizer que, muito provavelmente a resposta “correcta” poderá ser encontrada na tensão entre os opostos, que se integram numa perspectiva mais ampla. Ensaiemos então o eventual paradoxo, como ferramenta para explorar (pelo menos) o tempo e a realidade. Sim, uma vez que parece reunir algumas das características atrás enunciadas. Não, porque se trata de uma candidatura que se encerra em si mesma e não parece ser capaz de dar o salto “comum”, essencial e necessário.
A não linearidade do tempo, mesmo no espaço que conhecemos, poderá reservar-nos alguma SURPRESA?
25 junho 2025
BALÕES
O céu cheio de balões, numa noite de festa popular. O balão etéreo, festivo e cheio de cores, sobe balão sobe, nem sabes onde irás parar, mas enfim. É (será mesmo?) o paradigma da esperança, de todas as esperanças, a ascensão social, sempre querida e estimada, dos discursos institucionais, contrastando com a “subida para baixo”, atentatória da física tradicional e das leis da terra que temos, sempre com os amos à espreita para sugar mais e mais. Mas assim é, a esperança nunca morre, dizem, mesmo que já definhe no leito das desesperanças, morte assistida, sem direito a retorno, mesmo para quem creia em tal desiderato. O balão é a alegria do momento, “tentação a experimentar”, como diria o Variações, se ainda variasse por aí, na sua postura simples, provocatória e rica de conteúdo. O balão é uma forma de estar, um princípio e um fim ao mesmo tempo, que “venho do fundo do tempo, não tenho tempo a perder” e “a vida é água a correr”, como nos ensinou o grande Poeta Gedeão, para quem a pedra era filosofal. O balão é redondo, como o vocábulo do Zeca, a quem fica cometida a tarefa dura de pensar e resistir. O balão que sobe no céu, com palmas cá de baixo, não resiste a proclamar a justiça de ser redondo, forma que se sabe da nossa esfericidade que mais ninguém (senão ele) viria a equacionar, não fosse a cantiga a tal arma de quem trabalha, como proclamou o Zé Mário.
Quando nos colocamos na teoria balonística de quem sobe e não sabe se (e quando) desce, adiantamos, desde já, uma hipótese deveras “colaboracionista”, que entronca na sua liberdade, condicionada a tudo que lhe está subjacente. Mães e Pais endividados vêm a subida do balão, até que um carro surge no alto da colina e desce destrambelhado, atropelando o trânsito na contramão da vida, que tão bem foi tratada pelo Chico, provavelmente no maior dos hinos à libertação, “tijolo com tijolo num desenho mágico”, a construir a sua fortaleza, uma casa que não possui e que deveria ser o tão propalado refúgio, o seu “terreno” e “conforto”. Subir a construção já era, hoje apenas a cantiga faz jus à “colaboração” com a vida que nos sujeitaram a levar. Por mais que a tristeza doa, por mais que passem as horas a fio dentro de si, o certo mesmo é que o balão vai subir e não vai deixar mais que um registo inábil de quem não possuí mais do que a si mesmo e para quem o balão é apenas uma trégua, o ar que respiram pode estar tão poluído como no Alentejo da nova paisagem contemplativa de painéis solares.
Então, o balão desce (quando desce) e conta-nos como foi possível uma subida e uma queda rápidas, como se o lapso de tempo se esvaísse em segundos, tal a voragem implacável da subida vertiginosa e da descida iminente. A luta pela vida é o balão que sobe e desce, numa interminável estória de sucessos e insucessos, uma volatilidade que não é senão um reflexo de uma vida de altos e baixos, onde parece que só lhe conhecemos os segundos.
O balão rebenta, ao subir, esta talvez a lição mais sábia da filosofia dos balões. Foi, assim nos contou o Fausto, “...um sonho lindo, quase acabado / lembra-me um céu aberto, outro fechado”. O céu da minha infância tinha mais cores e mais balões. Hoje, balões há muitos, como os chapéus, a sina terrível é que parece que estamos cá apenas para os apanhar, antes que o céu nos caia em cima da cabeça. Um dos balões que rebenta contém um programa imenso de reversões que vão desde a perseguição a pessoas, a restrições à Liberdade, passando pela menorização da Cultura e da Arte. Coisas de fascistas, que querem rebentar todos os balões, sinónimos de utopias que renegam e abjuram, porque apenas conhecem o medo como arma para calar e subjugar.
Pois que os balões lhes rebentem nas trombas. Bem o merecem.
17 junho 2025
A “BOA FÉ”
20 maio 2025
A LÓGICA DA LÓGICA (com ou sem batata)
Ouço na rádio a opinião de quem tinha 15 anos no 25 de Abril de 1974. Trabalhador, diz ter começado nesse ano a trabalhar e a felicidade que teve à altura. Mas o mundo evoluiu, diz o opinador e, como se está a ver o mundo virou à direita e nós temos que evoluir também, por isso devemos deixar que os outros, agora para ele a maioria, governem, porque há que deixar os outros opinar pela razão de serem mais que nós. Entendo que fale em número de opiniões. Isto a propósito da questão colocada, aliás a única questão que hoje se coloca, sobre quem e como deve o País ser governado, para haver estabilidade. Nada mais se põe em causa, apenas e só, isto.
Coloca-se aqui uma outra questão, pelo menos uma. Será que tem alguma lógica esta lógica?
Do lado do Partido Socialista parece hoje vir uma luz que aponta naquela direcção. O putativo candidato Carneiro e o sempre presente Santos Silva apressam-se a dizer que o Partido deve viabilizar a solução de governo AD, mesmo sem saber qual é o Programa, o Orçamento e outras coisas, que obviamente não têm qualquer espécie de interesse. Para eles e sua douta opinião. Mas, o que é certo é que este “pequeno” (mas significativo) contributo destes dois destacados “socialistas” vem contribuir para a lógica acima mencionada. Sim, pois, é inevitável e confere com o dito popular, “se não os podes vencer, junta-te a eles”. Nada de filosofia política, nenhuma retórica seria capaz de aspirar a tão elevado grau de cátedra, como esta simplicidade popular, a designada “filosofia de táxi”. Também lhe poderíamos chamar de vão de escada, uma vez que o degrau acima não é acessível a qualquer um. Também está muito bem que a estabilidade deles seja o mais importante, afinal foram eles que ganharam. A nossa estabilidade não é para aqui chamada, tivemos a oportunidade que o sistema nos deu para ir depositar o voto em urna, o resto não interessa, nada a acrescentar. A lógica daqueles que ditam a lógica tem toda a lógica, votamos e acabou-se a conversa. Deixem o Luís trabalhar, reedição modernaça do salazarismo, cavaquista ou não.
O “pobre” opinador do fórum espelha o País que foi paulatinamente “transformado”, desde 25 de Novembro de 1975, por Mário Soares e por toda a Direita, antes bem escondida, hoje de mãos dados com a realidade de um presente de sombras, de incultura, de permissão, de submissão, de cancelamento, de medo. De alguma (se calhar, muita) estupidez, uma espécie de auto-negação, um limbo onde cabe tudo menos a razão. E o pensamento crítico, também (aliás, desculpa, de que é que falas?) Quando o outro dizia, em plena troika, “ai, aguenta, aguenta...”, tinha razão. Sabia do que falava, sabia bem o que vinha a seguir e que veio mesmo. O perigo que nos mostram pode estar desfocado. Mas quem quer ver? Quem quer arriscar? Quando o ogre da azia diz que acabou com o Partido de Cunhal, está bem ancorado, diz apenas o que a grande maioria de “sociais-democratas de pacote” não pode dizer, mas pensa exactamente igual. Para estes (e os demais) “democratas” foi mesmo o fim da Revolução. Já andavam a preparar a ofensiva há muito. Agora podem fazer o que querem, em termos institucionais. Seja com a ajuda do bando de meliantes que ocupa o Parlamento, seja com o beneplácito dos intrépidos “socialistas” que se perfilam para o beija-mão.
Possivelmente, uma excelente oportunidade para “acordar” e dar o salto. Dizer que o País não é só o Parlamento, não é apenas eleições e mais eleições, parece ser gritar no vazio, como fez a Liza Minnelli, no cinema. Deixar de sonhar (é o termo) com “coligações e arranjos” institucionais e ocupar ruas, escolas, fábricas, repartições públicas e outros sítios. Teatros e cinemas, jornais e revistas, rádios e televisões e departamentos das universidades. Ocupar tudo o que for ocupável, com ou sem acordo ortográfico. Com ou sem vergonha. Com ou sem medo.
Deixá-los sozinhos a discutir governos e acordos.
Subverter é preciso, morrer não é preciso.
Disse.
19 maio 2025
A ALIANÇA DOMINANTE
A partir de agora, uma aliança domina o espectro político português. A aliança da submissão e do medo é a mesma aliança que foi sendo construída por políticas erradas e contra os trabalhadores, de uma social-democracia decadente e incompetente. E, acima de tudo, enganosa e tendencialmente disposta a colaborar com a Direita, nas suas várias fachadas. É dela a responsabilidade primeira pela situação de desalento e desesperança, que atirou grande parte dos cidadãos para os braços da extrema-direita, fenómeno comum ao que se vai passando nesta Europa definitivamente enterrada no seu passado e incapaz de compreender os avanços civilizacionais, que sempre acabou por rejeitar. A aliança nada tem de democrática, sendo antes uma aliança de interesses contra os trabalhadores. Todavia, sempre no caminho do suicídio assistido, o PS, na qualidade de principal intérprete do neoliberalismo “moderno”, deu-lhe uma vez mais a mão, “aprovando” governo, orçamento e presidência da AR. Suicídio que ontem se viria a confirmar com a perda de 20 lugares no Parlamento.
A aparente simplicidade da análise contrasta logo com a complexidade inerente aos sistemas políticos. O filósofo italiano Mario Perniola e os franceses Guy Debord e Emmanuel Todd, deram importantes contributos para a compreensão da evolução dos fenómenos sociais, da passagem do século XX para o século actual. Se nos centramos em Perniola e na sua “Sensologia”, poderemos encontrar algumas explicações sobre uma transformação radical dos modos de sentir. E, concomitantemente, a ascensão de um novo tipo de Poder, com base no neo-fanatismo, neo-ceticismo, fundamentalismo e niilismo, como manifestações tendentes a reduzir a acção ao imediatismo vulgar e insensato. Quando lemos Debord, compreendemos o poder da sociedade do espectáculo. Ao estudar (e vale mesmo a pena fazê-lo) Todd, percebemos as nuances do declínio do ocidente e as análises do desastre do neoliberalismo.
O reforço da Direita e o crescimento do Chega, colocaram a esquerda institucional, representada pelo PS, Livre e BE numa posição fragilizada. Para os trabalhadores, os resultados sugerem um cenário de estagnação ou deterioração das condições laborais e sociais, enquanto a esquerda enfrenta desafios estruturais para se reposicionar como alternativa viável. Na verdade, a actuação da esquerda institucional, com as suas políticas keynesianas, constitui um recuo significativo de representação e uma perda de capacidade de influenciação notável, em termos de retórica parlamentar.
Mas o que conta, acima de tudo, a partir de hoje, é a constatação de uma situação de fragilidade cidadã. O custo de vida aumenta (e ...“o povo não aguenta”), os preços sobem e as rendas de casa também, a habitação é sempre preterida, o Serviço Nacional de Saúde degrada-se e não faltará muito para ser entregue aos privados (quem já detêm uma significativa fatia), a Escola Pública não tem investimento suficiente, bem como o Ensino Superior, onde professores e investigadores são desprezados e humilhados. Às reivindicações e exigências dos trabalhadores por um salário digno e um emprego estável, a Direita e o PS afirmam que é necessário um “crescimento da economia” para depois se falar no resto. A degradação dos serviços e dos espaços públicos é uma evidência e a tão querida revisão da Constituição, propósito assumido ou não-assumido de toda a Direita, tem agora privilégio de prioridade absoluta, como se ouviu ontem nas televisões.
Vem hoje a propósito (vem sempre...) a ilusão que foi e as consequências que teve a dita "geringonça", que tanta esperança provocou em toda a Esquerda. Só que a Esquerda nunca esteve no Poder e apenas caucionou a política errática do PS, não conseguindo sequer a reversão mais que necessária das leis laborais da troika, com que o PS concorda, nem a passagem para controle público da energia, da água e dos transportes. Para além do mais, o PS não é um partido que defenda os trabalhadores, antes pelo contrário, pese embora a linguagem e um discurso enganador e hipócrita. Apesar da devida consideração como partido de Esquerda, pela base que tem, o PS o primeiro responsável pela situação criada no País, de completa traição aos trabalhadores e às suas organizações de classe, um partido de interesses e de completa submissão ao capitalismo neoliberal. Vê-se o que fez e como acabou a sua maioria absoluta.
Existe um erro sistemático de análise de toda a Esquerda institucional, sem excepção. O Livre, um apêndice do PS, com fantasias armamentistas e com uma política europeia completamente alinhada com os desvarios da Comissão Europeia. O BE com um alinhamento cúmplice ao governo nazi ucraniano, comum a toda a Direita nacional e europeia e com uma posição cada vez mais sectária, patente nas palavras e nos actos de cancelamento de quem se atreve a discordar. Apenas a CDU procurou fazer um "esforço de adaptação", conseguindo fazer passar um discurso adequado de recusa firme de compromisso e até de uma certa coragem, por ter denunciado a lavagem ao cérebro sobre a Ucrânia, sobre a dita "união europeia" e sobre a política desastrosa e cobarde desta Europa decadente.
Todavia, não bastam pequenos “desvios”, ou pequenos avanços para que a luta anticapitalista dos trabalhadores tenha significado prático, na sua condição de explorados. Torna-se cada vez mais necessário a organização e um sentido de verdadeira luta de classe. A Esquerda (que designo) institucional apresenta pouco estímulo para a luta anticapitalista, anticolonial e antifascista que é necessária e urgente. Recorda-se, por exemplo, esta realidade assustadora: o Alentejo da Reforma Agrária é hoje o Alentejo do trabalho escravo e um cemitério de painéis solares. Uma outra realidade indesmentível é a que resulta da constatação evidente: a "democracia" que temos é a democracia burguesa da dominação e da subordinação, fundamentada na propaganda e na submissão. As eleições são devidamente “programadas” e “desenhadas” pelas máquinas de propaganda do centrão partidário, hoje com a exaltação de uma extrema-direita que eles toleraram, aceitaram e institucionalizaram. Por uma poderosa e eficiente máquina demolidora de sondagens, que “ajudam” a formar opinião, pela “estabilidade”, pela “governabilidade” e pelo “interesse do país”. E por um exército de comentadores, na sua imensa maioria, tendenciosos, ignorantes e acéfalos. Roubando a ideia ao insuspeitoAdelino Maltês, é a “república dos comentadores”, de que ele é aliás um bom exemplo.
Não é de esperar por uniões sem sentido à Esquerda. União sim, mas na base, nos trabalhadores, nas lutas conjuntas, na ocupação das ruas, das casas, das empresas. Nas lutas pela habitação. Na luta pela Escola Pública.. Na luta contra o Estado terrorista de Israel. Nas lutas contra a guerra e pelo desarmamento. Na luta contra a NATO, uma organização assassina e terrorista, responsável por todos os conflitos em todo o mundo. Muita luta a travar e tal só se consegue numa perspectiva de classe: rejeitar o poder do Capital e da classe possidente. Criar e amplificar a organização dos trabalhadores, dar sentido revolucionário às greves e a todas as formas de luta para que os trabalhadores avancem para o controle da economia, no sentido da sua emancipação.
Não são palavras de retórica, antes um possível apoio à acção, já que resistir é necessário, mas não é suficiente.
29 abril 2025
A ORIGEM DO APAGÃO DA PROPRIEDADE DA REN E DO ESTADO
Apagou-se o País, escondeu-se uma vez mais o PM, coisa habitual, uma vez que, cada dia que passa, menos tem para dizer (ou dar) aos cidadãos, a não ser a verborreia do costume e a propaganda de uma obra (não)feita. Na prática só deu a cara (ou a voz) ao princípio de uma noite, o dia havia sido angustiante à procura de uma explicação. As que soubemos, dadas pelo presidente da REN (empresa privada, responsável pela gestão do Sistema Eléctrico Nacional e do Sistema Nacional de Gás Natural em Portugal), foram feitas na perspectiva técnica e, quando tal acontece, a utilização de linguagem hermética ajuda a que tudo fique sem explicação. Mas acabou por dizer o mais importante, se querem mais segurança terão (obviamente) que pagar mais pelo serviço. Desde a privatização do sector energético, feito pela Direita unida nos tempos da troica e jamais posta em causa pelo Partido Socialista, tem sido um acumular de lucros para os privados, que nunca aceitariam por em causa uma distribuição de dividendos para prestar um melhor serviço ao consumidor. E já agora, para a Direita, é isso mesmo, o cidadão é um mero consumidor, que acaba sempre “consumido” pelo preço que paga pela energia. Só para memória futura, diga-se que o preço da energia em Portugal é um pouco inferior ao de Espanha, circunstância que facilmente se anula, comparando salários, o nível de vida nos dois países e ainda de outros preços de bens essenciais que, em Espanha, têm valores mais baixos. E, convém que se saiba que no nosso País o sector foi vendido ao desbarato e, em Espanha, o sector é detido pelo Estado em 20%.
A E-REDES, responsável pela distribuição de energia em Portugal, indicou que o apagão resultou de um problema na rede eléctrica europeia, especificamente na rede de muito alta tensão em Espanha. Este problema causou um "efeito dominó" que afectou Portugal devido à interconexão das redes ibéricas. A REN confirmou que o apagão teve origem fora de Portugal, com grandes oscilações na rede espanhola por volta das 11 horas e 32 minutos, quando Portugal importava cerca de um terço da sua energia de Espanha (!). As primeiras informações da REN apontavam para uma causa que nem sequer existe, nem nunca existiu, a saber, um "fenómeno atmosférico raro", conhecido como "vibração atmosférica induzida". A tal causa que seria resultante de oscilações em linhas de alta tensão devido a variações de temperatura, citando a agência Reuters, que tinha obtido a informação junto da SIC. Embora a REN tenha depois desmentido (...), o certo é que confirmou que o apagão teve origem fora de Portugal, com grandes oscilações na rede espanhola.
Como este Governo não faz a mínima ideia como a coisa funciona (que o venham desmentir, se puderem...), o ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, admitiu a possibilidade de um ciberataque, dado o impacto em larga escala em vários países, citando Portugal, Espanha, França, Itália e outros. Logo a seguir viria a ser desmentido pelo PM, ancorado na posição do Centro Nacional de Cibersegurança, afinal não havia indícios concretos de um ataque cibernético. Saliente-se entretanto, que o Governo criou um grupo de trabalho para acompanhar a crise e decretou situação de crise energética, enfatizando (através do PM) que a origem do problema não estava em Portugal e pediu à população que “evitasse consumos desnecessários”, uma delícia de expressão para quem não dispunha de energia eléctrica. Este Governo, tal como todos os outros, não cuidou da manutenção e actualização de linhas de alta tensão, sub-estações e sistemas de controlo, necessários para melhorar a rede eléctrica, que enfrenta envelhecimento em algumas infraestruturas. Como se explica o facto de, neste momento, apenas existam 2 pontos de suporte utilizados para repor o fornecimento de energia em Portugal, a central de Castelo de Bode (hídrica, em Abrantes, Santarém) e a central de Tapada do Outeiro (termoeléctrica, em Gondomar, Porto)?
A questão da “propriedade” coloca-se aqui em toda a sua amplitude. A soberania energética refere-se à capacidade de um país ou região garantir o fornecimento de energia de forma autónoma, segura e sustentável, reduzindo a dependência de fontes externas e mitigando vulnerabilidades em crises como o apagão que afectou o País. O tema é crítico também no contexto europeu, dado o elevado grau de interconexão das redes eléctricas e a dependência de importações de energia. A Europa opera uma rede eléctrica altamente interligada, gerida por organizações como a ENTSO-E (Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Eletricidade). O apagão, possivelmente originado por uma falha na rede espanhola ou na interconexão franco-espanhola, demonstrou como uma avaria local pode desencadear um efeito dominó em vários países. O nosso País, que importava cerca de um terço da sua energia de Espanha no momento do incidente, foi particularmente afectado, evidenciando a vulnerabilidade de países com menor capacidade de produção própria. Uma eventual conjunção (acumulação) energética com fontes renováveis, como a solar e a eólica, embora essencial para a sustentabilidade, introduz desafios de intermitência, exige sistemas de armazenamento e fontes pilotáveis (como hidroeléctricas ou gás) que nem todos os países possuem em quantidade suficiente. A provável diversificação de fornecedores de energia, exige maior capacidade de armazenamento (baterias, hidrogénio verde) e interconexões robustas. Embora a interconexão tenha contribuído para a propagação do apagão, ela também é essencial para a soberania energética, permitindo que países com excedentes de energia (como a França, com a sua capacidade nuclear) apoiem outros em crise. No caso do nosso País, embora seja útil a interconexão com Espanha, impõe-se uma maior capacidade de produção própria para evitar impactos tão severos em falhas externas. Portugal deve diversificar a sua matriz energética, combinando renováveis com fontes pilotáveis (pequenas centrais modulares nucleares, por exemplo), reduzindo dessa forma a dependência de importações em momentos críticos. Tal só é possível quando o sector energético passar para o controle público dos cidadãos. Uma vez que o País é líder em energias renováveis, com cerca de 60% da eletricidade proveniente de fontes como hidroeléctricas, eólicas e solares (valor em 2024), deverá fomentar um investimento público em projectos como, por exemplo, o do parque eólico offshore de Viana do Castelo. Só o controle público permitirá, por exemplo, um investimento sério em micro-redes e sistemas de armazenamento (baterias e bombagem hidroeléctrica), por forma a aumentar a autonomia em crises.
Colocar em causa a propriedade da REN é pois um desafio, uma exigência dos cidadãos. Como a RNE é privada e distribui dividendos aos accionistas superiores, jamais lhe passaria pela cabeça baixar os dividendos aos accionistas em nome de melhores sistemas de segurança e armazenamento. O seu objectivo é o lucro e por isso não serve aos cidadãos. O apagão sublinhou a importância de sistemas de controlo e monitorização autónomos, capazes de isolar falhas rapidamente e evitar colapsos em cascata. É imperioso investir em redes inteligentes (as designadas “smart grids”), que monitorizam a rede em tempo real e isolam avarias, expandir a bombagem hidroelétrica, com o aproveitamento de barragens existentes (como Alqueva), investir em baterias, criando um Plano Nacional de Armazenamento. E que seja gerido por comunidades de cidadãos, para permitir a operação autónoma de áreas críticas, como hospitais ou centros urbanos.
Não se sabe ainda, com precisão, como a aconteceu o apagão. Porventura já se saberá que não terá sido o Putin, com o alicate na mão a cortar a energia, como aparece nas redes sociais. O que se sabe é que o País foi informado pela Antena 1, a Rádio pública, enquanto o governo, cobarde e incompetente, não foi capaz de informar por canais de emergência o que se passava. O que se sabe é que a situação actual do sector energético capturado por privados, nem serve o Estado enquanto tal, nem serve seguramente os cidadãos. Portanto, é mesmo a propriedade que está em causa.
Recordo o inspirador do título deste artigo quando dizia, que enquanto a energia for tratada como mercadoria, a sua gestão estará sujeita às contradições do capital, seja em mãos privadas ou estatais. Friedrich Engels quando escreveu a obra que dispenso de nomear, sabia bem que a terra sem amos não era apenas uma ideia ou uma aspiração. É, continua a ser, uma exigência.
22 dezembro 2024
ENCOSTAR O GOVERNO À PAREDE
Imagens de terror e de humilhação que da rua passam e entram pelos ecrãs das televisões, qual espectáculo degradante e desrespeitoso da Liberdade.
Assim, um governo indigno e miserável humilhou cidadãos imigrantes, minorias desprotegidas e esquecidas. Lembradas apenas quando o poder quer manifestar o seu desprezo pelas condições em que vivem.
Imagens que pouco diferem da primeira e que deveriam envergonhar os “responsáveis”, autores da ideia e da sua concretização.
O governo da Direita, reaccionária e fascizante, quis encostar à parede os cidadãos, para encontrar uma faca (não se sabe se faca de cozinha ou canivete), supremo castigo para quem vive a trabalhar.
A única resposta possível é mesmo encostar este Governo à parede.
Se querem humilhar os cidadãos na rua, é na rua que têm que ser travados, Governo e Presidente da Câmara de Lisboa, parceiros na “luta” contra os imigrantes.
Impossível ficar indiferente!
À mais que previsível próxima rusga, aleatória em qualquer “benformosa” rua da Cidade, saibamos responder de forma clara, por exemplo, cercando a sede do Governo e encostando à parede todas e todos os montenegros, melos e quejandos que nos faltam ao respeito e que pretendem, acima de tudo, denegrir cidadãos e lançar a insegurança.
O País não é propriedade desta gente sem escrúpulos!
ENCOSTEMO-LOS À PAREDE!
25 novembro 2024
A COMPARÊNCIA
“Porque é que de mim levo o mesmo pressentimento
de jornadas para sempre infrutíferas
que está no morto firmamento...”
"O Pranto da Escavadora, III", de Pier Paolo Pasolini (1956)
A comparência de hoje na Assembleia da República (AR) à farsa orquestrada para comemorar o tal dia de Novembro, curiosamente vinte e cinco, foi classificada por Rodrigo Sousa e Castro como uma “fantochada”, na entrevista à rádio TSF, às 10 horas da manhã. O ex-militar de Abril, que foi um dos subscritores do chamado “Documento dos Nove”, tem uma visão fática e algo ingénua do levantamento daquele dia. O Grupo, que tinha o mesmo nome do Documento, era constituído pelos ditos oficiais “moderados”, alguns dos que se opunham ao desenvolvimento do processo revolucionário em curso e que haviam derrubado o V Governo Provisório de Vasco Gonçalves, em Agosto de 75. Sousa e Castro procurou, da forma que melhor conseguiu, transmitir o seu desencanto pela actualidade, que descreveu como um avanço de toda a direita reaccionária, tipificada em certas personalidades do PSD, do que ainda resta do CDS e dos grupúsculos da extrema-direita, incluindo os que têm assento parlamentar. Desencanto que diz transforma-se em tristeza profunda por ver o Eanes associado à dita fantochada.
O que faltou dizer (Sousa e Castro não o poderia fazer) é que o 25 de Novembro liquidou por completo a Revolução que se seguiu ao golpe de estado protagonizado pelos militares em 25 de Abril de 1974. E ainda, que o processo revolucionário tinha proporcionado uma tipologia de poder paralelo ao poder de Estado, nos quartéis, nas fábricas e nas empresas, nos campos e nas casas, com o papel fundamental desempenhado por comités de fábrica, unidades colectivas de produção, comissões de trabalhadores, comissões de moradores e outros organismos de base.
Deturpa-se a história, tentando reescrevê-la, inundam-se as consciências com a narrativa pérfida do fantasma da “ditadura comunista”, pretende-se demonstrar que a liberdade só foi possível com o golpe de Novembro. O vício de raciocínio é de tal forma falacioso que, muitas vezes, são os próprios viciadores que ajudam a desfazer a própria narrativa. O 25 de Novembro é a consequência natural do triunfo da normalidade contra um processo revolucionário que foi um dos momentos mais altos do País, em termos de direitos, liberdade e garantias. A liquidação da Revolução de Abril. Até hoje, foi sempre a recuar.
Sobre quem colaborou no momento "folclórico de uma era bizarra", classificação de Joana Mortágua (BE), são ainda de salientar as palavras de Pedro Delgado Alves (PS), "não foi uma vitória da direita sobre a esquerda, foi uma vitória da esquerda democrática contra uma deriva sectária e radical”. Se ambos os Partidos considerariam não serem admissíveis “revisionismos, vontades revanchistas ou provocações”, pergunta-se, porque aceitaram participar, porque decidiram comparecer?
A comparência na AR é assim a demonstração pura e dura da realidade no nosso País, vergada à dominação da Direita e à mais triste servidão e submissão de todos os que, dizendo não a apoiar, lhe prestam veladamente tributo e vassalagem. É este, “dentro de mim... o mesmo pressentimento”.
06 novembro 2024
MAGA Patológica
No dia das bruxas e bruxinhas lá do sítio acabou por triunfar esta (ou este). Ficou mais perto de um céu qualquer. Que é patológica, porque alguma patologia tem, pode ser de “pato”, ou outro qualquer animal. Doentio? Sim, claro. E bastante. Mas lá no reino parece ser a/o maior. E isto de duvidar do género dele/a também tem a sua piada, sabemos bem porquê.
Entretanto, a Maga original tinha alguma lógica (era Patalógica, ou seja, uma Pata lógica), sempre a tentar roubar a moeda número um ao Tio Patinhas, esta MAGA (ou este) rouba descaradamente, não é julgado por isso e, elas e eles, ainda votam nele e elegem-no para chefe. Isto poderia parecer estranho um mundo qualquer, mas neste não é assim, porque é o mundo das bruxas, as quais, como se sabe, não existem, mas que as há, é verdade. Entretanto, a outra bruxinha simpática, bonita e bem-disposta, lá foi fazendo a sua guerra, aliás é especialista nisso, mas, como era duma outra facção mais escura, ficou pelo caminho, muito caladinha. Dinheiro parece não lhe ter faltado, das guerras e suas armas e de outras coisas que para aqui não são chamadas.
Num outro reino que tem por hábito prestar vassalagem a este logo se elevaram algumas figuras de proa, congratulando-se com a vitória do ser patológico, apesar de, uns dias antes, lhe terem chamado os piores impropérios. Assim funciona o patológico meio dos bajuladores e do séquito de outros animais caninos. Excitam-se até, na sua ânsia de ser fiéis.
Ainda bem que sou um gato...
19 outubro 2024
O PS É A MELHOR MULETA DA DIREITA
Nada que não se esperasse.
Pedro Nuno Santos deu o golpe final na esperança de quem nele confiava.
O PS, com medo de eleições, vai, uma vez mais, dar a mão à direita, argumentando que é um "partido responsável". Isto deve ler-se na perspectiva seguinte: é RESPONSÁVEL por caucionar as políticas da direita, em mais uma tentativa de destruir o Estado Social em Portugal. É RESPONSÁVEL pela aniquilação de qualquer esperança à Esquerda, porque, apesar do discurso enganoso, acaba sempre do outro lado da barricada.
Um Partido sem rumo e sem ideias, na verdade cada vez mais próximo do PSD, com quem diz divergir, mas que a prática e os factos mostram que afinal o que quer é convergir.
O PS não se livra dos remoques do Ventura, que ora se reclama "líder da oposição". Na verdade, com esta "aliança" com o PSD, fica completamente prisioneiro da estratégica da Direita. Sim, oposição porquê, quando vai caucionar um orçamento do "adversário"?
O PS é um partido perdedor. Mesmo quando ganha alguma coisa está sempre com medo de perder, ou eleitores, ou lugares, ou simplesmente a confiança.
O PS é um partido que nada tem a ver com o nome que usurpou à tradição do movimento operário.
o PS é um partido de burocratas, sempre a espreitar a melhor oportunidade de salvar o capitalismo e trair os trabalhadores.
O PS não tem cura, é mesmo a melhor MULETA DA DIREITA!
09 outubro 2024
A MELHOR DAS OPORTUNIDADES
A traição é uma constante, quando se insiste numa “verdade” discutível e perversa e se dispensa o essencial, que consiste em estar atento e defender quem deve ser defendido, quem produz riqueza e é sistematicamente explorado.
Bater no Partido Socialista (PS) é um verdadeiro exercício democrático. É “obrigatório” chamar este partido à razão, porque sistematicamente navega nas águas turvas da mais alarve “moderação”. Não significa desrespeito pelo Partido. Antes pelo contrário, tem todo o sentido: obrigar o Partido a não perder oportunidades.
Uma oportunidade como esta não pode, nem deve ser desperdiçada. Num cenário do mais absoluto desprezo pelo cidadão e pelo Estado Social, o Partido que se diz “socialista” só tem uma hipótese de votar, que não o descredibilize por completo: CONTRA.
Não é, pois, admissível que este Partido ainda esteja a pensar em subterfúgios, equacionando uma putativa abstenção, dando assim mais uma oportunidade de sobrevivência ao triste e sórdido governo da Direita, que não tem o direito de continuar a destruir o País, como muitos outros o tentaram fazer antes. Este governo só tem um caminho possível e nem vale a pena especificar qual. Um governo que admite nunos melos e outras aberrações sociais, está à partida ferido de morte e não tem salvação possível.
Quem ainda tem alguma salvação é o PS. Votando CONTRA estará a tomar uma posição de classe. Se é (ou não) capaz de o fazer é questão cuja resposta é afinal tão simples quanto isto: recusar a chantagem da Direita e afirmar-se como alternativa. Outra questão será saber se este PS é alternativa. Afinal, nunca o será se alinhar com o situacionismo.
A situação, assim colocada, parece simples. Não ceder, não alimentar ilusões, não pactuar. Mesmo que possam parecer muitos “nãos” ao mesmo tempo. Porque ainda há mais. O malévolo conceito de “sentido de estado” não passa de uma tradução rasteira de “colocar o Estado em sentido”. A Direita obviamente gosta disto. Se o PS também gosta, não vale a pena dizer que é de Esquerda, quando não passa de um apêndice da Direita.
Mas que grande oportunidade de contrariar a “lógica” dos últimos tempos. Será possivelmente a última que o PS tem. Abster-se, significa sofrer de impotência, a doença maior da política, o cancro da chamada “democracia”.
Apenas para dizer que não falei de oportunidades...
05 outubro 2024
A REPÚBLICA DO CARUNCHO
É impossível esquecer imagens com esta.
Quais insectos que corrompem o tecido social, apresentam-se (sempre) acompanhados pelo poder repressivo, pedem democracia mais “igual e “justa”, vociferam contra “inércia e “vaidades”. De acordo com os relatos da clique jornalística caseira, não deixam de “apontar obstáculos e imperfeições”. Dizem que a “República e democracia estão vivas, mas sabem que têm de mudar e muito”, sem perceber que estão a falar contra eles próprios e contra a sua classe de burocratas. Ao proclamar uma democracia "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária", estão a ofender a Igualdade, a Justiça e a Fraternidade. Abusam da Liberdade, interpretando-a como uma variante arcaica, profundamente anti-republicana.
São o caruncho de uma sociedade podre e castradora.
Não merecem a atenção dos cidadãos, que no dia a dia lutam por uma vida melhor. Ao contrário dos revolucionários que, em 1910, renegaram a monarquia e tentaram erguer uma República soberana. Hoje, mais uma vez, o povo que dizem representar fez questão de nem sequer lhes ligar, não comparecendo ao fausto da sua “festa”, preferindo quiçá parar e pensar no significado de uma “democracia” falsa e hipócrita. Ou em como esta sociedade predadora se tornou um paraíso de milionários e de “verdades” estupidificantes, onde abunda uma multidão de insectos assassinos.
Bem esteve hoje o Presidente, ao afirmar "A melhor maneira que tenho para servir o interesse nacional é não dizer nada". Seja lá o que for o tal “interesse”, iremos assistir ao som do silêncio a que temos direito?
01 outubro 2024
COISAS...
Os mesmos "democratas" que estrebucharam em 2022 com a invasão russa da Ucrânia estão agora surdos e mudos com as matanças de Israel em Gaza e agora com a invasão ao Líbano.
É bem claro e evidente que estamos a falar de coisas diferentes.
É bem claro que o que deve contar para todos nós é a posição "sensata" e "moderada" do Ocidente e dos aliados, as verdadeiras e únicas "democracias".
O resto é conversa. Estamos perigosamente perto da estupidez e da cretinice americanas, bem patente na santa ignorância da maioria e da cega absoluta a tudo o que não é americano.
O que é bom é a NATO e a UE. E quem assim não pensa é "...ruim da cabeça ou doente do pé", como bem canta Dorival Caymmi. Rima e é verdade.
E já agora uma nota de somenos importância. Todas as notícias a "que temos direito" vêm directamente do mesmo lado, ou seja do governo ou do exército de Israel. Claro que isso é para não ficarmos baralhados...
O que nos "descansa" é que os "bons" ( NATO e UE) estão diariamente a fazer esforços "...no sentido de minimizar o conflito". Embora, todos os dias, estejam a fornecer armas e munições para Israel. Mas claro, isso não interessa para nada.
Tem que haver um BASTA!
08 julho 2024
E QUE VIVA A INSUBMISSÃO!
Situando as coisas, atentemos no triplo verdadeiro significado de “insubmissão”: rebeldia, desobediência, insubordinação.
O viva à insubmissão faz hoje, 8 Julho 2024, todo o sentido, não apenas pela vitória da coligação de Esquerda em França, mas também pelo facto de o Partido maioritário da Nova Frente Popular ser o “França Insubmissa”, de Mélenchon. E ainda pela recusa ao conformismo burguês, que apostava na continuidade, tivesse ela a face macroniana, ou a penista da extrema-direita.
A comunicação social burguesa montou um espectáculo favorável, sobretudo quando apostou, como sempre o faz, em falsas premissas, baseadas na tese perversa que, na Europa, as pessoas cansadas de políticas adversas à sua condição e aos seus direitos, querem apostar em qualquer “coisa diferente”. A perversidade está precisamente no facto de a “tal coisa” ser a extrema-direita, que nada tem para oferecer, a não ser mais miséria (Itália...), mais desigualdade, mais discriminação, mais ódio. Na verdade, o catastrofismo que apregoam é secundado caninamente pelos comentadores do regime, que promoveram e promovem a extrema-direita que dizem combater, que normalizaram as agremiações fascistas, nazis e xenófobas, equiparando-as à uma “extrema-esquerda” que apenas existe na sua limitada imaginação. E, para cúmulo, nas suas teses lerdas e limitadas que contribuem, nos tempos que correm, para a estupidificação colectiva, a principal marca do “venturoso” século XXI.
Claro que há “mas”. Há sempre um “mas” para tudo. Mas (lá está) quando se tenta mascarar a vitória da Esquerda, com afirmações néscias, como “a derrota da extrema-direita não é assim tão má, porque afinal aumentaram o número de votos...”, “o partido de Macron afinal não foi derrotado como o previsto...”, ou “as Esquerdas dificilmente se vão entender...”, chega-se ao delírio máximo do desvario. Aliás, não foi a comunicação social burguesa, através do mecanismo perverso das sondagens, que mais “orientou” para a “inevitabilidade” da ascensão e presumível vitória da extrema-direita? Os “mas” que agora se devem colocar nada têm a ver com a lógica burguesa que, ao distorcer por completo a ideia de democracia, afirmam hoje que “isto” é apenas um intervalo, o que interessa agora são as presidenciais.
Entretanto, atente-se neste delicioso pormenor: a questão parece ser sempre o personagem (mulher ou homem), a sua pertinência, ou resiliência, sinónimos de um poder fátuo. A verdadeira questão é o sistema, um sistema económico e financeiro que promove diária e permanentemente, desigualdades e injustiças. Precisamente na França, onde hoje há quem não tenha dinheiro para comer, para comprar remédios, ou para ter uma habitação decente, tal foi a fúria neoliberal que se abateu sobre os trabalhadores.
Para os comentadores e para os acólitos jornalistas que os promovem e incentivam o que interessa é mesmo (como sempre aconteceu) desviar atenções para a “personagem”, ocultando o essencial. Ao apostarem no catastrofismo patente, exemplificado em tiradas destas, "desastre para a economia, tragédia na imigração...” ou “vitória da Esquerda é uma verdadeira derrocada para a Europa”, estão a promover quem as profere. Ao procederem desta forma são cúmplices do capital e merecem o repúdio generalizado. A sua falta de credibilidade é, não só, fruto da sua incompetência, mas sobretudo sinal da sua ligação fatal aos interesses do dinheiro. Acordarão num monte de esterco no dia em que os trabalhadores acordarem e tomarem o Poder.
Fica, para reflexão, a crítica ao “sistema democrático”, que o Ocidente (e particularmente a Europa) promove e quer impor como único e o melhor para o “nosso modo de vida”. Tal é particularmente sensível a quem, por absoluta impossibilidade, não conhece outro. O que querem dizer quando falam no “reforço da democracia”, ou no “aprofundamento do espaço democrático na Europa”, quando vemos, multiplicados todos os dias sinais de restrições à Liberdade de expressão, gastos sumptuosos de dinheiro para promover e instigar a guerra, imigrantes despojados e atirados ao mar, populações marginalizadas caso não alinhem pelos tais “valores”, cidadãos cada vez mais pobres e sem acesso aos bens essenciais?
A EU vai mesmo conviver mal com a vitória da Esquerda em França. Vai obviamente engolir um sapo do tamanho do seu ego. Esta “união”, que dá palmadinhas nas costas a nazis declarados e a fascistas encapotados, precisa mesmo é de uma insubmissão generalizada, que promova o Conhecimento e que active o melhor do ser humano, para a destruição do sistema que o oprime e o impede de pensar. Bento de Jesus Caraça, disse, nos anos trinta do século passado, “Um pensamento que não passe à acção ou é aborto ou é traição”. Saibamos ler, nas palavras deste Ilustre português, o necessário (hoje, doloroso) apelo à acção.
E que viva a INSUBMISSÃO!
15 junho 2024
OSLO, “FAROL DE LIBERDADE”?
Acordo hoje com a notícia e um programa especial de promoção da Rádio TSF, sobre o “Fórum de Liberdade de Oslo” (Oslo Freedom Forum- OFF), que ora se inicia.
Por terras de Cabo-Verde, onde me encontro, o assunto é completamente estranho e não admira. Tal evento parece apenas ser notícia na Europa, nos EUA e no auto-designado “mundo livre”, que, como é sabido, agrupa as ditas “sociedades desenvolvidas” e que incarnam o espírito do Ocidente, de supremacia branca e convencido que a sua influência é global e que o resto do Mundo lhe tem que prestar vassalagem. Pior, que a imensa maioria do resto do Mundo representa para eles uma ameaça existencial, precisamente porque não partilham os “valores ocidentais”, tidos em absoluto, como “livres” e “democráticos”.
Para a organização do dito evento, o grande objectivo é juntar, uma vez mais, “os combatentes pela liberdade e as iniciativas humanitárias em oposição aos regimes autoritários em todo o mundo”. Curiosamente (ou não) o programa da TSF dá voz exclusivamente, aos “combatentes” contra Putin, contra a China e contra todos os gravitam na auréola do império norte-americano e que não vêm mais nada que a “liberdade” do neoliberalismo, que naturalmente dita do alto do seu poder quem é, ou não, “democrático” e “livre”. Um dos mentores (e chefe máximo) deste evento é o bem conhecido “mestre” Garry Kasparov, que do xadrez passou para a política, ressabiado com o Partido Comunista Russo, fundador de uma outra organização política e pretenso candidato à Presidência, mas que não conseguiu reunir no seu País qualquer interesse, embora tenha sido promovido no Ocidente, tal como aconteceu com o “encantador” Alexei Navalny, que considerava os muçulmanos como baratas e que defendia o seu extermínio. Também muito naturalmente, viria a culpar Putin, pelo seu fracasso. Na sua obra, "O Inimigo que Vem do Frio", Kasparov inclui um subtítulo, na edição inglesa, muito significativo, "Why Vladimir Putin and the enemies of the free world must be stopped" (“Por que é que Vladimir Putin e os inimigos do Mundo Livre têm de ser travados”). Como tudo isto fica bem, ao gosto ocidental.
Resta apontar que o OFF é uma conferência anual apoiada, segundo informação da organização, “por várias instituições que concedem doacções na Escandinávia e nos Estados Unidos através do Human Rights Foundation (HRF)”, sendo que a HRF se auto-classifica como “organização sem fins lucrativos que se concentra na promoção e protecção dos direitos humanos a nível mundial, com ênfase no que designa por “sociedades fechadas”.
Por falar nisso, por oposição e bem ironicamente, existirão as “sociedade abertas”. E são estas que ignoraram quase completamente o Fórum Económico Internacional de São Petesburgo (SPIEF), realizado de 5 a 8 de Junho. Nesta sua 27ª edição, o SPIEF contou com a presença de mais de 21 mil participantes provenientes de 139 países, tendo como tema central “um mundo multipolar para construir um novo ponto de crescimento”. Esta é curiosamente uma verdadeira Maioria Global, com BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul), SCO (Organização de Cooperação de Xangai), EAEU (União Económica Euroasiática), CSTO (Organização do Tratado de Segurança Colectiva), CICA (Centro de Informação sobre Contaminação de Ar), União Africana, NAM (Movimento dos Não-Alinhados), entre outros. Aliás, poderá até dizer-se que a maior parte da comunicação social do Ocidente-Sociedade Aberta ocultou simplesmente (para não utilizar um termo mais forte) a realização do SPIEF.
Diante da maior farsa dos últimos tempos a que deram o nome de “conferência de paz”, os fantoches ocidentais que promovem a estupidificação colectiva, perante a indiferença cúmplice de tanta “gente conceituada”, também parecem ignorar a declaração da Federação Russa, que diz claramente “Assim que Kiev anunciar a retirada de todos os territórios de DNR, LNR, regiões de Kherson e Zaporozhie e prometer não ingressar na OTAN, Moscovo dará a ordem para cessar-fogo e iniciar negociações”. A verdade, nua e crua, é que a Ucrânia, (ou melhor, o seu presidente) e o Ocidente não querem paz alguma, mas simplesmente a guerra contínua, que massacra primeiramente o povo da Ucrânia e depois os trabalhadores ocidentais, que sofrem as privações e que, em última instância e contra a sua vontade, financiam a guerra.
Como bem afirma o filósofo português Viriato Soromenho Marques, em artigo publicado no Jornal Diário de Notícias, no passado 10 de Junho 2024, “O neoliberalismo e a sua teologia de mercado intoxicaram a construção europeia, desde logo na incompetente arquitectura da Zona Euro, e depois na passividade cúmplice face à subida aguda da desigualdade e da pobreza nos países europeus”.
A estratégia que influencia o dito OFF é a mesma que suporta o neoliberalismo, vive e alimenta-se dele, contra a grande maioria (os 99%). Como têm tudo à disposição, dinheiro, armas, exércitos e propaganda, enganam e escravizam os 1% de todas as formas possíveis.