06 junho 2011

Contornar o obstáculo






"Perante um obstáculo,
a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva
…"

Bertolt Brecht, in: “Vida de Galileu






Fecha-se um ciclo político, com o apuramento dos resultados do acto eleitoral de 6 de Junho. Pela primeira vez, a direita consegue o “sonho” de Sá Carneiro, uma maioria, um governo, um presidente. Quaisquer que sejam as ilações, diferentes obviamente segundo a perspectiva, a verdade é que o País foi sistemática e criteriosamente conduzido a uma situação de ruptura das finanças públicas, pela governação dos 3 partidos do convencionado arco do poder. Atribuo inteira responsabilidade da situação a que chegamos à politica desastrosa do Partido Socialista e à diletante prestação de José Sócrates, que agora sai de cena, deixando o Partido num estado de indefinição, contrariando as expectativas legítimas de milhões de portugueses, que nele (partido) depositaram alguma esperança de mudança. A atitude de permanente aproximação à direita liberal, significa numa palavra, a traição. Tudo foi permitido, durante os 6 anos de governação: banca agarrada ao poder, alimentando-o e alimentando-se dele, não contribuindo (como qualquer empresa) com o pagamento do imposto devido, destruição do aparelho produtivo, com o inevitável decrescimento e aumento do desemprego, diminuição crescente do poder de compra, descrédito completo do sistema de justiça, ausência de vontade politica de combater a corrupção, enfim, o assalto sistemático ao aparelho de Estado, para contrabalançar a quota relativamente ao PSD – CDS. O horror à esquerda, tantas vezes manifestado pela liderança do secretário-geral, numa arrogante manifestação, que ele próprio designava de coragem. Tudo era afinal contrariado pela prática constante de multiplicação de institutos e agências, com uma plêiade de acólitos, geralmente pagos a peso de ouro, num País que cada vez foi ficando mais desigual.

Mas este acto eleitoral confirma uma democracia cada vez mais fragilizada. As maiorias são agora criteriosamente fabricadas por uma comunicação social cúmplice do poder económico das grandes empresas, com o seu séquito de comentadores e analistas, confortavelmente acomodados, e ainda pelas empresas de sondagens que, sob a capa diáfana da auscultação do eleitorado, mais não fazem de que orientar, dia a dia, semana a semana, o sentido de voto. Contudo, esta maioria que ora se apresenta, pode ter legitimidade politicamente assegurada por uma minoria de votantes. Mas não tem seguramente uma maioria social. E porque uma democracia, como a entendemos, não se esgota no voto, vamos esperar a resposta social que aí vem. Diria, mais que esperar, vamos como é dever de cidadania, fazer o que for possível, para modificar o estado da arte desta politica, no sentido da mudança social.


Tal como quase 8% dos portugueses dei o meu voto, como habitualmente, à CDU. Que cresceu mais um pouco, contrariando uma sempre anunciada morte, ou declínio. A expectativa de uma alternativa (?) à esquerda gorou-se e terá deixado em muita gente boa, um amargo de boca. Os dias que virão, se não significarem o desengano e até uma desmobilização, poderão servir para uma reflexão profunda no seio da Esquerda em geral. Embora não reste muito tempo para pensar, porque é preciso agir, mal não faz certamente reflectir.


O profundo sentimento de desalento não deve durar mais uns dias de luto, porque a luta (essa sim) é que interessa!

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