29 abril 2020

A MENINA DANÇA?


Uma imagem com edifício, homem, sala, frente

Descrição gerada automaticamente
Não encontro melhor título, para este Dia Internacional da Dança ou Dia Mundial da Dança, que foi instituído pelo CID da UNESCO no ano de 1982.
O título é contudo “roubado” ao Grande Mestre do Jazz, JOSÉ DUARTE que, depois de inúmeros e incontáveis incursões nas Rádios e TV., “1, 2, 3, 4, 5 minutos de Jazz” (1966), “Pão Com Manteiga” (1980), “À volta da meia-noite”(1985), imaginou este, que dá o título à crónica. 

Para além do movimento, há o ritmo e o prazer de baloiçar o corpo e o espírito.
Nietzsche dizia (embora há quem diga que ele nunca disse isto...), “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”
Partamos do princípio que disse. 
Há uma verdade provavelmente escondida (na frase) e que poderá ter a ver com a nossa própria saúde mental. Que provavelmente se liberta, quando dançamos....

Dancemos pois neste dia, mesmo que metidos em casa (dança-se bem...), ainda que por vezes com pouco espaço.

Uma imagem com interior, brinquedo, mesa, brincar

Descrição gerada automaticamente
Quero deixar aqui e agora o meu contributo ao casal de dançarinos mais conhecido, no Porto e Arredores do Mundo (pelo menos do que em conheço): os meus Amigos, Francisco e Milú.
Ah, o tango, as milongas...



26 abril 2020

O HOMEM QUE “DESFILOU SOZINHO EM LISBOA...COM PORTUGAL ÀS COSTAS





























A notícia (*) corre com a velocidade acelerada, não de passo de corrida, mas de camunha lenta, quiçá penosa.
Diz a Autora Rita Neves Costa, que, “...um homem desfilou às 15 horas numa Avenida da Liberdade deserta, em Lisboa. Sem carros, pessoas e só com a presença de agentes da autoridade. A bandeira gigante de Portugal pinta o quadro de uma avenida vazia, mas que todos os anos se enche de milhares de pessoas para festejar a liberdade e a democracia. Este ano, a pandemia obrigou a que ficasse sem gente e cravos vermelhos.”

Soberba caminhada
Quem é?         
Apenas um Homem, que carrega a Pátria...           
Tal como ele, carregamos a bandeira que bem queríamos que fosse o símbolo de um País e não de um mero protectorado dessa "união", onde estamos unidos a coisa alguma e onde somos ainda insultados diariamente, por sermos quem somos.

O Homem que carrega o estandarte bem poderia (quem sabe) chamar-se Portugal. 
De qualquer forma, ele sabe o que representa. Não precisamos de lhe perguntar de que lado está, decerto não se identifica com quem vai pagar impostos à Holanda, nem quem carrega para os offshores as mais-valias subtraídas.
Para provar que não toca a todos por igual, a crise que assola o mundo, Portugal (assim se chama, porque eu quis) corre a Avenida deserta e proclama, sem precisar de dizer uma palavra, a Soberania.    

Assim queremos apoiar o Senhor Portugal, Homem e Cidadão de honra, que só por este gesto merece (não estivesse tão banalizada) a medalha que o distingue dos que se escondem na sombra.       
Que viva então o Portugal de Abril, que viva assim a Avenida que se diz LIBERDADE!

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25 abril 2020

25 ABRIL SEMPRE, FASCISMO NUNCA MAIS! 


21 abril 2020

NÃO HÁ DIREITO!




















Sempre com a realização deste senhor Acácio, a estação de rádio TSF, organiza todos os dias, o chamado fórum TSF.

Os temas variam, são sempre escolhidos pelo senhor Acácio, que é mestre na divulgação do populismo mais rasteiro. Normalmente conta também com outro populista chamado Baldaia (que já foi director da estação).

Raros são os programas que têm algum interesse. 
Mas normalmente (quer dizer, sempre) a voz aos ouvintes só é dada, depois de o senhor Acácio conceder um tempo de antena a um “comentador”, durante (mais ou menos) 20 a 30 minutos, para emoldurar melhor a discussão, que é uma forma elegante de dizer, para a condicionar fortemente ou mesmo, em algumas situações, para fazer pequenas lavagens a cérebros que habitualmente gostam dessa “prática” .
Ontem foi assim, hoje assim é.


E hoje reza assim: “As duas polémicas sobre os aumentos na Função Pública: a crise provocada pela Covid-19 devia ter travado os aumentos, como diz Rui Rio? É aceitável que o Ministério da Saúde se tenha atrasado, e que médicos e enfermeiros não recebam já o aumento da Função Pública?

Reparem na subtiliza da pergunta. Normalmente é assim e, nalgumas intervenções que fiz procurei chamar a atenção. Debalde, claro.


De qualquer forma, repito: NÃO HÁ DIREITO

No centro disto, está naturalmente Rui Rio (RR).

Provavelmente o mais populista de todos os populistas, adquire agora, por direito próprio a função de “POPULISTA INSTITUCIONAL”.
Não é um populista qualquer, apoia o Governo, o Presidente, as medidas, o estado de emergência, envia cartas aos militantes a dizer que não se deve guerrear o Governo, quer toda a gente "unida" e outras coisas assim.
Quer, acima de tudo, protagonismo, porque nada tem para dizer de substantivo.
Mas é que, mesmo nada.
Porém, a Direita é assim, está a chegar o 25 de Abril e precisam de manifestar a sua “autonomia” à data da Libertação, uma forma elegante de dizer, “mostrar as garras”...


E, volto a repetir (nunca é demais), NÃO HÁ DIREITO!

RR diz então que os aumentos na função pública este ano "não podiam acontecer".

Os miseráveis aumentos de 0,3%, que mesmo assim custaram a conseguir, foram aprovados e agora, depois disso, RR vem dizer que não senhor.
Note bem:
1. Desde 2009 que não havia aumentos generalizados na função pública. 
2. Em 2019 apenas a remuneração mínima de base foi atualizada para os 635 euros.
3. São aumentos de 0,3% para a generalidade dos trabalhadores e de 10 euros para as remunerações inferiores a 700 euros, com retroactivos a janeiro.

E é esta miséria de aumento que assim mesmo RR vem contestar. 
Ou melhor, dizer mesmo que não, nem tinha que acontecer.
Acresce ainda que, para cúmulo dos cúmulos, o aumento para os trabalhadores da saúde (médicos, enfermeiros, técnicos,...) não virá processado a tempo, em mais uma trapalhada do Ministério da Saúde.

E agora, como tinha que ser, perante a crise económica causada pela pandemia de covid-19, o executivo não se compromete com aumentos na função pública no próximo ano.
Claro, alguém tem que pagar as crises, não é senhor Costa?
Mas isso não é austeridade, não senhor, lá mais para a gente será inventado um novo termo para a mesma.

16 abril 2020

A “FRENTE” QUE FAZ FALTA


Esta poderá ser uma imagem da actualidade.
Comentadores e público em geral, uma representação da modernidade, que se assumiu como tendo alguma validade, quer no plano das ideias, quer no panorama político. Tal poderá configurar, no futuro, um relativo excesso de representação, em termos de análise social, deixando eventualmente de lado, franjas significativas da população portuguesa, que se sentem à margem de qualquer decisão, por terem aparentemente perdido representatividade, na sua essência.
A questão coloca-se sobretudo (agora) em tempos de crise.
Para a comunicação social, uma tremenda manipulação de consciências, mesmo admitindo que o inconsciente o sobrevalorize. Desde a última década do século XX, tem sido assim, ou seja, existe uma camada privilegiada que se arvora como consciência colectiva, tomando como adquiridas, determinadas asserções e projectando-as no inconsciente colectivo, tomando-as como válidas, exactamente porque o teriam sido, através de um processo complexo de desarticulação da informação, por um lado e, por outro lado, pela construção de uma memória presente colectiva, a que é estranha a concepção do “homem comum”. Contudo, autores como Walter Benjamin, atribuem uma importância acrescida a este pormenor, sobretudo quando afirma que o homem comum”, “...através de suas rememorações, traz uma contribuição fundamental para a desconstrução da versão oficial da história, relatada, com frequência, a partir do ponto de vista dos vencedores.”

A preparação da “normalidade”
Uma boa preparação implica a difusão pelos chamados meios de comunicação social, com uma equilibrada difusão de “fóruns de opinião” e inquéritos colocados às massas. Começando pela chamada informação, ela é rigorosamente organizada, de molde a constituir uma representação da realidade, através da repetição de meia dúzia de frases feitas, de opiniões de comentadores que não são especialistas de coisa alguma, mas que opinam sobre qualquer tema, com a ligeireza que lhes foi “ensinada”, e que invariavelmente constituem a dita “opinião pública”. Que é construída de cima, fabricada portanto e devidamente registada como válida e confirmada. De quando em vez, é notório, em alguns desses fóruns de opinião, uma ou outra voz, que se levanta contra, de uma forma primária e que é devidamente “arrumada”, no contexto global. Falar muitas vezes que a “a situação voltou à normalidade”, faz com que tal seja verdadeiro, mesmo que, no terreno, nada disso corresponda à realidade. 

O falso dilema entre Saúde e Economia
A discussão que se pretende colocar, em termos de comunicação social é, entre dar prevalência à Saúde ou à Economia, como se fosse possível equacionar as coisas desta forma. Em primeira instância, dir-se-ia que, primeiro devemos curar todos os doentes e depois (só depois) nos centrarmos na questão da Economia. Claro que colocar as questões desta forma, não é, uma vez mais, inocente. Destina-se, este tipo de “análise” a induzir de novo o medo na população. 
Claro está que uma das obrigações do Governo, é governar.
E governar, será em primeira instância, determinar exactamente os timings devidos, acertando, entre cidadãos e empresas, as melhores formas de “retomar” as actividades económicas. O que determina uma coisa muito importante que é, a urgência (que já devia ter sido, no mínimo, há um mês atrás), do uso obrigatório de máscaras de protecção. Sem isso, nunca poderá existir segurança das e para as pessoas. Esta falha, que teimosamente continua, é um espelho do relaxe e uma contradição absoluta do “estado de emergência”, que apenas e só existe, para determinar restrições aos trabalhadores, menos uma protecção a que o Estado está obrigado.
Vista a situação actual, com uma certa frieza, diria que a ordem para o confinamento geral, se deve, única e exclusivamente, à incapacidade manifesta de resposta imediata, devido à sistemática e progressiva liquidação do Serviço Nacional de Saúde, quer pela sucessiva recusa de investimento, em infra-estruturas e materiais (máscaras, gel desinfectante, viseiras, testes de despistagem, ventiladores e outro), quer ainda por aquela que deveria ter sido a primeira medida a tomar: a requisição imediata dos hospitais privados. Esta responsabilidade deve ser unicamente imputada a este Governo e a todos os anteriores.
Não deixa de ser manifestamente ridícula, a posição das 2 Responsáveis da Saúde (Ministra e Directora-Geral), sobre o uso das máscaras, praticamente 1 mês depois da pandemia estar “confortavelmente” instalada, quando já eram suficientemente conhecidas experiências a provarem que aquele uso era absolutamente prioritário. Vejam-se por exemplo, para citar apenas estes, os exemplos da Coreia do Sul, de Singapura, da República Checa.
Sintetizando a questão actual, a declaração de João Oliveira do PCP, é elucidativa, “As medidas de contenção são necessárias, o estado de emergência para as impor é que não.”[i]


E, por falar em Economia 
Sobre a questão de um eventual colapso da economia, a nível interno, existe já um cálculo para o abaixamento do PIB nacional, uma queda de 11%, na previsão de Francisco Louçã, de há uma semana, ou 8%, segundo notícia de 14 Abril, do FMI, mais 380 mil desempregados.
Então o que vai acontecer agora daqui por alguns meses (1, 2 ou 3, ou mais), quando for necessário tomar medidas? Para os comentadores habituais do sistema, serão sempre “medidas excepcionais”, a questão centra-se em quem as irá tomar. Um governo de um bloco central? Um Governo da “Salvação Nacional”, que curiosamente salta sempre para cima da mesa e questão é sempre colocada de uma forma conservadora, uma vez que parte dos princípios erróneos, “não há dinheiro”, “não existem condições para garantir a todos...”, “...agora haverá consequentemente menos dinheiro”, etc...., A lógica deste tipo de argumentação baseia-se sistematicamente num dado, pelos vistos adquirido, de que haverá menos dinheiro para mais pessoas, uma vez que o bolo é o mesmo.  A consequência conhecida deste tipo e análise é obviamente a necessidade de cortar pensões e salários e reduzir as prestações sociais. Segue-se a falta de dinheiro para os sectores fundamentais do Estado Social, o SNS, a Escola Pública, os transportes e por aí adiante. Esta análise, simplista e propositadamente enganadora, não resulta apenas de uma manifesta falta de visão de política estratégica, mas sobretudo da limitação decorrente da incapacidade de equacionar qualquer cenário que se apresente como alternativo. Quer a nível da própria metodologia de análise, que no que reporta aos dados concretos da economia portuguesa. Claro que, ao referir-se a possibilidade (ainda que remota) de uma hipotético bloco central, está automaticamente a excluir-se (de novo) a Esquerda de sequer desempenhar o seu papel, pelo menos na definição de Poder.

Mas a questão (da Economia) não é só nacional
A nível da chamada união a nível da chamada “união europeia”, os condicionalismos a nível do não entendimento Norte-Sul, a nível de saber qual será a posição de Alemanha, de qual será a posição da Itália, uma economia “interessante” para os desígnios do mercado europeu, os enredamentos habituais nestas circunstâncias, com múltiplas e desencontradas intervenções de burocratas e eurocratas, ao serviço da propaganda oficial, dos convénios e dos tratados, das idiossincrasias dos mercados (vistos aqui como pessoas concretas, sujeitas a boas e más disposições de momento), das condições e contradições sobre o tratamento das dívidas soberanas. A suprema ironia da ajuda de Cuba a Itália, demonstra bem a completa inutilidade da chamada “união europeia”, que entretanto se vai perdendo em jogos florais, nas ultimas semanas, para culminar em mais um “acordo” no grupo de burocratas ministros das finanças, conhecido como eurogrupo, que consiste na  “...abertura de uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) num valor equivalente a 2% do PIB, para que os países possam financiar medidas “directa ou indirectamente” ligadas ao sistema de saúde é a peça central do acordo obtido esta quinta-feira pelos ministros das Finanças da zona euro.” (Jornal Público, 9 Abril 2020). Claro está, com condições associadas, que têm a ver, com a obrigatoriedade do cumprimento das regras orçamentais europeias, bem como a aplicar o dito financiamento, apenas para o fortalecer a resposta do sistema de saúde.
Nada de novo, antes pelo contrário, na “resposta europeia”, que apenas irá, ao contrário do que dizem Costa e Centeno, provocar, mais cedo ou mais tarde, a austeridade conhecida. Dado que, na perspetiva da Alemanha e dos seus satélites do Norte, serão sempre as economias nacionais a pagar o empréstimo, desde que lhes estejam associadas as convenientes restrições, que nem precisam de estar escritas à partida, uma vez que derivam das regras de funcionamentos do euro e dos tratados e convénios, na sua grande maioria, não ratificados pelos Estados Membros.

A falta de uma verdadeira estratégia 
A questão de saber, uma pergunta sistemática e propositadamente feita aos cidadãos, se o Governo está a actuar bem e em tempo, é falaciosa, por duas razões. A primeira, porque compete de facto ao Governo tomar as medidas adequadas e em tempo. A segunda, porque os cidadãos não dispõem dos dados suficientes para responder. E então, das duas, uma. Ou respondem que não, por razões que ultrapassam a questão principal, ou dizem que sim, porque não encontrar motivo suficiente para dizer não. 
E depois, nestas questões de segurança e gravidade nacional, não é nada avisado alinhar com aqueles teses (muito difundidas, aliás) que tentam convencer as pessoas que isto é “...uma doença que toca a todos por igual”,  é “...uma crise que toca a todos por igual”, que “...temos que nos unir perante a ameaça do vírus”, e outras do mesmo género. Que correspondem afinal às teses de certos autores que proclamam constantemente, quer a hecatombe, quer a passividade, mais ou menos completa (ou complexa). 
Nesta linha, que chamo de “passividade activa”, Harari[ii] escreve há dias uma autêntica proclamação, “A humanidade precisa fazer uma escolha. Iremos percorrer o caminho da desunião ou adotaremos o caminho da solidariedade global? Se escolhermos a desunião, isso não apenas prolongará a crise, mas provavelmente resultará em catástrofes ainda piores no futuro. Se escolhermos a solidariedade global, será uma vitória não apenas contra o coronavírus, mas contra todas as epidemias e crises futuras que possam afetar a humanidade no século XXI.” Isto analisado, mesmo sem ser à lupa, quer dizer, absolutamente zero, uma vez que parece desconhecer a situação de perfeita guerra surda, por exemplo, na dita “união europeia”, que demorou duas semanas a parir um pacote que significa menos que nada, perante a calamidade prevista (até pelo próprio FMI).
Mas diz mais, parecendo que vive noutro planeta, “Um país rico com poucos casos de coronavírus deve estar disposto a enviar equipamentos preciosos para um país mais pobre com muitos casos, confiando que, se e quando, posteriormente, precisar de ajuda”.
Esta “linha” de pensamento não acrescenta coisa alguma, apenas serve para tentar convencer os cidadãos que está tudo bem e que, mais dia menos dia, cairá de algum céu perto de si, a solução de solidariedade milagrosa, em que parecem acreditar. Claro está que se uma qualquer esmola significativa vier a surgir, então o problema dissolve-se, pelo menos na mente de quem a defende...

Preciso é preparar cenários...
De facto, é mesmo o que parece faltar.
A maioria dos partidos Políticos portugueses não tem, ou melhor não parece sequer querer, a mínima noção do que deve ser um Programa Mínimo de alternativa, para encontrar respostas para a situação presente. Da Direita, considerada como “representada” por PSD, CDS, PAN e IL, aquilo que se conhece é, mais ou menos disfarçadamente, o apoio mais ou menos consensual ao Governo, com variantes interessantes, que apenas têm a ver com o desejo de aproveitamento político, aqui com especial relevância para o PSD. O PS e o BE, cada vez mais parecidos, apesar dos discursos serem aparentemente diferentes, resultantes da necessidade de alimentar bases ideológicas distintas, o que leva, por exemplo, o BE a apresentar medidas e propostas correctas, numa situação normal e que mais parecem perdidas na conjuntura que atravessamos. A justificação prende-se com a falta de visão estratégica do BE, para a questão europeia, que naturalmente “tolhe” os movimentos da maioria das suas intervenções. Resta o PCP, o único partido político em Portugal, como uma visão clara sobre a questão europeia, mas que não tem (a visão) o peso suficiente para alavancar uma posição ampla de defesa da soberania e de repúdio completo das normas, tratados e convénios da dita “união europeia”. 
Escrevi, em artigo de 13 de Abril [iii], “Se porventura o Governo da República nos viesse dizer que iria apostar num plano de agricultura sustentada, num plano de industrialização consequente, que iria optar por uma diminuição da dependência externa, reformulando alguns circuitos de distribuição. Se finalmente nos viesse anunciar um plano de pleno emprego, subsidiado pelo Estado, combatendo assim, de forma eficaz, a miséria e a exclusão. Se porventura ainda pudéssemos dar algum crédito a quem nos governa, pensando: bem, esta administração tem algumas boas ideias, valerá a pena conceder-lhes um benefício de dúvida. Se ainda nos viessem dizer que iam desenvolver todos esforços por lutar, por exemplo, com a Espanha, a Itália e a França, no sentido da anulação dos tratados odiosos e ainda de equacionar a aquisição da soberania que nos falta e que nos foi indignamente retirada, então diríamos, vale a pena juntar a nossa voz, porque nos estamos a proteger e a cuidar particularmente daqueles que nem voz têm para falar, tão fraca é a sua condição.”
E é aqui precisamente que nos encontramos. Entre a escolha, que tem que ser feita, de o nosso País continuar a ser um protectorado da Alemanha e a recuperação completa da soberania, fora da EU e fora da moeda única, única forma de o País poder emitir moeda, para responder de imediato à crise e para proteger os cidadãos, os seus salários, as suas pensões. 
A ilusão pode ser, como sempre é, fatal. As classes mais desfavorecidas da sociedade portuguesa, os trabalhadores, os pequenos comerciantes e industriais, não se podem (nem devem) iludir com a “teoria geral do confinamento”, com os remendos habituais e as esmolas que aí virão. No final, irão receber a factura, após o colapso das instituições e, a seguir este caminho, do próprio Estado Social.

Este pode ser o momento.  
Primeiro para proceder a uma correcta interpretação, porque todas as crises comportam, ou devem comportar, uma adequada e sistemática interpretação. Que estará a ser feita, mas nunca, ao que parece, a nível dos responsáveis pela administração do Estado.
Para incentivar uma comunidade de cidadãos, com um programa apoiado em bases concretas, tendo como prioridade a análise da dívida e a sua imediata restruturação, bem como o estudo de uma alternativa nacional, para readquirir a soberania perdida. 
Uma Frente, para fazer frente (assim mesmo) à situação actual, que deveria exigir, para já, ao Governo actual:
·      um levantamento da capacidade produtiva do país de forma a identificar, no plano da agricultura, do pequeno comércio e particularmente da distribuição, as empresas que podem contribuir para a produção dos produtos e materiais necessários, ao funcionamento do País, em situação de emergência;
·  um plano de triagem da população, que permita por um lado a identificação dos casos de risco sério e, por outo lado, em colaboração com as Cooperativas, Associações, e outras Organizações privadas sem fins lucrativos, a inventariação de todas as actividades necessárias aos cidadãos, incluindo a questão médica e sanitária, em primeiro lugar;
· um plano imediato de protecção do emprego, com proibição dos despedimentos;
· um plano imediato de protecção da habitação, sobretudo para aqueles que têm encargos na banca e perderam o emprego;
· nacionalização imediata de todas as empresas estratégicas para a actividade do País, desde a industrialização à comercialização, passando naturalmente por todos os circuitos de distribuição, incluindo transportes, comunicações, rede eléctrica e sanitária.
Essa Frente, deverá incluir naturalmente os Partidos Políticos, que acordem com aquelas e outras linhas mestras necessárias à resposta. 
Apenas 5 pontos, muito simples, muito directos, a que terão que se adicionar muitos mais, de forma a contribuir para a definição de uma Estratégia. 
Não parece ser difícil a concordância com aqueles pontos.
Este não é o discurso vazio do “...daqui para a frente, tudo vai ser diferente”.
Mas na realidade, se a emergência causada pelo vírus poder contribuir para alguma coisa, que o seja para uma significativa mudança de atitude. 

Alfredo Soares-Ferreira
16 Abril 2020




[i] Declaração sobre o Estado de Emergência, votação na AR de 16 Abril 2020
[ii] Yuval Noah Harari, professor de História, na Universidade Hebraica de Jerusalém.
[iii] Blogue Rio Torto, in: https://alfblogue.blogspot.com      

15 abril 2020

POUPAR EM TEMPO DE MORTE


A asserção "Poupar em tempo de morte", utilizada pelo Economista Jorge Bateira, num video colocado no Facebook, é bem o espelho desta conjuntura. 
E o problema (ainda) maior, é que a ultrapassa. 
Quero dizer que, para além da poupança evidente, não existe qualquer definição de uma estratégia. Para o médio prazo e para o futuro. 
Se porventura o Governo da República nos viesse dizer que iria apostar num plano de agricultura sustentada, num plano de industrialização consequente, que iria optar por uma diminuição da dependência externa, reformulando alguns circuitos de distribuição. 
Se finalmente nos viesse anunciar um plano de pleno emprego, subsidiado pelo Estado, combatendo assim, de forma eficaz, a miséria e a exclusão. 
Se porventura ainda pudéssemos dar algum crédito a quem nos governa, pensando: bem, esta administração tem algumas boas ideias, valerá a pena conceder-lhes um benefício de dúvida. 
Se ainda nos viessem dizer que iam desenvolver todos esforços por lutar, por exemplo, com a Espanha, a Itália e a França, no sentido da anulação dos tratados odiosos e ainda de equacionar a aquisição da soberania que nos falta e que nos foi indignamente retirada, então diríamos, vale a pena juntar a nossa voz, porque nos estamos a proteger e a cuidar particularmente daqueles que nem voz têm para falar, tão fraca é a sua condição. 

Assim, ou melhor, não sendo assim, que crédito podemos dar a quem nos governa e não cuida daqueles que afinal sustentam o Estado com as suas contribuições, pagas em Portugal e não na Holanda?      

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Texto que acompanha o video do Jorge Bateira
A escolha vai ser feita por si. É obsceno que o governo conte os tostões nos apoios aos 'de baixo'. As regras do euro são a razão principal por que o faz. 
O que está em jogo nesta pandemia é a sociedade que queremos ter depois da tragédia que nos atingiu. Queremos manter um SNS sub-financiado, com os seus trabalhadores desconsiderados por falta de condições de trabalho e salários medíocres? Queremos um país que forma bons enfermeiros e médicos e depois os empurra para a emigração, ou para o sector privado que vive das rendas que os nossos impostos lhe pagam? Queremos um país profundamente desigual, em que uns acedem facilmente ao dinheiro do Estado, enquanto tantos outros ficam sem rendimento algum, até obrigados a ir pedir comida a uma IPSS, porque a sua situação precária, na economia informal, não encaixa nos apoios previstos? Queremos ficar, para sempre, metidos num colete de forças económico-financeiro e político que obriga o Primeiro-Ministro a mendigar a autorização de Bruxelas para gastar o que for preciso, para salvar todos os que estão em estado de necessidade e não cabem na burocracia montada para que o défice e a dívida não cresçam demasiado? E os que já têm dívidas que cheguem e, nesta emergência, estão convidados a aceder a mais endividamento (vulgo "linhas de crédito" em que o Estado só gasta com os que não cumprem), porque dinheiro a fundo perdido é demasiada despesa para uma dívida que, passada a tempestade, pode fazer Bruxelas perder a boa-disposição?
E foi assim que trataram os bancos e os banqueiros na crise financeira? No vídeo de 5 minutos que aqui vos deixo, o meu ponto é este: vai ser preciso escolher entre, (a) uma vida soberana e digna em que teremos de construir com esforço o nosso futuro e (b) uma vida decadente, de mão estendida, num protectorado em que a Alemanha tem a última palavra.
A escolha vai ser feita por si
.”
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14 abril 2020

APOIO EUROPEU VAI CONVERTER-SE EM AUSTERIDADE? "NÃO. PODEM ESTAR DESCANSADOS"


Acordamos com a “promessa” de Mourinho Félix, que garante à TSF [1], que o pacote de 500 mil milhões não vai converter-se em austeridade. 
Cansados do vírus, cansados de estar confinados, só nos restava agora esta retórica que, de tão gasta, é porventura a que melhor encaixa neste Governo do Partido Socialista e com a estratégia “europeia” do “maestro” Centeno.
Perguntar-se-á que efeito terá o título do artigo, retirado do sítio internet da TSF, na maioria dos cidadãos portugueses?
A mesma questão poderia ser igualmente colocada a qualquer país da Europa do Sul.
Abalados pela(s) dívida(s) que não quer baixar, o protótipo do estado europeu do Sul e, em particular o nosso País, sem ter o principal instrumento de gestão de toda uma política orçamental, ou seja, sem moeda própria, está completa e totalmente amarrado e incapaz de propor uma politica económica consistente e consentânea com o desenvolvimento do País, no sentido do combate às desigualdades e da  erradicação da pobreza. No mínimo.
Ao mesmo tempo e reparem na diferença, sabemos hoje que o Banco de Inglaterra vai financiar directamente o Estado britânico, durante o tempo que o Governo considerar necessário para combater as consequências económicas do covid-19.
Mas sempre se deve dizer: para isso é que serve um país ter a sua moeda própria.
Isto é tão evidente, que quase dispensaria comentários.

Todavia assim não acontece.
O presidente do eurogrupo, classificou ontem (9 Abril), em entrevista à TSF, que o pacote europeu de 500 mil milhões de euros para combate à Covid-19, significava um conjunto de propostas "muito ambiciosas que teriam sido impensáveis há algumas semanas". E, aludindo à última crise, em que "a Europa fez muito pouco e demasiado tarde", 
Mas há mais, na retórica gasta de Centeno. É que ele garante que "só conseguiremos atravessar esta crise juntos, enquanto europeus".
Como é possível falar desta forma, que considero abusiva e até, neste contexto, simplesmente criminosa?
Não e não. Embora ele saiba bem que é assim, não pode enganar os cidadãos. 
Em primeiro lugar, porque não existe qualquer intenção de “atravessar esta crise juntos”, da parte dos países que impõem a política das sansões e do medo. 
Em segundo lugar, porque já se sabe, há muito tempo, que não existe qualquer sentido no “enquanto europeus". O que existe é uma realidade bem diferente, em que um País, detentor da moeda e de um Império, a Alemanha, continua a sugar os países do Sul, lucrando com as suas dívidas soberanas, enquanto permite que os países do Norte, sejam alimentados, de acordo com a sua a perfeita anuência e cumplicidade. 
“Todos juntos”, com as empresas a pagar impostos na Alemanha.
“Todos juntos”, com a mais completa ineficácia da dita “união”, na questão dos refugiados.
“Todos juntos”, a olhar para a desgraça sanitéria e humanitária, na Espanha e na Itália e a não arriscar sequer um mínimo de apoio (que teve de vir de Cuba, da China, ...)
Todos juntos, a pagar para a NATO semear a Guerra, por toda a parte, com o dinheiro dos nossos impostos.

Impossível concordar, nem que seja, numa pequena parte
Como faremos a recuperação da economia do País, agarrados aos acordos e tratados, que impõem uma austeridade permanente e constante, ainda que atenuadas aqui e além, por tímidas (muito tímidas mesmo) medidas, como, no caso concreto do nosso País, a diminuição dos preços dos transportes, ou um modestíssimo aumento em salários e pensões, estes, segundo já por aí corre, ameaçados para 2021?
A resposta é por demais simples e directa: não faremos!
Nesta lógica de administração da situação presente, não faremos mesmo!
E o pior é que o Governo actual, é mestre em disfarçar a austeridade, sempre forte para com os mais fracos e, meigo que nem o cordeiro da páscoa, para com a banca, para com as grandes empresas. Este Governo é enfim, completamente benevolente para com o capital rentista, que sempre lhe exige a socialização dos prejuízos, ganhando sempre e mais uma vez.
É absolutamente miserável que nos venham de novo dizer que “podemos ficar descansados”. 
Não, não podemos ficar desancados. Estamos é cansados de tanta verborreia, tanta coisa gasta e suja, com um discurso mentiroso e cobarde. 

E como a Esquerda vê isto?
A pergunta é por demais actual e pertinente.
Enquanto uns ainda sonham com coronabonds e mutualização das dívidas, acreditando que ainda é possível reformar este estado de coisas, lamentando-se diariamente, na comunicação e nas redes sociais, desencantados com esta europa, outros vêm combatendo este inútil desencanto e esta postura dúbia e enganadora.
Entretanto, lá fora, as empresas pequenas e médias desesperam, em riscos de encerrar, sem possibilidade de reabrir, as famílias, fechadas em casa, algumas sem o mínimo de condições para tal, são cumprimentadas todos os dias por Costa e Marcelo, que se estão a portar muito bem...
Se uns e outros e muitos outros mais, pudessem ao menos falar, depressa destruiriam a retórica daqueles que governam sobretudo para o espectáculo e para as estatísticas. 
Por isso, é mesmo necessário um outro olhar sobre a situação. Um olhar isento de medo, sobretudo. Mas que também exigente, com alguma serenidade, alguma reflexão sobre os fracassos conhecidos. 
Não basta adquirir conhecimento. É preciso utilizá-lo para a acção. 

Um pensamento para ... qualquer coisa que mexa por aí!
Termino com algumas palavras, excerto de uma entrevista ao Jornal “El País”, do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, de 8 de Abril, sem qualquer comentário: “A introdução do euro dividiu a comunidade monetária em norte e sul, em vencedores e perdedores. A causa é que as diferenças estruturais entre as regiões econômicas nacionais não podem ser compensadas se não se avança no sentido da união política. Faltam válvulas, como por exemplo a mobilidade em um mercado de trabalho único ou um sistema de segurança social comum, e faltam competências europeias para uma política fiscal comum. A isso se acrescenta o modelo político neoliberal incorporado aos tratados europeus, que reforça mais ainda a dependência dos Estados nacionais em relação aos mercados globalizados. O elevado desemprego juvenil nos países do sul é um escândalo absurdo. A desigualdade aumentou em todos os nossos países e erodiu a coesão populacional. Os que conseguem se adaptar aderem ao modelo econômico liberal que orienta a ação em benefício próprio; entre os que se encontram em situação precária, espalha-se os medos regressivos e as reações de ira irracionais e autodestrutivas.”

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[1] https://www.tsf.pt/portugal/economia/apoio-europeu-vai-converter-se-em-austeridade-nao-podem-estar-descansados-12055572.html

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