13 fevereiro 2018

RADIO GAGA












Posso pedir um disco? Daqui Rádio Voz da Liberdade, amigos, companheiros e camaradas. Teatro Tide apresenta. Daqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas. Os tempos de ontem, mais ou menos assim, ou muito mais, que havia o entremetimento ou a mensagem a passar, consoante o distrair, ou o lembrar. A Rádio sempre esteve lá, a contar como foi, como era, ou como parecia ser. Ou uma rádio algo artesanal, com pouquíssimos meios de produção, ou uma potente máquina de propaganda. De uma forma ou de outra, era rádio, acontecia qualquer coisa.
(Uma marca que vinha do éter) 
 "I'd sit alone and watch your light // My only friend through teenage nights // And everything I had to know// I heard it on my radio…", ouvindo o "Em Órbita", a minha companhia de adolescente, o nosso refúgio, era o Dylan e a Joan Baez, todos os anos, o melhor e o pior, lembro o Atlantis do Donovan, tanta música, tanto poema, a guerra do Vietnam, a contestação permanente. Uma forma de ver e ouvir.
(Dantes nada era contado)
Era tudo às avessas, para tornear a máquina censória, que envergonharia o País e que torturava e matava os dissidentes, a rádio passeava os do governo e ignorava tudo à volta. A Rádio? Não, era apenas mais um instrumento de opressão do regime. E nos anos de estertor do fascismo, vinha o ZipZip e o desfilar de todas as mágoas, de todos os cantos, a heroica e a satírica, as armas e os barões misturados com a anarquia de uma paisagem, onde se alcançava tudo e quase nada. Os relatos do Artur Agostinho e a classe do Pessa, a voz que lembrava a britânia. 
(Até ao Dia)
Em que a Rádio salta todos os muros e vai a todo o lado com a malta, porque faz falta agitá-la e dar-lhe Poder. Aí, temos rádios aqui e ali, uma teia de fios ténues, valia tudo, era a libertação. A cadeia humana que deu voz a Timor Lorosae, a luta e a esperança.
(Radio GaGa)
Tudo isto é rádio, um bla-bla contínuo, a conjugação de tantos interesses e a voz suave e meiga do jornalista ou a voz poderosa e estridente do agitador.
O respeito pelo silêncio, a música do vento, a chamada sincopada dos encontros imediatos, a denúncia, o reconhecimento, a abstracção, o torpedear constante da propaganda, o anúncio estúpido da pasta de dentes, a voz do mestre, o arroto do político menor, os jingles da rádio.  Há uma rádio que passa um programa chamado "Informação Inútil", por sinal bem mais útil do que a informação sobre a bolsa (mas quem raio é que se interessa pela bolsa?), ou do que os "comentários" idiotas de meia dúzia (se calhar mais...) de "residentes", que sabem falar de tudo e parecem viver num planeta distante.
 "All we hear is radio ga ga // Radio goo goo// Radio ga ga// All we hear is radio ga ga //Radio blah blah // Radio what's new? // Radio, someone still loves you!"
A Rádio faz-nos companhia, se não gostas, desliga. Só ela nos pode transportar a universos desconhecidos, e tem a música, essa linguagem universal, que um dia poderá ser quiçá mais estimada e reconhecida.
Eu gosto da Rádio!


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